Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 17
Novo lar


Notas iniciais do capítulo

Voltei com um capítulo totalmente Jibbs. Daqueles que tem quase de tudo!
Esse aqui é só uma parada na história de missão para não ficar cansativo!
Espero que gostem.
Boa leitura



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— Você tá muito feliz com isso, não está? – Tive que gritar para que ele me ouvisse.

— Seria mais rápido se você me ajudasse. – Ele me respondeu, colocando o rosto em uma posição que pudesse vê-lo.

— Jethro, pelo amor de Deus, eu já disse, não vou subir aí. E será que você pode descer? Eu fiz o jantar.

Já tinha se passado um mês desde que chegamos nesse lugar. Um mês em que a única notícia que tivemos foi a de que Zukhov apareceria na Sérvia dentro de pouco tempo.

Só nos esqueceram de avisar quanto tempo dura esse “pouco tempo”.

Enquanto isso, eu estava mais entediada do que nunca, mas Jethro estava feliz, afinal, ele tinha o que fazer.

Acabei descobrindo que a paixão dele por carpintaria é ainda maior do que a minha paixão por sapatos. E, com isso, ele tem passado muito tempo do lado de fora. Em cima do telhado.

E isso tem me dado nos nervos. Essa casa nem é dele! Por que se preocupar? E sabe qual resposta ele me deu?

— Não sabemos quanto tempo vamos ficar por aqui, Jen. Logo, logo começa o inverno, você não vai querer morrer congelada vai?

Do forno daquele sótão em Marselha para o freezer no interior da Sérvia. Que ótima troca.

E agora eu estava aqui, esperando a boa vontade dele aparecer para que possamos jantar....

Porém ele conseguiu demorar. E muito.

— Leroy Jethro Gibbs! DESCE LOGO DESSE TELHADO!! – Mais uma vez gritei.

Em minha defesa, eu realmente achava que ele ainda estava lá em cima. Contudo, essa criatura, que foi treinada para ser silenciosa, estava parada bem atrás de mim, e quando eu gritei, ele simplesmente me abraçou pelas costas, me assustando pra valer e quase me fazendo jogar a mesa no chão.

— Mas que coisa... será que você pode não me assustar desse jeito? Custa muito anunciar que entrou, ou sei lá, dizer que não vai demorar!! Eu detesto levar susto, Jethro!

Ele ria com gosto do meu falatório e da minha cara de assustada.

— Isso não é engraçado! Eu posso ter um infarto desse jeito.

Ele me olhou de cima embaixo e me respondeu:

— Não, você não tem cara de que vai morrer nem tão cedo, Jen.

— Não sabia que você previa o futuro, Jethro, me conte mais sobre o que vai acontecer na minha vida! – Eu ainda não o tinha perdoado do susto.

Ele coçou a cabeça e encenando melhor do que eu poderia dizer, concluiu.

— Se você não se sentar nessa mesa e jantar agora, a comida vai esfriar!

— Sério?! Essa é a sua previsão para o meu futuro? – Eu joguei o pano de prato na cara dele. – Seu cara de pau!

— Senta logo, Jen, vamos comer.

— Você já está sentado. Por que não começa?

— Preciso que você prove primeiro, para ter certeza que você não está tentando me envenenar.

— Como é que é? – Levei minhas mãos à cintura e o encarei. Na verdade, eu estava desejando era arremessar uma faca nele agora mesmo ou o prato, ou qualquer coisa que eu agarrasse.

— Você sabe. – Ele tinha a cara mais lavada do mundo. E eu começava a ver vermelho. – Você anda muito atoa nas últimas semanas, vai saber o que se passa nessa sua cabeça recém pintada de preto. Talvez você queria me envenenar, só para ter o que fazer...

— Ou talvez, Jethro, só talvez, eu possa tentar redecorar o ambiente, igualzinho ao que a sua filha está querendo fazer na sua casa, lá em Alexandria. A única diferença é que, se você passar na minha frente, eu vou te redecorar também!! – Ameacei apontando o dedo para ele.

— Você sabe que nunca me explicou o que ela queira dizer com isso. – Era só tocar no nome da filha que a expressão dele mudava.

— É eu nunca disse... – ponderei. Acho que teria a minha vingança e seria agora.

— E vai dizer agora?

Pensei por um momento. Kelly disse aquilo brincando, mas ele não sabe o que é... tá aí uma boa maneira de dar o troco pelo susto...

— Sim, vou aproveitar que você está sentado. O que a sua querida filha quis dizer era que, para sair do tédio, ela iria começar a atirar nas paredes da casa. Sherlock Holmes fazia isso. – Eu disse pausadamente, e prestando toda a atenção do mundo nas reações dele. E valeu a pena...

Quando eu disse que diria o significado, ele levantou a cabeça em minha direção. Tenho certeza que ele achou que a filha diria qualquer coisa como nova mobília ou pintar as paredes... Porém, quando eu terminei de explicar, ele estava petrificado. O garfo estava parado no meio do caminho entre o prato e a boca. E ele me olhava horrorizado.

— Você consegue visualizar a cena, Jethro? – O lado de pai preocupado dele que me desculpe, mas eu não podia perder a oportunidade.

Ele ainda estava em transe. Precisava de uma ajudinha para voltar ao presente, então dei a volta na mesa e lasquei um tapa atrás da cabeça dele. Isso o fez voltar à realidade.

— Atirar nas paredes? – Ele disse engasgado.

— Sim... – Eu tinha o maior dos sorrisos. – Não é legal?

— O que vocês duas têm na cabeça? – Seus olhos azuis estavam arregalados de susto.

 - Você realmente acredita que a sua filha vai atirar nas paredes da sua casa? – Agora quem estava abismada era eu.

Ele ponderou por um minuto. Pelo que eu pude conhecer de Kelly, ela só estava dramatizando a situação.

— VOCÊ quer começar a atirar nas paredes desse lugar?

E olha aí...

— Então você tem certeza de que Kelly não vai atirar nas paredes, MAS EU VOU? – Fingi uma falsa mágoa.

— Você é maluca, Jenny. Kelly não é. – Foi a resposta dele.

— Então, vou começar amanhã pela manhã... você vai arrumar qual parte do telhado mesmo? – Perguntei sem o mínimo interesse...

— Você quer atirar em mim? 

Fingi observá-lo com cuidado. Segurando o riso o máximo que podia.

— Sabe... é tentador... tem um tempo que não faço tiro ao alvo. – Eu tombei a minha cabeça para o lado, ainda o encarando e ele não tinha uma feição feliz. – Mas, por outro lado... – e eu parei, com a cabeça tombada e a mão apoiando o queixo, analisando a pessoa na minha frente.

Ele levantou uma sobrancelha em minha direção. Como se perguntasse algo.

— Por outro lado, Jethro, você tem sido a minha única distração por aqui. Se eu te matasse, o que me sobraria para fazer? Principalmente à noite... – Eu dei de ombros e levantei da mesa.

— Então você vai me deixar vivo? – Ele tinha um sorriso diabólico no rosto.

— Sim, por mero interesse particular.  – Respondi com o mesmo sorriso.

— Bom saber... – Ele veio em minha direção, com segundas intenções no olhar.

— Não se anime muito, o jantar estava ótimo, não estava? Então, é a sua vez de arrumar a cozinha... Quando terminar, estarei no quarto e podemos terminar essa conversa.... – Dei um beijo na sua bochecha e o deixei ali, sozinho.

— Isso não é justo, Jen! – Ele reclamou.

— Quem te disse que o mundo é justo, Jethro?

Tudo o que eu ouvi foi ele bufando de raiva.

E minha vingança quanto a susta estava terminada.

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 - Eu não consigo acreditar que a Kelly realmente seguiu à risca a ordem de não enviar as cartas! – Jen reclamou de novo.

Dessa vez ela estava sentada na porta da cozinha, bem abaixo de onde eu estava trabalhando. Se ela continuasse assim, algo poderia, acidentalmente, cair na sua cabeça.

— O que você achou que ela faria? – Perguntei exasperado.

— Qualquer coisa, menos me deixar sem as minhas cartas. – Ela disse em um muxoxo.

Me Deixar? Minhas cartas? Estamos falando da minha filha. E além do mais eu a criei para seguir regras, Shepard.

— Nossa. Todo possessivo. Ela está do outro lado do mundo, Jethro. Você não tem como bancar o pai ciumento a essa distância. – Jen levantou do degrau e me encarava agora do chão. – E, sim, eu esperava que ela tivesse herdado o seu gene de “faço primeiro, pergunto depois”.

— É mais fácil pedir perdão do que permissão. Regra 18. – Disse entre dentes.

— Essa é nova. Tenho que anotar. Mas você viu a incoerência da coisa? Você tem uma regra para isso, e a sua filha não pode usá-la ao me...noss... seu favor. – Ela engasgou no final.

— As regras são minhas, nem todas são para a Kelly usar. – Disse encerrando o assunto.

— Mas eu tenho que ficar anotando, porque toda hora é uma regra nova! Valha-me Deus! – Ela jogou as mãos para o alto.

— Pode parar com o drama? Se não for me ajudar, pode entrar! – Tentei em livrar do falatório dela. Jen estava assim a manhã inteira.

— Para fazer o que? – Ela respondeu com raiva.

— Aprender a fazer croché. Bordado. Qualquer coisa, só para de gritar na minha cabeça, Jenny.

— Ótimo. Você não pareceu se incomodar quando eu gritei o seu nome durante a noite.

— São circunstâncias diferentes.

— São?! - Ela tinha um olhar estranho - Você realmente acha que pode reverter tudo ao seu favor, não é? 

Parei para pensar. O olhar dela me assustava. Ela estava pensando em algo. E eu tinha certeza de que não iria gostar.

— Sem respostas? Ótimo! – Ela, mais uma vez me olhava com uma vontade assassina. – Fique aí, mudo, e nem pense em vir todo charmoso me chamando de Jen. Hoje e pelo resto da nossa estadia aqui, você vai dormir no sofá. Você queria que eu aprendesse alguma coisa, pois bem, aprendi a dizer: “tchau Jethro”

— Jen, espera, volta aqui... – Tentei chamá-la pelo apelido, afinal, ela sempre sorria quando eu chamava assim, desde Positano.

Tudo o que eu tive como resposta foi uma porta batendo.

Decide deixá-la esfriando a cabeça. Só Deus sabe o quanto ela pode ser teimosa e birrenta às vezes. Mas, mesmo as duas horas de silêncio não foram de grande ajuda.

Quando eu desci e entrei, notei que ela já havia jantado. E não tinha nada para mim. Decidi não discutir. Mas o pior estava guardado na sala. Minhas roupas, um travesseiro e um cobertor estavam jogados no sofá.

Ela falara sério.

— Jen... qual é...

— Vai dormir com o seu ego enorme a partir de agora, Jethro!

E isso foi a última coisa que ouvi dela por quase uma semana. Nosso casamento de mentira estava a cada dia parecendo um casamento de verdade.

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— Nossa, por que essa sala está bagunçada desse jeito? – Will apareceu na fazendo duas semanas depois da nossa briga.

— Nada... – Eu tentei trocar de assunto. – Alguma novidade?

— É aqui que o Agente Gibbs dorme, Will. E a propósito, tudo bem com você?

Tinha duas semanas que ela mal conversava comigo. E estava toda amistosa com Decker....

— Eu estou bem. – Will, na verdade, não parecia nada bem. – Tenho uma coisinha para vocês.

Achei, e vi que Jenny também achou, que eram as cartas de Kelly. Mas era só uma provável localização de Zukhov.

— Então, amanhã, vocês têm uma reserva nesse hotel, ele entregou para ela o nome e o endereço. É provável que nosso amiguinho russo apareça nesse bar - outro lugar com um nome impronunciável para mim. Assim, vocês têm que estar lá, mas ele ou nenhum dos seguranças dele podem ver vocês.  

Assentimos e Jen voltou para sei lá onde ela estava.

— Ela está bem? – Decker perguntou desconfiado do silêncio.

— Está. Não tem nada de errado. – Confirmei.

— Você dormindo no sofá, ela calada daquele jeito, Gibbs, vocês, por acaso, não estavam dormindo juntos e agora brigaram, não é?

Ele estava cem por cento certo. Porém, a confirmação não sairia da minha boca.

— Decker, não imagine coisas onde não existem.

— Se você está dizendo, Gibbs. – Ele tinha um sorriso presunçoso no rosto quando entrou no carro e partiu.

— Parabéns, Jenny. Will descobriu sobre nós. E não vai demorar que Stan fique sabendo, ou toda a agência. – Eu gritei para que ela me ouvisse.

— Culpa sua, como sempre. – Ela saiu não sei de onde e estava parada bem atrás de mim. – Como vamos fazer amanhã? – Ela terminou.

— Olha quem está falando comigo de novo! – Caçoei na cara dela.

— Temos uma missão para cumprir, Gibbs. E eu sou uma profissional.  – Ela me garantiu.

Passamos as duas horas seguintes bolando como iríamos estar em um mesmo local que Zukhov sem que ele nos visse lá. No fim, estava convencido que tinha amaciado Jen ao ponto de que ela me deixasse voltar a dormir na cama. Estava redondamente enganado. Passei mais uma noite no sofá.

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 - Esse é o bar mais sujo que vi na minha vida. – Resmunguei para ninguém em particular quando desci do táxi. Gibbs ainda estava acertando a corrida da morte.

— Esse cara quase nos matou. – Foi o que ele disse quando o taxista saiu acelerando e fazendo uma conversão inexistente para pegar a mão contrária.

— Não vi muita diferença para você dirigindo. – Disse acidamente.

— Jen! – Ele começou a chiar. – Eu dirijo muito melhor do que aquilo. Aquele cara não dirige, ele tenta assassinar os passageiros.

E era verdade, por umas duas - ou seriam três? – vezes ele invadiu a contramão e quase fomos de encontro com a frente de outro automóvel. Mas eu não concordaria com ele.

— Não fique muito ressentido, ainda tem a volta. – Disse com um sorriso triunfante quando entramos naquela pocilga.

Era hora de começarmos a agir como um casal.

Demos uma olhada em volta, mas não vimos ninguém que se parecesse com algum dos seguranças, braços-direito do russo.

Por um lado, era bom. Pelo outro, isso significava que teríamos uma longa noite em um bar de quinta categoria, vendo algumas moças dançando e uma em um estado lastimável, tentando cantar algo em inglês.

Jethro foi logo ao bar pedir uma garrafa de Bourbon. Ele adorava aquela coisa. Eu, particularmente, preferia uma bebida doce.

Quando ele voltou, com a garrafa e dois copos, disse alegre.

— O barman me garantiu que isso aqui é o Bourbon da Sérvia. – Ele encheu os dois copos e estendeu um na minha direção.

Eu cheirei a bebida. Tinha um cheiro forte de álcool puro.

— Como você pode beber isso? – Eu questionei antes mesmo de tomar o primeiro gole.

— É um gosto que você adquire. – Foi o que ele me respondeu dando de ombros.

Olhei torto para ele. Ainda tentando entender como ele podia beber algo assim. Ao mesmo tempo, tive a curiosidade de provar. E aquela coisa tinha um gosto muito forte. Minha reação natural à ardência, seria cuspir o líquido, mas, quando eu vi o sorriso de vitória no rosto de Jethro, eu me forcei a engolir o líquido que estava na minha boca.  Queimou toda a minha garganta. Meus olhos se encheram de lágrimas. E eu segurei a tosse, tudo para prová-lo que sabia beber como ele.

Jethro levantou uma sobrancelha na minha direção como se estudasse se eu estava bem. Dei de ombros e levei o copo na sua direção, o instando a colocar mais.

Acontece que a porcentagem de álcool é enorme nessa coisa. Eu já havia tido os meus porres na época da faculdade, mas nunca com algo tão forte. E o resultado foi que: quanto mais Zukhov demorava para aparecer, mais nós dois bebíamos.

Por fim, uma garrafa já tinha ido embora, minha raiva com Jethro também, e estávamos muito à vontade no canto do bar, e nada de acontecer alguma coisa que nos interessasse.

Jethro buscou outra garrafa. Uma vozinha abafada na minha cabeça, me dizia que era melhor parar, já que eu não conhecia os efeitos da ressaca dessa coisa.

Mas eu não parei.

No meio da segunda garrafa, Gibbs parou de beber, tinha o olhar meio embaçado, mas, mesmo assim, ainda conseguia andar em linha reta. E eu o invejei. Fazia tempo que eu nem arriscava levantar do meu assento. Acho que tinha perdido a capacidade de andar.

— Mas já vai parar? – Perguntei enrolado.

— Sim. E você deveria fazer o mesmo. – Sua voz estava grogue pelo excesso de bebida.

— Você já pagou por essa aqui. Faça o seu dinheiro valer a pena.  – Coloquei mais um pouco em cada um dos copos.

— Ainda acho que é demais. – Jethro murmurou, mas virou o copo.

Com o fim da garrafa próximo, decidimos que já era hora de ir embora. Afinal, eram quase três da manhã e nada do nosso alvo aparecer.

— Ele não vem mais. – Eu tentei dizer para Gibbs, que estava olhando ao redor do bar.

Nessa altura eu nem conseguiria distinguir o barman de Jethro.

— Como vamos para o hotel? Será que ainda tem táxi a essa hora? – Tornei a despejar perguntas nele. E ele que não me olhasse torto, pois eu estava com fala acumulada.

— Deve ter. – Ele falava igual a mim, enquanto estendia a mão para me ajudar a levantar.

Andamos até a porta e eu decidi que nunca pareci tão lastimável em toda a minha vida. Estava pior do que a pobre moça que ainda tentava assassinar alguma música enquanto cantava.

Mal colocamos os pés na rua, e um táxi veio à toda. Só a forma como ele parou, cantando os pneus, fez me estômago se retorcer, mas que outra forma tínhamos para ir para o hotel?

A viagem não demorou muito, mas esse taxista era pior que o primeiro. Ou eu que estava em um estado tão ruim que qualquer curva me dava ânsia?

— Se ele continuar dirigindo desse jeito, eu acho que vou vomitar. – Apoiei minha cabeça no ombro de Jethro.

— Nem comece, Jen. Se aguente aí. – Ele tentou passar a mão no meu cabelo, mas pareceu mais um tapa.

Outra curva fechada, e faróis batendo direto no para-brisa e em nossos olhos.

— Esse aí também é adepto da contramão! – Eu chorei.

Notei que Gibbs tinha a mandíbula trincada, fechada com muita força. Acho que não era só comigo que o que bebemos queria fazer uma reaparição.

Quando chegamos ao hotel. Vivos e com as roupas limpas. Corremos para o elevador. Mas acontece que ficar em um espaço pequeno – porque esse elevador era mínimo – e o fato de que teríamos que dormir juntos depois de quase três semanas, não ajudou muito e aquela atração inexplicável que existe entre nós dois apareceu com força total.

Nos encontramos em um beijo urgente, quente, com gosto de Bourbon sérvio e mais alguma coisa. Era quase desesperado. Na nossa vontade de chegar logo ao quarto, tropeçamos em uma mesa de centro no meio do corredor:

— Quem diabos coloca uma mesa no meio de um corredor do hotel? – Jethro xingou sem descolar nossos lábios.

— Alguém desse hotel. – Eu já buscava pela bainha da sua blusa. Ansiosa por tirá-la.

Na porta do quarto, outro problema. Um não desgrudou do outro, e some-se a isso o fato de que estávamos bêbados igual a dois gambás. Levamos quase dez minutos para conseguir entrar.

Porta trancada, tratamos de nos livrar de nossas roupas. Joguei a camisa dele em um canto qualquer enquanto ele desabotoava a minha. A presa dele era tanta que mal a minha camisa tinha sido tirada, ele me levou para cama.

Quando eu senti aquela coisa quentinha e macia, todo o álcool que eu consumi a noite inteira começou a pesar os meus sentidos.

Ele me deitou na cama, e a próxima coisa que eu me lembro....

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 Que dor de cabeça dos infernos! Por que está tudo rodando? E a melhor pergunta, onde raios eu estou e que peso é esse nas minhas costas?

Tentei me ajeitar na desconhecida cama, quando me virei vi que “o peso” em minhas costas nada mais era do que o braço de Jethro. Mas como ele acabou dormindo na mesma cama que eu, sendo que há mais de duas semanas eu o coloquei para fora do quarto?

Mais uma vez me mexi, dessa vez com mais força para ver se ele desconfiava e saía de cima de mim. E isso causou dois efeitos: primeiro, ele se ajeitou melhor, e abraçou a minha cintura (que conveniente para ele, não?) e, segundo, me subiu uma ânsia horrorosa, me fazendo correr para o banheiro mais próximo.

Enquanto corria, notei que estava de calça, sapatos, mas sem a minha camisa... o que eu tinha bebido?

Enquanto eu vomitava o que quer que eu tinha bebido, tentei pensar onde eu estava, mas a dor de cabeça era tanta que eu só queria morrer ali mesmo.

Foi quando duas mãos seguraram o meu cabelo e uma voz me pedia para respirar.

Que ótimo, Jethro acordou com o som de meu pequeno showzinho no banheiro...

Depois de tossir violentamente e lavar a minha boca, me permiti encostar na parede oposta e tentar respirar.

— O que foi que eu bebi? – Resmunguei.

— Bourbon... – ele me respondeu e a sua voz estava entre a risada e o pesar de me ver nessa situação. – Ou a versão sérvia da bebida.

Minha cabeça latejou como se confirmando a minha miséria.

— Não ouse rir. – Eu o adverti, mas no estado em que eu estava, isso não soou tão ameaçador quanto deveria.

Ele segurou uma gargalhada e levou as mãos para o alto em sinal de defesa quando eu arremessei um de meus sapatos nele. Mas a força que fiz foi tanta que minha cabeça girou.

— Ponha a cabeça no meio dos joelhos, Jen. E, a propósito, é a sua primeira ressaca?

— Não. – Minha voz saiu abafada. – Eu já tive ressacas, mas nenhuma delas foi desse jeito, o máximo que tive que fazer foi sair de óculos escuros pelo campus.

— Você nunca tinha bebido Bourbon antes, não é?

— Não. – Dessa vez eu chorei a resposta, pois minha cabeça deu uma dolorosa pontada. – O quanto nós bebemos?

— Duas garrafas.

— DUAS GARRAFAS!! – Eu levantei a minha cabeça rápido demais, o que resultou em outro abraço ao vaso sanitário.

Jethro, mesmo rindo, segurou os meus cabelos. E eu só tinha certeza de uma coisa:

— Eu vou morrer!! Eu sei que vou morrer! Essa ressaca vai me matar.

— Se eu soubesse que você é tão dramática de ressaca, teria te deixado bêbada por mais tempo... deveria ter deixado você trazer aquela outra garrafa...

— Muito engraçado... quer me tornar uma alcoólatra? E só uma pergunta que não sai da minha cabeça dolorida...

Ele levantou a sobrancelha como que esperando a bomba que eu ia soltar.

— Por que raios você não está desse jeito? – Eu o olhei furiosa. Ou acho que o olhei assim...

— Por “desse jeito”, você quer dizer sem a blusa, ou de ressaca?

— De ressaca, e outra questão, cadê a minha blusa?

— Você não está em uma posição de ordenar muitas coisas não, Jen.

— Minha blusa?

— Jogada em algum canto do quarto...

— Pelo amor de Deus, Jethro, por que você tem sempre que arremessar as minhas roupas para tão longe? Anda logo, me dá a sua!

— A minha?! – Ele perguntou espantado.

— Sim! Eu estou com frio. Estou passando mal, estou de ressaca e tenho certeza que dessa eu não sobrevivo. Sua blusa, agora! – Exigi com uma voz fraca.

Tinha quase certeza que ganharia um sorrisinho sarcástico em resposta e ele permaneceria com a bendita blusa. Mas ele me surpreendeu, e tirando a blusa, me passou. Na hora a vesti, aproveitando que estava quentinha.

— Mais alguma coisa, Majestade?

— Um remedinho para dor de cabeça ajudaria... – pedi com um beicinho.

— Não enquanto você não tiver colocado toda a bebida para fora. – Ele me informou e saiu do banheiro.

— Ei, onde você vai? Vai me deixar morrer aqui sozinha?

Ele colocou a cabeça para dentro do banheiro, visivelmente aborrecido com o meu falatório matutino.

— Saudades de você bêbada... você fica mais... animada e menos falante. Se você me entende.

— Isso explica a falta da minha camisa... – disse com um muxoxo.

— O problema é que você apaga, de uma hora para outra. – Ele reclamou já voltando e sentando do meu lado.

Encostei minha cabeça – que ainda estava rodando – no ombro dele e sorri. Eu estava tendo uma péssima manhã, mas ele não tinha aproveitado a noite não.

— E você acha que no nível de álcool que nós dois estávamos, conseguiríamos fazer alguma coisa?

Ele me olhou torto. Como se eu o tivesse ofendido. Talvez tivesse, vai saber.

— Acho que estou lembrando de alguma coisa... – disse sem muita certeza.

— O que? Quando eu te pedi para ir devagar? – Seu tom era ácido.

— Se eu me lembro bem, foi você quem escolheu a bebida E colocou no meu copo. – Céus! Até a minha voz ainda estava grogue.

— Você tinha a opção de não beber... – Ele deu de ombros. O que balançou a minha cabeça e lá fui eu de novo....

— Eu quero que isso acabe!! – Chorei alto.

— O que você disse? – Jethro agora apoiava minhas costas, já que estava sentada entre suas pernas com minha cabeça no seu ombro esquerdo...

— Eu acabei de gritar. – Protestei sem forças.

— Não, você sussurrou algo inaudível. O que você disse?

— Quero que isso acabe... – enterrei meu rosto no seu peito como uma criança birrenta, e senti a vibração de sua risada em seu peito.

— Não tem graça! – dei um tapa no ombro dele.

— Me lembre de, na nossa próxima tocaia, comprar água com gás para você... – ele disse bem-humorado. – Já que você é fraquinha para bebida.

— Não é nada disso. Eu só nunca tinha bebido algo tão forte. Aquilo devia ser puro álcool!

— Nisso você tem razão, Jen. – Ele afagou minhas costas enquanto eu gemi de dor.

— Você não está sentindo nada? – Tentei olhar para seu rosto, mas a claridade me incomodava.

— A cabeça dói. Mas eu já estou acostumado. – Ele disse como se finalizando a conversa.

Tinha algo ali. E pelo que pude ver em seus olhos, era algo antigo. Com certeza lembranças da esposa falecida. Fiquei quieta, não queria piorar aquele tipo de dor de cabeça.

Juro que tentei ficar o mais quietinha possível para ver se meu estômago rebelde se acalmava, mas não teve jeito. Outra onda se ânsia....

— Eu já não aguento mais isso! – Reclamei com a cabeça entre as mãos. – Nunca mais eu bebo!

— Aposto que você disse a mesma coisa depois da sua primeira ressaca. – Jethro disse finalista.

— É, eu disse. – Respondi sem humor.

— Era de se esperar que você fizesse isso. Teimosa do jeito que é. – Ele teve a capacidade de rir da minha situação, na minha cara.

— Eu te odeio. – Eu disse me aconchegando no seu peito.

— É, eu tô vendo. – Ele me abraçou e nós dois ficamos ali, sentados no chão do banheiro, esperando que a minha ressaca fizesse o favor de desaparecer.

Ficamos em silêncio por quase meia hora. Eu podia jurar que ele estava dormindo, mas, por mais quentinho e confortável que ele possa ser, quando é o meu travesseiro particular, minha cabeça ainda latejava.

— Jethro...  – Eu o chamei.

— Que.... – ele nem se dignou a abrir os olhos.

— É possível morrer de ressaca?

— Não.

— E de dor de cabeça?

— Nah, Jen. Fica quietinha que já vai passar. A sua e a minha. – Ele me abraçou mais apertado e voltou a dormir.

— Assim espero, porque já estou começando a achar que eu vou morrer por aqui.

—------------------------

Mas que barulho é esse?

— Gibbs? Shepard? Vocês estão aí? – A voz de Decker me acordou. Demorei um pouco para me situar.

Estava sentado no chão do banheiro, com Jen abraçada em mim, finalmente parecendo que o pior da ressaca tinha passado.

— Gibbs? Eu realmente preciso falar com vocês! – Decker continuava.

— Jen. Jen. – Eu a chamei. – Ela se espreguiçou e me olhou com uma cara de sono.

— Sim... o que foi, Jethro? – Sua voz ainda estava grogue, mas ela conseguiu se levantar sem vomitar dessa vez.

— Melhor?

— Acho que sim... – Ela coçou a cabeça, desembaraçando os cabelos. – Mas a cabeça ainda dói.

— Will está aqui. Vamos ver o que ele quer. – Dei a mão para ela se levantar. O que ela fez muito devagar.

— Céus! Eu estou horrível! – Ela disse quando viu o seu reflexo no espelho. – Vá lá, se o Will me ver assim....

Tive que rir, depois de tudo ela ainda estava preocupada com a aparência.

— Tudo bem. – E saí fechando a porta do banheiro atrás de mim.

Quando finalmente abri a porta:

— Que cara horrível, Jethro! Isso aí é ressaca?

— É. – Respondi seco.

— Deveria ter avisado que o whiskey daqui é mais álcool que malte.

Eu descobri da pior forma possível. Eu e Jen.

— E então, o que você tem para nós? – Perguntei tentando evitar o assunto “ressaca”, já tinha tido muito dele por hoje.

— Onde está a Jenny?

— No banheiro.

Foi quando ela saiu.

— Credo, Shepard! Você teve seu sangue sugado pelo Conde Drácula? Você está parecendo um zumbi! – Decker tentou fazer graça.

— Sim. Mas o seu sangue tem um péssimo cheiro. Por isso, eu não vou me dar o trabalho de bebê-lo. – Ela disse sem animação e se sentou na cama, a cabeça apoiada nas mãos.

— Confirmado que Zukhov chega hoje. Amanhã ele irá fechar um negócio em um lugar próximo daqui.

— Onde? – Jen quis saber.

— No cemitério que fica atrás da igreja.

— Quanta criatividade. – Ela rebateu.

E os pelos da minha nuca se arrepiaram. Uma negociação em um cemitério?

— Bem, pense pelo lado positivo, se algo der errado, e algum de nós morrermos, já estamos perto da cova. – O humor de Jenny era sombrio.

E esse era o meu medo. Depois do que aconteceu em Marselha. Um novo confronto com Zukhov só poderia terminar em morte.


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Notas finais do capítulo

Eu sempre soube que foi o Gibbs quem viciou a Jenny no bourbon... ou será que ela tomava essa bebida específica só para se lembrar dele?
Eu disse que tinha um pouco de tudo.
Teve até taxista doido - mas isso foi tirado de uma frase que a própria Shepard diz para o Gibbs quando a Ziva quase mata Tony e McGee em um acidente... então nada de brigarem comigo, eu respeito TODAS as profissões.
E fica aqui o recado: Cuidado com o excesso de bebida, Jen nos ensinou que a ressaca pode ser a pior coisa. E outro alerta, se beber, não dirija! Pegue um táxi ou peça um Uber!
Deixei um gancho malandro para o próximo capítulo... (fanfiqueira má..)
Muito obrigada por lerem e nos vemos no próximo capítulo.



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