Ele e Eu escrita por Thay Chan


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Voltei *-*!!!! Espero q gostem!!! Enjoy!!



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FAZIAM DOIS DIAS desde o acontecido na casa verde-limão, e posso dizer que papai ainda estava se sentindo culpado. Embora ele finalmente tivesse parado de se desculpar verbalmente a cada dez minutos, seu olhar continuava se desculpando a cada cinco segundos.

Eu já tinha perdido a conta de quantas vezes havia o assegurado de que a culpa não era sua e de que eu tinha decidido ir à casa verde-limão por que queria, mas não importava o que eu dissesse, nada o fazia se convencer disso. Era como se eu estivesse falando com uma porta. E, para piorar, isso o estava atrapalhando na escrita, o que tornava a nossa casa o Lar dos Culpados, porque eu estava começando a me martirizar também. Pois, como eu disse, havia sido eu quem o convenceu a ir à pequena reunião de vizinhos, como Mikoto chamou.

Naquela tarde, peguei-me pensando nisso novamente enquanto lia pela quinta vez meu exemplar surrado de O Sol é Para Todos deitada no sofá da sala. Papai não estava no escritório como era de se esperar àquele horário do dia. O que significava duas coisas: (1) ele não estava tão inspirado, e (2), ele estava preocupado que minha última crise desencadeasse outra; o que certamente explicaria o motivo de eu sentir seus olhos em mim o tempo todo, exatamente como agora.

Disfarçadamente, olhei na direção dele para checar. E touché, como o esperado. Suspirei. Só não sabia se era de frustração ou remorso. E só esperava que aquela situação acabasse antes de um de nós dois surtarmos.

Olhei para o livro em meu colo, tentando prestar atenção no que Dill dizia para convencer Jem a tentar tirar Boo Radley de dentro da casa mal assombrada, mas as letras pareciam dançar na página como se eu fosse disléxica.

Depois de uns bons minutos tentando, deixei o livro de lado, joguei a cabeça para trás no braço do sofá e suspirei.

— Não é um bom dia para ler? – ouvi papai perguntar, como se tivesse apenas esperado uma oportunidade para se pronunciar, o que eu sabia que era o caso. E parecia uma pergunta despretensiosa, mas na verdade era um modo sutil de questionar se eu estava bem.

Levantei a cabeça e olhei para ele. Ele estava me analisando atentamente, segurando os óculos com a mão que estava apoiada na mesa. Algumas mechas do cabelo castanho escuro meio grisalho caindo na testa. Os olhos ainda mais velhos do que ele próprio.

Pensei no que responder.

— É difícil não achar qualquer dia bom para lidar com Dill e sua eterna curiosidade sobre Boo Radley – eu disse, o que também era um jeito desprentecioso de confirmar que estava tudo bem.

E eu acho que finalmente falei a coisa certa, porque uma pequena fagulha iluminou o olhar triste de papai. Então continuei:

— Juro que Dill é a criança atacarrada mais curiosa que eu já conheci.

Papai parou, colocando distraidamente a mão que segurava os óculos sob o queixo. E depois de um segundo falou:

— A criança atarracada mais curiosa talvez. Mas certamente não é a criança mais curiosa que já conheci.

Meus olhos se abriram, e eu me apoiei sob os cotovelos para olhar melhor para papai.

— Não? – eu perguntei.

— Não – papai disse, reflexivo. — Ou pelo menos, não é a única. Acho que Dill é um espelho do que todos nós somos quando crianças. Curiosos, destemidos, ousados… A diferença é que algumas mostram isso mais claramente do que outras. Você viu como ele não precisou de muito para convencer Jem e até mesmo Scout, que era mais sensata, a entrar na casa dos Radley? – papai perguntou.

Eu me sentei reta no sofá.

— De fato. Scout realmente não queria, mas quando Jem decidiu ir à casa dos Radley para pegar as calças de volta, ela sequer pensou duas vezes antes de decidir ir com ele.

— Sim. Mesmo que fosse para proteger Jem, Scout também não mostrou muita resistência em se aproximar um pouco mais da casa dos Radley. Isso mostra que ela estava tão curiosa quanto Dill e Jem sobre Boo Radley, mas só era mais cautelosa.

Isso me fez pensar. Apoiei meu queixo sobre as mãos cruzadas no encosto do sofá.

— Que tipo de criança o sr. era?

Papai baixou a mão e a colocou sobre a mesa, com uma expressão pensativa.

— Acho que posso dizer que era uma criança… difícil – papai sorriu para ele mesmo. — Eu gostava de estudar e ler histórias em quadrinhos era um dos meus passatempos favoritos. Quero dizer, isso e atormentar a sra. Coleman, minha professora de Matemática da época. Lembro até hoje do sapo que coloquei em cima de sua mesa — seu sorriso se transformou em uma risada nostáugica. — Todo mundo sabia que a sra. Coleman odiava anfíbios. Ela gritou tanto que o diretor, sr. Ross, foi chamado para acalmá-la pessoalmente.

Eu ri.

— E o sr. Ross descobriu que foi o sr.?

— Na verdade, não. Mas ele desconfiava, só não tinha provas. A sra. Coleman adoraria que ele tivesse, no entanto. – papai respondeu, sorrindo.

— Pelo visto, o sr. odeia matemática desde sempre – eu comentei, para implicar com ele.

Papai riu, divertido.

— Acho que nasci para Literatura Inglesa.

Sorri, pensando nos 6 livros que papai escrevera desde então.

— Concordo – eu disse.

De repente, papai mudou totalmente de assunto:

— O verão está acabando, precisamos encontrar novos professores particulares para você.

Eu gemi e me joguei no sofá novamente.

— Papai, por favor. Ainda faltam duas semanas – eu disse. Não estava querendo pensar nisso agora.

Mas papai levava minha educação muito a sério. Mesmo que há muito tempo isso não envolvesse mais uma escola propriamente dita.

— Ou seja, um belo momento para começar a procurar – ele disse. — Hoje mesmo pesquisarei alguns.

Fechei os olhos, derrotada.

— Tudo bem – eu disse. E então, depois de um momento: — Como anda o livro?

Papai suspirou.

— Não estou com cabeça no momento. Ir atrás da inspiração não está funcionado, portanto vou deixá-la me atingir na hora certa – ele respondeu, fechando o notebook logo em seguida, como se para dar ênfase à sua sentença.

Abri meus olhos e olhei para o teto. Pensando no motivo dele não estar conseguindo se concentrar.

Mas decidi não falar nada e aproveitar o retorno das nossas tardes silenciosamente agradáveis.

                                      

Quando papai anunciou que as consultas da semana com o sr. Hatake haviam sido canceladas por causa da tempestade, eu tentei não deixar transparecer nenhuma reação. Eu apenas disse "Ok" e continuei a fazer o que quer que estivesse fazendo no momento, mas a verdade era que tinha ficado muito feliz. Só não queria que papai soubesse por que ele gostava do sr. Hatake. Mas acho que era por que ele nunca havia visto o sr. Hatake em ação. Se tivesse visto, ele certamente não gostaria.

Papai era o tipo de pessoa que gostava e se relacionava bem com todo mundo. Ele era gentil, paciente e justo. Não era de sair julgando as pessoas, pois entendia que todos tínhamos defeitos. Não era de pagar mal com o mal, ele dava a outra face. Porém, ele nunca lidou muito bem com falta de sensibilidade, e o sr. Hatake era bem insensível.

Eu não podia negar, as vezes tinha vontade de contar a papai que, apesar do pouco tempo, não gostava muito do sr. Hatake. Tinha vontade de contar que não me sentia a vontade com ele e, que ao invés de tentar me deixar mais tranquila, ele só me deixava mais tensa com suas perguntas indiscretas e intrusivas. Tinha vontade de dizer a papai que queria outro psicólogo. Mas então eu me lembrava que um dos motivos para termos vindo para tão longe era justamente o sr. Hatake, e perdia a coragem. Papai acreditava absolutamente no trabalho do sr. Hatake e, se ele acreditava, isso era o bastante para eu acreditar também. E eu não precisava gostar do sr. Hatake para fazer isso.


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Notas finais do capítulo

Então, o q acharam? Espero q tenham gostado!! Bjs e até a próxima!!



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