When You're Ready escrita por PANINI NO NO


Capítulo 7
Capítulo 7




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"Essa é a sua última segunda chance"

— Paramore

 

 

 

2010

Vinte e quatro anos (Pt. I)

 

— Isso é uma péssima ideia.

— Isso é uma ótima ideia é você sabe disso, Oliver. Vai ser bom pra nossa empresa e eles precisam conhecer o futuro CEO da QC o quanto antes.

— Ainda acho isso uma péssima ideia, mãe. Alguns acionistas ainda não vão muito cara – Falo alisando minha gravata – Principalmente o sr. Fyers – Ela para de prestar atenção nos papéis em sua mesa e olha pra mim.

— Edward Fyers se acha um visionário, mas não passa de um pau mandado do pai. Você não precisa da aprovação dele.

— Dele não, mas do concelho sim.

— Oliver, você se formou em Stanford. Uma das melhores faculdades do país, fez o seu MBA e está no último semestre do seu doutorado. Escute a sua mãe que é a chefe do concelho, você está mais do que bem com o concelho. E essa viagem pra Bali vai ser boa pra empresa, tanto quanto vai ser boa pra você – Ela se levanta da mesa – A QC precisa mostrar que está mais do que aberta pra novos horizontes, que aceita todas essas novas tecnologias que estar por vir. E ter você representando isso é o melhor jeito de mostrar pra esses velhos aqui do outro lado da mesa.

— Ainda não sei. A QC tem a sua cara e-

— E antes teve a do seu pai – Fala complacente – As coisas aqui têm que ser renovadas. E eu sei que você é mais do que capaz disso.

— Certeza?

— Absoluta. Agora vá para casa, Thea disse que já está arrumando a sua mala e não quer que você esqueça nada dessa vez.

— Vocês ainda não acreditam que eu realmente esqueci o meu passaporte? – Pergunto rindo – Achei que essa página já estava virada.

— E nós que Helena também era. Mas aparentemente não foi o que aconteceu na última reunião dos acionistas na França – Ela tenta soar sutil, mas foi a última coisa que me pareceu.

— Ok, mais uma vez, eu não tive nada com a Helena. Ela que me persegue desde a escola. E eu não fugi da reunião na França por causa dela porque eu não fugi da reunião, eu só tinha terminado tudo o que eu tinha pra fazer lá – Falo quase cansado por ter que voltar a esse mesmo assunto outra vez – Podemos, por favor, voltar ao assunto que realmente importa aqui? – Peço cansado.

— Não temos mais o que falar aqui, Oliver. Tudo depende de você agora. Você vai ou não pra Bali? – Pergunta me lançando o olhar de CEO, não de mãe – Se for se sentir mais confortável, o Sr. Diggle vai com você. Afinal, é sobre segurança que vai se tratar, então, obviamente, o chefe da segurança da QC terá que ir.

— Ter o Dig por perto parece bom.

— Vou encarar isso como um sim – Sorri vitoriosa – Agora vá pra casa ou Thea vai mandar suas coisas direto para o aeroporto, sabe como sua irmã é – Você não vai poder usar o jatinho da QC, porque como eu disse antes, Walter irá pra Inglaterra resolver algumas pendencias lá e o outro está em revisão. Acho que não será um problema, certo?

— Absolutamente. Mais alguma coisa que eu preciso saber sobre essa conferência?

— Não que eu saiba. Mas qualquer coisa, eu estou mandando um relatório com tudo o que você precisa saber. Resumidamente, a QC tem interesse em tudo o que será apresentado. Nossos próximos projetos dependem muito dessa reunião.

— E pensar que um dos garotos mais boçais da escola se tornou um dos multibilionários mais egocêntricos do país.

— Não me lembro de mencionar que era um colega seu de escola que estava dando essa conferência? – Mamãe diz confusa – Na verdade, não me lembro nem de ter dito quem era que está por trás disso.

— Não é difícil de se descobrir quando todos nos corredores falam disso.

— E o fato de eu ter contado isso não influencia em nada? – Escuto a voz de Diggle atrás de mim e me viro para cumprimentá-lo.

— Em nenhum dos pontos – Rio antes de abraçá-lo.

— Claro que não. Então Sr.ª Queen, ele já se decidiu ou eu vou ter que levá-lo a força para o carro?

— Não será preciso – Minha mãe ri brevemente vindo em nossa direção – Não esqueçam de me avisarem de todos os avanços. E tome cuidado, Sr. Queen, você pode muito bem ser um aprendiz de CEO, mas ainda é o meu filho.

— Pode deixar, Sr.ª Queen – Digo com uma piscadela antes de abraçá-la – Nos vemos em uma semana.

— Se divirta!

***

— Chegamos, Sr. Queen – Diggle fala me assustando assim que o carro para em frente a Mansão Queen. Não posso deixar de notar que ele me chamou por meu sobrenome.

— Fiz algo de errado, Sr. Diggle? – Pergunto sarcástico e ele maneia a cabeça rindo – Qual é, Dig, estudamos juntos! Me chamar assim na frente da minha mãe, eu até entendo.

— Bom, eu chamei pelo Oliver no caminho até aqui, mas ele estava ocupado demais lendo um relatório pela enésima vez. Relatório esse que você fez.

— Desculpe, eu só quero ter certeza de que não vou deixar nada passar nessa conferência. Você ouviu minha mãe, isso é muito importante pra QC. Eu não posso falhar dessa vez.

Dessa vez? Teve outra vez? – Fala exasperado – Até onde eu saiba, você nunca fez nada de errado, segundo sua mãe.

— Você sabe do que eu estou falando, e eu sinceramente, não quero entrar nesse assunto novamente – Pego as pastas ao meu lado já me levantando para sair do carro.

— Você quem sabe, chefe. Mas ainda digo pra você tirar sua cabeça da sua bunda e seguir em frente. Não foi sua culpa.

— Saímos em trinta minutos.

Saio do carro o mais rápido que consigo tentando não pensar muito no assunto e me focar nas prioridades da QC.

Por mais que seja difícil não pensar.

É bom sempre ter um plano de contingência na vida. A QC era o meu. Agora eu tinha o meu foco quase total nela e é assim que tem que ser. Sem tempo pra distrações.

Assim que passo pela grande porta de madeirada mansão, vejo Thea tentando descer minha mala desajeitadamente pelas escadas.

— Pedir ajuda também deve funcionar – Digo colocando aos documentos no sofá – Sabe, não fere o ego pedir. Principalmente quando se mora em uma casa com vários funcionários.

— Mas qual seria a graça disso? – Bufa sentando-se no degrau – Vai ajudar ou ficar aí parado? A mala é sua, afinal.

— Seu humor é contagiante, Speed – Vou em sua direção deixando um beijo em seus cabelos antes de descer a mala – Sabe, vou passar apenas alguns dias fora. E na maior parte deles, vou usar terno. Não vejo necessidade de uma mala desse tamanho. E muito menos com esse peso — Digo arrastando a mala para perto da porta.

— Você vai pra Bali, Ollie!

— Em uma convenção que passarei mais da metade do dia em um auditório e o que me restar de tempo, vou ficar no meu quarto fazendo relatórios ou dormindo.

— Ainda é Bali e você vai se divertir! É Bali! — Fala animada – Coloquei roupa pra todas as ocasiões e mamãe disse que terá um baile. Pra falar a verdade, parei de prestar atenção quando ela disse baile, então não sei se é de boas-vindas ou de despedida. Mas pra todo o caso, você está mais do que preparado pra ele.

— Você está mais animada do que eu pra essa viagem – Falo e ela levanta uma sobrancelha – Ok, entendi. É Bali — Digo em um tom irritante e ela revira os olhos descendo as escadas – Pegue leve por aqui, não quero que quando chegue, descubra que estamos sem teto por você ter incendiado a mansão.

— Hahaha, hilário – Se joga nas almofadas do sofá bufando. Estranho.

— Aconteceu alguma coisa? – Pergunto preocupada e ela acena negativamente.

— Queria ir com você. É chato ir pra QC e é mais ainda ficar aqui sem companhia.

— Sabe que eu não posso te levar. Você tem escola e como eu já disse-

— Você vai ficar mais da metade do dia em um auditório chato, escutando coisas chatas de segurança. Sim, eu sei – Se senta fazendo bico irritado – Só queria um pouco de praia, areia quentinha nos pés, água refrescante a frente, sol, água de coco… Férias.

— Bom, ainda faltam duas semanas pra suas férias.

— Diga-me algo novo, Ollie?

— Que tal fazermos assim, eu peço pra mamãe deixar você fazer uma festa do pijama com algumas amigas suas enquanto eu tiver fora, e assim que você estiver de férias, nós vamos passar um final de semana em Bali? – Proponho vendo seus olhos brilharem com a ideia.

— De verdade?

— Muito – Falo e ela se joga em meus braços.

— Melhor irmão.

— Como se você tivesse outro – Rebato a apertando contra mim antes dela se afastar – Mas só se você se comportar, não der trabalho pra mamãe e tiver boas notas. Okay? – Ela assente – E, por favor, quatro amigas. No máximo.

— Prometo – Fala beijando seus dedos em juramento – Nem vou pedir pra você me trazer algo bem bonito dessa viagem.

— Claro que não. Meu e-mail já deve estar cheio de sugestões de presentes que você mandou, certo?

— Talvez… – Sorri maneando a cabeça quando a porta se abre e Diggle aparece.

— Tudo pronto pra partirmos – Diz já pegando minha mala e sai novamente.

— Comporte-se, Speed – Digo beijando seus cabelos.

— Divirta-se, Ollie.

— Em uma sala cheia de CEO’s e agentes de segurança? Sem problemas.

***

Eu realmente odiava voos.

Ok, eram rápidos e nos levavam pra onde queríamos em pouco tempo, mas pra quem passou dois anos inteiros rodando o país de avião, já perdeu a graça! Mas estar sentado entre um homem que parecia um armário e outro que precisava urgentemente de um desodorante fazia essa experiencia ficar cada vez pior! Isso sem contar as duas mulheres a minha frente que não paravam de falar por um minuto sequer e o homem que roncava como uma britadeira e seu filho, que por alguma razão, achava que meu banco era um saco de pancada.

Já disse que odeio voos?

Respiro fundo tentando me concentrar nos papéis a minha frente. Eu realmente já estava decorando cada palavra que tinha ali.

Mas eu não poderia falhar novamente.

E eu não iria.

Quatro planilhas e um copo de Whisky depois, meus olhos não conseguiam mais focar em uma palavra sequer naquelas folhas. Massageio minhas têmporas tentando relaxar meus músculos faciais pra voltar a leitura.

— Tudo certo? – Escuto Diggle falar ao meu lado ainda com a voz um pouco grogue. Diferente de mim, assim que ele se sentou no banco, o homem desabou em um sono não acordando nem para o serviço de bordo.

— Sim. Por que não estaria? – Digo sem olhá-lo.

— Porque você está fazendo essa coisa com os dedos na cara que faz sempre que está estressado desde o colegial.

— Eu não estou estressado – Falo tirando os dedos da têmpora – Só pensando um pouco.

— Claro, e não fui eu quem te ensinou todas as técnicas de relaxamento muscular que você conhece?

— Sei de uma ou duas coisas que você não sabe também – Tento olhar pela janela pra fazer com que o assunto morra, mas o homem que precisa de um desodorante ocupou todo o espaço. Eu odeio voos.

— Mais uma vez desviando do assunto. Sabe Oliver, uma hora você vai ter que superar isso. Ir a um terapeuta, conversar com alguém. Sua mãe, Thea, eu. Até mesmo o Tommy. Mas ninguém mais aguenta essa sua autopiedade.

— Duas coisas: Não estou tendo autopiedade-

— E essa culpa toda? – Me interrompe.

— E nós não estamos conversando sobre isso. Caso não lembre, tenho uma reunião com três possíveis investidores em menos de cinco horas, então por que você não volta a dormir enquanto eu termino de revisar esses relatórios? – Digo irritado. Ele nunca iria entender?

— Sua resposta magica não está nessas páginas e você sabe disso ­— Depois disso, ele apenas virou a cabeça para o outro lado e voltou a dormir.

Será que ninguém entendia que eu não queria falar sobre esse assunto tão cedo?

 

***

 

Abril, 2006

Vinte Anos

 

Acho que nunca vi meu treinador tão assustado e tão irritado ao mesmo tempo. Minha mãe parecia em choque, minha irmã parecia não entender direito o que estava acontecendo.

Pra falar a verdade nem eu sabia.

A última coisa que eu me lembro era…

Era…

O que eu deveria lembrar?

Como eu vim parar aqui?

Pra ser sincero, onde era aqui?

E por que minhas costas pareciam estar pesando toneladas?

— Mamãe, acho que ele acordou – Thea fala analisando meu rosto de perto com seus dedos gelados.

Gelados?

Não demorou meio segundo até minha cama estar rodeada de pessoas das quais eu não conheço virem me analisar.

Por que eles estavam de branco?

E por que um deles tirou Thea do lado de uma peça de gesso?

Por que diabos minha irmã tinha uma peça de gesso na minha cama?

— Olá Sr. Queen, aqui é o dr. Yao Fei, você consegue me compreender? – Tento falar algo, mas parece que minha garganta foi pisoteada – Ok, vamos tentar assim, pisque uma vez se você consegue me ouvir – Fala segurando uma pequena lanterna nas mãos. Pisco e escuto ao longe os suspiros de alívio de minha mãe – Tudo bem, você está no Stanford hospital. Pisque uma vem para sim e duas para não. E não se preocupe com sua voz, ela voltará em algumas horas, você sabe qual é o seu nome? – Pisco uma vez. Que tipo de pergunta era aquela?

— Você está com alguma dor? – Pisco mais uma vez. O que diabos estava acontecendo? – Essa sua dor é nas pernas? – Pisco duas vezes – Mais algum lugar? – Duas vezes – No quadril? – Duas vezes – Nas costas? – Pisco uma vez – Está com sede? – Pisco uma vez - Certo, Taiana, você pode…

— Claro dr. – Escuto a voz da mulher de longe. Tento seguir a voz dela, mas assim que tento me virar, sinto uma forte fisgada na minha costa e paro instantaneamente.

— Calma, garoto. Uma coisa de cada vez. Caso queira mexer só sua cabeça, vai ser um pouco difícil. Você está usando um cordão cervical, você sabe como eles funcionam? – Pisco uma vez e ele sorri – Ok, voltando as perguntas, você consegue sentir os dedos dos pés. Não precisa mexer, só quero saber se você os sente? – Pisco uma vez e tento olhar pra minha mãe, mas minha visão ainda estava um pouco turva. Por que esses suspiros de alívio?

— Tudo bem. Vou deixar você aqui um momento pra sua família falar com você, mas Sr.ª Queen, pelo o que vimos, está tudo certo com ele. Vamos, fazer mais alguns exames daqui a pouco, então, enquanto eu estiver fazendo os pedidos, vocês podem conversar um pouco. Mas com cuidado, o tórax dele ainda está em observação então, sem abraços.

— Ele vai ficar bem? – Escuto a voz preocupada de minha irmãzinha e isso me parte o coração. O que aconteceu?

— Ele vai, sim. Logo vocês vão poder brincar novamente – O médico fala e em seguida escuto passos mais perto de onde estou.

— Oi Ollie – Thea fala e tento olhar pra ela, mas no mesmo segundo me arrependo. Maldito cordão cervical!

— Com licença, Sr.ª Queen. Srtª Queen – Escuto a voz do meu treinador e logo Thea entra no meu campo de visão.

— Obrigada Sr. Anastas – Thea diz e se vira pra mim – Oh, é, você não consegue ver direito por causa dessa coisa verde no seu pescoço. Ele me colocou na sua cama pra eu poder ver você melhor e você não sentir dor – Fala e seu sorriso vai morrendo aos poucos – Você não pode dormir mais assim, Oliver. Você é muito feio quando dorme com aquela coisa na garganta-

— Ok, Thea. Deixe seu irmão digerir um pouco do que está acontecendo aqui – Mamãe fala mais perto e sinto sua mão em meu rosto – Que bom que você acordou, querido. Eu estava tão preocupada.

— Todos estávamos, Oliver. Você deu um grande susto em todos – Sr. Anastas fala – Mas que bom que você acordou e já está melhor. Todos do time sentem sua falta.

— Em casa também. O Tommy liga todo dia pra saber como você está – Thea fala fazendo bico irritado – Ele me disse que se você não acordasse logo, ele viria pessoalmente te dar um banho de água gelada pra você acordar – Diz e tento rir, mas uma tosse sai no lugar junto com um gemido. Maldita dor nas costas!

— Ótimo, tosse é o primeiro sinal de que sua voz está voltando – Escuto uma voz feminina e minha mãe sorri largamente – Eu ia te dar um pouco de água, mas tenho que te levar pra de ressonância agora. Sr.ª Queen, o Dr. Fei quer sua presença na recepção pra assinar alguns papeis de autorização pro exame – Fala e minha mãe assente Vindo tirar Thea da cama.

— Um segundo, mamãe – Diz já se aproximando e deposita um beijo rápido em minha bochecha esquerda – Agora sim.

— Nos vemos em breve, querido – Mamãe diz tirando Thea da cama e beijando minha testa.

— Vamos lá. Quanto mais rápido formos, mais rápido voltaremos pra sua irmã te contar as histórias dela.

 

***

 

Tempo atual

 

Não demorou muito pra eu descobrir que eu tinha três costelas quebradas, uma ruptura no baço, um braço quebrado e uma fissura na bacia.

Ah, não esquecendo da cereja do bolo: perda quase total da patela. Dos dois joelhos.

De todos, o último foi o pior.

Isso pra qualquer pessoa “normal” não seria um problema. Mas pra qualquer atleta que tem que usar as pernas pra atividades mais pesadas, é fim de carreira.

Em menos de três anos eu consegui estragar a única coisa que ainda mantinha minha mente sã. Tudo isso porque eu queria manter minha mente limpa de qualquer outra coisa. Queria me focar na faculdade e não pensar em todas as outras coisas que eu estava perdendo ao meu redor.

E quão certo isso funcionou, não é?

Eu estava treinando até tarde. Já fazia uma semana que tudo o que eu fazia era treinar. Ia as aulas pela manhã, almoçava com o time, entrava no campo as 14h e ficava até as 18h, depois ia pra academia e ficava por lá até as 23h.

Até o fatídico dia.

Demorou um pouco pra me lembrar o que tinha acontecido, mas segundo o médio, não tive nenhum dano cerebral. Eu estava carregando alguns pesos na academia quando decidi que já estava na hora de aumentar o peso atual. Mas acabei colocando mais do que eu aguentava. Resultou em eu me desequilibrar, cair de costas no chão me fazendo ter uma concussão, que foi o menor dos problemas. Os pesos que eu carregava não estavam colocados adequadamente e caíram sobre mim, nisso foram as outras lesões. Segundo o zelador que me encontrou, os dois mais pesados estavam nos meus joelhos, o que faz sentido pro “esmagamento” das patelas.

Dois anos de fisioterapia e finalmente estou perfeitamente bem. As únicas sequelas que ficaram do acidente foram meus joelhos. Posso viver como uma pessoa normal, sem nenhuma diferença física, a não ser as cicatrizes no joelho das várias cirurgias reparadoras, mas como eles mesmo disseram, não ficaria 100% novamente. Posso andar, mas correr é um pouco doloroso, não que seja uma dor excruciante, seria mais uma leve dor me impedindo de continuar. Mas perfeitamente bem pra quem perdeu um osso e parte do ligamento do joelho.

Minha mãe tentou conversar comigo a época pra saber o motivo de eu me “afogar” tanto em treinos, Thea também tentou, mas eu apenas dizia que estava tentando melhorar meus números. Assim como eu mentia pra elas se sentirem melhor, eu sabia que elas mentiam dizendo que acreditavam pra eu me sentir melhor.

John Diggle tinha entrado na equipe de segurança da família logo depois de sair do exército, que por uma coincidência, foram apenas dois meses após o acidente. Nós éramos amigos desde a escola, então foi fácil de nós nos ambientarmos juntos nos meses seguintes, embora concorde que seja estranho ter um grande amigo trabalhando pra minha mãe que, inicialmente, sua maior função era me ajudar a descer as escadas da mansão.

O que era por um lado bom ter um amigo pra conversar sobre o que estava acontecendo, tanto na faculdade (que agora eu tinha que me desdobrar mais ainda pra continuar lá, já que por causa da lesão, eu havia perdido a vaga no time, e consequentemente a bolsa, o que não era algo ruim, segundo a minha mãe, já que tínhamos muito mais que o suficiente pra pagar a faculdade) quanto na fisioterapia, também era ruim, já que ele ficava tentando me fazer falar o que, aparentemente, todos sabiam mas não falavam,

Se sabiam, por que insistir em me fazer falar?

Olho pro relógio e ainda faltavam uma hora e meia de voo. Pelo menos a criança tinha parado de chutar minha cadeira. Já era uma coisa boa.

Esse seria um longo voo.

 

***

 

Duas horas e quarenta e cinco minutos depois, o avião finalmente pousou. Tivemos que esperar outro avião pousar primeiro pois ele estava soltando combustível, por isso, tivemos que ficar “dando voltas” no ar esperando limparem a pista pro nosso avião poder aterrissar.

O que seria uma hora a mais pros outros, parecia uma eternidade pra mim, já que o cara que necessitava de um desodorante ficou nervoso com a demora do pouso e começou a suar de nervoso, fazendo seu nada discreto odor exalar por todo o avião.

Deus, como eu odeio voos.

Finalmente em terra firme, respiro fundo agradecendo aos céus por estar respirando ar puro e não estar mais enfiado em uma lata de sardinha vencida. Sigo na fila para o desembarque com um Diggle ainda sonolento ao meu lado que tentava a todo custo tentar ligar seu celular.

— Eu juro pra você, tecnologia e um Diggle são coisas que não se dão bem! – Fala irritado quase jogando seu aparelho na primeira lixeira que aparecer a sua frente.

— O que há de tão importante?

— Lyla disse que iria mandar uma mensagem ou ligaria assim que estivesse em território seguro. Mas com a demora do nosso pouso, meu celular possivelmente morreu. E com ele a chance de eu saber se ela está bem. Temos que chegar logo no hotel pra eu ter notícias dela – Diz a última parte em um bocejo misturado com um murmuro.

Diggle e Lyla haviam se alistado logo depois da escola. Eles se encontravam em algumas missões em comum e tentavam manter contato quando estavam longe. Eles tinham um acordo muito difícil de se entender pra qualquer um que não seja os dois, mas basicamente, quando eles estavam em campo eles não estavam juntos e quando estavam fora, tinham um quase relacionamento. John saiu do exército logo após a perda de seu irmão em meio a uma missão. Sua mãe ficou muito abalada com a perda e não queria que o seu agora único filho tivesse o mesmo destino. John decidiu não servir mais, disse que era estranho estar lá sem seu irmão. O que pra sua mãe foi um enorme alívio.

— Pode usar o meu se quiser – Digo já entregando o meu aparelho pra ele, que sorri de orelha a orelha agradecido.

— Obrigado, Oliver. Eu vou-

— Vá falar com sua garota, eu pego nossas bagagens – Falo já o empurrando na direção contraria pra dar privacidade aos dois.

Só eu sei como eles dois ficavam altamente felizes falando em “códigos militares”.

Vou pra esteira esperar nossas malas rezando pra que elas não tenham sido perdidas. Ok, me chame do que quiser, mas não existe pessoa mais azarenta em termos de voos e perda de itens pra viagem do que eu! Assim que avisto minha mala, suspiro aliviado por ver que ela está inteira.

— Oliver, temos um problema – O que eu disse sobre azar?

— Por favor, não me diga que sua mala foi extraviada ou eu juro pra você que vou- – Paro de falar assim que me viro pra ele e vejo sua cara de pânico – O que aconteceu? Tudo certo com a Lyla?

— Mais ou menos. A base dela foi atacada esta manhã. Ela está bem, mas ferida. Bom, pelo menos isso foi o que o médico dela disse.

— Não me parece ruim.

— Assim espero – Suspira em desejo – Você poderia me liberar pra eu ver como ela está?

— Claro, onde ela está agora?

— Rússia.

— Oh. Ok, então… a – Olho ao redor tentando pensar em uma solução rápida – Vamos ali no balcão comprar uma passagem pra você. Assim que eu chegar no hotel, eu ligo pra minha mãe e digo que você teve uma emergência e peço pra ela mandar o Vincent.

— Tem certeza? Eu posso-

— Esquecer que sua namorada que não é namorada está em terreno hostil depois de uma missão supersecreta que eu nem deveria saber e muito menos a localização atual dela? Acho que isso é meio impossível de se fazer – Digo já avistando a mala de Diggle e a tirando da esteira – Além do mais, você não vai se concentrar no trabalho e nem eu vou. E nós dois sabemos que precisamos de muito esforço pra ficar acordado enquanto escutamos os figurões.

— Você quem manda, Sr. Queen – Fala com um meio sorriso – Obrigado, Oliver. Sério.

— Vamos. Quanto mais rápido você ir, mais rápido eu terei notícias dela – Entrego a mala dele e começo a caminhar pro balcão de vendas.

Depois de uma breve discussão de quem pagaria a passagem, Diggle finalmente embarca indo no voo que partiria em trinta e cinco minutos. Ele parecia realmente preocupado com o estado de Lyla, mas sabia que se fosse algo mais sério, teriam avisado.

Saio do aeroporto quando o avião de Diggle decola já pegando um taxi pro hotel. Suspiro cansado assim que me sento no banco tentando relaxar pra enfrentar as próximas horas, o que me faz lembrar de algo que Thea e minha mãe tinham dito e-

Droga!

Meu celular ficou com John Diggle que nesse instante estava em um avião pro outro lado do mundo.

Posso colocar aeroportos na lista de coisas que eu odeio em voos?

 

***

 

— Tenha uma boa estada – A recepcionista atenciosa, atenciosa até demais, me fala assim que faço meu check in – Sua suíte fica no 34° andar, porta N° 3401. O café da manhã é as 08:30h e a convenção começa às 10h, parando para o almoço às 12:30h e voltando às 14h. O jantar é às 20h, lembrando que na abertura teremos um baile. Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, como lençóis novos, uma bebida ou uma acompanhante, é só ligar pra recepção que Eu posso dar um jeito nisso por Sr.

— Obrigado, mas já tenho o que preciso – Digo o mais educado que consigo. Odiava isso — Tenham um bom dia.

Me afasto o mais rápido que consigo do balcão pra ficar longe daquela mulher. Sinceramente, vim até aqui a trabalho, não pra ter um caso de uma noite, ou uma semana, com a recepcionista do hotel. Não que eu me ache melhor do que ela por ser quem tem a conta bancária mais recheada, eu só não tinha o menor interesse em qualquer relacionamento amoroso por um longo tempo.

Caminho para o elevador já esperando ansiosamente pro meu quarto. Com sorte, eu ainda conseguiria comer algo antes da reunião e com mais sorte ainda, teria tempo pra conversar com minha mãe.

Fazia um bom tempo que eu não vinha a Bali. Uns cinco anos pra ser mais exato. Ficamos em um hotel aqui por perto, Thea ficou extasiada com tudo, a praia, as paisagens, a gastronomia, os parquinhos… Sorrio ao lembrar daquela viagem, pelo menos aos olhos de Thea, era uma boa lembrança. Já pra mim, era uma página de um livro que eu preferiria manter fechado por enquanto.

— Veio para a convenção de negócios? – Escuto uma voz masculina ao meu lado – É claro que veio, você tem toda pinta de futuro presidente de uma empresa multinacional bilionária.

— Vim pra ela, sim. Desculpe, nos conhecemos? – Pergunto me virando pro homem ao meu lado, que eu particularmente achava nunca ter visto na vida.

— Não, não nos conhecemos. Sou Floyd Lawton.

O Floyd Lawton? Da Lawton Security? – Quase gaguejo ao perguntar – O grande magnata da maior empresa de segurança da América, esse Floyd Lawton? – Ele ri.

— Sim, sou eu. Você é um fã pelo jeito, certo? – Estende a mão e eu a aperto no mesmo instante.

— Suas conquistas na área da segurança são uma das coisas que mais interessam a Queen Consolidation. Seu algoritmo de reconhecimento facial deixou nossos investidores mais que animados.

— Queen Consolidation, sim já ouvi falar. Moira Queen, certo? Aquela mulher sabe como ninguém fazer negócios – Sorri com seu comentário e escutamos o sinal do elevador abrindo.

— Por favor – Falo assim que todas as pessoas saem do elevador. Um bom empresário diria que um bom negócio pode ser vendido em uma conversa de elevador. Nada como pôr essa teoria a prova agora.

— Obrigado – Ele entra na caixa metálica e eu o sigo – Então, você não me disse seu nome.

— Ah, que descuido o meu. Meu nome é Oliver Queen e eu sou- – Paro de falar assim que vejo o vislumbre de uma loira passando pela recepção do hotel.

Não poderia ser.

Isso é quase impossível de ser verdade.

Ou será que-

— Você é? – Floyd pergunta ao meu lado interrompendo meus pensamentos – Tudo bem com você, Oliver?

— Ah, si-sim, tudo bem – Respiro fundo vendo as portas fechando. Aquilo só poderia ser alucinação por cansaço. Sem outra explicação plausível balanço minha cabeça tentando colocar meus pensamentos de volta no lugar deles – Como eu estava dizendo, Sr. Lawton, meu nome é Oliver Queen e eu sou o CEO Junior da Queen Consolidation. Já lhe disseram que a nossa empresa tem a maior abrangência nacional e a terceira maior do mundo em termos de segurança no trabalho?

***

 

— Sim mãe, ele adorou a ideia. Disse pra eu o encontrar amanhã pela noite no baile pra discutirmos melhor o assunto – Falo terminando de arrumar meus materiais de banho no banheiro.

Isso é ótimo, Oliver. Se tudo der certo, o Sr. Lawton será nossa maior conquista acionaria— Escuto a voz orgulhosa de minha mãe e sorrio nervoso.

— Sem pressão?

Oh, Oliver, por favor! Pelo o que você disse, ele amou suas ideias e já está praticamente fechando negócios com a QC, vá por mim. Palavra de quem enfrenta tubarões desse tipo desde que você tinha dez anos.

— Se você diz, quem sou eu pra retrucar? – Ela ri.

Você ao menos já foi ver a praia? E não me venha que você não tem tempo pra isso. A convenção só começa amanhã e o hotel é literalmente de frente pra ela.

— Como eu lhe disse antes, por causa do problema pessoal que o John teve, eu cheguei no hotel tem apenas quarenta minutos. Assim que eu sair da reunião, eu vou ver o luar diretamente das areias de uma das mais belas praias de Bali, certo Sr.ª Queen?

Você precisa se divertir um pouco, Oliver. Sabe disso – Fala parecendo triste – Você só sai pra se divertir com a Thea. A única pessoa da sua idade que eu vejo você conversar é o Tommy, e isso porque ele praticamente te arrasta pra fora de casa.

— Eu estou bem assim, mãe. Prometo que irei me divertir como todos os CEO’s que estão aqui.

Como se você fosse capaz de fazer metade das atrocidades que eles fazem pra se divertir — Concordo brevemente – Mas se divirta, você merece. E ao julgar pela última vez que você esteve em Bali, vai se divertir muito — Fala e um arrepio corre minha espinha quando ela menciona me lembrando de algo.

— Mãe…

Sim?

— Você sabe se algum representante da Smoak Tec. Vai vir a essa convenção?

Não que eu saiba. Noah não me disse nada sobre isso no nosso último encontro. Por quê?

— Nada. Só pensando nisso – Suspiro novamente. Parecia esse ser meu novo hábito dessa viagem — Fale pra Thea me ligar mais tarde. Como estou sem meu celular, perdi totalmente a lista que ela me mandou. Ah, e diga pra ela que eu volto em uma semana, não um mês como ela pensa quando arrumou minha mala.

Você conhece sua irmã. Qualquer oportunidade que ela tem de arrumar uma mala pra viajar, mesmo que sejam as suas, ela está mais do que disposta.

— Se você visse o tamanho da mala, parecia mais que ela estava tentando me expulsar de casa! – Minha mãe da uma gargalhada alta ao mesmo tempo em que escuto batidas na porta.

— Sr. Queen, o Sr. Knyazev e o Sr. Ivo já estão lhe esperando no restaurante – Escuto o mensageiro do hotel falando do corredor.

— Ok, já estou indo – Grito de volta – Tenho que ir. Por favor, não trabalhe muito e não deixe Thea fazer muita bagunça.

Se você visse o quanto que ela está animada com a festa do pijama, você não pediria isso.

— Tenho que me arrepender de ter dado a ideia?

Em hipótese alguma. Vai ser bom pra ela ter amigos por aqui enquanto você está fora. Ela ainda é uma criança e precisa de atenção. Você fez bem.

— Assim eu espero. Ligo mais tarde contando como foi a reunião.

Vou esperar ansiosa aqui.

 

***

 

Dia seguinte

Eu odiava bailes assim.

Pessoas levantando seus copos com vinho que custavam mais que uma casa de classe média, fazendo negócios de bilhões de dólares enquanto comem petiscos com recheios estranhos. Esse era o momento em que eu mais odiava ser um futuro empresário de uma grande instituição do país.

Na minha futura posição, eventos como esse eram mais que necessários para arrecadação de fundos e investidores em potencial, assim como foi minha reunião hoje com o Sr. Knyazev e o Sr. Ivo da Lian Yu Interprese. Eles estavam fechados com a QC, igualmente ao Sr. Lawton que já marcou uma reunião mais séria para a próxima semana no polo de Moscou. Ele parecia muito mais que animado na nossa conversa nos últimos minutos.

Eu também estava.

As coisas pareciam estar dando certo, finalmente. Tentei socializar mais um pouco com alguns possíveis investidores, mas eles pareciam bêbados demais para querer qualquer outra coisa que não fosse outro copo de bebida e uma acompanhante bonita para exibir para seus “Concorrentes”.

Já disse que odiava bailes assim?

Mas eu já havia feito minha parte, conversado com quem podia, ter dado o meu melhor nessa noite. Tudo o que eu ainda tinha pra fazer era falar com o homem responsável pela festa pra poder voltar pro meu quarto e começar a fazer o relatório de hoje.

— Adrian, vejo que você finalmente está disponível – Digo me aproximando dele no bar.

— Oliver Queen, o futuro magnata de umas das maiores empresas do país, que na escola era o capitão do time de futebol e ganhou dois campeonatos seguidos na escola e mais dois na faculdade. Quanto tempo, não é mesmo? – Fala com aquele seu típico sorriso do gato de “Alice no país das maravilhas”.

— É, faz sim. Acho que não nos vemos desde a final do campeonato no 3° ano.

— É, me lembro bem disso. Seu amigo Thomas me fez algumas palhaçadas naquele dia. Algumas bem estranhas.

— Tommy sempre fez coisas estranhas na escola.

— O que os Senhores desejam essa noite? – A barista se aproxima – Sugestões?

— Eu quero um Whisky – Chase diz com seu sorriso estranho aumentando para a garota.

— E pro Sr.?

— Uma água. Sem gás – Digo e a garota assente e sai.

— Eu juro que lembrava que você era menino certinho na escola – Chase fala se virando pra mim parecendo quase ofendido – Mas vejo que o garoto perfeitamente perfeito ainda existe.

— Eu nunca fui um garoto perfeitamente perfeito.

— Oh, por favor, Queen! As garotas caiam aos seus pés por você ser assim!

— E eu andava com Thomas Merlyn. A última coisa que me chamariam na escola era de “certinho” – Ele revira os olhos e a barista volta com nossas bebidas.

— Como é seu nome mesmo? – Chase pergunta a ela, que sorri timidamente.

— Dóris. Dóris Jones.

— Muito prazer, sou Adrian Chase. Esse aqui é Oliver Queen, um futuro parceiro comercial, nós também estudamos juntos no colégio.

— É um prazer conhecer vocês dois – Dóris fala limpando a mesa parecendo constrangida.

— Queria que você me ajudasse a provar um ponto pro meu amigo aqui. E ao que me parece, você é a única em que pode me ajudar com isso – Ele estava me usando pra flertar com essa garota?

— Cla-claro. Como posso ajudar?

— É bem fácil na verdade, me diga Srtª Jones, quantos homens essa noite pediram bebidas pra você?

— O que você está tentando provar? – Pergunto tão confuso quanto a garota.

— Você já vai entender – Ele se apoia ainda mais no balcão do bar e segura a mão dela – E então Srtª Jones?

— Vários. Homens e mulheres. É um baile, afinal.

— Com toda certeza. Mas de todos esses homens e mulheres aqui presentes, quantos deles pediram água sem gás como bebida?

— Na verdade, ele incrivelmente foi o segundo homem a pedir isso hoje – Fala e Chase a olha espantado.

— Sério?

— Sim. Também fiquei surpreso, mas ele não parecia ser do tipo que bebe. Diferente da acompanhante dele, que parecia amar um tinto – Revira os olhos – Mas não do tipo bêbada. Mais pro tipo apreciadora de vinho profissional.

— A acompanhante dele parece ser uma pessoa divertida. Diferente de você, Queen. E desse cara também. Quem diabos vem a uma festa e não bebe?

— Nunca fui muito chegado em bebidas alcoólicas – Argumento e ele ri alto.

— Como eu disse, você ainda é o menino certinho da escola. Não acha, Srtª Jones? – Pergunta claramente flertando com ela. Mas antes que ela possa responder, o que seria aparentemente seu gerente a chama.

— Desculpe Sr. Chase, mas eu tenho que voltar ao trabalho. Sr. Queen – Ela se desculpa e se afasta indo atender outro casal na outra ponta do bar.

— Não sou um garoto certinho. Também tenho falhas como qualquer ser humano! Só pedi água porque temos palestras cedo e não quero que o álcool me deixe desidratado e sem condições de prestar atenção e-

— Ah, pare de falar, Queen! — Me interrompe – Suas desculpas pra não beber só me deixam com mais razão.

— Ok, então. Culpado disso, ao que parece.

— Não parece, você é culpado — A Srtª Jones passa a nossa frente indo pegar uma garrafa e Chase a chama novamente – Juro que é a última intromissão antes do seu turno acabar — Ele realmente está fazendo isso na minha frente – Quem era o outro cara que pediu água sem gás? Precisamos conhecer o cara que é tão certinho como meu amigo aqui.

— Oh, claro. Ele está ali na pista de dança – Aponta – O que parece ter dois pés esquerdos ao lado da moça bonita com vestido de renda – Me viro para olhar quem seria o cara e meu coração e mente congelam com a vista.

Isso não era possível.

Não podia ser.

Era-

Era quem-

Ela-

— Ei, aquela não é a sua namorada do colégio?

Sorriso?

Era ela.

Ali, bem na minha frente como a muito tempo não estava. Seu enorme sorriso autêntico no seu rosto, enquanto desfilava graciosamente em meio aos poderosos como se não fosse grande coisa. Ela sempre levava mais jeito pra qualquer coisa mais do que eu. E como sempre, sua luz própria parecia reluzir aos que estavam ao seu redor.

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E quem diabos era aquele garoto dançando com ela?

Mas uma coisa era certa, ela estava ainda mais linda desde a última vez em que a vi. Seus cabelos continuavam loiros, mas estavam um pouco maiores, seus olhos ainda continuavam aquele azul céu que por tantas vezes foram meu norte, sua pele parecia mais corada e seu corpo era, claramente de uma mulher agora.

Mas eu ainda conseguia ver nela aquela garota com quem eu cresci.

Faziam quase seis anos desde a última vez que nos vimos, e eu me pegava pensando nisso todos os dias antes de dormir, no que eu faria se a visse na minha frente novamente, no que falaria pra ela, se eu falaria com ela. Mas agora, ela está aqui, e meu corpo estava simplesmente travado. Eu não conseguia tirar os olhos dela, nenhum músculo meu se movia e minha boca estava seca.

Deus, minhas memórias não eram fies ao lembrar da sua beleza quando ela estava a alguns passos de distância de mim.

— Feche a boca, Queen. Não vai querer moscas nela – Adrian ri pegando sua bebida do balcão – Mas pelo o que parece, você quer outra coisa pra fechar sua boca.

— E-eu não-não sabia que- – Respiro tentando falar algo coerente – Como ela está aqui?

— Do mesmo jeito que você, obviamente. Aviões, ou no caso dela, jatos particulares servem pra esse tipo de coisa, não é?

— Não. Quer dizer, sim. Não foi- Eu- Eu quis dizer é como ela está aqui aqui? Por que ela está aqui? A SmoakTec tem sua própria rede de segurança, e pelo o que eu lembre, eles não têm nenhuma palestra registrada pra essa convenção, e- – Suspiro pesado - Ela estava em Londres da última vez em que soube.

Sim, eu era um idiota que ficava chorando pelos cantos colhendo o máximo de informações que podia da garota que foi minha namorada da escola com os pais dela. Mesmo de longe, queria continuar torcendo por ela. Saber dela, acompanhar seus passos, suas vitorias, cada pequena conquista.

— Ao que parece, o pai dela não pode vir. E já como ela estava entrado de férias, se ofereceu pra vir no lugar dele. Bom, pelo menos foi o que eu soube – Adrian da de ombros – Assim como você, não sei qual o interesse da SmoakTec aqui, mas não custa nada perguntar a ela, não é?

— Perguntar? – Antes mesmo que eu termine de falar, Adrian já começa a caminhar em direção a ela, que ria de algo que se eu acompanhante dizia. Quando dei por mim, já estava ao lado de Adrian na frente dela.

— Felicity Megan Smoak, há quanto tempo?

— Adrian, que bom te- Oliver? – Ela para de falar assim que me vê – O que- quer dizer, você está- Você não deveria-

— Ele teve a mesma reação quando te viu. Interessante, não é mesmo? – Adrian fala, mas eu não consigo desviar meu olhar do seu. E de repente, parecia que eu tinha 19 anos novamente.

— Oi Felicity. Há quanto tempo, não é? – Finalmente consigo dizer alguma coisa e minha voz sai mais rouca do que o normal.

— Oi, Oliver – Diz ainda não desviando o olhar. Minha mente estava a mil por hora, tentando assimilar o que estava acontecendo aqui. Tentando guardar cada novo detalhe que seu rosto ganhou nesses últimos anos. Não sei quanto tempo ficamos ali nos encarando, mas ela só desviou o olhar quando alguém pigarreou ao nosso lado. Mas eu não conseguia desviar o olhar.

Eu tinha tantas perguntas pra fazer, tanta coisa pra falar, tanto pra explicar e-

— Oliver Queen, certo? – O garoto ao lado dela pergunta me fazendo finalmente desviar o olhar.

— Sim, esse sou eu. E você seria?

— Barry. Allen. Nós estudamos juntos no colegial, não lembra? – Pergunta estendendo a mão parecendo animado.

— Ah, sim. Allen. Você era do grupo de ciências da Felicity no colégio até o 1° ano – Digo apertando sua mão um pouco mais forte que o necessário. Ele estava com a garota mais bonita da festa. Não me julgue — Você cresceu.

— Você também. Quer dizer, olha o tamanho dos seus braços agora. Ridiculamente grandes. São quase três dos meus. Bom, não que seja literalmente, ou então suas mãos se arrastariam pelo chão e nós sabemos que-

— Allen – Adrian o corta e ele para de falar.

— Desculpe. Grande fã. Desde a escola. Até seus feitos na QC de hoje.

— Okay… – O olho confuso. Se fosse em outra época eu acharia que ele era um perseguidor.

— Nós queríamos saber o que vocês estão fazendo aqui – Adrian pergunta – O que nós meros mortais temos a contribuir com os gênios certificados da SmoakTec?

— Oh, sim. Nós estamos tentando uma parceria com o Sr. Lawton. Aquele homem escorrega mais que sabão, não soube de ninguém que conseguiu ver ele aqui, e pelo o que conhecemos dele, ele vai fazer o mesmo amanhã – Barry fala decepcionado.

— Nossa vinda aqui depende muito disso – Felicity fala.

Nossa? — Pergunto me direcionando a ela que desvia o olhar.

— Engraçado vocês dizerem que ele é escorregadio, já que Oliver aqui passou mais de trinta minutos conversando com ele perto das escadas – Adrian aponta – Como você diria que ele estava, Oliver?

— Muito bem, pra ser sincero – Digo olhando pro meu relógio. Grande ideia, Adrian! Agora que eu sei que eles estão aqui juntos, minha mente não para de pensar em quais outras coisas eles também estão juntos. Muito obrigado por acordar o adolescente inseguro que vive em mim – Bom, se vocês me dão licença, tenho que ir. Prometi a minha mãe que iria ver a lua na praia essa noite, e eu estou mais do que ferrado se não der um relatório completo pra ela do que vi.

— Como eu disse antes, o “garoto certinho da escola” ataca novamente – Adrian rebate.

— Algum de nós tem que ser, não é mesmo – Dou uma piscadela – Tenham um ótimo final de festa e com alguma sorte, nós nos vemos amanhã.

— Tenha um ótimo passeio – Barry fala.

— Obrigado, até mais – Digo já me virando pra sair dali.

Essa noite com certeza não foi como eu esperava.

***

 

A lua estava quase cheia hoje. A imagem dela quase tocando o mar a minha frente era magnifica, o vento frio e a areia quentes nos meus pés eram uma boa sensação que me levavam em um tipo de “déjà vu” de quando eu era mais jovem.

Fecho os olhos me deitando na areia fofa enquanto sinto a brisa bater relaxando meus músculos. Essa eu tinha que admitir, vir a praia poderia ser relaxante. E eu precisava relaxar.

As coisas hoje foram incrivelmente boas e estranhas. Fechei uma parceria que a QC estava querendo por muito tempo com a Lawton Security, os novos investidores da QC estavam mais do que animados para trabalharem conosco a partir do mês que vem.

Mas em compensação, ela apareceu.

Muitas coisas estavam diferentes agora, nós estávamos crescidos, mais maduros, com novos objetivos…, Mas ainda éramos nós.

***

Novembro, 2005

— Você não pode estar falando sério, Oliver! Eu te conheço desde os meus seis anos, e eu posso dizer com convicção de que essa é a coisa mais estupida que você já me disse! – Felicity fala indignada – Então por favor, retire o que você disse.

— Não posso. E eu não vou – Coloco o resto das minhas coisas na mala ainda de costas pra ela.

— Oliver, pare de ser estupido!

— Não estou sendo estupido, Felicity. Estou sendo realista. E você sabe disso melhor do que ninguém – Fecho a mochila e me sento na cama colocando meu tênis ainda sem coragem de olhá-la – Você é a inteligente da sala. E por mais que você ame sempre ter a razão, sabe que dessa vez está errada.

— Então é isso? Você vai simplesmente desistir? Eu não nadei até aqui pra desistir no meio do caminho. Nem você. Você não é assim.

— Talvez eu devesse começar a ser – Me levanto já pegando minha mochila – Desculpe Felicity, mas é assim que tem que ser. Quem sabe um dia nós-

— Saia daqui – Fala entredentes.

— O quê? – Pergunto finalmente a olhando e me arrependo no mesmo instante ao ver seu semblante.

— Você está desistindo, não está lutando por isso, não está me deixando lutar por isso, então vá. Saia daqui.

— Felicity-

— SAIA, OLIVER. Agora.

— As coisas não precisam ser desse jeito.

— É o que eu estou tentando te explicar na última hora. Mas você quer jogar tudo pro alto porque é um estupido idiota. Então saia.

— Felicity, nós ainda-

— EU JÁ DISSE PRA VOCÊ SAIR, OLIVER! – Grita me fazendo recuar – Você quer sair, então saia. Não vou te obrigar a ficar – Caminha até a porta e a abre com rispidez – Saia. AGORA.

— Tudo bem – Suspiro pegando minha jaqueta e mochila da cama e caminho em sua direção – Sinto muito.

— Pois que você sinta mesmo! Você quis isso, agora aguente.

 

***

 

Momento atual

— Esse terno não é muito caro pra você estar deitado na areia com ele? – Escuto sua voz doce e não consigo evitar o sorriso crescente aparecer em meu rosto.

— Se Thea não achar pelo menos um grão de areia em algum terno meu pra provar que estive na praia, ela é capaz de me jogar areia de gato suja quando eu chegar em casa – Falo ainda de olhos fechados e sinto ela sentar-se ao meu lado – Posso repetir o que você disse e perguntar se você não acha que esse seu vestido não é muito caro pra ficar sujo de areia?

— Poderia estar muito bem sentada tomando um ótimo vinho no bar do hotel, mas como você fugiu pra praia… – Suspira me fazendo abrir um olho pra espiá-la. E Deus, esse foi o melhor erro do meu dia. Seu cabelo solto ao vento, seu belo rosto em verdadeiro contraste com a luz do luar fez minha respiração falhar.

— Primeiro que eu não fugi pra praia. Não pude vir ontem, e prometi a minha mãe e Thea que viria aqui depois do baile – Me sento a tempo de vê-la revirar os olhos – Segundo e não menos importante, você está linda.

— Obrigada – Fala com um pequeno sorriso e, mesmo com pouca luz, consigo ver suas bochechas corarem.

Fazia um bom tempo que nós não ficávamos sozinhos, muito menos um tão perto do outro. A última vez não tinha sido a mais feliz.

— Não sabia que você estaria aqui – Felicity diz encarando a praia.

— Posso dizer o mesmo. Minha mãe sequer sabia que a SmoakTec estaria aqui. Muito menos eu.

— É, como eu disse lá dentro, nós queremos fechar negócios com o Lawton, mas ele foge da gente todas as vezes – Da uma breve risada – O que parece que não aconteceu com você.

— Foi um golpe de sorte, eu acho.

— Você conseguiu o que nós, e pelo o que eu saiba, sua mãe vem tentando há muito tempo. Isso não foi sorte, Oliver – Desvia o olhar do mar pra mim por um breve segundo. Tempo o suficiente pra eu ver a determinação em seus olhos antes de ela desviar novamente pro mar – Pelo menos dessa vez, se de o luxo e levar esse crédito.

— Eu o encontrei no elevador, Felicity. Foi sorte – Digo dando de ombros e ela maneia a cabeça – Por que você acha que eu fugi? – Pergunto antes mesmo que minha mente possa processar essa pergunta.

— Quer mesmo que eu responda isso, Oliver? – Seu tom seco dói mais do que deveria.

— Se foi pelo o que aconteceu-

— Não foi só por isso, Oliver – Me interrompe. Sua voz era calma e isso me deixava nervoso. Como há muito tempo não ficava.

— Quer mesmo discutir isso agora?

— Já faz quase seis anos, Oliver.

— Por isso mesmo. Seis anos – Suspiro enterrando minha cabeça em meus joelhos – Seis anos é muito tempo pra ficar pensando em algo – Falo e pela forma em que ela se vira pra mim, a certeza de que eu disse a coisa errada me atinge.

— Tem razão. Muito tempo pra ficar pensando nisso – Bufa já se levantando – Foi um erro vir aqui.

— Não, espere. Por favor, espere – Me levanto segurando sua mão o mais rápido que consigo – Isso saiu errado. Não foi isso que eu quis dizer, Sorriso. Eu- – Fecho os olhos respirando fundo sentindo a eletricidade do que o toque em sua pele faz comigo – Podemos começar de novo, por favor? Por favor – Imploro pra ela e abro os olhos e vejo um brilho familiar passar pelos seus por um milésimo de segundo.

— Tudo bem – Sorri levemente e sinto seus dedos se entrelaçarem aos meus – Faz um bom tempo que eu não escuto isso.

— Me ouvir falar uma besteira que não era o que eu queria dizer? – Levanto uma sobrancelha e ela me encara séria.

— Ouvir você me chamar de “Sorriso”.

— Oh… Eu- Eu sequer percebi isso, eu- eu não- eu não quis-

— Relaxa, Oliver. Não estou chateada por isso, só um pouco surpresa – Seu dedão começa a acariciar a costa da minha mão – Faz seis anos. Nós nunca conversamos depois daquele dia.

— Eu sei. Isso foi culpa minha.

— Por mais que eu odeie ver você se culpar por tudo, essa eu tenho que concordar – Sorri e solta minhas mãos voltando a se sentar na areia.

E eu tenho que me segurar pra não pegar suas mãos de volta nas minhas.

— Você sabe que eu tenho essa tendência desde sempre – Dou uma piscadela e me sento ao seu lado – Eu disse quando eu saí por aquela porta e repito agora pra você, Sorriso. Eu sinto muito. Muito mesmo. Eu nunca, em qualquer hipótese fiz isso pra te magoar.

— Mas magoou, Oliver. Você simplesmente desistiu de nós sem ao menos pensar direito!

— Eu pensei bastante sobre isso.

— Deveria ter pensado mais naquela época, Oliver. E-

— Naquela noite antes de sair, eu não dormi porque eu estava pensando nisso. E penso nisso todas as noites desde então – Massageio minhas têmporas que pareciam estar latejando de uma hora pra outra – Foi isso que eu quis dizer há pouco. São quase seis anos que eu penso que as coisas poderiam ser diferentes, que eu poderia ter feito algo diferente. Mas eu não fiz.

Um minuto que quase pareceu uma eternidade se passou em um silencio constrangedor até ela resolver falar.

— Eu te prometi que estaríamos juntos não importa o quê. Eu te fiz essa promessa, Oliver. E você jogou isso fora, você não me deu escolha de estar com você. Você disse que não queria que nosso relacionamento acabasse e foi você quem acabou com ele – Fala e vejo uma lagrima solitária cair por seu rosto – Você disse que confiava em mim pra não deixar nosso relacionamento acabar, mas você não me deu a chance de lutar por ele. Você simplesmente disse que não tinha mais como dar certo e partiu. Você partiu, Oliver.

Ela limpa aquela lagrima bruscamente como se ela fosse imprópria. E eu queria fazer qualquer coisa pra ela parar de chorar, mas eu sabia que era necessário. Pra nós dois. Sabia que aquelas eram lágrimas que esperaram muito tempo pra serem derramadas e que precisavam ser derramadas. Mesmo que isso me machucasse.

— Quando você disse naquele aeroporto que nadamos muito pra morrer na praia, eu acreditei em você, quando me disse que nós venceríamos a distância, que esperaria por mim eu acreditei. Acreditei que seriamos mais fortes que isso, acreditei que no final, quando tudo isso acabasse, nós estaríamos juntos. Mas você me expulsou, me jogou pra fora da sua vida em todos os aspectos, e isso foi o que mais me machucou.

— Isso também me machucou, Felicity. Não tem um dia sequer que eu não tenha sentido sua falta, um dia sequer que tudo o que eu queria fazer era te encontrar e pedir que você me perdoasse – Digo já inundado por minhas próprias lagrimas – Mas eu fui um covarde. Não pude fazer isso e te magoei. E eu sinto muito, muito mesmo por isso ter acontecido. Nunca foi minha intenção te machucar de qualquer forma. Eu só queria que você fosse feliz…

— E em qual parte dessa sua mente você achou que terminar comigo iria me fazer feliz?

— Felicity-

— Não, Oliver. Me diga – Fala com raiva – Como me arrancar de cada aspecto da sua vida me faria feliz?

— Eu- – Suspiro sem ter o que dizer. Ela estava certa, tanto naquele dia como hoje. Eu fui um idiota estupido que não sabia direito o que estava fazendo – A garota que eu amava por mais de seis anos, que eu sabia que não importasse o quê, eu sempre a amaria morava um país de distância de mim.

— Isso não o nosso problema, Oliver. E você sabe disso.

— Não estou dizendo que foi isso, Sorriso. Mas eu só te via alguns finais de semana e feriados prolongados. O máximo de tempo que tínhamos juntos, fora as férias era quando eu ia pra Washington pra jogar – Ri mesmo sem ter algo pra rir – Nosso tempo juntos era basicamente nossas ligações. E eu estava feliz assim. Mesmo tendo pouco, eu estava feliz. Eu realmente estava. Nós estávamos juntos, nós estávamos vencendo a distância. Juntos. Mas então… Justamente quando as coisas estavam tendo uma boa rotina pra gente, você recebe uma proposta irrecusável pra estudar em Oxford. E isso acabou comigo.

— Nós poderíamos ter superado isso juntos também. Poderíamos ter-

— Você deveria ver o seu rosto quando recebeu aquela carta – Aquelas lembranças sempre bem guardadas no mais profundo da minha mente voltando com força total – Você se acendeu de uma forma que eu só tinha visto quando seu pai te disse que você iria passar um mês na Suíça em um curso de Java. Eu não poderia competir com isso. Eu nunca competiria com isso porque foi algo que te fez feliz. Tão feliz que eu não poderia interferir. Sim, nós poderíamos tentar, sim, poderíamos continuar juntos. Mas qual o preço?

— Você sequer nos deu essa chance, Oliver.

— E só eu sei o quanto que doeu sair por aquela porta – Finalmente a encaro e vejo a dor em seus olhos – Eu sei que te magoei, eu sei que não nos dei essa chance. Eu sei, Felicity. Eu sei. Eu fiquei dentro de um ônibus por dois dias só pra te ver com um sorriso enorme no rosto, eu aguentei ficar cinco horas em um avião sabendo que quando eu pousasse, seria nos seus braços que eu dormiria. Mas te pedir pra aguentar oito malditas horas de diferença não era certo. Muito menos te pedir pra atravessar o atlântico só pra me ver.

— Você tomou essa decisão por mim, Oliver. Você tirou meu direito de escolha. E isso não foi certo.

— Eu sei que não foi. E cada célula do meu corpo sabe disso.

— Então por quê? Por que fazer isso conosco? Por que me tirar o direito de decidir se eu queria ou não passar por isso? Por que você me expulsou? Por que, Oliver?

— Porque eu te amava! E sei que você preferiria passar por tudo isso, preferiria perder coisas que na naquela idade eram tão importantes por minha causa. Eu sei que não tinha esse direito, mas eu sabia que você estava perdendo coisas por mim, pro nosso relacionamento não ruir, você teve de abdicar coisas. Eu também tive que fazer isso, e eu faria novamente, mas… Você estaria em outro continente com oito horas de diferença. Enquanto você me ligasse pela manhã, eu estaria indo dormir.

Suspiro finalmente desviando o olhar. Seco inutilmente as lágrimas do meu rosto sentindo meu peito e cabeça doerem como na nossa última noite juntos.

— Eu preferi te perder naquele momento, deixando você viver seu sonho, deixando você sem o peso de ter que perder mais coisas por mim, do que eu te perder aos poucos sem ao menos ter como chegar até você sem precisar de um visto! Sim, foi idiota, sim, eu deveria ter deixado você escolher o que seria melhor pra você. Mas eu não aguentaria te perder aos poucos, Sorriso. Eu não suportaria isso – Passo minhas mãos por meus cabelos tentando amenizar a frustração, mas é em vão – Doeu te perder, doeu não deixar você estar em qualquer aspecto da minha vida. Doeu olhar pra cada pedaço de mim, da minha vida e não ter você comigo. E eu sinto muito por ter tirado essa escolha de você, sinto muito por te fazer sofre, sinto muito por cada lágrima que você derramou durante esses quase seis anos, sinto muito por te expulsar, e sinto muito, muito mesmo por quebrar cada promessa que eu te fiz naquele aeroporto. Eu queria ser mais forte, queria ser o que você precisa. Mas eu não fui. Eu queria estar lá com você, queria estar lá pra você, mas eu não estava. E por isso, por tudo isso Felicity, eu sinto muito. Espero que um dia você me perdoe por ser esse idiota, mas que fique claro que eu nunca… Jamais quis te machucar.

Por um longo tempo, o barulho das ondas quebrando eram os únicos que se ouviam ao nosso redor. E eu aceitei aquele silêncio, por mais desconfortável que fosse. Talvez não fosse o melhor pedido de desculpas, talvez ela precisasse de tempo pra processar tudo que eu disse. Eu tinha dito tudo o que nos últimos anos ficou entalado na minha garganta, agora era vez de ela entender, de processar, de aceitar.

— Você deveria ter conversado comigo – Ela finalmente fala.

— Eu sei. Hoje eu sei. Mas eu estava com medo.

— Nós estávamos juntos, Oliver. Conversar é a base pra um relacionamento e você menosprezou isso por medo. Eu sei, você sente muito. Mas eu também fiquei com medo quando recebi aquela carta, eu também pensei que fosse um problema pra gente. Mas eu achei que fossemos enfrentar isso. Juntos.

— E eu vou passar o resto da minha vida dizendo que esse foi o meu maior erro e maior arrependimento.

— Eu também, Oliver.

Continuamos encarando o mar em silêncio por mais um tempo, mas dessa vez não era um silencio totalmente desconfortável. Sim, ainda era um pouco, mas ela estava aqui. Sem ao menos entender o que estava acontecendo, sinto sua mão procurar a minha e seu aperto forte ali refletiu até a minha última terminação nervosa.

— Quando você sofreu o acidente na academia, sua mãe me ligou – Ela começa – Ela disse que você estava em coma induzido. Falou dos seus ferimentos e que você provavelmente nunca mais poderia voltar a praticar esportes profissionalmente – Seu aperto em minha mão aumentou o suficiente pra eu sentir suas unhas cravando em minha pele – Eu queria pegar o primeiro avião e voltar pra te ver. Mesmo que você estivesse desacordado, eu queria ver você. Mesmo seis meses depois de você partir, eu queria estar lá pra você. Eu não sabia se você queria me ver ou não, se me queria lá, mas eu queria estar lá.

— E eu queria você lá – Ela me olha com um sorriso triste. Eu odiava seus sorrisos tristes.

— E eu queria ter estado lá pra você – Seu aperto diminui e ela volta a olhar pro mar – Você disse que eu estava perdendo coisas por causa do nosso relacionamento. Não é uma mentira. Eu entendo isso, também sabia que você estava perdendo coisas por causa da gente – Ela se aproxima mais de mim e deita sua cabeça em meu ombro – Você diz que se arrepende de não ter conversado comigo. Eu me arrependo de não ter entrado naquele avião pra vir te ver.

COMO É QUE É?

— Como assim? – Digo em um sussurro e ela maneia a cabeça.

— Eu comprei uma passagem no momento em que eu desliguei o telefone com a sua mãe. Eu fiz as malas e corri pro aeroporto. Eu já estava na sala de embarque, faltavam vinte minutos pro voo sair quando minha tutora me ligou e perguntou por que eu não estava no campus. Eu falei pra ela o que havia acontecido. Ela foi super gentil me dizendo que me apoiava, mas…

— Mas? – Pergunto ainda em choque por toda essa nova informação. Mesmo depois de tudo, ela iria largar seu mundo pra vir me ver.

— Mas eu teria que abdicar o projeto que eu levei mais de dois anos planejando.

— Helix? – Pergunto lembrando de todas as vezes em que ela me explicava o mais simples possível, o quanto seu projeto estava evoluindo.

— Você se lembra – Fala com certo espanto levantando a cabeça pra me olhar. Seus olhos tão perto dos meus que eu conseguia sentir sua respiração em meus lábios. Levou tudo de mim pra não diminuir aquela mínima distância e não a beijar ali mesmo.

— Claro que eu lembro – Minha voz sai mais rouca que o esperado. Por que tão perto e ao mesmo tempo tão longe?— Você não parava de falar desse projeto desde que entrou no MIT. Ah, é claro, e o fato da minha mãe ter contratado o “Archer” pra QC e espalhar aos quatro cantos que foi uma obra sua, também conta – Ela sorri pra mim largamente por um longo momento até voltar a deitar sua cabeça em meu ombro.

— Alena iria ficar com todo o crédito. Não que seja algo que eu me importe tanto em levar ou não o crédito por ele, mas sem um outro projeto, eu provavelmente não iria terminar o semestre – Sua mão volta a apertar a minha com força – Eu queria gritar que aquilo não era justo, que o “Archer” era minha ideia, que eu queria apenas mais uma semana pra poder apresentar o projeto pra banca, mas isso não era uma possibilidade.

— Então você voltou pra faculdade e apresentou seu projeto – Concluo seu pensamento. Era obvio que ela merecia todo o crédito. O projeto “Archer” batia de frente sozinho com mais da metade das especificidades que a Lawton Security oferecia na época em que foi lançado. Foi um grande marco pra SmoakTec e um grande salto na carreira de Felicity Smoak, não sendo conhecida agora como “apenas filha de um CEO”, mas como “A Mente Brilhante Da SmoakTec”.

— Quando terminei, eu tentei marcar outro voo, mas todos estavam lotados – Ela ri seco – Lembro bem que era uma terça-feira, sua mãe me mandava mensagens de hora em hora pra me atualizar do seu estado. Tentei de todas as formas, até com quatro escalas, mas não consegui nenhum voo. Ao que parece, um show grátis da Hilary Duff foi a causa – Ela murmura e eu rio – Qual a graça? – Pergunta levantando a cabeça novamente. Mas pro meu próprio bem, continuo olhando pro mar a minha frente. Eu já estava conseguindo uma conversa sincera. E isso era muito mais do que eu merecia. Não iria estragar tudo só porque eu queria beijar aqueles belos lábios pra saber se ainda tinham sabor de cereja. Claro que não.

— Eu havia prometido levar Thea naquele show.

— Claro que prometeu – Ela ri voltando a deitar sua cabeça em meu ombro – Como você tinha três costelas quebradas, eles escolheram te deixar no coma enquanto eles tentavam reparar o dano nos seus joelhos. Eu continuava procurando passagens pra Starling, cheguei até a pedir o jato da ST pra isso, mas meu pai estava em tour nos polos da Ásia. Quase duas semanas depois, eu consegui uma passagem, eu não me liguei muito nas datas. Eu estava apenas me afogando nos estudos e projetos pra não pensar muito em como você poderia estar. Enquanto eu não estudava, eu ficava pesquisando por tratamentos avançados que você poderia tentar quando acordasse.

— Sinto muito, eu não fazia ideia de nada disso.

— Eu sei, Oliver. Eu quem pediu pra sua mãe pra não te contar – O que?— Dois dias antes da viagem, Alena entrou no meu apartamento com um bico maior do que o mundo. Aparentemente, eu havia perdido três reuniões pro projeto naquela semana, além da tutoria que iria dar para as provas que começariam no dia seguinte. Quando me dei conta que mais uma vez iria ter que desmarcar minha ida pra Starling, foi o fim pra mim. Eu não conseguia parar de chorar. Tommy estava viajando com o time, então além de estar sozinha, eu tinha todo o sorvete me menta e de creme do mundo pra me consolar.

— Imagino a quantidade de açúcar ingerido – Provoco e ela bate no meu estomago.

— Calado, lembre-se que foi culpa sua – Rio brevemente e ela continua – Na tarde em que seria meu voo, sua mãe me ligou. Disse que você acordou, mas que ainda estava com dor – Ela suspira triste.

— Sinto muito por você ter passado por tudo isso.

— Eu também. Por todo mundo…— Beijo sua testa rapidamente sentindo-a relaxar ao meu lado. Nós dois ainda tínhamos muitas feridas abertas daquele ano — Sua mãe me disse que iria te contar que eu estava ligando, mas pedi que não fizesse. Por um lado, eu estava feliz que você estava acordado, por outro eu só queria gritar por não estar do seu lado quando isso aconteceu. Sua mãe continuou me informando do seu estado. Ela ainda me manda algumas mensagens falando de como Thea está crescida e de como ela quer ir cursar moda na França.

— Ela está louca com isso desde uma tal de “feira das profissões” na escola dela.

— Pelo o que eu vi de uns desenhos que sua mãe me mandou, ela tem talento pra coisa.

— É, ela tem sim – Aperto sua mão na minha me agarrando aquela boa sensação – Senti sua falta, Sorriso.

— Também senti sua falta, Oliver.

Voltamos ao silêncio por alguns minutos, a brisa estava ficando mais gelada, mas ainda não incomodava. Felicity parecia muito determinada em ganhar uma “guerra dedão” que ela há poucos instantes. Deito minha bochecha em sua cabeça e, pela primeira vez em anos, sinto meu corpo relaxar. Era fácil se acostumar a essa sensação de paz que invadia meu corpo toda vez em que ela estava por perto. Era como finalmente estar em casa. Realmente em casa.

— Sorriso?

— Não vou facilitar pra você, se é isso que está pensando – Fala e mesmo sem olhar, sei que aquela linha entre suas sobrancelhas de determinação estava lá – Vou vencer você dessa vez, ups – Ela ri quando quase consegue me derrotar.

— Não era isso que eu estava pensando.

— Então o que está passando pela sua cabeça? – Pergunta virando seu pulso em um ângulo estranho e quando quase consigo prender seu dedo, ela o gira prendendo o meu – YES! HA! GANHEI!!

— Seria pedir muito por uma revanche?

— Oh, seria sim. E já está ficando tarde – Ela se levanta soltando minha mão no processo – Amanhã temos palestras cedo e eu ainda quero tomar mais uma taça daquele vinho tinto maravilhoso que eles estavam servindo na festa.

— Posso saber de onde veio todo esse amor por vinho? – Pergunto esticando minhas pernas ainda sentado. A vista era muito bela daqui.

— Porque você nunca entrou na adega do meu pai – Sorri e chuta meu pé provocando – Ande, vamos logo voltar pro hotel. Essa praia é linda, mas já está ficando frio aqui. E frio misturado com álcool não são uma boa combinação.

— Por que você não disse que estava com frio? – Me levanto já tirando meu terno, e bato um pouco nele pra tirar a areia antes de me aproximar dela, mas recuo um passo antes – Posso? – Levanto o terno em oferta e ela assente.

— Claro, Oliver – Revira os olhos rindo enquanto eu coloco o terno em seus ombros – Sabe, se não estivesse tão frio ou tão escuro, eu daria um mergulho – Começamos a caminhar de volta ao hotel juntos.

— Acho que você esqueceu de mencionar que a água deve estar um gelo-

— Isso estava dito na parte do frio – Me interrompe.

— E – Continuo e olho pra ela – Sua roupa não é a mais adequada pra isso.

— Isso se resolveria facilmente, Oliver – Levanta uma sobrancelha sugestivamente e eu quase engasgo com sua suposta sugestão.

— É melhor nós voltarmos pro hotel antes que você faça alguma loucura.

— Vejo que ainda é muito fácil atiçar o “Oliver Protetor” que mora aí dentro – Ri abraçando meu braço novamente – Tão fácil quanto te irritar com sorvete de creme.

— Um dia eu ainda vou te convencer que sorvete de chiclete é melhor do que de creme.

— Um dia…

 

***

 

A caminhada de volta ao hotel não foi tão longa quanto eu queria, mas logo que começamos a caminhar, Felicity começou a divagar sobre como a tecnologia está cada vez mudando mais rápido e como ela sempre tem material novo nas mãos para examinar para a SmoakTec, como o novo sistema operacional dos computadores ou até mesmo de seu entusiasmo pelo último contrato da ST fechado com uma das principais industrias de montagem de computadores do país.

Mas para a minha felicidade, assim que chegamos ao bar, ela me fez sentar ao seu lado enquanto ela me contava suas aventuras nos últimos anos. Por um segundo, o tempo não havia passado e estávamos de volta ao meu quintal em 2002/2003.

Eu também lhe contei mais sobre o meu tratamento, sobre Thea, minha mãe, a empresa e como estava sendo ser o CEO da Queen Consolidation. E regado a algumas garrafas de Recioto della Valpolicella que Felicity escolheu, nossa conversa durou mais de três horas. Quando demos por nós, o barman avisou que estavam fechando e, que se quiséssemos mais, teríamos que voltar pra festa beber lá, pois a adega do hotel estava fechando. E eram apenas uma da manhã…

Felicity fez bico decepcionada por ter que abandonar a adega. Segundo ela, não havia nada melhor do que uma boa conversa acompanhada de um belo vinho italiano, mas graças aos céus, seu cérebro de um literal gênio teve uma maravilhosa solução pra esse problema.

E eu quem não poderia discordar de nada daquilo.


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