Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 115
Eu Sei o Que Você Fez em 1999!


Notas iniciais do capítulo

Acharam que o esqueleto no armário de Jen não voltaria... pois bem, eis ele aqui!7
E teremos uma Sophie muito encrencada, para quem sentiu falta disso no capítulo passado!
E não, se já estamos no capítulo 115, eu não vou pedir desculpas pelo tamanho desse aqui!
Boa leitura!!



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Depois de passar quinze dias praticamente curtindo uma mini férias, sem fazer nada a não ser aproveitar a minha família, tive que voltar ao trabalho. Claro que eu não queria, o feriado de final de ano tinha sido o melhor de todos e ver a alegria no rosto de cada um me deu a certeza de que tudo o que eu fizera até então valera a pena.

Assim, na primeira semana de janeiro, já estávamos todos de volta ao trabalho e aos estudos, com a exceção de Kelly que ainda tinha mais um mês de licença e estava adorando jogar isso na nossa cara.

Da parte de minha filha, ela tinha adorado voltar para a escola por um motivo bem específico, o balé de primavera. Sim, agora que ela já estava totalmente recuperada do pé quebrado e já tinha voltado a dançar normalmente, ela disse que nesse ano iria ensaiar tudo o que podia e daria o seu melhor, pois ela queria ser a protagonista. Eu só a incentivei, mas avisei que nem sempre tudo o que queremos acontece, e o que ela me respondeu?

— Eu sei mamãe, mas eu vou ensaiar, ensaiar e ensaiar, se eu não conseguir o papel nesse ano, eu treino mais, ensaio mais e tento de novo no ano que vem. Um dia vai ser meu o papel principal! – Disse convicta.

— Isso mesmo, o importante é não desistir, filha. – Dei um beijo na cabeça.

— Uhn... mamãe, a senhora ainda vai ficar dançando comigo? – Ela me perguntou enquanto guardava as sapatilhas na bolsinha.

— Vou ensaiar com você até quando você não me quiser por perto!

— Então se prepare para dançar comigo pela eternidade, porque eu sempre vou te querer como a minha professora, para mim, a senhora é a melhor bailarina que existe!

Depois de um elogio desses, eu ia até atrás de um novo par de sapatilhas para mim!

No trabalho nada de excepcional, os casos que apareciam eram logo concluídos e nós fomos levando a vida sem problemas.

Até que um dia algo de muito estranho apareceu na minha mesa.

Era um dia como outro qualquer, Jethro tinha saído de madrugada para um caso, minha filha tinha feito hora para se levantar e arrumar a cama, depois disparou a falar sobre tudo o que tinha que fazer na escola – ela sempre tinha que ler a matéria antes, confesso que eu era exatamente assim. -, e, depois de um café da manhã sem atrasos, saímos e a deixei pontualmente na Escola, rumando para o Estaleiro.

Cumprimentei Cynthia como sempre e ela foi logo me dizendo que haviam me entregado um envelope, que agora estava na minha mesa.

— Remetente?

— Senhora, eu não olhei, parecia carta pessoal, nenhum símbolo do governo, então coloquei direto na sua mesa.

— Muito obrigada, Cynthia. – Agradeci e entrei na minha sala curiosa com o que teria ali.

Fiz meu caminho direto até minha mesa, sem nem me importar em tirar meu casaco ou deixar a minha bolsa em algum lugar.

E lá estava o tal envelope. Era comum, sem nenhuma marca que o distinguisse dos demais. A não ser...

Não havia remetente. E algo se acendeu na minha mente.

Meu lado um tanto irracional, me dizia para abrir logo e ver o que tinha dentro. Meu lado racional – e, também de agente treinada – me guiou para outros caminhos.

Logo soltei o envelope, dei a volta na minha mesa e peguei um par de luvas, as calcei e levantando o envelope por uma das pontas, o coloquei e um saco de provas. Eu tinha um destino certo e logo liguei para o Laboratório.

— Laboratório de Ciências Forenses, Abby falando. – Me saudou a sempre bem-humorada Cientista.

— Bom dia, Abbs, sou eu, Jenny. Preciso de um favor seu.

— Oi, Jenny!! Bom dia! Seja o que for, pode falar, as provas dos últimos casos ainda não chegaram até a mim!

— Ótimo! Estou descendo. – E desliguei a chamada.

Saí do escritório, passando por uma Cynthia que me olhou assustada ao me ver carregando o saquinho. Parecia até que era o meu dia de sorte, pois o elevador estava parado no andar e ninguém entrou enquanto eu fazia o meu caminho até o último subsolo.

Quando as portas se abriram fui recepcionada pela batida extremamente alta do death metal que Abby escutava, mas ela estava me esperando e assim que pus os meus pés na porta, desligou o som.

— O que é isso? – Ela olhou para o saquinho na minha mão.

— Isso chegou hoje pelo Correio. Quando vi que não tinha remetente, coloquei aqui. Por favor, Abbs, faça sua mágica e descubra o que puder sobre esse envelope e o conteúdo.

Abby calçou as luvas e abriu o saquinho, analisando o envelope primeiro.

— Ahn... Jenny. – Ela me chamou sem me olhar.

— Sim?

— É para contar para o Gibbs? – Perguntou incerta, mordendo o lábio.

— Mas é claro! Seja lá o que isso for, ele vai ficar sabendo, Abby.

— Vou ficar sabendo do que? – O próprio assunto da conversa chegou no laboratório.

— Achei que a Abby tinha que ter as provas primeiro, antes que você aparecesse aqui. – Comentei, porém isso não o distraiu e ele foi para perto de Abby para ver o que ela tinha ali.

— O que eu vou ficar sabendo? – Repetiu a pergunta.

— Desse envelope. Chegou para mim hoje. Não tem remetente, trouxe imediatamente para ela. – Apontei.

Jethro não gostou do que eu falei.

— Prioridade nisso, Abbs. – Ele a entregou um CAF-POW!.

— Não. – Cortei-o. – O caso é a prioridade, isso é pessoal e pode esperar, Abby. Quando tiver um tempo, faça o que puder, que eu já estarei agradecida. – Falei.

Jethro me encarou, claramente ele não concordava com o que eu falei, porém, não discutiria isso na frente da cientista que nos olhava em expectativa.

— Tony e Tim vão chegar com as provas logo. – Ele falou por fim e meneou a cabeça em direção ao elevador, me chamando para ir com ele.

— Muito obrigada, Abby. Qualquer coisa que você encontrar, me comunique. – Disse a agradecendo. – E os CAF-POW's do dia são por minha conta.

— Pode deixar, Jenny! – Ela disse ainda olhando para o envelope em busca de digitais que não fossem as minhas.

Jethro me aguardava dentro do elevador, a expressão taciturna, assim que entrei e as portas se fecharam, ele só esperou que estivéssemos em um andar mais calmo para pressionar o botão de parada de emergência e me encarar furioso. 

— Uma possível ameaça contra a Diretora do NCIS não é prioridade e pode esperar? – Ele repetiu as minhas palavras de pouco antes em um tom bem jocoso. – Desde quando, Jen?

— Não exagere, Jethro! Aquilo pode não ser nada. Até ontem à noite não havia nada na inteligência que indicasse que as agências poderiam sofrer algum tipo de ataque! – Retruquei.

— Você iria me contar?

— Mas é claro! Não se esqueça que a última vez que recebi uma encomenda sem remetente, dentro da caixa tinha o cabelo da nossa filha, Jethro! Eu não faço ideia do que tem ali, mas se for algo que possa ou não por a segurança de Sophie em risco, você seria o primeiro a saber.

Ele me mediu e ponderou as minhas palavras, depois pôs o elevador em movimento e apertou o número quatro.

— Entendo, mas não quer dizer que concorde com você, Jen.

— É um envelope, Jethro, e eu não o abri. Eu sei o que aconteceu com o Tony quando ele recebeu um envelope sem remetente e o abriu no meio da sala do esquadrão. Abby vai saber cuidar daquilo, quando ela tiver tempo. Portanto, não a apresse com isso ou com o caso, dê tempo a ela e eu tenho certeza de que teremos respostas em breve. – Terminei de falar no mesmo momento em que o elevador chegou no quarto andar.

— Mesmo assim, quero que redobre a atenção. E, por precaução, até que Abby tenha as respostas, eu busco a Ruiva na escola.

— Ela vai desconfiar que tem algo errado, Jethro. – Argumentei enquanto íamos para a minha sala, de relance pude ver McGee, DiNozzo e Ziva chegando com as provas do último caso.

— Não hoje. Ainda não a vi e Sophie sabe que eu sou capaz de fazer isso. Como está a sua agenda para hoje? – Ele quis saber.

Estávamos na sala de Cynthia e ela foi logo me entregando a minha agenda.

— Nenhuma reunião fora do NCIS, pelo visto vou passar o dia dentro do meu escritório lidando com a burocracia. Feliz?

— Se sair, me avise. – Foi tudo o que ele disse antes de desaparecer sem se despedir.

— Era algo preocupante dentro daquele envelope, Senhora?

— Ainda não sei, Cynthia. Abby tem várias provas para analisar do último caso, pedi que ela fizesse o trabalho principal primeiro, depois se preocupasse com o que quer que se tenha ali dentro. E quanto a isso, peço que você tome cuidado com os envelopes que abre. Sempre verifique se tem remetente, se não tiver, me chame. – Pedi.

— Sim, Senhora!

Voltei para a minha sala e pude me concentrar no que tinha que fazer, as enormes pilhas de relatórios que eu podia jurar que se multiplicavam à noite.

Fiquei concentrada no trabalho por tanto tempo que quando meu telefone tocou, eu levei um susto. Não tive tempo de responder, e já ouvi a voz de Abby.

— Jenny, acho melhor você descer aqui. – Ela soava tensa.

E isso me arrepiou. Abby havia encontrado algo que, muito provavelmente, eu não gostaria de saber.

Antes de sair de minha sala, liguei para Jethro e pedi que ele me encontrasse no laboratório. Nos encontramos mais cedo, no elevador.

— Abby tem notícias?

— Como vai o caso? – Quis saber.

— Quase resolvido, Tony e Ziva foram buscar nosso suspeito, contudo, não desvie do assunto. – Ele continuou.

— Sim, Abby tem novidades e parece que não são boas. – Falei e as portas se abriram, revelando uma Abby tensa e ansiosa.

— Jenny! Gibbs! – Ela disse e nos puxou para dentro da sala. – Sinto muito, não tive respostas quanto às digitais, as únicas que encontrei foram as de Cynthia, de Roger o responsável pela correspondência e a sua, Jenny. – Ela parou para respirar. – Eu abri o envelope depois de me certificar que nada de perigoso estaria ali e... bem... isso faz sentido para você?

Ela deu um clique na barra de espaço do teclado e uma imagem apareceu na tela. Era uma mensagem:

“Eu sei o que você fez em Paris em 1999.”

Olhei para a mensagem mais vezes do que seria necessário, me questionando se algum de nossos alvos teria ficado vivo para querer uma vingança tardia. Não tinha nenhum. E nossos disfarces não foram descobertos hora nenhuma. Assim, não tinha como nenhum deles saber quem éramos ou onde estávamos hoje.

E meu cérebro continuou a trabalhar, a trabalhar, até que uma luzinha se acendeu e meu estômago se retorceu.

Na verdade, tinha alguém. Alguém que era para ter morrido, mas eu não consegui puxar o gatilho.

Svetlana Chernitiskaya.

Ela teria que ter sido o meu primeiro alvo como execução à sangue frio, só que eu não consegui puxar o gatilho por dois motivos, ela estava grávida e eu era covarde. Então a mandei sumir, só que, pelo visto, ela não fez isso, e agora, muito provavelmente, queria vingança, já que Jethro matara o marido dela. Ou seja, o erro do meu passado tinha voltado para me assombrar.

Tentei manter a expressão séria, eu poderia enganar Abby, mas jamais Jethro.

Eu teria que contar o último segredo da minha vida. Algum que eu pensei que jamais bateria na minha porta.

— Mais alguma coisa, Abbs? – Ouvi Jethro perguntar.

— Não. Nada de DNA, nada de marca d’água, estou analisando a composição do papel para ter uma ideia de onde ele foi comprado. – Abbs disse, provando mais uma vez que ela ia a fundo para descobrir a origem daquela carta.

— Sim, muito obrigada, Abby. – Falei e saí o mais rápido daquela sala. Eu estava encrencada em níveis estratosférico.

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Jen pode ter enganado Abby, mas não a mim, eu a vi ficar pálida depois de um tempo analisando o bilhete.

E não era por medo de alguém que nós conhecemos em 1999, todos eles estavam mortos, mas algo em seus olhos me dizia que poderia não ser bem assim. E, antes mesmo que Abby terminasse a explicação do que ela iria fazer, Jen saiu apressada do laboratório. De primeira achei que ela tinha ido para o elevador, porém este chegou rápido demais ao andar, indicando que ela não o havia pegado. Só tinha outra opção, as escadas.

Abri a porta e pude ouvir o som dos saltos dela subindo um andar acima.

— Jen... – Chamei-a, sabia por experiência própria que nunca é bom cercá-la em ambientes muito apertados e muito menos de surpresa.

Ouvi o som dos saltos cessar e ao mesmo tempo um suspiro alto, virei para pegar o próximo lance de escada quando quase tropecei nela, que tinha se sentado no primeiro degrau e me olhava com uma expressão, que só pude definir como derrotada.

— Eu estraguei tudo dessa vez. – Ela murmurou.

— O que você não me contou sobre 99, Jen? – Fiz a pergunta e minha mente vagou para cada missão que tivemos, para cada ordem que recebemos, até a última.

Eu teria que matar Zukhov, ela, Svetlana. Cada um deveria morrer em um beco escuro da capital francesa.

Eu fiz questão que Zukhov me reconhecesse, queria que ele soubesse quem o estava matando e o porquê.

Já a morte de Svetlana foi-me confirmada por Jen, que não me deu muitos detalhes. Eu sabia que assassinato à sangue frio era um fardo pesado para ela, a russa tinha sido a sua primeira ordem, assim não a pressionei, e nunca soube como foi, pois no outro dia, Jen foi embora.

Encarei a poderosa diretora na minha frente e tudo o que consegui ver foi a assustada agente que vagou pelo apartamento de Paris tentando se conformar que teria que matar alguém. Jen olhou nos meus olhos e apenas disse:

— Eu não matei Svetlana, Jethro.

No silêncio das escadas, parecia que ela havia gritado. Por alguns segundos fui obrigado a fechar os olhos, ou ela poderia ler cada uma das emoções que eu sentia naquele momento.

— Eu sei o que você está pensando. – Ela murmurou.

Respirei fundo.

— Eu... eu simplesmente não consegui. Ela...

— Jen. – A interrompi.

— Eu a cerquei no beco, estava um cheiro horrível lá, comecei a passar mal antes mesmo que ela aparecesse. Assim que ela virou a esquina, me escondi. Quando Svetlana passou por mim, eu a arrastei até o outro lado e estava prestes a puxar o gatilho, do jeito que você tinha me falado para fazer. – Ela parou para respirar, ficando tão pálida quanto eu me lembro que ela estava quando chegou no apartamento. – Só que eu não pude.

— Você deveria ter me falado, Jen. Eu teria ido atrás dela e terminado o serviço. – A cortei.

O olhar de Jen se endureceu.

— Svetlana estava grávida, já dava para ver a barriga, Jethro. Se eu a matasse ali, estaria matando um bebê inocente. Eu não poderia fazer isso, seria me igualar a eles! E duvido que você teria feito. – Ela soltou. – Svetlana me pediu clemencia pelo bebê e foi o que eu fiz, eu a mandei sumir do mapa, o que ela deve ter feito até recentemente, pois eu não ouvi nada sobre ela ou sobre a organização de Zukhov.

Deixei que as palavras dela se afundassem na minha mente, e, então percebi o outro motivo pelo qual Jen não matou Svetlana.

— Você também estava grávida. – Murmurei.

— Eu não sabia! Achei que todo o mal que estava passando era nervosismo! Eu não fazia ideia! – Ela se alterou. – Se eu soubesse, Jethro eu teria saído daquilo, eu... – Jen se sentou e escondeu o rosto nas mãos. – Agora o passado vem me assombrar e sou eu quem tem um ponto fraco!

— Nossos disfarces nunca foram descobertos e você estava de peruca loira na época. Como ela sabe quem é você? – Perguntei mais para mim do que para Jen.

— Meu rosto está em vários jornais, Jethro. Às vezes em mais de um ao mesmo tempo. E acredite em mim, uma mulher jamais esqueceria o rosto de uma pessoa que ameaçou a vida de seu bebê ou a sua própria vida!

— São quase nove anos, Jen. E você mudou nestes nove anos. Tem algo aí.

— Ou ela é fria o suficiente para esperar por todos estes anos para ter a sua vingança. – Jen me respondeu friamente.

— Não... se ela quisesse vingança, teria ido atrás de um de nós naquela época, vinganças são assim. – Afirmei.

— São, Jethro? – A ruiva me encarou, em seu olhar eu via o desafio que as suas palavras lançaram. E me lembrei que a própria Jenny havia esperado mais de dez anos para ter a sua própria vingança.  – Entendeu, não foi? – Ela se levantou e limpou a roupa. – Creio que terei que fazer uso da regra 45. – Falou, se virou e recomeçou a subir as escadas.

— E da 15, também.

— Não vou te envolver nisso, Jethro. Já te envolvi com outra bagunça que não era sua. Essa não.

— A outra bagunça, Jen, envolveu a minha filha. Essa envolve você.

— E não envolve nem a Sophie e muito menos você. Foi o meu erro, a minha falta de capacidade de puxar o gatilho, a minha fraqueza que deixou que isso acontecesse. E eu, somente eu, irei resolver isso. – Discursou cheia de ódio. – Porque se algo me acontecer, você tem que tomar conta de Sophie. – Recomeçou a subir as escadas antes que eu pudesse achar uma resposta para o que ela havia dito.

Não vi Jen pelo resto do dia, primeiro porque ela tinha se enfiado dentro daquele escritório e se afundado em trabalho, para esquecer o que estava de volta e, ao mesmo tempo, começar a planejar como ela iria ficar à frente de Svetlana e emboscá-la, sim, eu conhecia como Jen pensava. E segundo, porque o caso em que estava não me deu mais tempo, tanto que Sophie foi para casa só com Melvin como segurança.

Assim, só fui encontrar Jen tarde da noite, ela estava sentada no seu estúdio, uma xícara de café ao lado e uma pilha de relatórios na sua frente. Sua expressão guardada. Tão guardada quanto estava em Paris quando tudo isso começou.

— Se matar de trabalhar não vai te trazer a solução para o seu mais novo problema. – Não era a minha intenção ser ríspido, mas as palavras saíram assim.

Na mesma hora ela levantou a cabeça e me encarou, fúria borbulhava no fundo de seus olhos verdes.

— Não estou procurando soluções. Estou trabalhando. – Disse seca.

Entrei no estúdio e me servi de um copo de Bourbon, surpreso que ela não tenha feito isso.

— Então, presumo que já achou Svetlana. – Respondi no mesmo tom. Nossa noite não terminaria bem.

— Não tem provas nenhuma de que foi ela quem mandou aquele aviso, Jethro. Nenhuma. Abby não achou nada e, até que se prove o contrário, Svetlana Chernitskaya não fez isso.

— E quem fez, Jen? – Minha voz subiu ao ver a pouca importância que ela dava ao caso.

— Fale mais baixo, nossa filha está dormindo no andar de cima e eu não quero que ela acorde. – Ela sibilou perigosamente. – E eu não sei, qualquer pessoa que tenha acesso a minha ficha pode ter visto que eu estava em uma missão em 1999, mas não tem permissão para ver o que era. Talvez, Jethro, pode ser só alguém achando que vou cair em uma chantagem. Só que eu não vou cair. – Ela disse segura.

— Não sabia que você acreditava em contos de fadas, Jenny.

— Me traga uma prova de que Svetlana está viva e eu vou atrás dela, Jethro. Como eu disse, pode ser qualquer um, mas se for a russa, eu vou atrás dela, e dessa vez não vai ter desculpa ou pedido que a mantenha viva, satisfeito? – Ela se voltou para a sua mesa e se sentou, esse gesto era claramente um que me dizia que ela me queria bem longe, mas eu fiquei por ali, encarando-a, ela saberia o motivo.

Jenny resistiu por meia hora, ela trabalhou calada e com o maxilar trancado por todo esse tempo enquanto eu a observava, até que, cansada de me ter por perto, fechou o relatório, tirou os óculos e apenas disse:

— Eu vou te provar que você está errado. – Jogou na minha cara, para acrescentar, já na porta: - O quarto de hóspedes te espera.

Como se fosse a primeira vez que ela me colocava para fora do quarto.

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 Pelas próximas quatro semanas não recebi mais nada, e nada de anormal aconteceu. Minha vida seguiu perfeitamente normal, tirando o olhar de Jethro sobre mim. Ele sempre me olhava como um falcão observando os arredores e, não raro, estávamos brigando. Eram brigas bobas, que acabam com ele ou quarto de hóspedes ou indo para Alexandria e ficando por lá.

Sophie foi a única que percebeu a nossa mudança de humores e não gostou nada. Tanto que chegou a me perguntar se eu não iria mais me casar com o papai.

Não confirmei, mas também não neguei, ela não ficou satisfeita com a resposta, porém não comentou o que queria, minha filha estava preocupada com a irmã, já que hoje Kelly irá receber a nova designação dela.

Jethro apareceu pela manhã, tomou café conosco e levamos Sophie para a escola, sempre em silêncio, sempre quietos. Assim que ele parou no portão, Sophie se soltou do cinto, e colocou a cabeça entre nossos bancos, primeiro dando um beijo na minha bochecha, depois na bochecha do pai, achei que ela sairia do carro como todas as vezes, só que ela simplesmente comentou:

— Eu não sei o que está acontecendo entre vocês, só sei que eu não estou gostando. Eu não gosto quando vocês brigam e ficam fingindo na minha frente que tudo está normal, eu sei que não tem nada normal aqui. Assim, ou vocês dois conversam e se acertam, ou vão ter que me contar o que é, hoje à noite. A decisão é de vocês. – Terminou, desceu do carro e parou na janela do pai. – Tenham um bom dia e, por favor, parem de brigar, Kelly não vai gostar de saber que vai ter que sair para algum lugar e deixar vocês dois desse jeito.

Depois desse puxão de orelha de nossa filha, Jethro se virou na minha direção e apenas disse:

— O maior problema é que ela está certa. Não podemos continuar assim.

Encarei-o, tinha uma dúzia de palavras para soltar na cara dele, mas não fiz isso. Não era hora e nem era necessário.

— Vai confiar em mim quando digo que não há perigo iminente, Jethro? Ou vai agir como um fuzileiro e entrar no modo de ataque?

— Você não recebeu nada? Mais nada? – Ele evidentemente, ignorou o meu comentário sobre o modo de ataque.

— Nada. Um mês e nenhuma carta ou e-mail, ou telefonema. Ninguém me seguiu ou chegou perto de Sophie. O mesmo com a nossa casa, meu detalhamento de segurança não achou nada de errado. – Respondi.

— Alguma informação sobre Svetlana?

— Nenhuma. Não a localizei em lugar nenhum. Deve ter trocado de nome, mas a essa altura, depois de tanto tempo, acho difícil seguir algum rastro dela.

Jethro meneou a cabeça e concordou comigo. Depois, antes de ligar o carro, apenas falou:

— Então, qual das duas opções que a Ruiva nos deu vamos seguir?

Tive rir, às vezes eu realmente duvidava que Jethro pudesse ser tão sério no trabalho, já que quando saía do modo Agente Mal-Humorado, ele virava o Paizão Babão que fazia qualquer coisa por suas garotas.

— Creio que estamos na primeira opção. – Disse sem olhá-lo. – O que Sophie não sabe não a machuca, Jethro.

Ainda com o carro parado ele me encarava e como eu não o olhava diretamente, fez questão de virar o meu rosto na sua direção e sustentar o meu queixo até que eu o olhasse nos olhos.

— Por acaso você acabou de modificar a sua regra, Jen?

Levantei uma sobrancelha para ele.

— Eu ouvi você comentando com Ziva, Abby e Tony uma vez, sobre a sua Regra #01: “O que Jethro não sabe, não nos fere.” – Ele citou a regra e eu me lembrei do dia, Ziva tinha me pedido uma informação, logo nos primeiros dias dela como agente, e eu, doida para voltar ao serviço de campo, estava conseguindo para ela, com alguma pequena ajuda da minha alta permissão de acesso. Tony chegou na hora em que eu entregava o envelope para a israelense e soltou algo parecido com “então a Diretora é o seu contato! Gibbs sabe sobre isso?” E eu, para cortá-lo, apenas disse: “Regra #01, O que Jethro não sabe, não nos fere!”. De pronto DiNozzo me respondeu que a regra #01 não era aquela e eu soltei: “essa é a minha regra #01, Agente DiNozzo.” Nunca tinha imaginado que Jethro estava por perto e tinha ouvido a conversa.

— Bem... pode-se dizer algo assim. – Falei sem emoção. – Já que a minha regra #01 foi roubada há muito tempo, por um ladrão de regras, enquanto eu estava em Londres... – Murmurei e eu sei que ele se lembrou do dia.

— Eu não roubei a sua preciosa regra, Jen. Eu a penas numerei como uma das minhas regras.

— Suas regras, Jethro. Você roubou a minha regra! – Acusei-o.

Ele deu sum sorriso de lado e se inclinou para me beijar.

— Faço um melhor uso dela do que você, Jen. – Me disse depois que se afastou.

— Ladrão! – Sussurrei igual a uma criança.

— Não me acuse de um crime enquanto você quer mentir para a sua própria filha! – Ele brincou.

— Não é mentir, ela deu duas opções, vai ter a que é melhor para ela. Além do mais, ela é muito a sua filha quando se trata de ser superprotetora, assim, melhor Sophie não saber de todos os detalhes do que anda acontecendo. – Terminei. – E só mais uma coisinha. – Falei chegando perto do rosto dele e Jethro, como sempre, chegou mais perto de mim. – Ligue esse carro e nos leve para o estaleiro! Estamos atrasados! – Dei um tapa na cabeça dele.

A cara de ultraje que ele fez foi cômica, mas como eu já tinha passado de um limite, não queria ultrapassar outro, assim dei um sorriso na sua direção e peguei meu telefone, a fim de confirmar a minha agenda da semana.

À noite, quando chegamos tarde em casa, Sophie nos esperava de braços cruzados no primeiro degrau da escada, a expressão fechada e nos olhava desconfiada, como se tivéssemos chegado juntos só para enganá-la.

— Boa noite, mocinha, não deveria estar na cama? – Jethro perguntou tentando pegá-la no colo, e eu vi Sophie recuar do abraço do pai pela segunda vez na vida.

— Kelly me deixou ficar acordada, já que eu disse a ela que tinha que conversar com vocês. – Sophie falou seriamente. – E então... o que vocês dois decidiram?

— Kelly está aqui? – Perguntei tentando trocar de assunto.

— AQUI!!! – Respondeu a Tenente da Marinha. – Não sei o que vocês fizeram, mas ela está com essa cara de quem comeu limão, a noite inteira, e se recusou a ver qualquer desenho até que vocês chegassem. – Ela veio falando e parou na entrada da sala. Em resumo, estávamos cercados.

— Já resolvemos o que tínhamos para resolver. – Jethro falou por nós.

— Mamãe? – Sophie me chamou, me encarando como se me lesse e notei que ela realmente estava fazendo isso.

— Nos entendemos. – Respondi. E algo dentro de mim achou essa situação muito estranha. Cercados pelas duas filhas, que nos encaravam atrás de uma resposta e que saberiam se estivéssemos mentindo.

— Certo. – Sophie falou por fim. – Era isso o que eu tinha para conversar com eles, Kells. Agora eu vou dormir. – A ruivinha falou e subiu as escadas correndo, sem ao menos nos dar boa-noite.

Jethro me encarou, os olhos arregalados, eu tenho certeza de que minha expressão imitava a dele, Kelly e Henry começaram a rir.

— E chegou o dia em que uma garotinha de sete anos e onze meses colocou vocês dois no chinelo. E eu vivi para ver isso! – Kelly ria.

— Eu ou você? – Olhei para Jethro.

— Nós!

— SOPHIE SHEPARD-GIBBS!! Pode voltar aqui, mocinha! – Gritamos.

Sophie apareceu no alto da escada, estava escovando os dentes e já de pijama. Como não podia nos responder, apenas tombou a cabeça de lado e nos olhou em dúvida.

Jethro subiu as escadas de dois em dois degraus e logo estava ao lado da filha, que agora tinha uma expressão de puro terror nos olhos coloridos, fiz a mesma coisa e atrás de mim escutei a risada de Kelly e o seguinte comentário:

— Quando ela chegar na adolescência vai ser mil vezes pior!

Vi quando Jethro simplesmente levantou Sophie no colo que quase se engasgou com a pasta de dente, e, antes mesmo que ele a levasse para o quarto, eu já estava em seus calcanhares e encarava a minha filha.

Assim que foi posta no chão, Sophie correu para o banheiro para enxaguar a boca e voltou desconfiada e assustada para dentro do quarto, parando a uma distância segura de nós.

— Desde quando a mocinha vai se deitar sem se despedir? – Jethro perguntou.

— Tenho uma melhor. – Cruzei os meus braços. – Desde quando ela resolve não nos cumprimentar quando chegamos em casa?

Sophie levantou a sobrancelha e não disse nada.

— Estamos esperando uma resposta! – Sibilamos.

Ela deu de ombros. Incerta sobre o que dizer e se encrencar de vez.

— Não nos ignore, Sophie! – Jethro a alertou e ela se encolheu, pois o pai só a chamava pelo primeiro nome quando estava realmente furioso com ela.

Ainda com uma atitude um tanto desdenhosa, ela começou.

— Eu estava esperando uma resposta. Vocês me deram. E como chegaram já me dizendo que estava tarde para que eu estivesse fora da cama, e como eu tinha prometido para a Kells que iria dormir assim que vocês chegassem, foi o que fiz.

— Abaixe a sua bolinha, Sophie. Você só tem sete anos e ainda tem que nos obedecer. Nunca mais nos trate assim. – Avisei.

E, pela primeira vez, a minha filha deu um ataque e me respondeu em um tom que ela nunca tinha usado, mas que demonstrava um fator interessante, ela tinha sentido a mudança no meu comportamento e no de Jethro muito mais do que nós dois percebemos.

— Viu como não é bom ser ignorada? Foi assim que eu me senti nas últimas semanas enquanto vocês dois brigavam! - Acusou e se virou na direção da cama para ir dormir.

Foi a gota d’água. Ela estava certa, e nós dois sabíamos disso, mas a atitude dela era completamente errada, assim como o tom de voz que ela tinha usado.

— Está de castigo. – Vociferei.

— Mas.... – Ela começou, ficando vermelha, e eu diria, furiosa também.

— Tente argumentar com a sua mãe agora, Sophie e o castigo vai ser o menor dos seus problemas. – A voz de Jethro demonstrava que ele não estava brincando e Sophie entendeu o recado, mesmo que nenhum de nós a tenha castigado de forma física antes, assim, ela deu um passo para trás, abaixou a cabeça, seu rosto passou do vermelho de fúria para o vermelho de vergonha e ela suspirou alto.

— Me... me desculpem. – Ela disse ainda cabisbaixa e em um tom de voz bem mais baixo. – Eu não vou mais fazer isso. Qual é o meu castigo?

Jethro olhou para mim e o encarei, e apenas mexi os lábios.

— O mais severo possível. – Disse movendo os lábios. Ele saberia lê-los.

— Um mês dentro de casa, sem nenhum brinquedo, sem televisão, sem cama elástica. SEM SESSÃO DE FILMES COM A EQUIPE. – Ele levantou a voz e ela se encolheu.

— Sim, senhor. – Murmurou, ainda vermelha.

— E uma reclamação sua, Sophie, se eu ouvir você reclamando sozinha ou com Noemi, eu vou dobrar o seu castigo e você não vai comemorar o seu aniversário!

— Sim, mamãe. Eu não vou reclamar.

— Agora, cama! – Jethro ordenou e ela correu para a cama, se enfiou debaixo das cobertas, abraçou o Mushu e ficou quietinha, tentando controlar os soluços do choro.

— Boa noite. – Ela disse antes que fechássemos a porta.

— Boa noite. – Foi tudo o que dissemos.

Era difícil fazer isso, ainda mais que ela ficou chorando, mas era para o próprio bem dela, antes conseguir o controle agora do que perdê-la de vez quando fosse mais velha.

— Eu detesto fazer isso. – Jethro murmurou. – Contando as vezes que pus Kelly de castigo, essa foi a sexta vez.

— Primeira. – Murmurei infeliz. – Mas antes fazer isso agora quando ainda temos o controle e que ela é pequena.

— Sim. – Ele me respondeu e me abraçou. – Eu não tinha percebido que ela era tão perceptiva com o que fazemos. Nunca me ocorreu que a Ruiva fosse mudar o comportamento por conta da nossa mudança de comportamento.

— Eu também não sabia disso, Jethro. É a primeira vez que ela age assim. – Falei. Nós dois estávamos escorados no corrimão do segundo andar, Kelly chegou no pé da escada e murmurou.

— Tudo bem aí em cima?

Respirei fundo e dei uma cotovelada em Jethro.

— Sim, filha, já estamos descendo. – Ele respondeu e me guiou até a escada, descansando a mão na minha lombar.

— O que aconteceu? – Quis saber Kelly. – Eu escutei o senhor gritar com a Sophie.

— Está de castigo. – Foi tudo o que eu disse.

— Ela falou algo mais do que já havia dito?

— Vamos dizer que Sophie tem um gênio e tanto e tem que aprender a frear a língua. – Jethro respondeu suspirando pesadamente. Ele sabia, assim como eu, que parte do comportamento apresentado por Sophie era o gênio e a personalidade dela, mas a outra parte e provavelmente a maior, era por conta do excesso de mimo que ela sempre teve.

— Bem... não sei se serve de defesa para o que ela fez, mas a Moranguinho estava realmente chateada com vocês dois... perguntei o que era, ela simplesmente me disse que vocês dois estavam estranhos, não entrou em detalhes. Eu ia perguntar, mas vi que ela se fechou igual ao senhor, papai, então preferi não arriscar, deveria ter perguntado, assim ela não estaria de castigo agora.

— É um castigo necessário, Kelly. Agora, vamos mudar de assunto. – Falei e me sentei no sofá, Jethro se sentou do meu lado, passando o braço pelos meus ombros. – Você me ligou dizendo que já sabia para onde ia?

— Bem... sim! – Kelly abriu um sorriso. – Dessa vez eu vou ficar no país. Na Califórnia, no Hospital Naval em San Diego. O que vai ser bom, já que posso fazer uma especialização em cirurgia cerebral lá! – Ela falou animada. – E tem a vantagem de que a cada quinze dias eu posso vir e passar três aqui, não é muito, mas é melhor do que estar do outro lado do mundo. E vocês podem me visitar!

— San Diego?!

— Sim, pai... vou voltar para Pendleton... Irônico não é? Primeiro o Golfo, agora Pendleton... E tem gente que diz que não acredita em coincidências... – Ela fez uma careta e começou a rir da cara que Jethro fez.

E, na próxima hora ficamos discutindo a designação de Kelly, ela mostrando o motivo de ser tão boa para ambas as carreiras, tanto a militar quanto a profissional e, fazendo planos para nos receber para uma competição de surfe, mesmo que ninguém ali soubesse surfar na verdade. E mesmo enquanto riamos com as palhaçadas que ela e Henry falavam, sobre como iam achar um meio termo para nenhum dos dois ter que viajar tanto, uma vozinha me dizia que tinha uma garotinha ruiva chorando no andar de cima... meu coração se apertou, e eu tive que dizer para mim mesma incontáveis vezes que era para o bem de Sophie, que ela merecia esse castigo se quisesse que a vida não lhe ensinasse castigo pior. E toda vez que eu parava para pensar na minha caçula, Jethro me abraçava mais forte, sua mente sincronizada com a minha, ouvindo o que a nossa mais velha tinha para dizer e pensando na mais nova ao mesmo tempo.

— Bem... ainda tenho uma semana até que em apresente de vez na Califórnia. Ia pedir ajuda para Sophie para arrumar o apartamento que me foi designado por lá, mas já vi ser impossível, acho que vou chamar Abby e Mer, já que ela ainda está por lá... – Kelly falou. – E, bem, eu ainda posso vir aqui, mesmo com a Moranguinho de castigo, né?

— Mas é claro, Kells. É a Sophie, não você quem está presa em casa.

— Ótimo, pretendo aparecer mesmo! Todos os dias para filar o jantar que a Noemi faz... – Ela brincou. – E para não ficar sozinha... É ano de eleições e esse aqui parece que já vai começar com reuniões de comitê... vai se lançar para prefeito! – Kelly deu uma cotovelada no marido, mas eu vi o orgulho estampado no rosto dela. – Votem nele por mim... – Brincou e se levantou. – E como eu não quero ficar sozinha naquela casa enquanto ele fica horas nas reuniões, vou ficar aqui e depois ele vem me pegar.

— Será muito bem-vinda! – Jethro abraçou a filha.

— Que bom, volto amanhã. Alguma recomendação quanto à encrencada lá em cima?

 - Ela sabe o que ela não pode fazer. – Foi tudo o Jethro respondeu e depois de se despedir da filha e do genro, foi para o meu estúdio.

— Sabe, Jen. – Kelly olhou por cima dos meus ombros. – Ele me colocou de castigo cinco vezes, e em todas elas me liberou mais cedo, por bom comportamento..., não acho que Sophie estivesse de toda errada, mas sei que é necessário.... ela ficou chorando?

— Ficou. – Mordi o lábio ao pensar na minha filha chorando e eu tentando ignorar isso.

— Eu também ficava.... e mamãe uma vez me disse que ele passou a noite no meu quarto de tão culpado que ficou... não duvido que fez isso nas outras vezes também. Só estou falando isso tudo, porque, quando era eu, era sempre papai quem decretava o castigo e era mamãe quem o mantinha firme, porque ele nunca suportou me ver quieta e calada... então, se prepare para que ele fique ainda mais calado...

— Vai ser difícil, eu nunca a coloquei de castigo assim, Kelly. Primeira vez. Mas já estava passando da hora.

— Acho que eu só vou entender quando for a minha vez de colocar uma criança de castigo... – Ela disse com balançar de ombros. – Se precisar de uma babá para a semana, não me importo de pegá-la e levá-la para as aulas, prometo que vou seguir o castigo à risca. E seria bom ter algo para fazer, estou cansada de ficar à toa.

— Você está falando demais... não se culpe, não é sua culpa que Sophie tenha sido mimada demais e tenha um gênio um tanto forte.

— Sei... – Kelly mordeu o lábio. Procurou por Henry. – Estou preocupada com ele também... Muita pressão. Queria poder ficar por perto, mas acho que só no segundo semestre. Você se importaria de ficar de olho no Henry por mim? Ele tá levando isso muito a sério e eu acho que ele está indo rápido demais.

— Fico sim, Kelly. Fique despreocupada, agora vá para casa, porque está frio pra caramba e você só tem uma semana para aproveitar o maridão!

Ela deu uma risada e gritou o seu boa-noite para Jethro, depois me abraçou e correu pela entrada congelada até o carro de Henry, vi ela dando um beijo nele assim que entrou. Fechei a porta e encarei a escada.

— Se você subir para vê-la eu vou junto e eu duvido que ela já esteja dormindo, então fique. – Jethro me alertou. Segui sua voz até o meu estúdio, ele estava sentado na minha mesa. – Eu preciso que você seja forte e a mantenha no castigo, porque eu não sou forte o bastante para privá-la de nada.

Dei um pequeno sorriso.

— Kelly me falou. Parece que no fim das contas, quem controlava os castigos era Shannon.

— Sempre foi ela. Bastava eu olhar para a carinha de Kelly, vendo os olhos tristes dela, que na mesma hora eu já estava pronto para libertá-la, Shannon sempre pisava no meu pé e sacudia a cabeça negativamente. Preciso que você faça o mesmo.

— Acho que vamos precisar da Noemi para nos controlar então... – Me sentei na mesa de frente para ele. – Eu nunca consegui dizer não para Sophie, e continuar com essa frieza vai ser a minha morte.

Jethro me puxou para o seu colo e depois se recostou na cadeira, me levando junto.

— O que vamos fazer então, Jen? Ela precisa disso e parece que nós dois não temos tanta força de vontade assim.

— Você me controla, eu te controlo e nós dois tentamos sobreviver aos próximos 30 dias.

— Serão longos trinta dias...

— Os mais longos das nossas vidas. – Concordei.


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Notas finais do capítulo

E essa foi só a introdução de toda a bagunça que vai acontecer daqui para frente... Sophie e eu comportamento nada bento é só a ponta do iceberg!
Obrigada a quem está lendo e comentando.
Até o próximo capítulo!



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