O Recomeço escrita por Caroline Miranda


Capítulo 23
Capítulo Vinte e Dois




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Os dias que seguiram foram ótimos, Elizabeth e John aproveitam o máximo que poderiam um do outro, eles realmente estavam levando a sério tudo aquilo, mas sempre em mente que tudo estaria próximo de acabar. O décimo quarto dia seria em um lindo chalé que Elizabeth havia alugado para eles passarem a noite juntos; o local ficava bem longe do centro de Newton, haviam apenas chalés próximos e uma floresta que ainda permanecia congelada pela neve que recaia sobre o estado de Massachusetts. A lareira era responsável por aquecer os dois, fazia o seu trabalho perfeitamente enquanto os dois estendiam as longas horas da madrugada fazendo amor por todos os cantos do chalé entre toques apaixonados e muitos beijos.

Elizabeth por algumas vezes sentia o corpo cansado, mas pensava que, talvez, fosse por todo aquele esforço físico com John e, que era provável que ele estivesse se sentindo daquela mesma forma; por conta de todo aquele cansaço, eles pararam algumas vezes para Elizabeth descansar e recuperar toda a sua energia, nessas pausas, John achou conveniente comer algo e é claro que Elizabeth topou prontamente, mas assim que sentiu o cheiro daquela comida invadindo o seu interior, era como se alguém tivesse dado um soco em seu estômago, era demais para aguentar.

— Eu juro que vivi para ver Elizabeth Dean Cipriano recusar um prato de pasta — ele disse, confuso com aquela situação. — Você está bem? A comida do lugar é ótima.

— Sim, eu só estou com um pouco de náusea. Acho que é só o café que tomei hoje mais cedo.

Ele franziu a testa, parecendo um pouco desconfiado. — Você vivia bebendo café, Dean.

Ela deu de ombros. — Está tudo bem, Phillip — garantindo com toda certeza.

John não estava muito convencido com aquelas palavras, ele estava preocupado com Elizabeth. Ela não era de se cansar facilmente ou de ficar enjoada com aquele tipo de comida, mas daria um voto de confiança para ela naquele momento, prometendo para si mesmo que tentaria ficar de olho por algumas horas na madrugada.

— Está bem. Que tal esquecermos essa comida toda — ele pegou as bandejas e colocou no chão. — E irmos dormir? É um ótimo plano.

Elizabeth sorriu, apenas acenando positivamente com a cabeça, ele encarou aquilo como um sonoro sim, mas silencioso.  

Pelas longas horas da madrugada, Elizabeth não havia conseguido dormir apesar do sono extremamente forte que estava sentindo, ela queria apreciar a respiração de John enquanto ele estava dormindo. Seus pensamentos estavam confusos conforme as coisas que ela acabara sentindo nas últimas horas, ou melhor, dias. Não era algo comum para ela, como também ela não estava pronta para voltar definitivamente, mas era algo a se fazer mesmo que fosse a coisa mais complexa e dolorosa dos últimos três anos. Ela só estava precisando de doses de coragem para si mesma, nos últimos anos quem estava proporcionando isso para ela acabara sendo ela mesma, então era hora de dar um pouco mais disso.

 

 

Depois de uma noite incrível, John havia acordado de um sono espetacular. Quanto tempo ele não dormia tão bem quanto acabou dormindo naquela noite, apesar de saber que seria a última noite que teria Elizabeth em seus braços, segundo seus planos.

— Eu nunca descansei tão bem quanto essa noite, meu amor — ele disse, com a voz um pouco rouca.

John esticou o braço para passar sobre a cama, arregalou os olhos ao sentir que a mesma estava vazia sobre o seu lado; Elizabeth já não estava no chalé, em nenhum canto dele por sinal. Ele suspirou fundo tentando controlar a respiração que havia ficado um pouco descompensada, não era possível alguém evaporar em horas daquela forma.

— Elizabeth? Isso não tem graça — ele murmurou para si mesmo.

Havia um bilhete em cima da cama, era a letra de Elizabeth sobre ele. O coração de John estava disparado como se fosse saltar para fora do peito, era tarde demais para qualquer tipo de pensamento ou até mesmo para pensar alguma coisa com coerência.

Em dias ruins, em dias bons…

sempre seremos um do outro,

sempre serei a sua bella.

Amo você

Em dias ruins? Era um adeus? Porque era a mesma forma que John havia finalizado sua carta. Elizabeth havia ido embora para sempre, assim como ele havia ido para o Japão há três anos. Era tudo culpa dele, era culpa das decisões que havia tomado naquela época e tudo por um emprego. John não queria aceitar que estava perdendo mais uma vez a mulher que mais amou em toda sua vida, não era a coisa certa. O aeroporto internacional ficava em Boston, a distância de Newton para Boston não era grande — do chalé para Boston era um pouco mais —, levaria um certo tempo para chegar. Ele avaliou que Elizabeth valia todo esforço aparente.

 

 

A neve na estrada deixava o fluxo preocupante e a paciência de John muito abaixo da sensação térmica, além de toda aquela neve, também tinham os carros que estavam vindo para as festas de final de ano. Ele também passou a presumir que o aeroporto estaria lotado com as demasiadas comandas de voos entre os países, tudo o que ele iria precisar era de muita calma naquele momento, algo que estava faltando toda vez que lembrava que havia sido um erro dormir na noite anterior. Realmente estava se culpando por ter dormido, ele deveria ter permanecido acordado para ficar com Elizabeth, para se certificar se ela estava bem depois das náuseas, mas ele havia dormido e havia dado a ideia de dormir. O quanto ele poderia ser insensível mesmo depois de todos aqueles anos?

— Você é um idiota, John Phillip — ele murmurou, entre os dentes.

E os seus pensamentos se resumiam: como você pode ter uma única chance com a mulher da sua vida e simplesmente desperdiçar? Como você conseguiu estragar tudo em quinze dias? Era realmente torturante para ele toda aquela situação. John tinha uma péssima mania de se colocar para baixo quando a situação já não estava muito boa para o seu lado, ele certamente sabia que precisava parar com isso, mas não sabia como fazer, era difícil.

 

 

Uma hora depois por causa de todo o fluxo e a neve, John havia conseguido chegar ao aeroporto internacional de Boston; como ele realmente presumia, de fato estava lotado e com pessoas de diversos países. Ele não queria gastar muito tempo esperando todas aquelas pessoas perceberem que havia alguém com pressa naquele local, John saiu correndo por todo o aeroporto até encontrar o guichê das companhias aéreas italianas. Sua respiração já estava descompensada para ofegante, deu-se conta do quanto precisava voltar a praticar exercícios, e embora os porta vozes ajudassem muito na localização dos próximos voos, os letreiros não apontavam nenhuma viagem para as próximas horas.

John aproximou-se de uma das atendentes do aeroporto. — Bom dia, desculpa. Eu estou meio perdido com os horários, você poderia me informar quando sai o próximo voo para Verona?

— O último voo para Verona saiu há duas horas atrás — ela respondeu, sorrindo.

Ele suspirou profundamente, sentindo os olhos ficarem marejados, fechou as mãos e apertou os dedos entre si.— Roma? Veneza? Florença? Milão? Pisa? Capri? Qualquer lugar da Itália. Me diz que tem algum voo para a Itália, eu pago qualquer valor.

— Eu sinto muito. Os próximos voos para a Itália é somente daqui a dois dias. Teremos uma demanda muito grande.

— Droga — ele murmurou para si mesmo. — Obrigado, tenha um bom dia.

 

 

A volta para Newton estava sendo um luto para John, recriminando-se e odiando-se terminantemente. Elizabeth realmente havia ido embora, era hora de seguir amando ela pelos próximos cinquenta anos da sua vida e imaginando como teria sido se não tivesse ido para o Japão, ou se não tivesse dormido na noite anterior. Ele deveria voltar para a casa dos pais, mas naquele momento não estava conseguindo encarar os familiares pelas próximas horas e explicar tudo para eles, o que provavelmente o faria chorar, era tudo o que ele não queria. Seria conveniente para John desviar o caminho de volta para a sua casa, ele decidiu passar na casa que Elizabeth morou nos últimos meses, tão perto e ao mesmo tão longe dele. Ele pensava o quanto o destino era terrivelmente idiota com os dois, tanto tempo juntos em uma cidade pequena como um ovo e só conseguiriam se encontrar pouco tempo antes dela voltar para Verona. Quais chances lógicas disso dar certo?

John ficara algumas horas parado no carro observando a casa e lembrando das diversas vezes que passou naquela rua, mas que não poderia imaginar que Elizabeth estava morando ali, tão perto dele. Imaginou o quanto teria amado compartilhar todas as experiências que ela vivenciou ao redor do mundo, não as mais interessantes, teria amado passar todos os dias do ano ao lado daquela mulher tão instigante e incrível para ele. Era cansativo ficar apenas dentro do carro, ele realmente precisava respirar um pouco de ar puro, mesmo que fosse congelar sob a neve que estava caindo por toda Newton. Ele esticou o corpo sobre a calçada, ainda em frente a casa que havia sido de Elizabeth. Franziu a testa ao sentir o corpo congelar levemente com o gélido da neve tocando o rosto, algumas lágrimas passaram a umedecer a sua pele, que ocuparam o insistente silencioso ar de Newton.

Ele, de fato, não  estava se importando se ficaria doente pelos próximos dias com todo aquele frio ou se o seu corpo estava congelando a ponto de pedir por clemência, nada mais importava para John naquele momento. Aquelas horas deitado na neve irão deixar John gripado pelos próximos dias, isso era um grande fato para ele e qualquer um que estivesse observando aquela cena deprimente.

— John Phillip, o que você está fazendo?

John arregalou os olhos, sentando na calçada com uma certa dificuldade, já estava sendo difícil de sentir o corpo movimentar com leveza depois de toda aquela neve.

— Elizabeth? O quê? — ele questionou, confuso.

Ela cruzou os braços, franzindo a testa. — Você quer ficar doente ou ter uma hipotermia?

John levantou do chão, abraçando Elizabeth fortemente. Era confuso para ele, quer dizer, ela deveria estar no voo para Verona, ou melhor, quase chegando em Verona pelo horário que já estava.

— Meu Deus, Phill — ela disse, rindo enquanto o abraçava. — Vamos entrar, você está congelando.

 

 

Alguns minutos depois de toda dificuldade para John entrar na casa de Elizabeth por conta da neve, ela fez um chá de pêssego bem quente para ele e, certamente, ainda estava rindo por conta do nariz vermelho que John estava.

— Você não iria embora? — ele disse, ainda tremendo por conta do frio.

Ela balançou a cabeça negativamente. — Eu acho que devo explicações para você.

— Com certeza, Dean — ele disse, bebericando o chá.

Elizabeth riu. — Viajar pelo mundo me fez ver a vida de uma outra forma, Phill. Você tinha razão sobre tudo, eu era muito retraída e infeliz, eu precisava me autoconhecer como pessoa e eu precisava fazer isso sozinha. Eu consigo cuidar da Potere mesmo longe de tudo, meu padrinho está ajudando a Jennifer diariamente e ele conseguiu descobrir o seu amor pela revista. Eu consigo administrar e escrever artigos mesmo de longe, como também quero escrever sobre minhas experiências. E, claro que, mensalmente faremos uma viagem para Verona e Vernazza, é óbvio. Entretanto, ficar longe de você foi muito doloroso, insuportavelmente doloroso — ela suspirou —, mas foi você o motivo que me trouxe para Newton, e quando eu te reencontrei, eu vi que era a nossa oportunidade de recomeçar uma vida juntos. É o nosso recomeço. — ela disse, sorrindo. — Eu precisei renovar o meu visto, eu não sou americana, esqueceu? Demorou muito mais do que eu poderia imaginar, e também eu precisei fazer uma outra coisa…

John precisava entender todas as coisas que estava ouvindo, ele realmente estava feliz com tudo aquilo, mas estava surpreso demais. A meia hora precisava tentar se adaptar a sua rotina sem Elizabeth, agora estava com o amor da sua vida novamente ao seu lado.

Elizabeth retirou um envelope da bolsa, entregando para John. Ela suspirou, deixando um sorriso nos lábios em seguida, queria observar as reações que ele teria a partir daquele momento. John, por sua vez, pegou o envelope e o abriu, ele estava dobrado em duas partes.

— O que me diz, Phillip? — ela murmurou.

— E-eu vou ser pai? — ele gaguejou, sentindo o chá revirar ainda na barriga.

Ela deu de ombros, sorrindo um pouco sem jeito enquanto acenava positivamente com a cabeça. — E é bem provável que seja de gêmeos. Tem muitas chances, eu diria.

— Eu amo você, Elizabeth.

Ela levantou-se da cadeira para sentar no colo de John, aconchegando-se na região. — Eu amo você, John Phillip. Nós precisamos de uma casa maior, não acha? Afinal, vamos ter filhos.

— Nós precisamos casar, Dean.

— É um ótimo plano, Phillip.

— Elizabeth Dean, você aceita casar comigo?

Os olhos de Elizabeth ficaram marejados pela décima vez naquele mesmo dia, ela não fez esforços para segurar as lágrimas em seus olhos, que insistiram em umedecer a sua pele. — Sim, meu amor — ela murmurou.

A decisão correta era correr para a casa dos futuros avós e contar a novidade, ou ligar para Vernazza, até mesmo para Verona, ou quem sabe para o Canadá, mas eles não queriam isso naquele momento; eles queriam aproveitar as novidades entre os dois, ou até mesmo quem sabe, entre os três ou quatro, cinco. Eles queriam idealizar os próximos cinquenta anos, como também o casamento e a futura casa dos dois, como também o nome para o filho, ou quem sabe os filhos, quem pode desvendar os mistérios que o futuro reservava para John e Elizabeth? Nem eles mesmos poderiam imaginar que os últimos três anos seriam extremamente surpreendentes, mas o que eles sabiam era que haviam encontrado o amor estando um ao lado do outro. John era o lar de Elizabeth, era o caminho e todas as respostas para uma vida inteira, não havia dúvidas algumas naquele momento, ele era o que ela queria pelo resto da vida.


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