The Stories of a cafeteria escrita por Clube da Julieta


Capítulo 4
Confraternização Inusitada


Notas iniciais do capítulo

O que falar da Bree, que nem conhecemos e já consideramos pacas?



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Já passava das 2:00 da manhã e o vento soprava forte, zumbindo nos meus ouvidos. A neve rodopiava alegremente no ar, tornando tudo branco. No céu, os fogos de artifício retardatários brilhavam em milhares de flashes coloridos.
O cenário era lindo.
Continuei caminhando pelas ruas frias de New York, observando uma ou outra pessoa se aventurando, assim como eu, pela madrugada gelada de ano novo. Ah, eu não contei não é mesmo? Hoje é primeiro de Janeiro! Feliz Ano Novo! Eu dizia e ouvia frequentemente.
Bem, não era lá muito feliz, eu perderá meu voo para o Brasil, onde encontraria uns amigos que fiz em um intercâmbio, e acabei ficando sozinha, já que meus pais viajaram para a casa da vovó, e meus amigos daqui também tinham seus próprios planos. Muitas pessoas perderam o voo, culpa daquele tráfico horrível de fim de ano. Havia uma menina, pobrezinha, fiquei com mais pena dela do que de mim. Dei um sorriso complacente para ela , que me devolver um desesperado.
A situação seria trágica, se não fosse cômica. Mamãe quando soube quis voltar, mas eu não estragaria o ano novo de todos, então papai, muito louco, colocou um lugar à mesa para mim e ceamos por chamada de vídeo, o que rendeu muitas risadas e história pra conta. Mas agora, fiquei realmente sozinha e me recuso a ficar em casa, silencioso demais, e hoje me foi prometido uma noite daquelas.
Mais uma rajada de fogos no céu, que iluminou o letreiro do meu café preferido, sorri animada por estar aberto e corri para o calor aconchegante. Assim que abri a porta fui recebida pelo som de New York, New York. Havia mais três pessoas no café, além da atendente.
— Jesus, que frio! – Exclamei assim que entrei, e quatro cabeças se viraram para me olhar. Não posso negar que foi desconfortável aqueles quatro pares de olhos me encarando como se eu fosse louca. Abstrai e fingi demência continuando meu caminho até o balcão.
— Feliz ano novo, Maria! – Desejei assim que me sentei no balcão.
Mais um olhar como se eu fosse louca, dessa vez seguido de um estreitar de olhos suspeitos.
— Desculpe, nos conhecemos? – Perguntou ela.
Dei um sorriso amarelo – Não realmente. Mas eu sempre venho aqui e ouvi te chamarem assim uma vez.
— Ah, entendo… – O tom ainda era de suspeita. Tentei mais uma vez.
—Ah, nunca te agradeci pelo que fez. Obrigada!
— Desculpe…?
— Há mais ou menos um ano, meu namorado terminou comigo bem naquela mesa li. – Apontei para a mesa onde estava uma garota encarando a janela com um misto de raiva e tristeza. Olhei para o lado de fora curiosa para ver se havia algo que a ofendera. Não havia. Me voltei novamente para Maria. – Teve bastante chororo, e quando eu estava saindo, aos prantos e ranhenta, você me deu um bolinho, um sorriso e disse que tudo ficaria bem. Nunca esqueci aquilo. Então, obrigada! – Sorri.
Observei seu rosto enquanto buscava na memória a lembrança e o vi se iluminando quando se lembrou.
— Ah! Me lembro de você! A propósito, eu queria era dar um soco naquele imbecil.
— Sim, eu também!
Rimos.
— Aliás, me chamo Bree. Bem, Brianna. – Estendi a mão.
— Maria. Oficialmente. – Sorriu apertando minha mão.
Comecei a bebericar meu café quando uma garota com cara mal humorada se aproximou.
— Onde fica o banheiro? – Perguntou.
— No corredor, primeira porta a direita. – Respondeu Maria, e então para alguém que estava atrás da garota que já caminhava para o corredor a passos lentos – Seu pedido está quase pronto. – Sorriu.
— Sem presa.– Disse. E então percebi que se tratava de um garoto, que agora se sentava ao meu lado.
— Feliz ano novo – Me desejou.
— Feliz – Levantei a cabeça – Bem, a gente tenta né.– Sorri amarelo.
— Dia difícil? – Perguntou complacente.
— Perdi um voo e acabei no ano novo sozinha. – Resumi.
— Nossa, que tenso! Ia para onde?                                                                                                                                   – Brasil! – Exclamei exasperada.
— Poxa, você também? – Me virei para a outra garota que eu não vira se aproximar.                             – Hey, me lembro de você! – Exclamou.
A encarei melhor e arregalei os olhos surpresa e animada.
— Do aeroporto! – Exclamemos juntas e rimos.
— Quem diria que New York poderia ser um lugar tão pequeno – Comentou o garoto bonito que eu ainda não sabia o nome.
— Pois é – Concordei – Então, qual é a sua historia triste que te trouxe sozinho num café numa noite fria de ano novo? – Perguntei ao rapaz sem nome.
—– Não estou bem sozinho – Disse acenando com a cabeça na direção onde a garota com cara mal humorada fora – Vim com uma amiga. E não tenho uma história triste – Deu de ombros – Viajo amanhã mesmo, a família não conseguiria se reunir hoje a noite, então amanhã teremos nosso próprio ano novo particular – Riu fazendo aspas no ar.
— Um brinde as viagens de amanhã então. – Brinquei levantando meu copo de café no ar, batendo nos outros dois copos que se levantaram ao mesmo tempo, do garota e da garota do aeroporto que se sentara também.
— Alias, Bree. – Disse me apresentando.
— Laura. – Disse a garota.
— Jason – Amém, o garoto bonito tinha nome.
— Maria.
— A propósito, e você Maria? – Me virei pra ela – Trocou que o que por isso aqui? – Perguntei gesticulando ao redor em ênfase.
— Nada realmente – Disse derrotada – Sou do Brasil, e lá não tem muito esperando por mim – Suspirou – De qualquer forma, todos sabíamos que eu só poderia ir no meio do ano. Então ou era isso aqui – Disse se referindo ao café – Ou ficar em casa na deprê vendo algum programa mais deprimente ainda. – Brincou.                                                                                                                           – Dureza… – Começou Jason quando sua amiga, ainda sem nome, voltava do banheiro.
— O que perdi? – Perguntou ela se sentando ao lado do amigo.
— Uma confraternização incomum entre estranhos – Disse Jason rindo.
— Estamos compartilhando historias tristes. – Parei e olhei para Jason – Não tão triste – Corrigi – Que nos trouxeram aqui hoje.
— Ah – Começou ela se ajeitando no banco. – A minha é uma família louca que aparece uma vez na vida e outra na morte e adora decidir a vida da gente como se os conhecesse de verdade – Disse exasperada.
— Entendo… Meus pais surtaram quando não pude ir no natal, quero nem ver amanhã quando chegar – Comentou Laura com uma expressão torturada – E para completar estou trancada para fora de casa. Sozinha e sem casa. Que bela maneira de começar o ano… – Suspirou.
— Sozinha e com uma casa super silenciosa. – Entrei na brincadeira.
— Sozinha, uma casa minúscula, silenciosa e ainda trabalhando – Disse Maria.
— Okay, definitivamente você ganhou, – Comentou Jason rindo.
— Meio sozinha. – Disse a garota sem nome olhando para Jason. – E com uma casa cheia de parentes loucos.
Paramos de comer e olhamos para ela.
— Sabe Hannah – Ah então era assim que ela se chamava – Isso não parece nenhum pouco ruim – Discordou Jason rindo.
— Com todo o respeito – Começou Laura – Nem um pouco mesmo. Daria tudo para estar em casa agora com a minha família louca. Tudo.
— E eu daria pra ter uma família louca me esperando. A minha se resume a mim, minha mãe, e uma tia – Concordou Maria.
— Não posso reclamar da minha – Dei de ombros – Ceamos por chamada de vídeo. Adoro que ela seja louca – Sorri.
— Isso é um complô gente? – Perguntou Hannah,
— De forma alguma, cada um sabe o que o aflige. Estamos aqui para dar lição de moral não – Eu comentei – Tenho nem moral para dar – Continuei rindo.
— Uhrum – Concordou Laura – Família é família, todas são loucas… Mal posso esperar para ver as caras surtadas dos meus pais amanhã. Saudade é grande.
— Nem me diga. Quando meu pai morreu foi horrível, e saber que ele se foi com a gente estando brigados é pior ainda. Daria tudo para ouvir os gritos bravos dele – Disse Maria melancolica.
— Sinto muito… – Disse Hannah com um semblante pensativo e distante.                                               – A minha promessa de ano novo – Eu comecei – É não entrar para a estatística de pessoa que só perceberam o valor quando perderam. Seja o que for.
— Faço das tuas palavras as minhas – Concordou Laura.
— Idem – Disse Jason.
— De agora em diante… – Pontuou Maria quando um barulho de despertador começou a soar.
— Bem gente, quatro horas da manhã, hora de fechar.                                                                                      – Ai não, pra onde vou agora? – Perguntou Laura desesperada.
— Quer vir lá pra casa? Amanha saímos para o mesmo lugar mesmo – Perguntei.
— Jura? Meu Deus você é um anjo! Aceito sim, dormir na rua definitivamente não.
— Vamos então. – Disse Maria terminando de arrumar as coisas.
— E nós vamos para onde¸Hannah? – Perguntou Jason pegando suas coisas.
— Lá para casa, temos uma festa para encarar.
— Temos? – Disse levantando uma sobrancelha.
— Jason, pelo amor de Deus, você não vai me deixar ir sozinha né? – Perguntou de olhos arregalados.
— Não Hannah, não ¬– Disse rindo do desespero dela.
— Ufa!!
Rimos.
— Bem gente, foi uma ótima noite na verdade. Obrigada – Disse Maria enquanto trancava a porta após termos saído.
Concordamos em uniforme.
— Hum, Bree? – Me chamou Jason.
— Sim?
— Você se importaria de me dar seu número? – Perguntou coçando a cabeça, um tanto envergonhado, pude notar.
— Claro que não – Sorri abertamente passando meu numero para ele.
— Bem gente, nos vemos por ai, não é? – Perguntou Laura.
— Claro que sim. – Confirmou Hannah.
— Pode ter certeza! Boa noite  gente, e feliz ano novo – Despediu-se, Maria.
Fomos cada um pra um lado.                                                                                                                                       Segui com minha mais recente amiga, com a promessa de entregar um presente para a mãe de Maria no Brasil, meu numero na mão de um garoto incrivelmente simpático, e bonito, devo acrescentar, e mais uma nova amiga, que o arrastava zoando algo sobre ele estar vermelho.
Sorri quando um brilho colorido cruzou o céu. O melhor e mais inusitado réveillon que já tive.
Dei o braço para Laura, para nos protegermos do vento frio e seguimos o caminho sorridente.
No meu bolso o celular apitou.
Feliz ano novo Bree, foi um prazer te conhecer.
Meu sorriso aumentou. Obrigada voo perdido.
Esse ano promete!


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Notas finais do capítulo

Com amor, Emy





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