Reunidos novamente no estádio, os 150 alunos que passaram para a segunda fase estavam ouvindo atentamente as explicações do diretor Nezu quando ele anunciou a prova “Os três Mosqueteiros”.

— Os alunos terão que se dividir em trios. Cada trio receberá duas cordas de 60 cm. Vocês ficarão lado a lado, na disposição que quiserem, e o estudante do meio será atado aos seus dois companheiros pelo pulso com as duas cordas. – O diretor explicou paciente e cuidadosamente – O aluno que ficar no meio receberá uma camisa com um número indicando o trio. A prova consiste em destruir as cordas ou separar os outros trios para pontuar. Se apenas um dos estudantes não estiver ligado aos outros dois, o trio está fora. Os números nas camisas servem para os nossos avaliadores com incríveis olhos de águia identificarem os trios que foram eliminados e quem os eliminou. Os últimos sete que restarem ou os sete trios que mais pontuarem, passam para a terceira fase! O limite da prova é de 15 minutos, escolham seus trios, queridos alunos! Vocês têm dez minutos para decidir!

Com isso, o grupo de estudantes começou a se mover. Jirou pensou se deveria esperar que a chamassem ou convidar alguém. Mas quem? Ela precisava saber qual estratégia usar antes de escolher alguém. Seu primeiro pensamento foi Yaoyorozu e Bakugou. Porém, quando a garota punk olhou para sua amiga, Todoroki já estava amarrando seu braço esquerdo ao braço direito de Yaomomo.

Kyouka bufou irritada com Todoroki, às vezes ele era rápido demais. Antes que Jirou pudesse processar qual seria seu próximo passo, algo chamou sua atenção.

— Aquele ruivo ali, com o cabelo espetado e dente de tubarão – Alguém disse em um sussurro. Nada era baixo o suficiente que Jirou não escutasse.

— É, é ele sim. O namorado daquela bicha do terceiro ano. Eles são nojentos – Outra voz se pronunciou com desprezo.

Kyouka procurou os miseráveis desprezíveis que estavam ofendendo seu amigo e encontrou dois desconhecidos, cinco cabeças à frente, com o olhar entojado, cabelos curtos e a jaqueta do colégio entreaberta. Um deles tinha a pele azulada e orelhas pontudas, o outro era muito baixo, as unhas em forma de garra, como de uma toupeira ou uma preguiça.

— Ei, orelha! – Ela ouviu Bakugou chamando-a. Por instinto, Jirou olhou para o namorado, contudo, logo voltou o olhar para os desconhecidos, ela não queria perdê-los de vista – Oi! Vamos você, eu e o Cabelo de Merda, ele está pegando as cordas – Katsuki avisou pondo a mão em seu ombro.

— Eu sei que geralmente eu sou a pessoa que diz para você se acalmar. Mas você está vendo aqueles dois ali? – Ela apontou com os olhos estreitos e o nariz franzido com a raiva – Mate os dois.

— O smurf e a preguiça? – Katsuki perguntou explodindo uma mão na outra.

— Sim. Eles ofenderam Kirishima porque ele é gay.

— Mas que porra?! Eles vão morrer – Bakugou rosnou dando um passo para frente.

— Não! – Jirou segurou-o – Não agora.

— Mas o quê?! Por que não?!

— Se você for lá agora, você pode ser desclassificado, Bomberman – Kyouka revirou os olhos – A prova é sobre separar os outros trios, não importa como, certo? Então, assim que ela começar... – Jirou sorriu diabolicamente – Nós vamos caçá-los como coelhos.

— Porra, às vezes eu esqueço que você tem um lado sádico fodido – Ele sorriu de volta.

— Achei vocês! – Kirishima gritou aproximando-se deles sacudindo as duas cordas no ar. – Como vamos fazer?

— Você vai no meio, Cabelo de Merda – Bakugou Instruiu amarrando uma corda na mão do ruivo – Eu vou na direita. Orelha, pegue a esquerda.

— Qual o plano, pipoca? – Perguntou Jirou já amarrando-se ao braço direito de Kirishima.

— Nós dois vamos usar as explosões para ir mais rápido. Você afasta os idiotas que tentarem nos atacar, eu vou destruir todos os que aparecem na nossa frente. Cabelo de Merda, enrole as cordas no seu braço, não deixe espaço para cortarem essa merda. – Katsuki explicou deixando a corda bem justa no braço de Kirishima e segurando-o pela mão – E prepare essas pernas para cortar algumas cordas. Nós vamos te arrastar, desse jeito – Ele terminou erguendo sua mão e a de Kirishima para dar ênfase ao seu ponto de vista.

— Se vamos nos mover com as explosões, precisamos estar em sintonia. Você precisa ser claro quanto à intensidade da explosão que vai usar – Jirou apontou – Se eu não impulsionar com a mesma intensidade nós vamos mudar de direção.

— Eu vou dizer qual a intensidade. Memorize: Um, dois, três – Bakugou ordenou explodindo sua mão direita em três diferentes proporções.

— vocês conseguem se mover se eu ficar assim? – Kirishima perguntou dobrando os braços verticalmente no peito.

— Sim – Concordaram Kyouka e Katsuki.

— Ótimo – Eijiro sorriu e endureceu seus braços, criando uma muralha nas cordas. – Agora é só esperar o sinal.

Dando uma última olhada pelo campo antes do início da prova, Kyouka pôde ver Ashido, Sero e Kaminari como um time. Faz sentido que Kaminari ficasse no meio, sem todos os equipamentos ele não tem como direcionar a eletricidade dele sem eletrocutar os outros dois, então é melhor que ele fique apenas defendendo a corda. Midoriya, Minetta e Uraraka formaram outro. Jirou tinha certeza que a ideia de usar as bolas do Minetta na corda foram ideia do Deku.

Perto de alguns estudantes do curso de suporta, Koda, Fumikage e Ojiro estavam terminando de se atar. Todoroki, Momo, e Iida já estavam prontos, Yaoyorou simplesmente encapou a corda com aço! Kyouka fez uma nota mental para checar os pulsos da amiga depois, todo aquele peso nos dois braços iam deixar marcas.

Ela passou os olhos por alguns amigos da turma B, como Tetsu, Awase e Shinsou. Contudo, sua atenção ficou estagnada nos dois idiotas que ofenderam o baby shark da turma A.

— Katsuki – Kyouka chamou sem tirar os olhos dos dois.

Bakugou seguiu seu olhar e apenas gemeu em concordância. O loiro estalou o pescoço e preparou-se para atacar a presa, deixando Kirishima confuso e perdido com a mudança de humor repentina dos dois amigos.

— Vocês estão prontos para mais uma incríiiiiiiiiivel prova da UA?!!! – Present Mic gritou, agitando a plateia – Então preparem-se. Porque nossos estudantes vão começar a se destruir em três, dois e...

— Três, Orelha! – Bakugou gritou.

— VÃO! – Mic autorizou.

No mesmo instante, Katsuki explodiu sua mão direita, Jirou acompanhou-o e o trio voou, passando por um grupo grande de alunos até sua presa.

— MORREEEE! – Bakugou urrou explodindo o garoto com garras na cabeça, lançando-o a três metros de distância, seus companheiros foram arrastados pela corda e ambos caíram. – Sua vez, Smuff! – Ele avisou antes de acertar o garoto azul em cheio enquanto tentava se levantar.

O terceiro garoto, que não tinha nada a ver com a história, cuspiu um líquido verde e viscoso na direção de Bakugou, quem se desviou rapidamente, soltando a mão de Kirishima e desenrolando a corda uma volta. Jirou foi quem derrubou o adversário com um golpe sônico. Nisso, os outros dois garotos se levantaram, Bakugou voou neles e, sentando-se nas costas de ambos, empurrou suas cabeças contra o chão.

— Bakugou! Para com isso! – Kirishima interviu empurrando o amigo com a mão livre. Sem sucesso em tirá-lo de cima dos inimigos. – Jirou, uma ajuda aqui! – Ele pediu apontando para o loiro.

— Na verdade, fui eu quem disse para ele fazer isso – Kyouka respondeu simplesmente – Isso não é com você, fique quieto e você não se machuca – Ela ameaçou o terceiro garoto tão desinteressadamente que, se não fosse pelo golpe mais cedo, a mão apontada para ele não teria surtido efeito.

— O quê? Por quê?! – Eijiro perguntou estupefato.

— Esses merdas xingaram você! – Katsuki respondeu puxando os dois pelos cabelos.

— É mentira! – O garoto azul respondeu.

— Queito! – Bakugou o repreendeu empurrando-o contra o chão novamente.

— Eles foram horríveis, nós só estamos ensinando uma lição – Jirou explicou seriamente.

— Pessoal, isso é lindo, mas nós estamos no meio de uma prova, nós não podemos perder tempo com isso. – O ruivo argumentou preocupado.

— Não vai demorar – Bakugou bufou movendo os joelhos e fazendo os dois gemerem de dor – Assim que eles chorarem como garotinhas eu deixo os dois irem.

— Bro, nós temos que separar um monte de outros trios! Essa é uma tarefa difícil!

— Não, não é! – Jirou discordou com uma careta. Ela olhou para o lado e disparou na primeira corda que viu, ela se partiu e, a garota que estava amarrada nela caiu – Viu? Foi simples.

— Você devia estar ajudando, Jirou! – Kirishima exclamou irritado – Olha, nós temos que pontuar o máximo possível. E enquanto estamos aqui você quebrou a nossa formação e os outros ainda saíram na frente. Nós vamos acabar perdendo!

Bakugou e Jirou se entreolharam por um segundo.

— Ele tem razão, você sabe, né? – Kyouka apontou.

— Táaaa! – Katsuki gemeu explodindo a corda entre os dois idiotas que ele tinha embaixo dos joelhos e levantou-se.

Eles reagruparam e Kirishima os fez prometer que não iam mais largar a mão dele. Em poucos segundos os três já estavam pontuando na prova. Bakugou ficou furioso por não conseguir tirar Deku da jogada. Ele viu as bolas do suco de uva e sabia que não podia tocar, ele ainda conseguiu explodir o anão roxo, mas não teve efeito em separar o trio.

Sua frustração aumentou ainda mais quando eles perderam um trio para o Meio a Meio. O bastardo cortou a corda do Pikachu com fogo antes que ele os alcançasse. O pior foi não poder revidar eliminando o trio dos nerds. A Rabo de Cavalo tinha enfiado a porra da corda num tubo tão grosso de aço que Bakugou perderia um tempo que não tinha para quebrar. Bem, ao menos ele teria uma luta decente contra a lata de Pepsi. Seja lá qual for o combate um contra um esse ano, ele já estava torcendo para ir contra o Deku e o Meio a Meio.

No final, Jirou agradeceu aos céus por ter sido apenas quinze minutos. Ela havia usado muito sua individualidade na prova de escalada. Mesmo que ela tenha explodido em intervalos e em apenas uma parte do corpo, seu braço esquerdo estava enrijecendo pelo uso e ela precisava de alguns minutos para se alongar se quisesse estar em boa condição para a próxima fase.

Alguns segundos depois do fim da prova, a classificação dos trios apareceu na tela gigante. Em primeiro lugar estavam Todoroki, Yaoyorozu e Iida; seguidos por Bakugou, Kirishima e Jirou; Kendo, Ibara, Honenuki ficaram em terceiro; Midoryia, Minetta e Uraraka em quarto; Koda, Fumikage e Ojiro em quinto; Tetsu, Awase e Shinsou em sexto; e Monoma, Komori e Yanagi em sétimo.

Para grande surpresa de todos, não bastava só passar. Apenas os três primeiros trios classificava os três integrantes para a próxima fase. O quarto, o quinto e o sexto trio garantia apenas duas vagas, e o último trio, somente uma.

Após alguns minutos de discussão entre os últimos quatro trios, a etapa final ficou assim decidida: Bakugou, Kirishima, Jirou, Kendo, Ibara, Honenuki, Momo, Todoroki, Iida; Midoriya, Uraraka, Fumikage e Ojiro, Tetsu, Awase; Monoma.

No mesmo instante que os finalistas foram decididos, a terceira prova foi anunciada. Seria um “combate corpo a corpo em ambiente hostil”. E por ambiente hostil a UA quer dizer centenas de robôs irritantes atacando os dois adversários incessantemente. Após a explicação do diretor Nezu, agora de pé no chão porque Aizawa-sensei havia dormido na coluna do palco, a sequência de lutas do torneio foi apresentada.

— Ah, cara. Eu tinha que cair logo contra um dos alunos por recomendação – Kyouka gemeu ao ver que sua primeira luta era contra Honenuki.

— Eu vou contra Midoriya – Yaoyorozu suspirou ao seu lado.

— Oh, merda. – Jirou gemeu com pesar – Ei, eu ficaria triste se não fosse você. Você provavelmente tem um plano para derrubar Midoriya, certo?

— Não tenho certeza se vai funcionar...

— Ah, qual é. Claro que vai – Ela segurou a mão de sua amiga com um sorriso reconfortante. Yaoyorozu apoiou a mão livre no queixo, sem retribuir a amiga – Você está pensando em todas as variáveis e fazendo um monte de cálculos não é? Eu quase posso ver os números passando pela sua cabeça.

— Desculpe – Momo sorriu acenando com a cabeça – Eu preciso me concentrar agora.

— Tudo bem, eu preciso pensar em alguma coisa também. E me alongar! – Jirou exclamou esticando os braços acima da cabeça.

Ela começou a andar para longe, a fim de deixar sua amiga pensando sobre a própria luta.  Ela conhecia a individualidade de Honenuki, mas não sabia qual o limite dela e nem se ele já o havia alcançado. Jirou já estava bem próximo do limite. Ela precisa se poupar. Se ela fosse fazer os cálculos (hábito que Yaoyorozu estava lentamente impregnando na garota punk), Kyouka talvez tivesse menos de cinco minutos de explosão constante antes de fadigar seus músculos. Talvez ela tivesse algo próximo de 10 minutos de explosões intercaladas antes de não conseguir se mover sem ajuda.

Quando ela viu uma familiar cabeça roxa passando a alguns metros de distância, Jirou teve uma ideia. Ela precisava de algumas informações sobre seu adversário. E Shinsou poderia ajudá-la. Agora que Kyouka parou para pensar, ela não sabia por que Hitoshi não estava na final.

Koda não é muito adepto da luta, disso Jirou sabia e conseguia entender como foi fácil o amigo abdicar da terceira fase. Kyouka ouviu perfeitamente quando Minetta chorou dizendo que não queria desistir, porém não queria encarar todos esses caras no um contra um. Ele acabou deixando a luta para Midoriya e Uraraka. Agora, Jirou não entendeu por que Shinsou deixou para os outros dois.

A garota punk precisou perguntar do amigo. Porque se isso fosse por causa daquela estupidez dele estar piorando a cada dia, ela iria espanca-lo até a beira da inconsciência. Kyouka sentiu um calafrio ao perceber no que estava pensando. Talvez ela precisasse voltar a andar com pessoas civilizadas. Ás vezes é fácil esquecer o quanto Bakugou influencia quem fica perto dele.

— Ei, soneca – Ela chamou caminhando até ele e alongando o braço esquerdo. – Por que você não está na final?

— Oi, Jack – Ele cumprimentou-a – Não tem motivo para eu estar.

— Desenvolva o pensamento, por favor. – Ela debochou trocando o peso das pernas e alongando o braço direito.

— Eu já estou no curso de heróis e já tem um mentor – Ele encolheu os ombros – Eu não preciso ir para a final. A segunda fase é o perfeito equilíbrio entre se destacar e não chamar atenção indesejada.

— Isso não tem a ver com perder nos treinos, certo? – Ela insistiu com os olhos estreitos.

— Não – Ele sorriu levemente – Eu gosto da tática do ataque surpresa. Não vai funcionar muito bem se todos os vilões souberem meus truques por meio da televisão.

— Bem, se esse é o caso... – Ela suspirou para relaxar tentar se acalmar – Eu preciso de ajuda. Me diz tudo que sabe sobre o Honenuki, por favor – Ela pediu choramingando.

— Você está me pedindo para delatar as fraquezas de um colega de turma?

...

...

— Eu te dou um gatinho – Jirou ofereceu.

— Vamos sentar, tem bastante coisa para contar.

Kyouka gargalhou antes de seguir seu amigo. A próxima etapa já vai começar, ela precisava se preparar.