Chatos, ordinários e dramáticos escrita por Kiki


Capítulo 4
O Luto




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Querido Albus,

Eu e o seu pai achamos bonita a sua atitude de acompanhar seu amigo no enterro da Sra.Malfoy. Pedimos apenas que certifique-se que Draco Malfoy esteja a par da situação e aprove a sua presença. Mandaremos uma carta para a diretora McGonagall o autorizando sair de Hogwarts na companhia de Scorpius. Comporte-se.

Com amor, mamãe.

Ps: Seu pai pediu para ficar atento e em caso de necessidade usar o feitiço de alerta que ele lhe ensinou.

 

“Então?” Scorpius perguntou enquanto tomava um gole de chá.

“Deixaram.” Albus sorriu fracamente para ele.

“Bom.”

Era o primeiro dia de aula em Hogwarts e eles não iriam comparecer em nenhuma disciplina devido ao velório da mãe de Scorpius.

“Seu pai sabe, né?” Albus perguntou.

“Sim”

“Ele concorda?”

Albus precisava ter certeza que aquela situação estava bem. Não queria sob nenhuma circunstância precisar usar o feitiço de resgate que seu pai havia ensinado a todos os filhos. Albus quase entendia toda aquela preocupação, Harry era um auror, dessa maneira, era odiado por muitos que poderiam tentar (e já tentaram) machucar Albus e seus irmãos.

“Claro.” Scorpius respondeu em um tom desanimado.

Permaneceram em silêncio até que Albus decidiu que precisava quebrá-lo.

“Eu acho que não tenho roupas adequadas, sabe?” ele disse. “Não sei se dá tempo dos meus pais me mandarem.”

“Eu te empresto” Scorpius respondeu prontamente, em seguida acrescentou baixinho: “Se não se importar.”

“Pode ser.”

O silêncio voltou e aquilo estava incomodando Albus profundamente.

“Então, a sua família...Como ela é?” ele tentou puxar assunto.

“Meus parentes costumam ser desagradáveis, metidos e extravagantes.” Scorpius pontuou como se essas características já fossem definida anteriormente, além disso, ele não pareceu tão confortável sobre o assunto.

“Hum.” Albus enfiou um bocado de bolo na boca na tentativa de se calar.

“Não são muitos.” Scorpius acrescentou após uma quietação.

Albus decidiu deixar o silêncio fazer seu trabalho dali em diante. Em alguns momentos podia ser melhor não dizer nada.

***

Após o café da manhã, os dois sonserinos usaram o sistema de flu para chegarem à Mansão Malfoy. Em um momento estavam na sala da diretora, no seguinte estavam na sala principal da mansão com Draco Malfoy parado diante deles. Albus reparou como o homem parecia ter passado noites sem dormir, a julgar pelas enormes olheiras ao redor dos olhos cinza e gélidos.  

“Se arrumem. Os esperarei no Salão Oeste.” foi tudo que o pai de Scorpius disse antes de se retirar.

Albus observou a sala onde estavam. Era bonita e enorme. Tinha tapeçarias caras, cortinas caras, poltronas caras, mesa de centro cara…Uma fortuna em objetos que seus pais jamais gastariam, mesmo tendo condições.

Albus saiu dos devaneios ao ser cutucado nas costelas por Scorpius. Ele olhou para seu amigo, Scorpius corando por conta da admiração que ele analisava a sala.

“Vamos ao meu quarto.”

Eles caminharam por horas, na impressão exagerada de Albus. Se ele tivesse que caminhar tanto para chegar ao próprio quarto, preferiria dormir nos corredores ou no primeiro sofá que estivesse no caminho. Por fim, Scorpius parou diante de uma porta do grande corredor que estavam. Albus seguiu o amigo para dentro do cômodo.

O quarto de Scorpius era grande, provavelmente duas vezes maior que o dormitório de Hogwarts. No entanto, não havia surpresa nisso, já que tudo naquele lugar parecia ser grande demais. Em um canto do quarto havia uma cama de dossel, aparentemente muito macia, em outro canto havia três poltronas ao redor de uma lareira. Ainda havia uma escrivania pouco utilizada alí, uma cômoda de mogno aqui e janelas altas encobertas por cortinas escuras lá.

Albus achou que o cômodo era muito cinza e sem personalidade, totalmente diferente do seu próprio quarto na casa dos Potters. O seu quarto era uma bagunça só e era decorado com os gosto mais aleatórios do garoto. Como: as cores verdes e azul predominantes, adesivo pregados nos móveis e antigos brinquedos esquecidos na estante.

“Seu quarto parece um hotel de luxo.” disse Albus com um sorriso. Ele conseguia imaginar uma senhora de idade ocupando aquele lugar.

“Como assim?” Scorpius se voltou para ele realmente sem entender.

“Nada adolescente, sabe?”

“Não.”

“Não tem nada personalizado, tipo um poster na parede.”

“Por que teria um pôster na parede?”

“Para ficar legal” Albus deu de ombros.

“Oh! O seu quarto tem pôster do quê?”

“Bem, nenhum.” Albus viu a confusão no rosto do amigo “Mas tem o desenho de uma pantera que Teddy fez para mim quando eu era menor. É que meu quarto é o único lugar onde as coisas podem ser do meu jeito. Então, decorar faz dele um bom refúgio, sei lá.”

“Entendo!” Scorpius olhou ao redor como se reparasse pela primeira vez no próprio quarto.“Eu não passo muito tempo aqui para falar a verdade.”

“Não?”

“Geralmente só venho para dormir.” ele sorriu fracamente.

“Sério? E o que Scorpius Malfoy faz em suas férias que não fica enfiado no próprio quarto?”

“Bem, eu fico enfiado na biblioteca ou nos jardins.”

“Nossa! Como você é chique” Albus ironizou sorrindo.

Scorpius ficou corado e mordeu os lábios inferiores.

“Isso é ruim?”

“Claro que não. É só…” Albus pensou um pouco “Temos vidas bem diferentes.”

“Certamente.” Scorpius encarou o chão. “Eu vou me trocar e pegar umas vestes para você.”

Scorpius sumiu por uma porta que deveria ser o closet. Passado um tempo ele voltou com roupas escuras de luto e estendeu uma troca, também escura, para Albus.

Albus colocou as roupas no banheiro suíte. Ele se sentindo estranho de estar nas roupas de Scorpius. O pensamento fez algo em seu baixo ventre revirar. Estranhamente, Albus esperava que as roupas tivessem o cheiro do seu amigo, mas só tinha cheiro de roupa nova. Ricos! Albus revirou os olhos. Ele endireitou a postura e percebeu que as vestes ficaram um pouco apertadas, principalmente o colete. Era de se esperar que isso acontecesse, uma vez que, Scorpius era mais magro que Albus e a julgar pelo estilo de vida dos Malfoy a roupa com certeza foi encomendada sob medida.

Assim que ambos estavam prontos, Scorpius guiou Albus pela mansão até o tal Salão Oeste, onde o Sr.Malfoy se quedava em pé ao lado do caixão. Haviam fileiras de cadeiras em frente ao palanque com flores. Albus seguiu o amigo até o Sr. Malfoy e ele pode dar uma espiada no corpo da pessoa deitada.

Albus já tinha estado em um velório antes, no de Andrômeda Tonks, avó de seu irmão adotivo Teddy. Naquela época, muito novo, ele não tinha noção do significado de morte. Talvez até aquele momento ele ainda não tivesse. Entretanto, depois de ver Astoria Malfoy deitada sob flores, arrumada para uma festa, inerte e adormecida, ele entendeu o que era morte. Era um vazio como uma cicatriz deixada nos vivos. Albus nem imaginava a dor, mas essa estava estampada nos dois Malfoys parados ao seu lado.

“Você pode se sentar.” O Sr.Malfoy disse para Albus.

Não foi uma ordem, foi mais uma sugestão. No entanto, Albus entendeu como uma indireta de que ele não deveria ficar ao lado deles quando as pessoas chegassem. Albus tomou um assento no canto mais fundo e escondido do salão. Logo as pessoas chegavam, de grupo em grupo, cumprimentavam o viúvo e o filho da falecida dando-lhes suas condolências e pairavam rapidamente sobre o corpo da Sra.Malfoy.

Não foi a melhor experiência da vida de Albus. Em sua opinião, as pessoas eram formais demais...para não dizer falsas. Além de tudo, quebrava seu coração observar Scorpius em sua postura impecável e cumprimentando os convidados cordialmente. Desde que Albus conheceu Scorpius, o amigo nunca agiu daquela maneira. Ele era sempre tagarela e otimista, por vezes se atrapalhando em disfarçar o nervosismo falando sem parar, Albus nunca imaginou que Scorpius podia ter controle sobre alguma emoção, aparentemente havia se enganado.

Passado a chegada de todos, Scorpius foi para o fundo do salão e sentou com Albus, enquanto o pai continuou conversando com os presentes.

“Tudo bem?” Scorpius perguntou e Albus sorriu.

“Eu quem deveria perguntar.”

“Não se preocupe.”

“Então, essa é sua família?” Albus indicou as pessoas da alta classe do Mundo Bruxo.

“Não exatamente, a maioria são amigos e conhecidos.” Scorpius suspirou “Gente de negócios, na verdade.”

“Ah!” Albus fez uma careta. Gente de negócio soava muito desagradável para ele e parecia que para Scorpius também.

“Aqueles são meus avôs Greengrass.” Scorpius apontou o casal de idosos sentados na primeira fileira.“Aquela é minha tia Daphne, irmã da minha mãe, com ela está meu tio Blazer e aqueles dois são seus filhos.” apontou uma mulher acompanhada por um homem, ambos conversando com o Sr.Malfoy, e duas crianças inquietas ao redor.

Albus observou atentamente os familiares do amigo e sorriu com a visão das crianças. Era um casal, talvez estivessem próximos da idade de entrar em Hogwarts. Eles pareciam se segurar para não começar a brincar ali mesmo no salão, obviamente, tudo que os impediam eram os olhares severos da tia de Scorpius.

“Legal! Por que nunca me contou que tinha primos?”

“Não é a mesma coisa que os seus. Nunca fui próximo do Duncan e da Marchet, minha mãe e tia Daphne não se falaram por anos.”

“Nossa! Por que?”

“Por causa do meu pai.” Scorpius pigarreou e disse baixinho perto da orelha de Albus  “Até onde sei, o combinado entre os Greengrass e os Malfoy foi que meu pai se casasse com a tia Daphne, mas obviamente ele não casou.”

“Ouch! Parece uma história conturbada.”

“De fato.”

“Só tem eles de família?”

“Bem...tem meus avós Malfoy, mas duvido que irão aparecer.” Scorpius continuou diminuindo o volume da voz e aproximando mais do amigo “Eles nunca gostaram da minha mãe, nem o mínimo para seguirem o protocolo.”

“Sinto muito.”

“Tranquilo! Melhor assim do que fingirem se importarem como esse povo aqui faz.” falou em tom amargo.

Um longo tempo passou com eles em silêncio. Albus continuou observando os parentes de Scorpius de longe. Metidos e Extravagantes, sim, eles eram. Mas desagradáveis, talvez não. Albus considerou que pelo menos as crianças lembravam muito seus próprios primos. Talvez a sua família fosse mais desagradável que a de Scorpius. Haviam poucos com quem Albus achava se dar bem, entre eles estavam seus avós, sua irmãzinha e Teddy. Os outros...bem, eles costumavam ser irritantes.

Pela terceira vez naquele dia Albus se lembrou de Teddy, e então algo lhe ocorreu:

“Hey! Sabia que tecnicamente Teddy é seu parente?” Albus sempre sentia prazer em saber de coisas que Scorpius não sabia.

“Seu irmão?”

“Adotivo.” Albus frisou como sempre fazia.

“Sabia.” Scorpius respondeu “Ele é neto de Andrômeda Black, irmã da minha avó.”

“É claro que você sabe.” Albus suspirou e revirou os olhos “O que você não sabe, né?”

“Conheço minha família, Albus. Sabia que se levar em consideração que Cedrella Black, sua bisavó, certo?....Era prima de primeiro grau do meu do meu tataravô Pollux Black, eu e você também somos parentes.” Scorpius sorriu um pouco alegre.

“Poxa! Dessa não sabia.” Albus assumiu uma expressão de surpresa. Ele conhecia o nome da sua bisavó, mas nunca tinha se questionado sobre a vida dela até aquele momento.

“Ela foi queimada nas tapeçarias dos Black por se casar com um Weasley, mas acho que a linhagem ainda é válida.” continuou Scorpius animadamente como não ficava a um bom tempo.

“É algum tipo de etiqueta saber as árvores genealógicas de famílias puro sangue?” Albus ironizou.

Scorpius corou imediatamente, seu sorriso sumiu, então respondeu sem graça:

“Mais ou menos isso.”

“Sabe mais alguma coisa cabulosa da minha árvore?” Albus manteve o tom irônico.

Scorpius pensou um pouco e por fim respondeu:

“Não.”

Os amigos não conversaram muito depois disso. O enterro foi realizado com uma breve palavra dos familiares, alguns discursos de conhecidos, as varinhas se acenderam em luto e tudo estava encerrado.

Albus viu de longe o momento em que o Sr. Malfoy puxou Scorpius de lado e lhe disse algo olhando em seu direção. Em seguida, Scorpius veio para ele novamente e falou envergonhado:

“Meu pai pediu para ficarmos na biblioteca, tudo bem?” O menino loiro coçou atrás da orelha.

“Claro.”

Albus era muitas coisas, mas não era bobo, sabia porque o Sr.Malfoy fez esse pedido. As pessoas ao redor estavam olhando para ele e alguns cochichavam. Por que ele tinha que se parecer tanto com Harry?

Os garotos foram para a biblioteca da mansão. Conversaram pouco, Scorpius não estava disposto a manter assuntos longos ou dar respostas completas. O tempo passou assim e Albus pescou várias vezes em uma das poltronas fofinhas do lugar. Estava tão entediado que quase ficou feliz quando o Sr.Malfoy apareceu dizendo que era hora de irem.

“Não quer dormir aqui essa noite?” O homem perguntou ao filho um pouco antes dos meninos entrarem na lareira.

“Eu poderia?” Scorpius se animou, mas então lembrou: “E Hogwarts?”

“Dou um jeito, não se preocupe.”

Scorpius se virou para Albus ele ia dizer algo.

“Te vejo amanhã.” Albus interrompeu sorrindo e pegou o pó de flur “Até mais, Sr.Malfoy.”

“Até, Albus.” respondeu friamente.

Então o Potter desapareceu nas chamas verdes.

 

***

Naquela noite Scorpius não conseguia dormir. Depois de muito remexer na cama de um lado para o outro, ele desistiu do sono e jogando o corpo para fora da cama atravessou o quarto até chegar no corredor. Caminhou rapidamente pela escuridão e parou diante da porta do quarto do seus pais. Por alguns instantes ponderou se deveria bater, entrar ou voltar a trás.

“Scorpius, é você?” a voz em alerta de seu pai veio de trás da porta.

“Er, p-posso entrar?” Scorpius tinha a mão na maçaneta esperando a resposta.

“Sim”

Com a afirmação o garoto entrou. As velas ainda estavam acesas iluminando o quarto. Draco estava sentado na cama, as costa na cabeceira e metade do corpo coberto, segurava um livro. Scorpius, estancado no batente da porta, olhou para o pai e constatou que ele tinha olheiras tão fundas quanto as que ele mesmo deveria ter.

“Não consegue dormir?” Draco perguntou.

Scorpius balançou a cabeça de um lado para o outro. Ele trazia nos braços seu ursinho polar de pelúcia. Aquele era seu brinquedo preferido desde seus quatro anos, foi presente de Astoria. Apesar de estar ficando velho para ser tão apegado a um brinquedo Scorpius continuava dormindo com o urso. Naquela noite, mais do que tudo, o ursinho era a ligação mais próxima que poderia ter com a mãe.

Em um pulo, como um animal assustado, Scorpius atravessou o quarto em longos passos e deitou na cama se aconchegando contra o pai. Scorpius carregava uma dor imensa no peito que o fez soluçar e chorar descontroladamente.

Desde a morte da Astoria ele ainda não havia se permitido derrubar uma lágrima, Scorpius não suportava mais. Ele se entregou ao choro e pouco se importou se aquele contato físico com o pai poderia ser inapropriado. Como Draco não tinha o costume de tocá-lo, Scorpius podia senti-lo tenso com sua proximidade. O garoto não ficaria surpreso se, em breve, Draco o afastasse. Mas ele ficou surpreso quando, ao invés disso, o pai envolveu os braços ao seu redor e apoiou a lateral do rosto em sua cabeça.

Naquele abraço tão reconfortante, Scorpius tremeu e chorou até não ter mais lágrimas. Draco não o soltou mesmo quando ele se acalmou. Assim, se sentindo protegido, o menino adormeceu.


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Notas finais do capítulo

Olá.
Queria agradecer a todos que estão acompanhando a história e a todos que favoritaram. Eu demoro um pouco para postar, pois tento fazer o melhor que posso em um capítulo.
Espero que tenham gostado desse. Um pouquinho mais de Albus e Scorpius. *-*



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