Recomeçar escrita por bia


Capítulo 3
A cabana do mato




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Narrado por – Igor

   Eu sei, eu sempre me esqueço de desligar o despertador no sábado, mas eu nunca aprendo. Agora eu estou acordado às seis da manhã, sem conseguir dormir de novo.

   Minha mãe ainda está em Baitibá e eu não tenho nada para fazer.

   Fui até a geladeira e peguei um refrigerante, abri o armário e peguei um salgadinho – eu sei, eu como muita porcaria – e fui até a TV. Não tem nada passando às seis da manhã.

   Renata é legal. Minha primeira impressão dela foi: menina bonitinha, educada, comportada, sonsa, sem atitude, sem opinião própria, sem graça. Mas depois de ontem eu mudei completamente meu modo de pensar sobre ela. A loirinha não é apenas bonitinha, tem atitude, é espontânea, engraçada e é ótima com arrotos.

   Lembra-me a... Não pense nela, esqueça aquela garota, ela não te fez bem. É impossível esquecer Marina. Se eu pudesse esquecer Marina e recomeçar com Renata. Mas é impossível esquecer uma pessoa que teve tanta importância na sua vida.

   Certo, se eu ficar aqui, sentado pensando nela vou acabar voltando para a depressão e lembra como é Igor? É horrível, você não quer isso. Se bem que era legal conversar com os psicólogos, eles te ouvem sem interromper ou dizer o quão errado eu sou. Mas não justifica nada, você não quer ter depressão. Quer saber Igor? Cansei de conversar com você – mas é impossível ir embora ou sair de perto da sua própria mente.

   Vamos jogar tênis na parede de casa.

   Peguei uma raquete e uma bolinha. Joguei a bolinha contra a parede e ela voltou, rebati. Poc... Poc... Poc... PRASKT!

   - Ai merda – quebrei o porta retrato do papai, merda, merda, merda!

   Ah não Igor, você é tão idiota.

   Sai correndo para meu quarto, procurei um porta retrato que estivesse sem foto, mas quem põe aquele negócio que vem a foto de uma menininha sorridente na cabeceira?

   Peguei um que tem a foto da minha bisavó. Eu nunca a conheci mesmo, eu coloco a foto na gaveta. Desci as escadas e coloquei a foto do papai no ex porta retrato da bisa.

   Certo, sem tênis dentro de casa. Peguei meu celular – mamãe é tão teimosa que mesmo eu insistindo em não comprar outro celular ela vai lá e compra, pelo menos assim eu sei como convencer ela de me deixar fazer algumas certas coisas – e mandei uma mensagem para Renata.

   Igor diz: Bom dia!

   Lembrei-me de Tiago, eu não converso muito com ele. O pipoquinha é muito estúpido, principalmente com a Renata.

   Ela não respondeu, deve estar dormindo.

   Eu sou a única pessoa que está acordado em pleno sábado às seis horas da manhã.

   O celular vibrou.

   Renata diz: Obrigada por me acordar às seis horas da manhã de sábado!

   Igor diz: Não queria ser o único.

   Renata diz: Conseguiu!

   Igor diz: Quer fazer alguma coisa?

   Renata diz: Ainda estou de castigo.

   Igor diz: Foi por causa do castigo que inventaram as janelas, aproveite.

   Renata diz: Você está me desvirtuando.

   Igor diz: Vem aqui.

   Renata diz: Daqui a pouco, vou dormir mais.

   Eu sei que isso não vai durar muito, ninguém consegue dormir depois que já está despertado.

   Renata diz: Certo, você venceu. To indo.

   Não demorou muito para a campainha tocar.

   - Entre!

   A porta se abriu e ela estava linda. Com uma calça de moletom e uma blusa de manga comprida.

   - Estou de pijama, não repare – ela disse, mostrando o conjunto, seu cabelo prezo em um rabo de cavalo balançou.

   - Eu também – mostrei o samba canção. Estava meio frio e ela estranhou – Eu sou calorento – dei de ombros.

   Renata se sentou no sofá.

   - O que quer fazer? – ela parecia um zumbi falando, estava mais dormindo que acordada. Já eu... Bem, é difícil ficar com sono depois que se joga tênis.

   - Quer jogar jogo da vida? – perguntei quase pulando de felicidade.

   - Fala sério, eu tenho quinze anos.

   - Nossa, desculpe adultinha.

   - Eu sou o carrinho vermelho! – ela gritou, sentando-se à mesa – ainda embrulhada no papel bolha -, onde estava o tabuleiro.

   - Eu sou o azul.

   Começamos jogar, às vezes ela me passava, eu passava ela, às vezes estourávamos o papel bolha, riamos.

***

   - Não é justo.

   - Na vida nada é justo – disse a ela, tentando fazê-la se sentir melhor.

   - Eu casei com um milionário, tive UM filho e acabei virando mendiga.

   - Você não soube administrar seu dinheiro.

   - Ainda bem que é um jogo, não quero morar na rua.

   Foi então que o assunto acabou.

   - O que se faz no sábado?

   - Eu vou ficar de castigo, depois que eu cheguei ontem minha mãe me acordou falando que ela me chamava, mas eu não respondia, e era para eu ter mais respeito por ela e blábláblá. Então ela prolongou meu castigo. Hoje o dia inteiro eu to de castigo. Então não posso aparecer na quadra.

   - Vamos sair do condomínio.

   - O porteiro vai contar para minha mãe.

   - Vai nada.

   - Já sei! Podemos ir ao clube – disse ela empolgada.

    - Eu não sou sócio.

   - Você entra como meu convidado.

   - Vamos então.

   - Tem piscina, e fica do lado de uma floresta. É muito legal, eu conheço um lugar no meio do mato que ninguém aparece lá – ela gosta de mar, eu também. Ela gosta de mato, eu também. O que mais essa pequena exploradora gosta hein?

   - Você conhece muitos lugares secretos hein.

   - Eu tenho que sair de casa para ter sossego.

   - Bem, eu vou me trocar, depois eu vou com você até sua casa.

   - Tá.

   Eu sai da sala e fui até meu quarto. Coloquei meu calção e uma blusa. Quando passei pelo corredor vi Renata vendo TV, ela estava dormindo no sofá. Essa loirinha é foda viu. É linda na verdade, suas bochechas são tão fofas, as mãos tão delicadas.

   - Ae folgada, vamos acordando que minha casa não é hotel! – eu disse batendo palmas, brincando lógico.

   - Nossa, cavalheirismo não morreu hein – disse sarcástica, coçando os olhos de sono.

   Saímos porta a fora, para a casa dela. Ainda estava frio, eram sete da manhã, a neblina parecia um manto sobre o condomínio. Ela subiu pela janela.

   - Eu já volto – disse ela, fechando as cortinas.

   Um tempo depois Renata aparece. O cabelo dela é lindo, muito lindo.

   - Fica um pouco mais longe do que a praia.

   - Tudo bem, eu ainda quero parar naquela padaria – pedi, abrindo o portão do prédio.

   - Você é tão esquisito – ela disse, rindo.

   - Você nem me conhece.

   - Conheço o suficiente para dizer isso – retrucou ela.

   - Não conhece nem a metade.

   - Certo, vamos fazer um jogo. Cada um pergunta uma coisa que morre de curiosidade sobre a outra – explicou ela, andando devagar.

   - Tudo bem. Pode começar.

   - O que aconteceu com seu pai? Claro, diga se não se importar, é que você disse que não tinha pai, ele faleceu? – perguntou delicadamente, como se estivesse tratando de um assunto delicado, é, talvez ela estivesse mesmo.

   - Teve uma noite que eu estava deitado na cama, me preparando para dormir, ele chegou a mim de disse: ”Filho, eu te amo muito”, como se estivesse se despedindo, ele sempre foi muito frio e dificilmente demonstrava afeto. Eu estranhei, mas simplesmente respondi que eu também o amava. E no dia seguinte eu vi a funerária levar o corpo sem vida do meu herói para um buraco no chão.

   - Sinto muito.

   - Já faz tempo.

   - Sua vez de perguntar.

   - Não tenho nada para perguntar.

   - Você não tem curiosidade de nada sobre mim?

   - Certo, me conte uma coisa importante na sua vida.

   Eu sei, fui meio frio. Mas eu não tenho nenhuma curiosidade sobre ela, me contento sabendo que ela é meiga, engraçada, espontânea, sorridente, meio mandona e amável.

   O pior de tudo é que ela percebeu minha falta de interesse sobre sua vida. Renata abaixou a cabeça e ficou quieta.

   - Sabe, eu sempre gostei de ouvir sobre as férias das pessoas... Não quer me contar suas melhores férias?

   - Teve uma que foi a melhor de todas. Ainda me lembro do cheiro de capim. A grama verde e recém cortada. Eu fui para a chácara da minha amiga e ela é tão caipira que chega a ser engraçado. Amamentamos os bezerros, rimos e fizemos guerra de estrume. Depois com dez graus entramos na piscina. Eu peguei um resfriado e fizemos um chocolate quente que ficou horrível – ela riu discretamente – E ela acabou pegando uma virose e ficou com diarréia. Foi a melhor semana.

   - Parece divertido e meio nojento – eu sorri, fazendo uma careta.

   - Foi mesmo. Conte-me umas férias legais.

   Eu pensei e pensei, mas não achei nenhuma que Marina não estivesse envolvida.

   - Não foi nas férias, mas foi um acampamento... Na verdade O acampamento. Nós jogamos futebol, pescamos, entramos na piscina, fomos pro meio do mato. Assamos marshmallow na fogueira, com chocolate quente e dormimos em barracas. Foi ótimo.

   - Parece emocionante. Eu nunca dormi em barraca.

   - O que? Está brincando?

   - Não – respondeu sem graça, com um sorriso inocente.

   - Vamos acampar então, eu tenho barraca. Dá para umas três pessoas. Podemos fazer uma fogueira.

   Eu realmente me animei com isso.

   - Claro, mas tem que ser no meio do mato.

   - Sem duvida alguma! – rimos – Podemos chamar o Tiago e você chama uma amiga.

   Ela abaixou um sorriso e respondeu um “ótima idéia” bem falso.

   - Vou chamar minha melhor amiga... A pandinha. Ela mora lá no condomínio.

   - Nunca a vi – respondi.

   - Ela é legal.

   - Você dorme comigo e ela com Tiago.

   - Não! Eu vou dormir com ela – sorriu Renata, ficando sem graça.

   - Veremos – respondi rindo.

   - Não quero que ela durma com Tiago – respondeu.

   Ela não queria colocar em risco o pouco de atração que Tiago sentia por ela.

   - Vai demorar muito para chegar ao clube? Estou cansado.

   - Para de ser chorão – respondeu me dando um toque no ombro.

   - E a padaria hein? A gente passou e você nem me avisou.

   - Você come lá no clube.

   - Mas eu to com fome, não vou agüentar até lá!

   - Você resmunga demais.

   Tudo ficou em silencio, ela mexeu no cabelo, cutucou as unhas e pigarreou, mas nada quebrava o gelo.

   - Qual é sua comida preferida?

   - Ãn? – perguntou ela confusa.

   - Qual é sua comida preferida? – perguntei novamente – E não vem falar que é suco de laranja que eu sei que você é viciada nele.

   - Uau, conhece metade da minha vida agora – disse brincalhona – Eu adoro arroz e feijão. Mas é complicado, se não tiver feijão eu não como arroz, mas se não tiver arroz eu como feijão.

   - Bem brasileira – eu disse, ela sorriu orgulhosa – Adoro as brasileiras.

   - Realmente são muito bonitas – ela não entendeu a cantada pelo jeito.

***

   - Chegamos – ela disse.

   O efeito das porcarias que eu como começaram a aparecer, quando eu fiquei muito cansado de andar uns três quilômetros.

   Entramos no clube, é enorme e muito chique.

   - Vamos até a lanchonete.

   - Até eu to com fome – informou-me Renata, tirando dinheiro do bolso.

   Paramos em uma cabana de palha, como se fosse um quiosque, mas de simples não tinha nada. Era bem decorado, com um cheiro delicioso.

   - O que vão querer?

   - Suco de laranja – pediu Renata.

   A atendente encheu um copo com um liquido laranja, colocou um canudo e passou para a loirinha.

   - Vou pegar uma mesa – ela me avisou.

   - Tudo bem. Vou querer um pão de queijo, achocolatado, e um misto quente.

   - Já estou levando.

   Sentei ao lado de Renata, não tinha mais suco nenhum dentro do copo.

   - Esse é seu café da manhã? – perguntei, a garçonete chegou, com meu pedido e eu já dei uma mordida no pão de queijo.

   - Na maioria das vezes – ela respondeu, dando de ombros – Quando está em casa também come bastante?

   - Não tanto, mas eu não sobrevivo sem meu leite de manhã.

   Ela deu uma pequena risada.

   - Você é uma criançona.

   - Não tive infância, fui uma criança reprimida – eu disse, sarcástico, tomando meu leite.

   - Se você comer muito vamos ter que esperar umas três horas para fazer digestão – ela choramingou.

   - Calma, você vai me mostrar seu lugar secreto do mato.

   - É uma cabana, acho que está abandonada, mas é linda. Está mobiliada. Mas fica bem pra dentro da floresta.

   - Tudo bem, eu gosto de mato.

   Renata parece tão inocente, seus olhos meio azulados se perderam no mar, as mãos delicadas enrolavam nas pontas do cabelo loiro, o corpo tão chamativo, e ela tão meiga. Distraída, ela olhava pro nada

   - Está olhando o que? – perguntou ela.

   - No que está pensando? – perguntei de imediato.

   - Na vida. Vamos pro mato.

***

   A mata é bem fechada, piso em galhos secos e sem vida que consistia o chão, os troncos soltam um cheiro tão delicioso que me da fome. As folhas são tão verdes que acalmam o ambiente. O céu é quase invisível com essas arvores altas. Minha cabeça gira de prazer por esse lugar.

   - Ali está à cabana.

  - É tão pequena – parecia minúscula, habitada por um anão ou coisa parecida.

   Aproximando-me eu pude ver o que realmente era. Tão simples. Abrimos a porta e dentro havia tudo, moveis cozinha, cama, até TV e geladeira.

   - Então é pra cá que você vem se esconder do mundo?

   - É – respondeu simplesmente. Ela viu meu olhar curioso em cima dos eletrônicos – A TV não funciona, não tem eletricidade.

   - Posso fazer um arranjo, tipo um gato para puxar energia do clube.

   - Hum, homem perigoso – brincou ela, devido ao fato de fazer o gato ser crime.

   O lugar era uma sala só, com uma cama no canto, sofá e coisas em geral.

   - Já estava tudo aqui quando você chegou? – perguntei, apontando os objetos.

   - Não, a maioria eu trouxe como a coberta, travesseiro, jogos e outras coisas.

   - Nossa, é bem aconchegante.

   Esse lugar me lembrava Marina, simples e vazia.

   - É mesmo, e andando mais tem tipo um muro gigante e em baixo fica o mar, como se fosse um abismo, não sei explicar direito, você tem que ver.

   - Vamos lá, acho que já fez digestão.

   - Não vamos entrar, só se você pular de uma altura de mais o menos dez metros, no meio ao desconhecido.

   - Me leve lá.

   Saímos da cabana e voltamos a andar. Chegamos a um lugar que parecia que acabava o chão. É tão esquisito, parece mesmo um abismo. A uns dez metros a baixo fica o mar. As ondas batem fortes contra a parede rochosa. O calor é tanto que mesmo sem camisa eu suo feito um búfalo.

   - Gostei da idéia de entra na água – disse ela, analisando de perto o mar embaixo – Não tem pedras ali em baixo... E se eu der um impulso? – Conversava com ela mesma – Pode dar certo, estou com calor – comentou.

   - Você não está pensando em pular né?

   - Nós vamos pular – disse ela sorridente, tirando a blusa e ficando só de biquíni.

   - Nós nada, ninguém vai pular, você vai morrer.

   - Não, olha só. Não tem pedras, você sai correndo, pega impulso e tenta empurrar os pés contra a parede, assim evita de se machucar.

   - Evita? – estremeci.

   - Sim, vamos vai.

   - Não! Eu não vou pular, é como mergulhar na morte!

   - Então nos vemos no inferno – disse ela, saindo correndo e mergulhando no ar.

   - Meu Deus, Renata!

   Sai correndo para perto de beira, vi seu corpo cair na água e afundar, pelo menos não é raso. Sua cabeça apareceu na água.

   - Vamos Igor, é maravilhoso, a água esta tão quente.

   - E nossas roupas? – perguntei, tentando inventar muitas desculpas para não pular.

   - Para de ser cagão. Pule seu covarde – gritava, se divertindo.

   Tirei meu tênis, olhei mais uma vez para o abismo, desejando não morrer.

   Fiz igual Renata mandou.

   - Maluca – disse a mim mesmo enquanto sai correndo para pular.

   Meu coração disparou, a adrenalina tomou conta de mim, o medo veio em primeiro lugar. Que burrada em Igor. Cai na água, afundei de imediato, e comecei a nadar para cima. Ela tem razão, é maravilhoso. O mar está delicioso, a sensação é inexplicável, foi a coisa mais maneira que eu já fiz em toda minha vida. 

   - Viu, nós não morremos – riu ela.

   Meus pés chacoalhavam na água, lutando para me manter na superfície.

   - Legal e como saímos daqui? – perguntei.

   - Vamos nadar até encontrar terra firme.

   - Plano legal hein – debochei.

   - Então fique aqui, esperando morrer.

   Ela começou a nadar e eu a segui, mas que menina determinada. Não demorou muito, achamos uma praia. Ela estava deserta, pegamos carona com uma onda e fomos levados até a areia. Ficamos deitados, recompondo o fôlego.

   Ela olhou para mim, olhei para ela e rimos.

  - Esse final de semana está sendo melhor que minha vida já foi um dia – eu disse, tirando a franja do olho.

   Re levantou e começou a olhar em volta.

   - Essa praia está deserta – observou ela.

   - Porque será?

   - Porque ninguém a descobriu ainda. Olhe em volta da areia, é uma mata fechada, ninguém achou esse lugar, só nós.

   - Então é assim que você encontra seus lugares secretos – disse, a mim mesmo em particular.

   - Esse vai ser nosso segredo, assim como o lugar dos sonhos e a cabana, não conte a ninguém sobre isso.

   - Pode deixar – disse, colocando a mão na testa e me curvando, como os militares fazem a seus lideres.

   - Nossa, aqui podemos ficar pelados que ninguém vai ver – disse ela.

   Comecei a tirar meu calção, ela viu e virou de costas, corando. Tive que sorrir.

   - O que está fazendo? – perguntou, assustada.

   - Ué, você disse que poderíamos ficar pelados.

   - Mas eu estou aqui, vou ver você.

   - Vai nada, tampe seus olhos que eu vou pro mar, fique na areia ou longe de mim eu aconselho – disse malicioso. Sai correndo para o mar e mergulhei, sem roupa alguma.

   Renata ficou na areia olhando, ela ria por algumas vezes que as ondas me engoliam. Ela se deitou para tomar um pouco de sol. Sai da água.

   - Pelado passando – avisei, indo pegar meu calção que estava ao seu lado.

   - Você não adora a vida? – perguntou ela, fitando o vazio enquanto eu sentava-me ao seu lado.

   - Agora eu adoro – admiti.

   - Posso fazer uma pergunta?

   - À vontade.

   - Quem é você Igor? O faz aqui em Registro? Porque é tão triste? Porque não da tanta importância para a vida?

   Eu percebi que teria que dizer a verdade, porque Renata já sabia de tudo, sabia de minhas mágoas.

   - Meu nome é Igor Ferreira. Eu vim para Registro porque eu queria fugir de alguém. Queria ficar longe daquela pessoa...

   - Quem?

   - Marina, ela foi minha namorada desde que me conheço por gente. Ela sempre parecia vazia e sem sentimentos, como se estivesse perdida no mundo. Teve um dia que ela veio me dizer que me traia e que não queria mais nada comigo. E eu amo ela muito, então fugi. Ainda sou meio triste, ela me fez de bobo, mas eu ainda queria ter-la em meus braços de noite.

   - Você ainda pensa nela?

   - Muito.

   - Desculpe.

   - Desculpe por quê?

   - Por te fazer tocar nesse assunto.  

   - Não tem importância, ele me persegue – dei um falso sorriso – E você? Qual é seu segredo?

   - Eu não tenho segredos – ela disse, sorrindo.

   - Porque sua mãe te pôs de castigo? Porque ela te prende dentro de casa? – era uma coisa que eu só tinha reparado agora.

   - Ela tem medo que as pessoas que me seqüestraram ainda venham atrás de mim – disse ela, olhando pro nada.

   Ela já foi seqüestrada e ainda sorri.

   - Você foi seqüestrada? Por quê?

   - Lembra da história do truta? Ele é meu irmão mais velho, meu irmão Gabriel.

   Agora eu fiquei pasmo. Eles não se parecem, se bem que eu só o vi uma vez.

   - É ruim? – perguntei, tentando imaginá-la nas mãos de pessoas com más intenções.

   - O que? – perguntou distraída.

   - O cativeiro.

   - Pior mesmo são os seqüestradores. Eles não perdoam, mesmo se for com uma criança ou uma mulher.

   - Eles...

   - Sim.

   Preferi tirar a imagem disso da minha cabeça. Seu brilho radiante, seu sorriso contagiante se foram, eu me senti culpado.

   - Então loirinha, agora eu quero ver irmos embora, como vai ser? – perguntei, cutucando sua barriga.

   - Vou te fazer escalar aquela parede de pedra – disse ela, me empurrando.

   - Quero ver você tentar – retruquei, fazendo cócegas nela. Renata se contorceu inteira e rolou na areia.

   - Para com isso – ela se levantou e saiu correndo, fui atrás dela, mas essa garota é muito mais ativa e saudável que eu.

   - Eu vou te pegar – acelerei e pulei em cima dela, caímos e saímos rolando na areia.

   Eu fiquei por cima da loirinha, com uma perna de cada lado de seu corpo. Flashbacks do rosto de Marina passavam em minha cabeça.

   - Igor!

   - QUE? – perguntei assustado.

   - Você é pesado demais!

   - Você é muito fraquinha.

   - Sei, vamos ver – ela me empurrou, se ergueu e foi pra cima de mim – Quem é fraquinha? – sussurrou perto da minha orelha.

   - Adoro uma brasileira.

***

   - Agora vou voltar para meu castigo.

   - A gente se vê amanhã, pelo jeito você vai fazer meu domingo surpreendente.

   - Veremos.

   Ela subiu pela janela de casa, eu fui andando até a minha.

   Abri a porta e estava tudo igual, e no final do dia eu sempre me sentia vazio e sozinho. É isso que eu mais temo, sozinho com minha própria mente, pois ela sempre diz: Marina, Marina, Marina e mais Marina.

   O pior de tudo é que eu gosto, gosto de sofrer, gosto de perdoá-la sempre, gosto de ser traído. Por quê? Porque ela é quem eu amo, e no amor existe algum tipo de restrição ou entre linhas? Nós assinamos um contrato dizendo não perdoar caso haja traição? Não.

   Vitorioso é aquele que consegue controlar a si próprio, mas eu não sei me controlar na frente de Marina.

  


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Notas finais do capítulo

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Espero que gostem, mande comentarios com palpites
A história com a Marina ficou mais claro agora
Beijinhos Bia



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