Get Mad, Ear. escrita por TMfa


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Bem, esse primeiro arco é crucial, ele define toda a história. Shinsou aparece muito, porque ele vai ser um ponto chave da história. Como eu disse antes, no início, essa fanfic era ShinsouJirou, e tecnicamente se resumiria só ao primeiro arco, porém, depois de começar a escrevê-la e tendo Bakugou como um Bro muito próximo da Jirou, eu acabei escrevendo uma cena e fiquei "Hm, isso poderia ser um ship real oficial" E acabou virando meu ship mais forte.



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Como prometido, no dia seguinte Kyouka seguiu para a biblioteca ao invés de ir direto para o dormitório. Ainda estava claro quando ela chegou e Shinsou ainda não estava lá. Então ela esperou sentada no lado de fora, assim ela poderia ouvir música sem problemas.

— Esperando há muito tempo? – Shinsou perguntou ao se aproximar.

— Nem um pouco – Kyouka respondeu levantando-se e pondo a mochila nas costas – Então, vamos lá?

— Não tão rápido, Jack – Hitoshi ergueu uma mão – você vai ter que me fazer um favor primeiro. – Jirou ergueu uma sobrancelha e olhou de lado – Antes de começarmos a treinar minha individualidade, eu vou te ensinar a se defender de controles mentais – Jirou tentou protestar, porém Shinsou não deixou – Eu quero ter certeza que você vai ficar bem.

— Eu já disse que eu confio em você, soneca – Ela revirou os olhos – A menos que você me faça pular de uma ponte, eu vou ficar bem.

— Olha, é assim que vai ser, ok? – ele esfregou as têmporas, não estava particularmente disposto a explicar os motivos dos seus receios – São as minhas condições.

— Falando assim parece até que é você a cobaia – Ela brincou com um sorriso debochado. Ele não achou graça – Ok, o que vai ser?

— Vamos entrar. Precisamos de um lugar bem confortável para fazer isso.

Os dois entraram na biblioteca e reservaram uma sala pequena com grandes janelas de vidro com uma vista para as mesas e estantes da biblioteca. Jirou deixou sua mochila no chão, desatou a gravata do uniforme espreguiçou-se antes de sentar. Shinsou estava um pouco tenso. Ele estava ok em usar sua individualidade em uma luta ou em pessoas que ele não gostava (como Monoma). Isso era diferente, era um amigo, um amigo que confiava nele. Ele não iria quebrar essa confiança.

— Ok, e agora? – Jirou perguntou.

— Você vai criar um gatilho. Vai demorar um pouco, não vai ser hoje ou amanhã que vai funcionar. Mas quando estiver pronto, você vai ter chance de se libertar de qualquer controle mental. – Ele explicou monotonamente.

— Legal. Mas isso não vai atrapalhar no seu treinamento?

— Não, só vai tornar mais difícil. E mesmo assim, você tem que querer se libertar do controle mental para ativar o gatilho. E como você está fazendo isso voluntariamente, eu não acho que vá atrapalhar.

— Como eu faço isso?

— Você precisa escolher uma palavra, por isso escolhi a biblioteca – Ele explicou virando a cadeira dela para a os vidros da sala – A imagem mental de uma biblioteca lembram livros e livros lembram palavras. Nosso cérebro trabalha com associações. Quando a pessoa está sobre controle mental, sua consciência fica submersa, são as associações de quem está no controle que comandam seu corpo.

Em individualidades mais fortes, a pessoa pode dominar sua consciência e fazer você pensar que está agindo por você mesmo, quando na verdade, não está. O gatilho que você vai criar precisa evocar sua consciência para fazer você recuperar o controle.

— De novo, como eu faço isso? – Ela virou o rosto para ele e Shinsou guiou-a pelo queixo de volta para a vista da biblioteca.

— Eu não sou importante, a biblioteca é. Olhe bem para a imagem, a guarde na sua cabeça. As mesas, cadeiras, as estantes, as cores, as sombras... tudo.

Jirou suspirou um pouco impaciente e focou na vista à sua frente. Ela se manteve assim por alguns segundos.

— Ok, e agora?

— Escolha uma palavra para...

— Pode ser meu nome, certo? – ela o interrompeu.

— Bem, podia, mas agora não pode mais – ele bufou – Você não pode me dizer qual a palavra você vai escolher.

— Por que não?

— Por que é assim que funciona.

— Mas o que é melhor para evocar minha consciência que o meu nome?! – ela gemeu.

— Você vai encontrar alguma coisa. E não me diga o que é!

Jirou bufou e cruzou os braços. Ela bateu um pé no chão várias vezes e tamborilou os dedos até que decidiu a palavra perfeita.

— Pronto – ela sorriu travessa.

— Bom. Agora vem a parte difícil: As associações. Você tem escolher suas memórias mais fortes, suas emoções, suas vontades e coloca-las todas nessa palavra.

— O quê?! – Ela virou-se para ele novamente, e outra vez Shinsou guiou seu rosto para a biblioteca.

— Eu disse que ia ser difícil. – Ele encolheu os ombros – Comece por ordem cronológica, as mais antigas para as mais recentes. Qual a primeira memória de infância?

— Eu tenho que dizer? – ela perguntou com uma careta.

— Não.

Kyouka fechou os olhos para se focar melhor.

— Como eu deveria conseguir associar essa memória a essa palavra? – ela resmungou frustrada.

— Limpe sua mente, foque nessa lembrança, a deixe bem clara antes de introduzir a palavra.

— Ok... como eu sei que funcionou?

— Não sabe. Você tem que fazer várias vezes e às vezes reforçar.

— Você está brincando comigo?! – Ela arfou incrédula – Quanto tempo isso vai demorar?

— Não sei, varia de pessoa para pessoa. Minha mãe criou um gatilho em dois meses, meu pai demorou seis.

Kyouka ia protestar antes de perceber o que aquilo significava.

— Seus pais... tem gatilhos mentais?

— Desde os meus seis anos – Shinsou desviou o olhar e esfregou a nuca – Toda a minha família tem. Você sabe, só por segurança – o garoto corou.

Kyouka pensou em falar alguma coisa, mas o quê? Seu olhar se entristeceu pelo garoto. Ela não pensou que fosse tão importante para ele todo esse exercício. Agora, sabendo que até sua família o teme, ela entendeu o motivo da paranoia do garoto. Midoriya havia lhe dito sobre a história de Shinsou, ela também ouviu um pouco durante o festival cultural. Ainda assim, perceber o preconceito que o garoto sofreu a fez olhá-lo com mais compaixão.

— Bem, vamos continuar então – Ela ofereceu um sorriso amigável para ele e voltou a olhar para a biblioteca com nova determinação.

Eles passaram um pouco mais de uma hora na biblioteca. Shinsou se despediu com uma ordem para Kyouka continuar trabalhando no gatilho antes de dormir, usando a imagem mental criada da biblioteca como um isolante para criar as associações entre as memórias e a palavra escolhida. Aparentemente, o sono fortalecia essa união, então isso aceleraria o processo.

Eles continuaram seus treinos físicos normalmente, assim como as visitas nos fins de semana e as aulas de baixo, embora Shinsou tenha reduzido o tempo das aulas pela metade, já que Bakugou aparecia para tocar com a garota e os dois seguiam um ritmo muito avançado para qualquer outra pessoa. Kyouka continuou trabalhando em seu gatilho mental durante a semana e, com muita insistência, conseguiu convencer Shinsou a treinar sua individualidade mesmo sem o gatilho completamente pronto.

Depois de quase dois meses treinando várias e várias vezes, Shinsou descobriu muitos outros limites em sua individualidade e a fortaleceu e muito. Ele já sabia das limitações de comando, onde não podia dar ordens gerais ou complexas sem perder o controle; também sabia que bastava um empurrão para surtir o mesmo efeito. Porém, agora ele descobriu que seu controle termina em quarenta minutos deixando-o com uma dor de cabeça insuportável, quando excedidos. Também descobriu que Jirou não perdeu velocidade quando sob seus comandos, nem seus fones perderam a precisão.

O lado bom foi que, depois desses dois meses, seu tempo de duração aumentou dez minutos, os golpes precisavam ser mais fortes para se libertar, ele conseguia arrancar respostas simples, porém mais detalhadas que antes, e, com ordens específicas, ele conseguia apagar a memória do que ocorreu sob seu controle e restaurá-la como quisesse.

Hoje os dois resolveram elevar um pouco o nível do treinamento. Jirou deveria tentar se libertar sozinha do controle de Shinsou. Eles tentaram antes, na academia, porém Kyouka não conseguiu. Por isso eles estavam na biblioteca em pleno sábado à noite, talvez o ambiente a fizesse se lembrar da palavra.

Não adiantou. Os dois já estavam ali há aproximadamente duas horas. Eles deram várias pausas curtas para que Shinsou não exagerasse no tempo de uso da sua individualidade e também para bolar um novo plano para Kyouka quebrar o controle do garoto.

Eles tentaram de tudo. Ele a fez andar pela biblioteca, a fez usar sua individualidade, a fez cantar sua música favorita (o que ele apagou da memória dela e não tinha intenção de restaurar) e agora estava fazendo perguntas de múltipla escolha.

— Ok, ahn... azul ou vermelho? – Ele continuou tentando criar perguntas que a façam pensar, porém não a livre completamente de seu controle.

— Azul – Jirou respondeu mecanicamente.

— Deep Dope ou Armarath?

— Deep Dope.

— Tch. Você é tão gótica – ele debochou esticando-se na cadeira.

— O que você disse?! – Ela se libertou do controle e estava olhando para ele irritada.

Shinsou quase caiu da cadeira com o protesto da garota.

— Você conseguiu.

— Você me chamou de gótica? – Ela cruzou os braços e levantou a sobrancelha.

— Ahn... sim? Algum problema?

— Não se chama um punk de gótico, soneca! – Ela resmungou franzindo o cenho – É o mesmo que chamar um inglês de francês, é ofensivo.

— O quê? Por quê? Não é a mesma coisa? – ele indagou confuso. A garota arregalou os olhos em desprezo e inclinou-se para trás – Ok, não é o mesmo. Me desculpe, eu não sabia. Mas ei, pense pelo lado bom, você conseguiu – ele mudou de assunto desajeitadamente.

— Meh, não exatamente. Você fez uma pergunta difícil demais. – Ela suspirou decepcionada – Eu senti aquele nó cabeça de novo quando você perguntou sobre Deep Dope e Armarath.

— Para que serve um gatilho se você não consegue usar? – ele reclamou ranzinza.

— Talvez, se você dissesse em voz alta eu poderia me livrar do controle – Ela repetiu pela milésima vez.

— Eu já disse que não, Jirou. Eu não posso saber o seu gatilho.

— Mas eu preciso ouvir isso! Não é por isso que chamam de gatilho?! – Ela argumentou esticando o rosto com as mãos – Eu tenho certeza que se você disser a palavra eu consigo sair.

— Você tem que aprender a sair sozinha.

— Mas é muito difícil! – Ela gemeu – Qual o problema de você saber a porcaria da palavra?

— Por que eu posso fazer você se esquecer dela agora, lembra? – Ele explicou com um suspiro – Se eu apagar essa palavra específica da sua cabeça, o gatilho também some.

— É só você não apagar – ela revirou os olhos – Problema resolvido.

— Não.

— Por queeeee?

— Por que eu quero que você consiga se defender de mim, droga! – ele perdeu a paciência e a garota inclinou a cabeça em confusão – É por isso, ok? Eu não quero saber qual é a porcaria do seu gatilho. Por que se um dia eu virar um vilão, você vai conseguir me parar. Feliz agora? – ele desviou o olhar, a mandíbula tensa e a mão esquerda apertando a base da nuca com força.

Kyouka não sabia o que falar. Ela abriu e fechou a boca várias vezes. Ela queria se desculpar, consolar o amigo, espancar todos os que o fizeram pensar uma coisa estúpida dessas.

Jirou puxou sua cadeira para mais próximo de Hitoshi e sentou-se ao seu lado, apoiando uma mão no ombro do garoto. Shinsou não ousou levantar os olhos e se limitou a suspirar. Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos antes de Kyouka se manifestar.

— Eu juro, eu vou matar o desgraçado que fez você pensar isso – Ela ameaçou em um rosnado.

Hitoshi bufou uma risada e esfregou os olhos com a ponta dos dedos.

— Você tem passado tempo demais com o Bakugou – Foi o comentário dele.

— Argh, eu sei. – ela gemeu com uma careta – Mas às vezes ele tem razão. Droga! Você realmente acha que eu preciso me defender de você? – Ela baixou a cabeça para olhar nos olhos dele – Eu não estou nem aí para o que dizem, você é um herói, um dos muito bons.

— Agora. – ele apontou erguendo a cabeça

— Nada de “agora” – Ela o recriminou segurando-o pelos ombros – você tem estado na minha cabeça, por o quê, seis semanas?

— Oito.

— Oito semanas! Eu posso dizer com toda certeza que você não é um vilão. Eu confio em você – Ela sorriu docemente.

Shinsou agradeceu internamente por aquelas palavras. Ele as ouviu muitas vezes nas últimas semanas, tanto de Jirou, quanto de Midoriya e de muitos alunos da 1-B, ainda assim, toda vez que ele as ouvia, ele se sentia mais aliviado.

Hitoshi segurou uma das mãos de Jirou que estava em seu ombro e sorriu mais tranquilo. Ele estava prestes a agradecer a garota verbalmente quando foi interrompido pelo barulho da porta abrindo.

— Mas o quê? – Bakugou soltou com a sobrancelha erguida.

Kyouka recolheu as mãos do ombro de Shinsou com a rapidez de um gato e olhou entre os dois garotos várias vezes.

— O que foi? – Jirou perguntou ignorando o rubor em se rosto.

Bakugou entrou na sala com um olhar de desconfiança.

— Sua mãe está avisando para jantar, vocês estão aqui a mais de duas horas. – Ele informou. Jirou sabia que a “mãe” era Momo.

— O quê? Já? – Ela piscou surpresa.

— É melhor irmos andando, a biblioteca já deve estar para fechar – Shinsou disse levantando-se da cadeira.

— É melhor – concordou Bakugou pegando a bolsa de Kyouka que estava perto da porta junto com a gravata da garota – E o Pikachu é uma droga na guitarra. – Ele terminou antes de sair da sala, deixando a porta aberta.

A última frase de Bakugou resumia “Eu quero tocar bateria, mas não tem ninguém descente para acompanhar além de você, então jante rápido para podermos tocar, porque o Kaminari é ruim tocando guitarra”. Depois do festival cultural eles acabaram se relacionando melhor. E depois de tanto tempo, Jirou podia dizer com confiança que eles eram bons amigos.

— Bem, até amanhã? – Shinsou ofereceu a mão em cumprimento.

Ela abraçou-o rapidamente.

— Até amanhã, soneca – ela despediu-se com um sorriso brincalhão.


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Notas finais do capítulo

Eles são adolescente com o psicológico fodido, então esses pequenos detalhes serão explorados, ok? Com todos, então prepare o lenço se você for um pouco sensível.

Eu tinha um amigo punk e cometi a mesma gafe do Shinsou, eu me diverti lembrando disso huheuheu

Todo o lance das associações e funcionamento do cérebro vieram das minhas aulas de anatomia, psicologia, russo (sim, acredite, usei essas técnicas para isso e funciona) e das séries The Mentalist (É possível ver no meu histórico que eu era viciada) e Sherlock.



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