Ele e Eu escrita por Thay Chan


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oi, eu aqui de novo!

Bom, esse capítulo não ficou muito grande, mas eu parei onde tinha que parar. Como agora eu estou de férias, eu to tendo tempo para escrever bastante, e estou adorando escrever essa história, porém devo dizer que quando a vida difícil começar de novo, demorarei mais tempo para na postagem. Mas farei o melhor para não demorar muito, ok?

Enjoy!



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PAPAI COLOCAVA AS nossas malas para dentro, enquanto eu dava uma olhada pelo restante da casa. Eu só tinha olhado a sala, que era muito maior que a antiga. Mesmo com o nosso sofá, a mesa de centro, a estante de livros e os objetos dentro das dezenas de caixas de papelão, ainda havia muito espaço sobrando. O assoalho de madeira era liso e lustroso. As paredes em um tom de bege suave. Não sabia o que faríamos com um lugar tão grande, mas tinha decidido que não diria nada. Papai também não tinha perguntado, então acho que concordava em não conversarmos sobre isso por ora.

Eu estava em um dos quartos enormes da casa, que tinha um banheiro privado e uma janela que dava de frente para a rua. Observei papai lá embaixo, fechando o capô de Dorothy, e as pessoas ao redor. Uma criança andando de bicicleta, uma mulher empurrando um carrinho de bebê; uma cena digna de um comercial de pasta de dente. Aquela rua deveria ser cenário de propaganda de produtos de limpeza.

De repente senti-me exausta, como se todas aquelas horas de viagem tivessem se tornado o dobro e todo o cansaço tivesse aparecido de uma vez só. Desejei que a cama já estivesse montada, embora tivesse dúvidas se conseguiria dormir ali.

Papai estava voltando para casa com duas malas nas mãos, quando decidi que iria ajudá-lo. Já estava cansada daquilo tudo. Eu poderia tentar explorar aquela casa a noite toda, e não conseguiria nem a metade. Desci as escadas totalmente desanimada; papai estava na sala, colocando as bagagens junto das outras.

Quando me viu, deu uma batidinha no topo de uma mala, e comunicou:

— Essas foram as últimas.

Olhei para a pequena montanha feita com os nossos pertences, e me perguntei como ela não desabou quando papai a espalmou.

— O que vamos fazer agora? – perguntei.

Papai olhou para a pequena montanha, passou os olhos pela bagunça na casa e, então, respondeu:

— Vamos comer.

É verdade. Com a confusão toda eu nem tinha percebido que estávamos sem comer a quase oito horas. Papai não havia ido comprar comida porque eu o impedi, e, obviamente, não tinha nada de comer naquela casa. Eu nunca tinha me mudado antes, mas não era difícil perceber que era bem chato.

— Tem uma lanchonete do outro lado da rua – papai disse. — O que vai querer?

Parei para pensar. Mordendo uma unha.

— Hambúrguer duplo com muito picles e milk shake de chocolate – respondi, sentando-me no último degrau da escada.

Papai me olhou, divertido.

— Mesmo? – ele perguntou. — Porque tenho quase certeza que você já comeu algo muito parecido hoje – disse ele.

Olhei-o por baixo dos cílios escassos, e pisquei.

— O que posso fazer se é tão bom?

 

Depois que papai voltou com a comida, comemos sentados no chão da sala. Papai trouxe meu hambúrguer com bastante picles e o milk shake de chocolate juntamente com seus anéis de cebola e um copo de refrigerante. Papai amava cebola, estava sempre dando um jeito de colocar na comida, e, quando não tinha como, enfiava em algum tipo de acompanhamento.

Eram por volta das 20 hrs, estávamos abrindo as caixas e desembrulhando nossas coisas. Papai tinha comprado vários metros quadrados de plástico bolha para protegê-las do chacoalhar do caminhão de mudanças. O jogo de jantar, que estava há anos na família de papai, foi a primeira coisa que colocamos para fora. Papai havia suspirado de alívio quando confirmou que continuava intacto.

Ele estava colocando a TV em cima da mesa de centro no canto da sala.

— Amanhã começaremos a colocar as coisas em ordem – ele disse, voltando ao semicírculo de artigos de porcelana e vidro onde eu estava ajoelhada.

Tirei o porta-retrato metálico, desses que prendemos fotos com pequenos imãs decorativos, da caixa. Acho que tinha guardado os imãs na caixinha artesanal de madeira.

— Onde vamos dormir? – perguntei à papai, porque estava cansada, e a qualquer momento começaria a bocejar.

Papai se sentou ao meu lado. Assim como eu, ele estava descalço e ainda usava as roupas da viagem.

Coloquei o porta-retrato em um lugar afastado dos objetos frágeis.

— Essa noite iremos dormir no colchão, querida – ele disse, com o tom de voz lamentoso.

Acenei, enquanto continuava a tirar mais coisas da caixa, para mostrá-lo que não precisava se preocupar.

— Você já olhou os quartos? – papai perguntou, do nada, repentinamente empolgado. — Pode ser a primeira a escolher, eu não me importo.

Suspirei, porque sabia que iríamos ter mais uma conversa delicada. Parecia que estávamos tendo muitas dessas ultimamente. Desde que resolvemos nos mudar, na verdade.

Tentei não olhá-lo, quando disse:

— Não sei se quero ficar em um dos quartos, papai. Estava pensando no sótão. Ele parece muito bom.

Senti papai ficar tenso, ele também deveria saber que estávamos prestes a começar uma discussão.

Ele suspirou.

— Querida, eu não acho saudável você se enfiar em um sótão, como se não tivesse um quarto disponível – ele disse. — Eu entendo que às vezes você queira ficar sozinha...

Ainda estava tirando taças de cristal de uma das caixas quando falei, irritada:

— O senhor sabe que o problema não é esse.

Papai me observou tirar mais uma taça, e achei que ele me pediria para prestar atenção no que estava falando, mas ele apenas disse:

— Não é saudável você ficar isolada dessa maneira. Da última vez, eu deixei porque achei que você deveria sentir-se bem em um lugar onde passava tanto tempo – ele parou, e depois de alguns segundos: — Mas eu estava errado. Eu deveria ter a incentivado mais, ter feito o que podia para ajudá-la a se adaptar.

Eu havia parado de tirar taças de cristal da caixa. Além do plástico bolha, elas estavam envolvidas em toalhas grossas, e, acima das toalhas, papel filme. Não sabia o que dizer, porque era claro quem estava ganhando. Meus olhos brilharam, quando eu perguntei:

— Então o senhor simplesmente me obrigará a ficar em um dos quartos?

Papai suspirou novamente, como se estivesse fazendo algo muito difícil. Mas o ignorei, porque não queria me importar com ele, não naquele momento.

— Eu não irei obrigá-la – ele disse, cuidadosamente. — Mas eu quero, por favor, que você reconsidere ficar com um deles.

Então, bem ali, eu vi papai levantar o troféu da vitória. Porque, além da mudança, papai nunca havia me pedido nada. E estava claro que, mesmo furiosa, eu não conseguia deixar de me incomodar com o que ele sentia.

 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?

Me digam nos reviews!



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