Não Tão Estranha Assim escrita por Débora SSilva


Capítulo 9
Capítulo 8 - Juramento




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773368/chapter/9

Capítulo 8
Juramento
Blair Montello

— Pode ficar à vontade, querida! Sinta-se em casa — Dona Sarah diz assim que abre a porta de sua casa.

Solto a coleira de Sun Hee para ajudá-los a carregarem todas as sacolas de compras, minha cachorrinha não sai do meu lado, olhando ao redor e me seguindo para dentro da casa.

— Muito obrigada — digo, assim que deixo algumas das sacolas acima da mesa como os meninos.

A casa é aconchegante, ainda não tem muito deles em todo lado, vejo algumas caixas de papelão por ali e por aqui com utensílios. O cômodo onde a cozinha se localiza parece ser o penúltimo da casa, da onde também vejo a segunda porta, a de trás, logo a direita.

— Agora, Dan, entretenha nossa convidada enquanto eu e Max cuidamos da comida, que tal? — Dona Sarah propõe com um sorriso e outro se alastra pelo rosto de meu novo amigo.

— Parece bom! — ele ri dando uma cutucada em seu irmão, o fazendo encará-lo e depois se virar para a mãe e remexer nas panelas do fogão.

— Antes, eu poderia pedir um favor? — pergunto um tanto receosa.

— Claro — é Max que responde ainda de costas para mim.

— Eu gostaria de um pote com água, por favor, eu esqueci o de Sun Hee em casa — peço me agachando em frente a minha cachorrinha que continua com a língua para fora até mesmo já parada, me dando a entender que está cansada e louca para beber água.

— Oh, querida, é claro! — dona Sarah vai até um de seus armários e busca um pote, logo depois vai até sua longa pia e o enche de água.

— Obrigada — agradeço assim que ela me alcança e abaixo ao chão o pote, onde minha cachorrinha começa a beber da água rapidamente.

— Ela estava realmente com sede, certo?! — Dan observa e eu concordo com um aceno de cabeça. — Podemos levá-la para o jardim, se preferir.

Olho de canto Max, que me observa da mesma forma de onde está, na geladeira pegando algo que nem presta atenção realmente (pra quê ele vai precisar de uma lata de sardinhas para o almoço?), retorno a olhar para dona Sarah que está cantarolando empolgada de frente para a pia.

— Dona Sarah, tem certeza que não precisa de ajuda? — pergunto novamente, me sinto constrangida por, além de ser uma convidada não esperada, causar problemas. — Eu e Dan podemos ajudá-los!

— Posso não, quero não — Dan sussurra na ponta do meu ouvido, o que me faz pular e tampar a boca, quase soltando uma gargalhada por culpa de suas palavras.

Escuto um pequeno click, mas não olho para a direção deste, ao passo em que Dan me cutuca e aponta para Max. Vejo que foi ele o causador do som, ao fechar a geladeira.

— É claro que não, querida — ela nega e olha sobre o ombro com um sorriso e com seus olhos azuis brilhando. — Vi que já socializou com Dan, pode ficar à vontade e conversar com ele.

— Beleza! — o irmão mais novo dos Jersons diz, segura em meu braço e me puxa para a saída a nossa direita.

Saímos no quintal, um espaço com grama e uma árvore em crescimento, Sun Hee, que está solta da coleira, me segue e pula pelo local cercado, se divertindo. Dan me arrasta um pouco mais a frente, onde se tem duas espreguiçadeiras de madeira. Agora estamos sentados de frente para a porta aberta da cozinha, porém um pouco mais distante, não somos capazes de ouvirmos a conversa que se passa ali e, por isso, imagino que também não possam nos ouvir.

— Cara, o que seu irmão tem para ser tão sério? — murmuro me virando para Dan e ele sorri e desvia o olhar para o céu, se jogando para trás e deitando com seus braços por trás da cabeça. — E essa coisa de encarar está ficando irritante!

— Ele sorria bem mais antes de tudo — ele confessa e eu subo minhas pernas para cima da cadeira, me arrumando na posição de lótus. Ele me encara e sorri largamente. — Mas ele, pelo que parece, está procurando motivos para voltar a sorrir, eu aprovo, definitivamente, aprovo!

— Vocês falam em códigos, não é possível! — resmungo ao deitar a cabeça de lado no ombro. Ele apenas dá de ombros e se senta, chamando Sun Hee com um assobio e fazendo cafuné em sua pelugem.

Tudo que Dan fala se confunde mais e mais em minha mente, é como se ele quisesse me dizer algo, mas eu não consigo captar. Minha mãe sempre diz que eu sou muito aluada para o meu próprio bem! Só nunca pensei que até eu mesma perceberia isso, tudo que ele fala nas entrelinhas entra por um ouvido e saí pelo outro. Até, então, que reparo no começo de sua fala.

— Espera — falo e ele se volta para mim. — Você disse que ele sorria, mas antes do quê?

Me sinto inapropriada, mas Dan é o tipo de pessoa aberta e expressiva, os olhos dele brilham pedindo uma conversa atrás da outra. E eu não sou um ser muito quieto, digamos assim. Sou curiosa, mas também sei quando não sou bem vinda, e Dan não passa sequer um terço desse pensamento.

— Faz quase dois anos que nosso pai faleceu — ele comenta com um sorriso de lado. — Tudo em New York estava começando a sufocar, um pouco mais a cada dia.

— Meu Deus, eu sinto muito mesmo — falo tocando seu ombro e ele sorri para mim. — Me desculpe por perguntar uma coisa dessas, sério, como fui burra!

— Relaxa, Blair, está tudo bem! — ele diz com uma risada. — Estamos nos recuperando, e Mount Alba esta sendo perfeito para isso.

Concordo com um movimento de cabeça. Essa cidade realmente parece a fonte das esperanças. Quando meu pai perdeu o emprego em San Francisco, minha mãe começou a fazer cosméticos em casa com tudo que sabia de sua faculdade de farmácia e química. Depois de um tempo fazendo sucesso, meu pai pediu um empréstimos para conseguir formalizar tudo da empresa de minha mãe. Foi então que conseguimos ainda mais recursos e minha família soube de um espaço comercial em Mount Alba para montar uma verdadeira fábrica, nos mudamos para cá assim que tudo estava resolvido, deixando para trás toda a dificuldade e dando olá para uma nova chance.

— Ah, e sobre os sorrisos — Dan fala me fazendo encará-lo, e, com um sorriso gigantesco nos lábios, completa: —, ele sorria mais antes da morte de meu pai, e aqui parece que ele está procurando motivos para sorrir novamente, foi isso que quis dizer. Ligue os pontos, Blair!

***

Depois de algum tempo conversando e, não, não liguei ponto algum!, o telefone em meu bolso começa a tocar. O pego rapidamente, pedindo desculpas a Dan pela interrupção, mas me afastando logo em seguida para atender a ligação.

— Garota, é melhor você estar com problemas, se não vai estar agorinha mesmo! — é a voz de Amélia que grita em meu ouvido assim que atendo.

— Calma lá, garota, que desespero é esse? — resmungo afastando um pouco o celular de meu ouvido.

— Calma? RÁ! — ela grita dessa vez, me fazendo resmungar — Ela está me dizendo pra eu ficar calma, eu, a mulher que ficou telefonando a manhã toda para ela!

— Ingrata! — é Carter que fala embolado logo ao fundo, me dando indícios de que está comendo e com a boca cheia. Mas logo depois pigarreia — Onde você está? Ligamos para sua casa centenas de vezes!

Olho ao redor, Dan está em pé brincando com minha cachorrinha que já comeu mais um dos pacotes que comprei para ela e bebeu um pouco mais de água esse tempo todo. Suspiro, porque imagino o que vem pela frente.

— EstounacasadoMax! — digo rapidamente, juntando todas as palavras e olhando na direção de Dan novamente.

— TU O QUÊ? — Dessa vez são os dois que gritam no meu ouvido, me fazendo soltar um gritinho de susto e chamar a atenção de Sun Hee, que corre em minha direção.

Eu também não esperava que eles se lembrassem do nome do Lind...do Max em si, mas acho que após a visita dele em nosso café da manhã marcou sua identidade.

— Tudo bem? — Dan pergunta e eu assinto, mas ele vem para meu lado da mesma forma, me encarando com uma interrogação no olhar.

— Seguinte, eu encontrei Max e sua família no mercado e eles me convidaram para almoçar. Fim de papo, vou desligar! — exclamo, mas não consigo deslizar meu dedo rápido o suficiente pela tela.

— Você não vai escapar tão rápido assim, minha querida inocência em pessoa! — Amélia diz com um estalar de língua e uma risada, para constar, muito maligna.

— Manda ela fazer o juramento, linda! — escuto Carter dizer e Amélia dá sua risada mortal novamente.

— É, isso mesmo — minha amiga diz. — Faça o juramento!

— Olha, tem pessoas aqui, eu não posso e...

— Eu tive que fazer esse juramento na frente do Carter, não tô ligando se tem pessoas aí ou não, ouviu bem?! Faça o juramento!

— Não dá — tento persuadi-la. — Eu...

— AGORA!

— Tá legal! — exclamo e olho para Dan antes de falar coisas e sua frente de que me arrependerei pelo resto da minha vida! Fecho os olhos e começo. — Eu juro por toda a minha honra que não irei ficar gastando minha boca com sapos nojentos que não se transformarão em príncipes encantos e... — essa parte eu tive que parar e respirar porque, meu Deus, era um pouco vergonhoso falar isso na frente de pessoas que eu nem conhecia direito —... e que não...eu não...

— Termina logo com seu suplício! — Carter incentiva ao fone.

— E eu não dormirei com homem algum sem ter uma aliança em meu dedo anular! — completei, mantendo meus olhos bem fechados.

— Valeu, gata, agora vai lá pagar mico para as pessoas, vai! — minha odiada e terrível amiga diz antes de desligar.

Abro os olhos e vejo Dan me observando de olhos arregalados, ele move suas íris em direção à esquerda e me viro para tal lado. Então dou de cara com Max e dona Sarah olhando pela porta, ela tão surpresa quando Dan e ele, bom, imaginem só se não vi um sorriso de lado naquela cara bonita....ah, droga!

— Nossa, a comida já tá pronta, é?! — pergunto empolgada e jogo as mãos para o ar com um sorriso no rosto. — Viva, estou morta de fome!

Dou uma risada forçada e entro na casa, logo sentindo minha cachorrinha colada a minha perna e os olhares ainda em cima de mim. Eu sou, deliberadamente, uma grande pagadora de mico! Deus, como consigo isso tudo em um só dia? Caramba, dá desconto pro futuro, por favor, que eu não aguento mais isso! Mas, quando olho para trás, sei que vou passar bem mais vergonha do que imagino ainda hoje.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

VERGONHA A GENTY VÊ POR AQUI HAHAHA E aí, gostando? haha deixem os seus comentários!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não Tão Estranha Assim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.