Não Tão Estranha Assim escrita por Débora SSilva


Capítulo 10
Capítulo 9 - Um Dia Hiperventilante




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Capítulo 9
Um Dia Hiperventilante
Blair Montello

Dona Sarah permite que cada um faça seu prato. A mesa está farta, o que acho incrível contando o pouco tempo que teve para colocar tudo em prática, porém, quando vejo os meninos porem seus pratos, entendo como ela consegue fazer tamanha quantidade de comida em pouco tempo. Eu e minha família nunca fomos pessoas que comecemos poucos, mas esses meninos parecem leões sedentos por sua caça há mais de dez dias. A mulher tranquila lançando olhares de advertência para os esfomeados está acostumada a fazer quantidades exorbitantes de comida pelo simples fatos de precisar, se não mata os dois de fome.

Sou a última a terminar de por meu prato, percebo que fico entre dona Sarah e Dan, o que não é nada bom já que assim fico de frente para Max, que está ao lado oposto da mesa retangular.

— Blair, sobre a faculdade — dona Sarah me chama e eu a encaro enquanto organizo os talheres em minhas mãos. — É que sou uma mãe preocupada, sabe, e eu gostaria de tirar algumas dúvidas já que você estuda há mais tempo na Maria Keent Public School .

— Oh, bem, claro — dou de ombros com um sorriso e escuto dentes batendo, olho para baixo e vejo Sun Hee bocejando e deitando aos meus pés.

— É que as faculdades começam no outono, agosto e setembro, mais ou menos — ela fala cortando a carne e eu aproveito para dar uma garfada na comida que já me mantém fascinada com seu sabor. — Bom, como vocês fazem para entrar nas faculdades há tempo já que a escola segue o ano letivo brasileiro, sendo assim terminam quase em dezembro, perderiam mais de três meses de aulas!

Volto a encará-la vendo o grande toque de preocupação em sua voz. Dona Sarah parece ter certeza de suas decisões, mas que não parou de pensar sobre suas consequências por nenhum segundo. Olho ao redor e Dan espera minha resposta, ao passo que Max continua a devorar a montanha de comida em seu prato.

— Não é tão complicado — começo, certa e com confiança. — Junto com nossas cartas de admissão enviamos a recomendação da escola sobre nosso ano letivo, e então nós entramos no segundo período da faculdade e antes disso fazemos alguns cursos que a própria faculdade oferece. Mas quem preferir, pode conseguir adiantar seus estudos e ir no tempo estipulado para a faculdade, simples assim!

— Oh, certo, super certo! — ela concorda deixando os ombros amolecerem e caírem, e aí sim se concentra em sua comida.

— Agora consegue respirar melhor? — Max é quem pergunta e ela o mostra a língua como uma criança que não é mais, então me vejo rindo junto de Dan da cena.

***

— Bom, pessoal, eu preciso mesmo ir — digo após espiar as horas no relógio de parede da sala de estar da família Jerson.

Ficamos por um longo tempo após o almoço conversando sobre mudança de uma cidade para a outra, sobre escola, e faculdade. Sempre me abate um desespero quando tocamos no assunto sobre faculdades, mas me controlei. Max permaneceu quieto na maior parte do tempo, Dan é o mais comunicativo e eu tive prazer em dar continuidade a qualquer assunto que ele ou sua mãe propunham.

— Certo, já te alugamos por tempo suficiente! — Dona Sarah diz e eu sorrio negando ao me levantar do sofá.

— O almoço estava incrível e a conversa foi ótima, muito obrigada! — agradeço batendo em minha perna com uma das mãos, Sun Hee entende como um alerta para se levantar e vem até mim, me agacho e prendo a guia em sua coleira.

— Eu que preciso agradecer sua presença, venha mais vezes, querida — dona Sarah me lança um sorriso e logo em seguida me dá um abraço. Ela tem quase minha altura, de forma que seu abraço fica realmente confortável, o típico de mãe coruja e eu sorrio com o carinho.

— Eu te levo — Max propõe se levantando da onde está e eu entro em meu estado de pânico, porque assim....o quê? O que ele quis dizer com esse eu te levo?

— Não se incomode! — exclamo rápida e Dan me dá uma cutucada rápida com seu braço no meu, depois solta uma risada e se vira para o lado, enquanto eu fico sorrindo forçadamente para dona Sarah que esta levantando uma de suas sobrancelhas na minha direção.

— Eu insisto — Max declara me encarando e passa por mim em direção a porta de saída, antes pegando um chaveiro no balcão ao lado do sofá.

— Tenha uma boa volta, querida — dona Sarah me lança uma piscadela e um sorriso carinhoso. — Espero que nos vejamos por muitas vezes.

— Claro, obrigada — deixo meus ombros caírem em derrota e me despeço de todos ali. Sun Hee ganha o carinho dos dois e Dan me lança uma piscadela com um até mais.

Saio pela porta e me sinto em Sixteen Candles quando o amado mocinho busca Samantha na porta da igreja, aquele sorrisinho no rosto enquanto está encostado no carro de braços cruzados. Sacudo a cabeça me voltando para a realidade porque, no caso, eu não sou Sam. Não estou perdidamente apaixonada por ninguém e aquele ali não é o mocinho de minha história de vida, bom...até onde sei.

— Vem — Max me chama e abre a porta de trás, fico mais tranquila quando percebo que ele não me quer no banco da frente. Mas Sun Hee corre a frente e entra pelo banco de trás e se acomoda, então Max fecha a porta e abre a da frente, esperando que dessa vez seja eu que me aproxime.

— Certo — concordo e passo por ele, engolindo em seco e me sentando no banco do carona, logo já coloco o sinto de segurança. Ele fecha a porta ao meu lado com cuidado e começa a dar a volta no carro.

Me viro para trás rapidamente e sussurro:

— Você é uma cachorrinha bem traidora me deixando aqui na frente sozinha — resmungo e ela solta um latido pra mim e depois dá uma lambida em minha bochecha, impedindo que eu sinta mesmo raiva dela.

— Muito bem — Max entra no carro e Sun Hee solta um rosnado, eu acaricio seu focinho e ela para imediatamente, parecendo satisfeita com a atenção. — Será que vamos ter uma conversa descente agora? — ele pergunta dando partida no carro e começando a dirigir pela rua.

— Como disse? — questiono confusa e piscando os olhos repetidamente, como se fosse esclarecer algo na minha.

Max me olha de relance e sorri.

— Por que você não desvia o olhar? — volta a perguntar, com um sorriso de lado sem retirar as mãos do volante.

Solto um som de incredulidade pela garganta, porque eu não poderia estar mais surpresa com sua pergunta não idiota. Ele esta mesmo me questionando sobre isso? Parou a palhaça meu irmão, vamos ter uma conversa de homem para mulher agora!

— Por que eu fico encarando? — solto sem me importa, colocando minhas mãos na cintura sem me importar que o cinto de segurança me impeça de fazer a pose de forma que parece realmente ultrajada — Por que você não desvia o olhar?

— Meu pai dizia que isso é uma forma divertida de conhecer as pessoas — ele dá de ombros calmamente — Algo assim.

— Sei, e aí você fica encarando as pessoas e depois as questionando — cruzo os braços revoltada com sua resposta, parecendo que ele não esta levando meu ultraje a sério.

— Não é todo mundo que eu encaro e nem todo que encaram de volta — ele responde sério.

— Tudo bem, então por que você continua me encarando?

— Por que desviar o olhar quando eu gosto do que vejo? — ele para o carro por um momento e me olha com um sorriso afetuoso nos lábios.

Eu, sinceramente, preferiria que ele admirasse a fotossíntese de um cacto, porque deve ser mil vezes mais interessante do que meus olhos castanhos lamacentos. Contudo, ele me olhar dessa forma e dizer essas coisas, para mim, que ainda sou uma desconhecida e que, mesmo assim, já tivemos um almoço juntos (e nem foi na escola!), me faz sorrir como uma boba e esquecer a agonia que esse cara me fez passar nas últimas horas com a brincadeira do encara-encara.

Max se volta para pista, então percebo que ele passou apenas por um semáforo e dois outros carros seguem junto do nosso.

— Pelo menos tivemos uns minutos de conversa — ele fala e eu concordo, mas depois sacudo a cabeça negando.

— Tivemos um almoço inteiro para você puxar assunto, porque não o fez? — meu modo indignação e confusão volta com tudo e me viro para ele que no momento não pode me encarar, o que é um alivio já que os olhos azuis do carinha bem aqui parecem me amolecer um pouco, talvez.

— A espontaneidade ficou toda para Dan — ele dá de ombros e sorri — Eu fiquei com a beleza, charme e inteligência. — e em sua fala ainda solta uma piscada para mim.

— Oh, meu Deus — eu caio na gargalhada e nego com a cabeça. — Isso foi cruel!

— Só um pouco — ele sorri me olhando rapidamente. — Prefiro conversas reservados, somente. Mas parece que toda vez que te vejo você está cercada por pessoas, parece mel que atrai abelhas.

— As pessoas gostam de socializar comigo, o que posso fazer? — dou de ombros fazendo um biquinho com os lábios, mas me divertindo com a conversa.

Me dou conta que é verdade o que ele diz e, ainda que eu tivesse ficado nervosa todas as vezes que ele esta presente, é muito mais fácil me envolver nas conversas quando estamos a sós. Parecemos nos soltar, não ligar para nada e apenas rir e qualquer coisa e ele me fazer ficar confusa e com um ataque de arritmia cardíaca.

Sorrio novamente e balanço a cabeça, então percebo uma manchinha em minha lente e retiro os óculos a fim de limpá-lo. Pego um pequeno lenço em minha bolsa cruzada no ombro e limpo a tal sujeira que sai rapidamente.

— Está entregue — ele diz estacionando no meio fio e eu olho para fora percebendo minha casa.

— É sim — concordo colocando os óculos novamente no rosto. Tiro  cinto de segurança — Obrigada pela carona.

— Não foi nada — ele abre a porta o carro junto de mim, abro a porta de trás e pego a coleira de Sun Hee e ela logo sai, ficando ao meu lado.

— Bom, é isso — olho em direção de Max que já voltou a me encarar e eu sorrio. — Para com isso! — aponto para ele que se encosta ao carro e sorri.

— Um dia — ele declara e dá um passo a frente, chegando um pouco mais próximo de mim. — Até mais, Blair — ele fala baixo e aproxima o rosto de minha cabeça, mesmo com os rosnados de Sun Hee a nossos pés.

E mesmo assim ele não para, com sua altura ele precisa curvar um pouco sua cabeça e deixa um beijo em meus cabelos. Eu fecho os olhos com força, mas sinto muito com aquele gesto tão bobo que até mesmo amigos fazem, pais ou colegas de classe. Apenas um beijo na cabeça é necessário para que um arrepio me soba pela coluna e sinto minhas bochechas queimando. Solto um suspiro e sinto que ele se afastou, volto a abrir os olhos e ele está sorrindo abertamente com seus olhos quase se fechando.

— Nos vemos por aí, Blair — ele se despede novamente e anda até seu carro, entra e dá a partida rapidamente, me deixando apenas com Sun Hee na calçada.

Ando até minha porta e me sento no tapete de boas vindas. Sun Hee se deita ao meu lado, colocando a cabeça apoiada em minha perna. Estou meio que de boca aberta com tudo que está rolando e, cara, como eu estou respirando rápido.

— Olha, é a Blair — escuto lá no fundo uma voz feminina.  — Carter, para o carro, ela tá tendo um ataque!

Escuto uma freada e sinto mãos em mim, assim que as mãos parecem achar meu chaveiro no bolso da calça, abre a minha porta e depois volta correndo com um saco de papel que taca em minha boca. Eu o seguro e respiro rápido dentro do saco, tentando controlar minha respiração.

— O que aconteceu? — é Carter quem me pergunta ao meu lado fazendo carinho em Sun Hee. — Você estava hiperventilando!

— Acho que estava mesmo — bufo e caio para trás, sem reparar que a porta estava ainda aberta, bato a cabeça no chão duro e escuto o uivo de dor dos meus amigos junto do meu. — Isso doeu!

— Nós percebemos — Amélia diz esfregando minha cabeça enquanto eu me encolho e Carter me envolve num abraço, aproveitando que esta jogado ao meu lado.

— Pode explicar o que aconteceu? — ele inquere e eu me levanto devagar.

— Eu meio que pirei — dou de ombros e suspiro — O Max me deu um beijo na cabeça, só isso.

— Opa, opa, opa — Amélia diz chamando nossa atenção, ela estende a mão para mim, eu a encaro confusa e Carter faz a pergunta que não quer calar, mas antes me cutuca e aponta a cabeça para Amélia de um modo “eu sei como fazer ela falar”.

— Oh, linda, o que você acha que esta acontecendo?

— Eu acho — ela começa e Carter me lança um olhar do tipo “viu” — que o Max tem uma queda por você assim como você tem por ele!

— Eu não tenho por ele...— eu digo rindo nervosamente e os dois me encaram, até Sun Hee me olha confusa e eu bufo precisando admitir em voz alta. — Talvez eu tenha uma quedinha por ele, mas só uma quedinha, do tipo tropecei numa pedra, só!

— Eu acho isso a coisa mais fofa que já vi depois de mim e do Carter — Amélia declara e eu caio na gargalhada, porque é impossível eu ser mais fofa com alguém do que Carter e Amélia.

Sorrio para meus dois amigos que agora discutem se é uma boa ideia ou não deixar Max se aproximar de mim ou ele precisa de algum selo de aprovação. Não que eu não queira me aproximar dele, mas mal eles sabem que quando estamos só nós dois eu me sinto nervosa, mas também confortável. Como após uma apresentação de trabalho na escola, você esta nervosa pela nota, mas feliz pela apresentação já ter passado. E é assim, estou feliz por já termos nos apresentado um para o outro e com nossas conversas, mas nervosa com o futuro e com seus olhares que me deixam envergonhada.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo para vocês que estão lendo haha ♥ E aí, ta sendo legal conhecer um pouco mais da família do Max e dos ataques de nervosismo da Blair? haha tadinha, mano



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