The Stories of a cafeteria escrita por Clube da Julieta


Capítulo 1
Sonhos em New York


Notas iniciais do capítulo

Espero que aproveitem esse momentinho com a Maria!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/772938/chapter/1

Maria estava atrás do balcão do coffee shop localizado no Brooklyn, vestindo seu avental sujo de pó de café em todos os lugares e encarando tediosamente o relógio vintage que adornava o alto da porta, ao lado da sineta.

1:46

1:47

O tempo parecia congelado, tanto quanto as ruas de Nova York do lado de fora. O café estava vazio, e ela se perguntava porque infernos seu chef decidira abrir em plena virada de ano. Bom, Maria não poderia se dar ao luxo de recusar uma ordem quando se tem um emprego sendo estrangeira.

1:50

O café continuava vazio e duas pessoas, não parecendo muito mais jovens do que ela, adentraram o local. Maria observou quando a garota sentou-se à mesa em frente ao vidro, encarando a rua enlameada e deserta e seu amigo se dirigiu até ela para fazer os pedidos.

Será que ela também estaria se perguntando onde estaria a magia do ano-novo Nova-iorquino? Bom, provavelmente com aqueles que não precisam trabalhar bem na data.

Suspirando, foi até a cafeteira preparar o pedido da cliente, quando para sua surpresa o mesmo se oferecera para ajuda – lá com a torta. Maria aceitou de bom grado vendo a animação do rapaz. Enquanto a torta assava ele foi levar a bebida de sua amiga, que parecia distante.

2:00 e a campainha soou novamente.

Outra mulher, também parecendo compartilhar da mesma idade que ela explorou o local com os olhos antes de fechar a porta atrás de sí e se encaminhar até Maria que preparava o forno para uma rodada de croissant.

— Pois não?

— Um cappuccino, por favor.

A garota sentou em uma mesa oposta a da outra cliente. Maria encarou as duas e pensou consigo mesma qual tipo de infelicidade traria aquelas duas garotas a um café deserto, as 2:05 da manhã do natal, sozinhas?

Bom, com certeza não era a mesma que a sua.

Maria era uma garota de 21 anos que parecia carregar o mundo nas costas. Nascida e criada em uma família humilde no interior do sul do Brasil, ela se mudará para NY apenas a alguns meses atrás para seguir sua carreira de dançarina na Broaway.

Só não contava que seu pai lhe viraria as costas assim que contasse das suas ambições para o futuro.

“Seu lugar é aqui, com a gente! Tão mal-agradecida, depois de tudo o que te demos, vai nos deixar?”

Ou mesmo que ele morresse apenas dois meses antes dela embarcar, deixando sua mãe doente e sem auxílio.

Sua mãe agora morava com sua tia, irmã de sua mãe, e Maria trabalhava em espetáculos off Brodway a noite, na cafeteria de madrugada e em uma lanchonete a tarde para conseguir se sustentar em Ny e sustentar sua mãe no Brasil.

Em seus devaneios sobre como seria enfim morar na cidade dos seus sonhos, ela imaginava que passaria o ano novo com seus novos amigos aspirantes a atores também, no apartamento de algum deles enquanto bebericava um vinho chique e flertava com o primo do anfitrião.

Bom, não era esse o cenário real. Seu apartamento mal cabia ela e sua panela elétrica de arroz. E falando sobre amigos, com três empregos quem tem tempo pra eles?

Depois de servir suas três únicas companhias naquela noite congelante, com croissant de cortesia – seu chefe que se danasse, ela não pagaria por aquilo e nem eles – voltou e tentar fazer aquela velharia que o pão duro do seu chefe chamava de rádio funcionar. O ruído de abelhas era a única coisa que parecia querer sair dos alto-falantes, mas por Deus, ela não perderia a paciência. Já era deprimente demais sua situação para ainda ter de aturá-la sem música. Maria continuou a tentar ligar aquilo enquanto tentava se convencer de que tudo valeria a pena, pois sua vida era digna de um roteiro de comédia romântica musical onde no futuro ela venceria um Tommy Awards e agradeceria aos diretores que confiaram nela para uma grande estréia na Broadway no seu discurso de agradecimento.

2:20

2:22 e o rádio balbuciou uma frase cortada de uma estação.

“Vamos, eu sei que você não vai fazer isso comigo, vamos lá” Maria paparicava o objeto inanimado como se pudesse convencê-lo a ser gentil. Talvez ela pudesse mesmo, pois alguns segundos depois a voz de Frank Sinatra com a irônica “New York New York” entorpeceu-a por alguns instantes.

Ah, como ela amava essa música! Quantos dias não havia passado cantarolando baixinho no seu trabalho no Brasil imaginando como seria quando se mudasse para sua tão amada New York?

Não deixou que a melancolia lhe atiçasse e varreu seu olhar pelo estabelecimento. As duas moças pareciam absorvidas na música e encaravam o vidro com sorrisos no rosto.

Maria fez o mesmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Com amor, Julliene



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Stories of a cafeteria" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.