Ele e Eu escrita por Thay Chan


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Voltei rápido, né? Bem, é que eu tô de férias! Espero que gostem do capítulo! Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773046/chapter/11

PAPAI RETORNOU AO seu livro essa semana, porque ambos, papai e eu, achamos que já estava na hora.

A casa ainda não estava totalmente organizada, ainda havia caixas de papelão escondidas debaixo da escada do primeiro andar e coisas para se colocar no lugar, como quadros de parede e os vários cabideiros que tínhamos para evitar deixar casacos espalhados pela casa. Mas nós concordamos que poderíamos fazer tudo aos poucos. A verdade era que eu pretendia arrumar a maioria das coisas sozinha, quando papai não estivesse olhando, mas se eu dissesse isso em voz alta, papai só voltaria ao trabalho depois que terminássemos, o que poderia levar dias.

Ele não disse mais nada sobre o assunto, mas sei que ele estava preocupado com o tempo que a editora havia dado para escrever o próximo livro. Papai escrevia livros infanto-juvenis há mais de dez anos, e, até onde conseguia me lembrar, ele nunca tinha tido um prazo estipulado para terminá-los antes. O que me fazia me perguntar: será que ele se sentia muito pressionado?

Quando papai estava trabalhando em um livro, eu ficava com a tarefa de fazer o jantar três vezes na semana. E hoje era dia. Era quinta à noite, e eu estava de frente para a bancada da cozinha preparando salada. Papai estava no escritório, e a última vez que tinha o visto havia sido quando o levei uma bandeja com o almoço. Normalmente, papai não se importava de almoçar enquanto trabalhava, mas ele dizia que o jantar tinha que ser feito com a família, não importasse quanto trabalho houvesse.

A salada estava bonita. Colorida, com laranja da cenoura, vermelho e amarelo dos pimentões, e claro, o verde da folha de espinafre. Li em algum lugar que comida saudável tinha que ser colorida, e me senti satisfeita. Papai passava muito tempo trancado em um lugar pouco arejado, recebendo apenas a luz artificial da tela do notebook. Isso não fazia bem para a saúde. Li em outro lugar também que, ficar na frente de uma tela de computador por muito tempo, clareava a pele. Tinha certeza que um pouco de verduras e legumes fariam muito bem a ele. Obviamente, fariam muito melhor se essas verduras e legumes fossem orgânicos, mas papai encomendou a nossa comida natural no Whoole Foods mais próximo de NJ no começo da semana, e aparentemente eles estavam com problemas com a entrega porque ficavam a mais de uma hora da nossa cidade.

O jantar hoje era peito de frango grelhado. Eu coloquei os pedaços da carne branca em uma travessa de vidro e torradas ao lado da salada de espinafre. Para beber, fiz suco de toranja.

Quando a mesa estava posta e eu tinha terminado de lavar a louça que havia sujado para fazer a comida, fui até o escritório de papai para chamá-lo. Eu poderia gritá-lo, como fazia na nossa outra casa, mas as paredes dessa nova casa pareciam grossas o bastante para abafar o som.

A sala de papai estava clara sob as lâmpadas fosforescentes longas no teto. Ele estava do jeito como esperava encontrá-lo, atrás da mesa, concentrado na tela do notebook a sua frente.

Dei duas batidas leves na porta para chamar sua atenção. Ele levantou a cabeça e sorriu.

— O jantar está pronto – eu informei, sorrindo em resposta.

Papai tirou os óculos e esfregou os olhos.

— Oh, querida. Que horas são? – ele disse, recolocando os óculos para checar o relógio no notebook. Seus olhos se arregalaram brevemente. — Caramba. O tempo é mesmo passageiro.

Eu assenti.

— Quando o senhor entrou aqui, ainda havia sol.

Papai esticou os braços, ainda sentado.

— Eu sei. As horas aqui dentro parecem um paradoxo. Eu nem me lembro quando foi a última vez que fui ao banheiro.

Eu pensei.

— Com certeza não foi hoje – disse, por fim.

Papai bocejou.

— Bom, eu ainda tenho muito trabalho a fazer – ele disse. — Só preciso de comida, um banho, e uma garrafa cheia de café bem forte para passar a noite.

— Papai, o senhor deveria dormir – eu disse, pela milionésima vez desde que nasci. — O senhor está acordado desde ontem. E…

— Eu dormi hoje de manhã – papai me cortou.

— Não sei se aquilo pode ser chamado de dormir – eu disse, severa. — Não sei se pode ser chamado nem mesmo de cochilo. O senhor fechou os olhos pelo o quê, meia hora?

Eu não estava sendo sarcástica. Encontrei papai na cozinha por volta das oito e quinze da manhã. Às nove, ele já estava de volta ao escritório.

Mas não adiantava falar com papai. Ele era irredutível sobre muitas poucas coisas na vida e, infelizmente, o trabalho era uma delas.

Eu suspirei, cansada de estar sempre tentando falar sobre aquilo. Eu já sabia onde tudo ia dar.

— Tudo bem, papai – eu disse. — Mas pelo menos se alimente.

Papai deu a volta na mesa, caminhou até mim e deu um beijo no topo da minha cabeça.

— Seu velho pai está bem. Não fique preocupada, ok?

Suspirei novamente.

— Ok – eu disse. — Vamos comer? – perguntei, para mudar de assunto.

Papai sorriu com o assunto anterior totalmente esquecido.

— Minha barriga está dizendo que essa é a hora.

 

Papai estava à minha frente na mesa de jantar. E apesar de ter ficado a tarde toda trabalhando, não parecia estar com tanta fome assim, o que não me surpreendeu nenhum pouco; ele sempre dizia que trabalhar o distraía tanto que tirava seu apetite. Eu havia comido uma maçã no meio da tarde, por isso não estava com tanta fome também.

Nós conversamos sobre trivialidades, como a previsão do tempo de amanhã e que espécies de flores estavam plantadas no nosso jardim.

— Eu gosto das bocas-de-leão – eu disse, mastigando um pouco de salada. — Elas me lembram lavandas.

Papai partiu uma torrada ao meio.

— Eu prefiro as copos-de-leite. Combina com a casa.

Eu considerei por um momento.

— É, combinam.

— Também gosto dos girassóis da casa da frente – papai ponderou um segundo depois. — Combinam com a casa da frente.

Pensei na fachada verde-limão e na cor vibrante dos girassóis. Sim, também combinavam.

— Você já encontrou os donos? – perguntei, mas não porque queria saber de verdade. E sim porque queria deixá-lo feliz. Às vezes eu perguntava coisas como essa à papai. Coisas que filhos normais perguntavam aos pais.

Papai pareceu animado com a conversa.

— Não. – respondeu. — Apenas o Sasuke, o garoto que nos ajudou dias atrás – papai continuou e eu já sabia o que viria em seguida: — Sabe, gostei do garoto. Um rapaz muito bom.

Tentei parecer interessada.

— É, ele parece legal – eu disse, preparada para o restante de elogios que papai teceria sobre o garoto.

Mas papai não disse mais nada. Ele apenas pareceu concentrado em terminar a própria comida, como se já tivesse dito tudo o que queria, o que eu sabia que não era bem verdade.

Essa era uma coisa sobre papai. Assim como eu o conhecia, ele também me conhecia. Eu fingia que ficava empolgada sobre o amor de papai por pessoas e ele fingia que não gostava tanto assim delas para que eu não me sentisse ainda mais deslocada do que já me sentia.

E, apesar de achar que precisávamos conversar sobre isso, escolhi ficar calada durante todo o resto do jantar.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, gente, espero que tenham gostado. Ah, não sei quando voltarei com o próximo, não sei dará para mim escrever outro ainda nessas férias, ou não. Por isso, não posso prometer nada. Vejo vcs na próxima! Bjs!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ele e Eu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.