O Internato escrita por Rain


Capítulo 24
Vinte e Quatro


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, voltei!
Ok eu devo um pedido de desculpas pra vocês por ter sumido por tanto tempo, mas primeiro vou deixar vocês lerem o capítulo, minhas considerações vem no final.
Boa leitura.



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Acordo meio desorientado dentro do carro em movimento. Meu corpo está meio dolorido, pois fui jogado dentro do carro de qualquer jeito, minhas mãos estão presas e minha cabeça coberta por uma espécie de pano. Por sorte ainda sinto o meu celular dentro da minha cueca. Pelo jeito, esses caras que me pegaram não são tão inteligentes e nem se deram ao trabalho de me revistar. Ainda bem. Isso aumenta minhas chances de fugir.

— Quem são vocês? O que querem de mim? — indago.

— Fique quieto, vai ser melhor pra você. — disse uma voz masculina que vinha da frente, do banco de carona.

Um arrepio percorre por todo o meu corpo. O que querem comigo? Já não basta ter sofrido o suficiente, ainda tenho que ser sequestrado? Por que eu tenho que ser tão fraco?

Preciso dar um jeito de sair dessa situação. Respiro fundo, tenho que me acalmar. Se quero sair dessa, vou ter que usar minha cabeça. O que Alice faria no meu lugar? Ela com certeza teria um plano perfeito. Pensa, Toni, pensa!

Já sei. Meu celular, posso usar ele pra pedir ajuda ou pelo menos fazer com que Alice consiga me localizar. Ela entende dessas coisas, eu só preciso falar com ela. Preciso ser cauteloso. Provavelmente só terei uma chance pra fazer isso, e preciso fazer isso o quanto antes, pois não sei quanto tempo ainda terei meu celular comigo, mas também não posso me precipitar, vou esperar o momento certo.



Minha viagem involuntária parecia não ter fim. E eu não conseguir enxergar nada só me dá ainda mais angustia e aumenta minha sensação de impotência. O homem que está no banco da carona finalmente rompe o silêncio.

— Preciso ir no banheiro. E estou com fome.

— A meio quilometro tem um posto de gasolina e lá tem uma loja de conveniência. Eu paro pra abastecer enquanto você usa o banheiro e compra comida pra gente. — falou o homem a frente da direção.

Minutos depois o carro para. O homem que está no banco da carona sai do carro.

— Fique quieto, garoto. Se fizer barulho você vai se arrepender. — disse o homem que está dirigindo. Logo em seguida ele dirige sua atenção para o frentista.

Minha chance. Me abaixo um pouco no banco pra que o homem não veja o que estou fazendo. Levando o pano que cobre minha cabeça e em seguida tiro o celular de dentro das calças. Preciso ser rápido. Tenho um pouco de dificuldade pra desbloquear o celular, mas consigo. Abaixo o brilho do meu celular para que nenhuma iluminação chame atenção. Ligo o GPS do celular, caso seja preciso pra me localizar, e em seguida mando uma mensagem para Alice.

"Socorro. Preciso que me localize."

 Ela responde em instantes.

"Toni o que aconteceu? Onde você está??"

Não posso perder tempo mandando outra mensagem a Alice. Então Ligo para ela. Ela atende. Não digo nada, apenas fico na linha para que Alice consiga me localizar através da ligação. Depois coloco o celular embaixo do tapete do carro discretamente. Em seguida cubro minha cabeça com o pano de novo. Consegui. Agora só me resta torcer para que Alice entenda.

Ouço o homem que tinha saído entrar no carro. O carro dá a partida, e voltamos para a estrada. Minutos depois o homem me estende um saco de salgadinho e uma caixinha de suco.

— Como espera que eu coma com as mãos presas e sem enxergar nada? — digo.

O homem arranca o pano da minha cabeça com certa violência.

— Agora se vira.

Pego o salgadinho e o suco da mão do homem.

Dou uma breve olhada na estrada, tirando poucos carros que passavam por nós, estava deserta. Pude ver os dois homens que me sequestraram por trás. O que está dirigindo é grande e forte, careca e tem uma barba cheia. Enquanto o outro que está no banco da carona é mais magro e aparentemente mais alto. Como o salgadinho e tomo o suco. Depois o motorista me faz colocar o pano na cabeça de novo.

Parecíamos andar por uma estrada que nunca tinha fim. Não faço ideia de pra onde esses dois caras estão me levando, mas nunca chegamos. Isso já estava me cansando. Tudo o que eu queria era estar com Sebastian. Não aqui, mas em outro lugar. Queria estar seguro em seus braços, ele me protegeria de qualquer coisa. O carro finalmente para. Eu rapidamente me abaixo para pegar meu celular. Tento ser o mais discreto possível. Ao pegar percebo que Alice ainda está na linha. Ela entendeu. Agora é questão de tempo até me acharem.

Coloco o celular dentro na cueca de novo, com cuidado pra não ser pego e pra não desligar a chamada. Instantes depois um dos caras abre a porta do carro e me puxa com violência pra fora. Um deles tira o pano que cobria minha visão. Ao olhar ao redor percebo que estamos no meio do nada. É mato pra todos os lados, há apenas uma cabana a nossa frente, e um dos sequestradores me conduz direto pra lá.

Entramos na casa. Está escura, mas percebo que está bem empoeirada, pois sinto uma vontade enorme de espirrar. Os moveis estão colocados de forma meio bagunçada, pelo jeito este lugar não era usado há muito tempo.

— Legal, vocês me trouxeram pro meio do nada. O que vão fazer comigo agora? — questiono já impaciente.

— Eles não vão fazer nada. Eu vou. — disse uma voz feminina descendo as escadas. Uma voz que eu reconheço muito bem, e que jamais irei esquecer, Valentina.

— Valentina? O que faz aqui? Você estava internada. — digo ainda incrédulo por vê-la no topo da escada.

Valentina desce as escadas e se sento no sofá, de frente para mim. Ao sentar cruzou as pernas e ficou numa postura ereta impecável. Um dos homens acende a luz. Agora posso ver Valentina melhor, e sua aparência não está tão impecável quanto sua postura. Agora ela está com olheiras e ainda mais magra do que já era, o cabelo amarrado, mas desgrenhado e as roupas meio amarrotadas.

— Eu estava. Mas lá é muito chato, eu estava entediada. Então bolei um plano pra escapar, seduzi o enfermeiro que me levava as refeições e o matei. Roubei a chave mestra que ele carregava e fugi. Meu pai me trouxe pra cá, e agora eu quero vingança. — Valentina cerra os punhos — Você acabou com a minha vida!

— E não me arrependo. Você e todos os alunos do grêmio tiveram o que mereciam. Tudo o que sofreram foi pouco perto do que já fizeram com tantos outros. E eu faria tudo de novo se tivesse oportunidade.

 Valentina se levanta descontroladamente e dá um tapa no meu rosto.

Viro o rosto após sentir o impacto do tapa. Doeu um pouco, mas fiquei mais assustado com o descontrole de Valentina do que senti a dor de verdade. Valentina está completamente pirada.

— Eu vou acabar com você. — há ódio no olhar de Valentina. Uma coisa bem assustadora — Levem ele para o quarto. Amanhã ele vai ter o que merece.

Um dos capangas de Valentina me leva pelas escadas, subo as escadas e sigo até o final do corredor. Depois o homem mais alto me empurra pra dentro de um quarto e fecha a porta. Ouço ele trancar a porta do lado de fora. Olho em volta procurando alguma coisa pra me defender, mas o quarto está vazio. Exceto por uma cama  e uma cômoda. As janelas estão trancadas com cadeado e o quarto nem lâmpada tem. Verifico o celular pra ver se a chamada ainda está acontecendo, mas não. Agora o celular está fora de área.    

Sento-me na cama e levo minhas mão ao rosto. Não consigo evitar derramar lágrimas de desespero, não tenho ideia alguma do que fazer pra sair desta situação. Estou trancado num quarto escuro, não consigo escapar porque mesmo se conseguisse quebrar as janelas de madeira, eu estou no segundo andar, posso me machucar ao pular, e mesmo se conseguisse sair inteiro disso, com certeza seria ouvido e não conseguiria ir muito longe. Acho que nem Alice conseguiria fazer um plano pra fugir daqui. Estou perdido.




As horas passam e agora já está escuro lá fora. A única coisa que me resta é ficar deitado olhando para o teto. De vez em quando verifico o celular, mas ele permanece fora de área e o pior, a bateria está acabando. Preciso pensar em algo rápido. Não posso ficar aqui simplesmente esperando Valentina fazer algo perverso comigo.

Ouço a porta sendo destrancada do lado de fora. Rapidamente escondo o celular e me levanto num impulso involuntário. O homem que estava no banco da corona abre a porta, coloca uma pequena garrafa de água e um prato de comida no canto ao lado da porta sem dizer uma única palavra, e depois volta a trancar a porta. Hesito por um momento, mas em seguida vou até o prato. Estou faminto e morrendo de cede. Desde cedo, a única coisa que comi foi justamente o salgadinho e o suco que me deram. E preciso me manter forte se quero sair daqui, tenho que ter forças para uma fuga. Como toda a comida e água, depois volto a me sentar na cama. As horas continuam passando e eu não me aguento de tanta ansiedade. O cansaço e o tempo vão me vencendo, até eu cair num sono profundo.

Acordo no dia seguinte com alguém destrancando a porta. É o mesmo homem de ontem me trazendo outra refeição, ele coloca no mesmo lugar e retira o prato e a garrafa vazia que eu havia deixado no mesmo lugar. Depois sai. Vou até onde a comida está. Desta vez há torradas, uma maçã e outra garrafa de água. Como a refeição pra armazenar mais energia e volto para a cama.

Mais tarde a porta se abre novamente. Agora é o capanga grande e careca que entra.

 — Venha. — disse ríspido.

Levanto-me meio apreensivo. Minhas mãos começam a tremer, mas prefiro enfrentar o que tiver que enfrentar do que ficar um segundo preso dentro deste quarto. O homem me conduz pelas escadas e encontro Valentina sentada no mesmo sofá. Ao me ver, abre um sorriso meio sádico.

— Chegou a hora. — disse.

Valentina se levanta e segue para fora da cabana. Um dos capangas a acompanha e o outro amarra uma mordaça em minha boca, em seguida me empurra pelo caminho. Ao sair a claridade irrita meus olhos e eu luto para mantê-los aberto. Mas consigo ver um outro carro que não estava ali antes. Um homem também alto sai do carro e fica a frente dele. Seguimos ao encontro dele. Até que Valentina para a mais ou menos um metro de distância dele. Nós paramos também.

— Aqui está a mercadoria que foi prometida. — disse Valentina.

— Ele está mal cuidado, o senhor Alcântara não vai gostar nada de vê-lo neste estado. — disse o homem me analisando de cima a baixo.

— Foi o melhor que pude fazer. Ele nem pode reclamar, quase que ele fica sem nada.

— Ele custou caro, poderia estar pelo menos mais apresentável. Mas tudo bem. Me entreguem ele de uma vez que eu vou embora.

O capanga mais alto me leva até o homem. Eu tento resistir e gritar, mas a mordaça me impede. O outro homem me leva até o carro, mas ele não é tão cauteloso quanto os outros dois. Esta é minha última oportunidade de fugir. Quando o homem abre a porta do carro e se distrai eu o empurro para dentro do carro e corro para dentro da mata. Corro enquanto tiro a mordaça da boca e não me atrevo a olhar para trás, corro com toda força que há dentro de mim.

— Não atirem! Eu preciso dele vivo! — disse uma voz masculina ao fundo.

Não paro. Corro o máximo que posso para bem longe.

Ao avistar uma pedra grande, corro para trás dela para poder descansar um pouco. Uma forte dor vem do lado da costela, mas tenho que resistir a dor, ser mais forte que ela. Não posso ficar aqui, preciso achar a estrada se quero ter alguma chance de escapar. Se eu ficar parado aqui é questão de tempo até me acharem. Então tomo folego e volto a correr. Desta vez corro com mais cautela e olhando para trás para ter certeza que não estou no campo de visão de ninguém. Tiro o celular de dentro das calças pra verificar se ele ainda tinha carga, mas é inútil. Está descarregado.

Olho ao redor totalmente desorientado. Nunca estive aqui antes, não faço ideia de onde estou nem para que lado fica a estrada. Mas não paro. Continuo correndo até, que algo me chama atenção, uma fumaça. Pode ser que tenha algum estabelecimento por perto. Preciso chegar até ele.

Sigo em direção a fumaça, com muita cautela e sempre olhando ao redor. Meu coração está pulsando muito rápido e eu mal consigo controlar minha respiração ao correr, mas não paro, preciso abrir o máximo de distância possível entre mim e aquela cabana.

Ouço passos correndo por perto. Me escondo atrás de uma arvore e fico parado. Os paços se aproximam, mas não me mecho, se eu ficar quieto pode ser que eles tomem outra direção ou passem despercebidos por mim.

— Onde é que ele se meteu? Meu chefe vai ficar furioso se eu não o levar. — disse o homem que tentou me levar embora.

Conseguia ouvir alguma falas de longe.

— Ele deve ter seguido aquela fumaça para pedir ajuda. Precisamos chegar antes dele. — disse o sequestrador forte e careca.

— Vamos lá. — disse o mais alto.

Os três correram sentido a fumaça. Não me atrevi a me mexer enquanto conseguia ouvi-los.

Depois que não consegui mais ouvir ninguém corri para a direção oposta. Isso foi bom, agora sei exatamente para onde eles estão indo, só preciso correr na direção oposta. Continuei correndo, mas agora consigo ver a estrada. Ela deve estar a uns 500 metros de distância. Volto a correr o máximo possível, a adrenalina toma conta de mim, sinto como se estivesse correndo uma maratona pela vida. E de fato, estou. Se eu for pego é o fim pra mim. Quando estou quase chegando perto da estrada ouço uma voz gritar.

— Paradinho aí! — é a voz de Valentina.

Me viro em pânico. Ela apontava uma calibre 38 pra mim.

— Eu já estou cansada de você. Volte comigo agora, ou eu te mato aqui mesmo.

—  Valentina? Como chegou aqui tão rápido?

— Eu sou mais esperta, se que este caminho é a única forma de chega até a estrada. E sei que você não seguiria o caminho da fumaça igual aqueles três idiotas fizeram.

Errada. Eu quase segui.

— Valentina pare, por favor. Você tem noção do que está fazendo? Me deixe em paz. — digo estendendo as mãos presas para frente e quase implorando.

Valentina ri.

— Não adianta implorar, agora vamos.

A raiva toma conta de mim.

— Eu não vou com você. Se quer me matar vá em frente, mas eu não vou voltar.

Valentina destrava a arma.

—Valentina, Não! — disse outra voz. É Sebastian.

Ele corre até mim e me abraça. Uma onda de alivio enorme percorre todo o meu corpo, finalmente posso estar aonde mais me sinto seguro de novo, que é nos braços de Sebastian. Mas o terror toma conta de mim de novo ao ver Valentina com a arma ainda apontada não só para mim, mas para nós dois.

— Olha só que se juntou a festa. — disse Valentina.

— Você não vai fazer mal algum ao Toni. Deixe ele em paz. Acabou, Valentina.

— Não. Agora eu posso me acertar com vocês dois. Só faltou a vadia da Alice pro acerto de contas ser completo.

— Não seja por isso. — disse Alice saindo de trás de uma árvore e saltando em cima de Valentina. Alice desarma sua antiga amiga com facilidade. Logo em seguida aponta a arma em direção a ela.

Eu fico chocado, nunca imaginei que Alice pudesse fazer algo desse tipo. Ela agiu tão rápido, e o fator surpresa pegou Valentina totalmente desprevenida.

— Podem sair!  — gritou Alice.

De trás de uma das árvores saíram Victor e Otávio.

— Toni! Você está bem? — Victor veio correndo me abraçar. Assim que se desfaz do abraço, ele desamarra minhas mãos.

— Agora estou. — digo massageando meus pulso aliviado por finalmente estar livre — Mas precisamos ir embora daqui, tem três homens me procurando, eles querem me levar.

— Jamais deixaremos isso acontecer. — disse Otávio se aproximando.

— Você mudou muito Alice, jamais faria algo de risco assim para ajudar alguém que não fosse a mim. Pelo jeito você realmente encontrou um objetivo de vida além de seguir minhas ordens. — provocou Valentina.

— Eu admirava você. Te via como uma irmã, mas me enganei completamente. Você é desprezível, e me dá nojo.

— Aposto que você não tem coragem de atirar. — disse Valentina andando em direção a Alice.

— Fique parada.

Valentina continuou andando.

— Pare!

Valentina avançou sobre Alice, mas foi surpreendida com um tiro e caiu no chão.

Alice soltou a arma e se abaixou para ajudar Valentina, mas o tiro acertou em cheio seu abdômen.

— Você falhou com a sua promessa... — disse Valentina com a voz quase falhando antes de perder a consciência.

— Valentina! Valentina! Não!

Alice começou a chorar. Vou até ela e a abraço.

— Eu falei pra ela ficar parada, Toni. Mas ela veio pra cima de mim.

— A culpa não é sua, você apenas se defendeu. Ela estava completamente louca.

Sirenes soam de longe. É a policia.

Não saio do meu lugar. Permaneço no chão abraçando Alice e dizendo pra mim mesmo internamente que tudo vai ficar bem.


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Notas finais do capítulo

Bom pessoal, me desculpem por ter sumido por tanto tempo. Eu passei por uns problemas e a vontade de escrever sumiu completamente. Mas eu sentia que tinha que terminar essa história, pois escrevi ela com muito carinho e ela precisava ser concluída. Então voltei. Aproveitei pra revisar ela inteira e arrumar algumas incoerências que acabaram passando batido por mim nas revisões.

Ah, tem mais um capítulo, vou postar ele na semana que vem. Não vou estipular dia pra não falhar com vcs de novo, mas semana que vem é certeza que sai.

Um grande abraço e obrigado pela paciência de esperar minha volta.



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