Ele é Will escrita por Laís Cahill


Capítulo 9
O jantar


Notas iniciais do capítulo

Atualização, minha gente! Abandonei a fic não.
Aproveitem o capítulo :)



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Era uma coisa boa que Dipper gostava de ler: Só assim para aguentar tanto tempo sem fazer nada na Cabana. Ele estava deitado em sua cama com um livro em mãos, enquanto Bill dormia na de Mabel.

Tinha de admitir que ficou bem assustado quando Bill chegou e simplesmente desmaiou na porta da sala... O que, apesar de tudo, não era uma surpresa. Ele não comia e nem dormia direito fazia tempo, então era de se esperar que uma hora ou outra acontecesse uma coisa do tipo. Só esperava que, depois dessa, o demônio parasse de ser teimoso e aprendesse que agora era humano como todo mundo.

Depois que o susto passou, a monotonia tomou conta. Mabel e Dipper tiveram que ficar se revezando para tomar conta do Bill desmaiado, e, agora que ela tinha ido passar um tempo na casa das amigas, a tarefa cabia a ele.

A cena de um sonho daquela noite voltou à mente de Dipper, como flashbacks. Os lábios de Bill, a luz parca, a sensação do toque na sua pele. Ele ruborizou na hora e balançou o rosto, como se o gesto pudesse fazer os pensamentos indesejados subitamente desaparecerem. Por que ele não conseguia esquecer logo daquilo e voltar aos seus afazeres? Fora só um sonho, nada mais do que isso. Influência de Bill? Improvável. Depois daquela conversa no sótão, tinha voltado a sonhar com o Estranhagedon, criaturas macabras e, casualmente, com a Wendy o rejeitando. O sonho que tivera fora fruto da sua própria mente, e isso era o que mais lhe assustava.

Por que Bill? Por que, de todas as pessoas daquele universo, ele tinha que ter um sonho erótico com Bill? Talvez tivesse a ver com o fato de que os dois estavam dormindo no mesmo quarto desde a noite anterior… Mas isso não explicava nada! Dipper sempre dormiu no mesmo quarto de Mabel e nunca aconteceu nada parecido (Ainda bem!). Podia ser que os seus hormônios da puberdade reprimidos tenham finalmente resolvido se manifestar em forma de sonho, já que, na vida real, Dipper não fazia muita coisa.

Será que o seu subconsciente se sentia atraído por Bill? A ideia inevitavelmente passou pela sua mente, como um voz que diz exatamente o que não se quer ouvir. Mas aquilo era impossível. Todo mundo tinha sonhos sem sentido de vez em quando, e esse certamente era o caso. Além disso, Dipper tinha resolvido relevar, mas ainda não havia esquecido tudo o que o demônio tinha feito contra sua família. Os dois mal conseguiam ficar cinco minutos no mesmo lugar sem começar a discutir, e Dipper nem sequer desejava que essa relação melhorasse. Se dependesse dele, Bill nunca teria retornado e ele teria um verão perfeito em Gravity Falls, como nos velhos tempos, ao invés de ficar preso em casa porque Bill resolveu beber latas de Pitt Cola como almoço e passar noites em claro.

Percebendo que não conseguiria se concentrar em seu livro tão cedo, Dipper o colocou de lado e pegou seu chapéu na cômoda. Talvez o modo certo de se distrair de um problema fosse pensar em outro. Aquele era o chapéu de lenhador da Wendy, que ela lhe dera no final do seu primeiro verão em Gravity Falls como um presente. “Para se lembrar de mim”, ela dissera. A estratégia da garota acabou funcionando bem até demais, embora há tempos Dipper já não dormisse agarrado ao objeto em segredo como um perdedor. Tá bom, no começo era porque a superfície cheia de pelos do chapéu atacava a sua alergia, mas o garoto gostava de pensar que havia feito algum progresso.

O luau na piscina de que as amigas de Mabel tinham falado já era no dia seguinte, sábado. Dipper tinha a esperança de que Wendy fosse, mas não tinha como ter certeza, já que não se falavam desde o dia que Bill chegou à cabana. Aprendera a não criar expectativas demais, pois em caso de tudo dar errado, ele não ficaria tão pra baixo. Pensou, com um suspiro, que até a probabilidade dele ficar com Bill parecia maior do que ficar com Wendy.

Falando no demônio, era impressão ou ele estava se espreguiçando naquele exato momento? Dipper sentou-se na cama e tentou agir com naturalidade.

— E aí, Will? Se sentindo melhor?

A expressão de Bill estava gritando que não, não estava melhor, e ele soltou um gemido fraco. Ainda parecia que tinha levado um murro na cara e todas as juntas do corpo estavam doendo. Dipper quase riu.

— Olha, eu poderia te dar um sermão sobre como você precisa cuidar do próprio corpo pra, tipo, continuar existindo, mas parece que ele já está fazendo isso por mim.

— Você está se divertindo muito com isso, né? — Bill murmurou, deitado, até ser atacado por patas de porco imundas. Era o porco de Mabel. — Argh, Ginga? Sai de mim!

Dipper riu e puxou o animal para perto de si.

— Quem é um bom porquinho? Você! — O garoto brincou com as bochechas gordas e rosadas do porco da forma que Mabel costumava fazer.

De alguma forma, Ginga conseguiu grunhir algo parecido com “eu”. Enquanto isso, Bill estava sentado na cama, muito mal-humorado.

— Ah, isso me lembra que... — Dipper estendeu a mão para pegar um envelope no criado-mudo. — A Mabel deixou isso pra você. Ela falou pra eu entregar quando você acordasse.

Bill olhou curioso para a carta e quando a abriu recebeu uma enxurrada de glitter no colo. Era um cartão que lhe desejava melhoras, com uma folha de caderno dentro, dobrada e escrita em ambos os lados. Apesar da carta ter lhe provocado um pequeno sorriso, Bill não estava a fim de ler no momento e colocou o cartão de volta no envelope pra outra hora. Ele virou o corpo e olhou pela janela. Tinha perdido a noção do tempo.

— Que horas são?

— São quinze pras seis — Dipper informou, olhando seu relógio de pulso. — Você ficou quase vinte e quatro horas dormindo, cara.

Ele assistiu o demônio curvar o corpo e levar uma mão à testa. Talvez não fosse tão fácil para uma criatura onisciente se acostumar a ficar desligado por longos períodos de tempo. Depois de um momento pensativo, Bill abriu a boca.

— Eu tô com fome.

— Imagino.  — Dipper balançou a cabeça. — Eu poderia trazer alguma coisa pra você, mas já está quase na hora da janta.

— Os velhotes Pines vão estar lá?

Bill olhou para Dipper, esperando a resposta, e soltou o corpo na cama, bufando, ao ouvir a confirmação. Dipper se levantou.

— Pode fazer quanta birra quiser, Will, mas uma hora ou outra vai ter que falar com eles.

Bill cobriu os olhos com as mãos, como se estivesse desejando estar em outro lugar.

— Poderia calar a boca, por favor?

Um suspiro.

— Olha, estou tentando ajudar.

— Eu estou BEM. Me deixa em paz.

De olhos tapados, Bill ouviu a porta do quarto ranger. Ouviu Dipper chamar o porco para fora do quarto, e, ao abrir os olhos, estava à sós. Finalmente Bill podia respirar. Sua cabeça doía como um inferno, e Dipper ainda ficava falando.

Tentou virar para o lado e dormir, para ver se a dor de cabeça passava. Como os humanos faziam para dormir quando queriam? Isso era tão difícil! No fim, Bill leu a carta de Mabel e ficou descansando até Dipper voltar para o quarto.

— Estão te esperando lá embaixo. Vamos?

— Ugh. Claro.

De má vontade, Bill tirou os cobertores e se sentou na cama. Olhou para os seus joelhos, com medo de tentar se levantar e cair como na noite passada.

— Quer ajuda? — ofereceu Dipper, percebendo a hesitação.

— Não. Eu me viro.

Com um impulso súbito, Bill se levantou. O movimento fez sua visão escurecer, e Dipper o segurou para que não perdesse o equilíbrio. Passado o susto, o demônio olhou para ele com raiva e continuou seu caminho para a porta.

— De nada — murmurou Dipper.

Os dois se dirigiram ao térreo. Chegando lá, encontraram Stan e Ford na cozinha com Abuelita, os três de bom humor. Stanford usava um avental assim como a mulher idosa, e o dele exibia os dizeres “Melhor vovó de todas”. Stanley estava apoiado na parede, perto dos outros, e usava uma roupa casual ao invés da roupa de turista da noite anterior.

— ... daí eu falei para o Ford: “Eles são serpeixes, a única língua que falam é a dos socos!” Há! — Ele terminou de contar sua história, e os outros riram um pouco.

— Ora, como é que eu ia saber que não falavam golfinhês ou outra coisa assim? — falou Stanford com um sorriso, levemente constrangido.

— Não estraga minha história, mano.

— Oi, gente. — Dipper apareceu. — A janta está pronta? O Will acabou de acordar.

O garoto estava animado para sentar-se à mesa e conversar com seus tios avôs. Era hora de ouvir mais histórias sobre o alto-mar. Desde que Bill desmaiou, no dia anterior, Dipper não teve muitas oportunidades para isso já que, quando não estava ocupado cuidando dele, Will geralmente era o assunto das conversas. Era meio irritante, mas Dipper tentava ser compreensivo.

— Chegaram bem a tempo — disse Abuelita. — Ford, pode tirar as asinhas de frango do forno, por favor.

Antes de abrir o forno, Stanford colocou as luvas protetoras e então retirou uma travessa de asinhas de frango que tinham um cheiro delicioso. Por um momento, Dipper imaginou em qual das divisórias da luva tinha dois dedos, até lembrar-se de que aquele tipo de luva só separava o polegar do resto dos dedos. O tio avô costumava ter suas próprias luvas por conta de uma anomalia de nascença: Ele tinha um dedo a mais que o normal. Esta anomalia, que foi fonte de tanto deboche em sua infância, também foi um dos principais motivos para Ford ter se tornado um cientista. Era impossível saber em quem ele teria se tornado se não fosse por isso.

Uma vez que o prato estava na mesa redonda junto com o resto da refeição, todos foram se sentando ao redor dela.

— Eu devia fazer isso com mais frequência — comentou Stanford. Ele e Abuelita já tinham tirado seus aventais. — É como fazer um experimento, mas se alguma coisa der errado, você não ameaça a vida na Terra pra variar.

Dipper riu um pouco e sentou-se em seu lugar. O chão de madeira, paredes de pedra e um antigo lustre de vidro amarelado bem acima da mesa criavam uma atmosfera aconchegante. Contudo, a expressão do garoto mudou de descontraída para preocupada ao ver que Bill continuava com a cara de quem queria matar alguém. Apenas podia esperar que ele não fizesse nenhuma besteira.

— Soos saiu com a namorada dele, então acho que somos só nós esta noite — Abuelita informou brevemente. Aquela velha era um tanto estranha. Dipper tinha certeza que ela devia estar feliz, pois, mais tarde, teria mais um capítulo da “novela” que era a vida de Soos para ler.

Assim que começaram a comer, claro que o assunto “Will” veio à mesa junto com o barulho dos talheres. Queriam saber se ele estava bem e dar as boas-vindas, ao passo que Bill respondeu rapidamente, mais interessado em nutrir seu corpo no momento. Era engraçado ver o demônio comer com tanto gosto. Dipper quis aproveitar o momento para ouvir mais umas histórias. Limpou a boca com um guardanapo.

— E então, tivô Ford, o que mais vocês encontraram no oceano Ártico?

Os olhos do garoto brilharam ao fazer essa pergunta. Ford pensou um pouco, colocando seu garfo no prato.

— Já contamos sobre as sereias? — Ele olhou para o irmão.

— Faça as honras. — Stan fez um gesto de mão para que continuasse. Dipper suspeitou que era só porque ele queria continuar comendo.

— Bem... — O cientista organizou os pensamentos. — Quando você pensa em sereias, a primeira coisa que vem à mente é uma moça bonita com rabo de peixe, né? Mas essa visão não podia estar mais diferente do tipo de sereia que encontramos.

— Já sei! Elas se transformam no que você mais deseja? Tipo na Era do Gelo? — Dipper chutou.

— O quê? — Ford riu. — Não, garoto. Você anda vendo filmes demais.

Bill deixou escapar uma risada.

— Ahhh, seria tão legal imaginar um monte de velhas com rabo de peixe pulando no barco...

Como resposta, Dipper chutou as pernas do outro por baixo da mesa, tentando ao máximo ser discreto. Ah não, Bill tinha começado. Comentários inconvenientes eram tudo o que eles não precisavam agora. Stanford ignorou o que foi dito.

— A aparência delas era mais parecida com um monstro do que qualquer outra coisa. Acho que, por serem do ártico, as caudas delas pareciam um pouco com a pelagem de uma foca. — Ele deu uma pausa para um gole de refri. — Bom... Temos experiência o suficiente por relatos de marinheiros para não ouvir o canto delas, mas o Stan queria descobrir como era, afinal, é bonito o suficiente pra fazer os pescadores se esquecerem da feiúra delas e pularem no mar.

Todos ao redor da mesa pareceram ficar mais concentrados na história. Estava começando a ficar interessante.

— Então o Stan teve a ideia de fazer que nem na Odisséia: Eu o amarraria ao mastro, pois assim, mesmo que quisesse, ele não poderia ir atrás delas e cair no mar congelante. Eu, por minha vez, deveria tapar os ouvidos com cera para garantir que tudo se mantivesse sob controle.

Dipper arregalou os olhos, um pouco preocupado. As possibilidades de aquela ideia dar errado pareciam infinitas. Seu tio avô continuou a história.

— É claro que eu não concordei com isso. Coloquei cera nos meus ouvidos e tentei convencer Stan a fazer o mesmo, mas ele insistiu. Quando a gente menos esperava, já estávamos passando na frente da ilha com as sereias cantando. Entramos em desespero. Assim que ouviu o canto, o Stan se virou na direção delas e começou a andar. Eu estava horrorizado. Pensei rápido e imaginei que, se conseguisse tirar os aparelhos de ouvido dele, ele não conseguiria ouvir mais nada e estaríamos a salvo. Agarrei o braço do Stan e o joguei no chão do navio. Tentei tirar seu aparelho de ouvido, mas ele começou a se debater como um louco, tampando os ouvidos com as mãos.

— Mas, tipo... — Bill se intrometeu. — Como você pode ter certeza de que não era só o aparelho de ouvido dele dando interferência? Maresia causa esse tipo de coisa...

A cena de Stan sofrendo e se contorcendo com o zumbido agudo de seu aparelho de ouvido era hilária, mas Bill agia como se estivesse genuinamente preocupado com a possibilidade, de uma maneira inocente até demais. Enquanto isso, Dipper viu a expressão de seus tios avôs ficar hostil, incomodados com o hóspede recém-chegado que já se achava no direito de tirar sarro da cara deles. Abuelita só assistia a tudo passivamente, e Dipper se sentiu um pouco mal por ela ter que ouvir aquilo. Pensou em uma coisa para dizer imediatamente e salvar a pele de Bill.

— Mudando de assunto... — ele chamou a atenção dos outros, falsamente animado. — Vocês sabem que a Feira do Mistério acontece semana que vem, né? O que planejam fazer?

Pareceu ter tocado no assunto certo. Stan ficou animado.

— Ah, sim! — Ele se ajeitou na cadeira. — Eu tenho uma nova ideia para esta feira. Escutem só. Todo ano tem aqueles moleques que ficam por aí, correndo pela feira e depredando as barracas, e eu tenho que ficar atrás deles. Mas, este ano, vai ser diferente. — Ele cutucou o irmão com o cotovelo. — O seu tivô Ford aqui vai construir um robô com a minha cara pra fazer o trabalho duro! Não é?

Stanford soltou um suspiro irritado.

— Stanley, eu nunca concordei com isso.

— Ah, qual é, mano... Só desta vez, deixe sua chatice de lado.

O cientista revirou os olhos e olhou para a frente, para não ter que olhar para o irmão. Dipper não queria que seus tios avôs brigassem na mesa, mas não sabia o que fazer. Stan estava sempre tentando pregar peças e tirar vantagem dos outros, e essa característica com certeza entrava em conflito com o moralismo do irmão.

— É, seis-dedos, quebra essa. — Alarmado, Dipper censurou Bill com o olhar, que fingiu não perceber. “Seis-dedos” era o mesmo jeito que ele chamava Stanford em sua forma triangular. — Ou será que isso é só uma desculpa já que você não quer fazer o robô... Ops, não consegue?

Todos esperaram com receio a reação do outro, mas ela foi moderada.

— Pfft. Ora, talvez seja um pouco mais difícil porque o robô tem que parecer humano, mas nada impossível — Stanford disse como se fosse a coisa mais fácil do mundo, e acrescentou. — E você está certo, eu prefiro gastar energia em coisas úteis.

Stan abriu a boca, ofendido, mas foi interrompido por Bill, que parecia determinado em arrumar confusão.

— Ah, claro. Como, por exemplo, com Masmorras, Masmorras e mais Masmorras. Tô certo? Porque o outro velhote do mistério é burro demais pra jogar com você.

— Quer que eu te deixe cego do outro olho, moleque atrevido? — Stan explodiu e se levantou da cadeira.

— Eu tô tentando te ajudar, caramba!

— M, M e mais M é um jogo que melhora a intuição e habilidade com números, seu... — o cientista levantou a voz, e então pigarreou, tentando se acalmar. Gradualmente o tom da conversa estava aumentando, e agora os dois estavam quase gritando. — Olha, eu não tenho que provar nada. Se você quer tanto assim ver o robô do Stan, por que não constrói você mesmo?

Bill não hesitou nem por um momento.

— Beleza! Aposto que consigo terminar antes do prazo e ainda programar uma dancinha da vitória. — Bill se vangloriou, mas depois deu de ombros, desdenhoso. — Agora, eu precisaria de materiais, o que eu não tenho.

— Sem problemas. — Stanford se inclinou na mesa e deu um sorriso, encarando o outro de perto. Se Will achava que poderia escapar desse jeito, simplesmente dizendo que não tinha os recursos, estava enganado. — Você pode ter que materiais e ferramentas quiser. Mas eu vou trazer tudo aqui pra cima pra você trabalhar por conta própria, e vou checar todo dia pra ver como anda o seu projeto. Nem pense em pedir ajuda.

Algo na expressão de Bill dizia que ele não estava mais tão contente com o trato. O sorriso que ele ostentava segundos antes deu lugar a uma expressão da mais pura determinação.

— Feito.

Enquanto isso, Dipper estava encolhido na mesa, a cabeça entre as mãos. “Que discussão foi essa?”. Foi a discussão mais idiota que já ouviu na vida. Será que Bill não tinha noção do perigo? De todas as pessoas com as quais Bill poderia arrumar encrenca, Stanford era a pior delas. E, para completar, o demônio agora tinha que construir um robô apenas para provar que conseguia. Qual era a lógica disso?

Por culpa dessa briga estúpida, Bill se tornaria o assunto das conversas. De novo. Adeus, histórias de viajante ao redor da mesa…

 

 

 

Já eram altas horas da madrugada. O quarto dos irmãos Pines estava silencioso, e não se ouvia nada além do barulho distante de um relógio marcando os segundos e o som de grilos e corujas lá fora.

Em seu colchão, Bill abriu os olhos e prestou atenção ao seu redor. Como ninguém parecia estar acordado, ele se sentou. Olhou para a cama de Dipper e encontrou o garoto virado para o outro lado, dormindo encolhido. Bill se levantou um pouco e procurou um outro ângulo para observar o rosto de Dipper, cujas sobrancelhas cerraram. Ele se mexia um pouco, num sono inquieto.

Fechando os olhos e se concentrando, Bill acessou o sonho do outro e visualizou a cidade de Gravity Falls sendo destruída. Pessoas gritavam e eram transformadas em pedra, demônios faziam crueldades com humanos e boa parte da cidade estava em chamas. A Cabana do Mistério se encontrava no meio, abrigando Dipper e um punhado de outras criaturas. O círculo de fogo se estreitava cada vez mais ao redor da cabana, enchendo o ar de fumaça e dificultando a respiração.

Bill abriu os olhos e parou de observar o sonho. Sentiu pena de Dipper, mas o que importava é que, mesmo com os problemas de insônia, ele já tinha adormecido, e Bill sabia que demoraria para acordar. Um dos poucos poderes que lhe restaram.

Lentamente, Bill pegou seus sapatos do chão, mas continuou andando de meia. Depois de agarrar uma blusa de frio e uma lanterna que tinha encontrado debaixo da cama, ele saiu para o corredor. Desceu as escadas com cuidado, para evitar rangidos. Chegando na sala, ele avistou o porco dormindo perto do carpete de entrada. Bill desviou da rota e esgueirou-se para a loja de presentes. Abriu a porta com a chave e guardou-a para si.

Silenciosamente, ele adentrou o frio cortante e a ventania do ar livre. Sua próxima parada: Ferro-velho.


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Notas finais do capítulo

Nesse tempo que fiquei sem postar aconteceu muita coisa.
Uma delas é que eu estou em intercâmbio na Alemanha e tive que me acostumar a lavar minha roupa, fazer minha comida, etc. E estou que nem uma louca tentando aprender alemão (Nein, ich spreche kein Deutsch, nur English)
Outra delas é que Gravity Falls saiu da Netflix daqui ;-;

Espero que meus leitores não tenham desistido de mim hahahahaha



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