Exílio do Amor escrita por Funny Hathaway


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente!

Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/772757/chapter/3

Londres, Inglaterra

16 de Março de 1872

Madame Williams era famosa pela suas habilidades como anfitriã. Suas festas sempre mostravam criatividade e espírito animado, com algum tema. Toda sociedade inglesa esperava ansiosamente a abertura da temporada com suas ideias mirabolantes. Ela já fizera bailes à fantasia, bailes mascarados, e agora ela vinha com essa novidade: baile preto e branco. Todos os convidados devem usar somente essas duas cores.

O salão também somente tinha decoração nas cores do evento. Os músicos ao fundo todos de terno pretos. Os arranjos de flores das mesas eram rosas brancas em vasos pretos. O piso, de alguma forma, era quadriculado preto e branco, as toalhas das mesas também. Elizabeth estava se sentindo quase tonta com a explosão das duas cores.

Ela também percebeu que os convidados não deixaram a desejar no quesito vestimenta. Poucas damas adotaram somente uma cor para o vestido todo, em geral, elas misturam as duas, em alguma estampa (como listrada, quadriculada), ou simplesmente usando o corpete de branco e as saias de preto, ou vice e versa. Os cavalheiros, por outro lado, se mantiveram mais discretos, usando ternos de somente uma cor, ou somente o paletó e a camisa brancos, enquanto o resto era tudo preto.

Madame Williams também ousou na escolha de seu vestido. Havia corações pretos estampados na sua saia branca e opulenta. Ela cumprimentava a todos os convidados com muita simpatia. A dama havia perdido seu marido muito precocemente, não deixando filhos para a linhagem. Mas seu marido era extremamente planejado, e já havia deixado pronto o seu testamento, deixando uma quantia grande para sua viúva, o suficiente para abastecê-la por um tempo. Madame Williams fez muito bom uso do dinheiro, investindo em diversos tipos de negócios,conseguindo se sustentar sozinha, tanto é que sempre fazia festas de admirar.

—Meus queridos amigos Clark. Que prazer recebê-los. Como está a editora de vocês?- Como já mencionado, Madame Williams era uma mulher muito inteligente e sabia se cercar das pessoas certas. Poder ter um jornal aliado pode ser muito útil em tempos de crise.

—Muito bem. Estamos começando a traduzir alguns romances de outros lugares. Nossa pequena Elizabeth anda ajudando muito com isso- Phillip comentou orgulhoso.

Madame Williams abriu um sorriso caloroso, parecia realmente feliz em saber:

—Que ótimo ouvir essa notícia. Sempre ouvi falar dos talentos de Elizabeth com línguas. Agora, sintam-se à vontade, comam, bebam, dancem, aproveitem a noite, a temporada está só começando - Madame Williams deu uma pequena piscada para June- Mas não exagere, minha querida June, você vai querer deixar alguns cavalheiros para o resto das minhas convidadas.

Sua irmã sorriu para Madame Williams, sem graça, ela realmente sempre roubava atenções. June estava com um modelo um pouco mais ousado que Elizabeth. Enquanto ela usava um vestido preto, com as mangas caídas bufantes, sua irmã caçula optou por deixar as mangas de lado, e usar luvas longas, até um pouco depois do cotovelo. Seu vestido era inteiro branco, somente com alguns detalhes em preto, como as bordas do corpete e das luvas. Em meio ao seu penteado, ela havia colocado pequenas flores brancas. Basicamente sua irmã estava absolutamente magnífica, e Elizabeth a admirava com orgulho.

Durante os seus anos de temporadas em Londres, ela já havia visto muitos casos de irmãs que brigavam entre si por alguma ser considerada a mais bonita e receber mais atenção da ala masculina. Mas Elizabeth não seria capaz de ser essa pessoa, havia ajudado seu pai a criar a irmã, assistindo aquele pequeno bebê recém-nascido se tornar uma mulher linda, não poderia sentir um pingo de ciúmes dela.

E ainda mais, Elizabeth sentia que brigar com alguma dama por atenções masculinas era uma das coisas mais imbecis que uma mulher poderia fazer. Não fazia o menor sentido perder uma amizade por conta de um simples flerte. Ainda mais que os cavalheiros das festas eram tão parecidos, mimados e frívolos, mas obviamente suas companheiras de baile não pensavam a mesma coisa, batendo seus cílios e abrindo sorrisos encorajadores.

Seus irmãos se separaram, foram encontrar alguns amigos e seu pai jogar conversa fora com algum parceiro de negócio, possível anunciante para o The Globe. Elizabeth olhou em volta do salão, procurando por uma pessoa específica, quando sentiu um leve empurrãozinho. Olhou para trás e viu sua melhor amiga, Nathalia a olhando com uma feição travessa.

Os cabelos ruivos dela estavam escovados para trás e um penteado meio preso e meio solto. É claro que ela havia quebrado as regras e ido com um vestido azul esverdeado. Ela ficava deslumbrante naquela cor.

—Você veio de verde?- Elizabeth perguntou, fingindo uma confusão.

—Você acha mesmo que eu usaria um vestido preto hoje? Eu fico horrível de preto. Era essa cor ou um roxo escandaloso- seus olhos verdes brilharam em fascínio de chocar a aristocracia. Isso que fazia Elizabeth gostar tanto de Natalia, sua liberdade de fazer o que lhe desse na telha, usar a cor que quisesse, por exemplo.

Elizabeth chacoalhou sua cabeça e gargalhou das caras que sua amiga fazia. Se havia alguma coisa que sempre podia contar era que daria ótimas risadas com Natalia.

—Vamos sentar, querida. Esses sapatos estão triturando meus pés em picadinhos.- Natalia sugeriu, impiedosa.Finalmente algo que Elizabeth poderia fazer sem hesitar.  

Já fazia algum tempo que as duas amigas não se encontravam, então havia muita conversa para colocar em dia. Elizabeth contava para Natalia sobre os livros que havia lido, as obras que andava traduzindo. Natalia escutava atentamente, fascinada. Sua amiga adorava fazer pose de uma dama fútil, mas era deveras inteligente e adorava ler. No meio da conversa, Natalia olhou para o lado e franziu o cenho:

—Aquela não é a sua irmã?- Seu tom era de confusão e animação ao mesmo tempo.

Elizabeth observou o salão, sentada de seu lugar usual, quando viu algo fora do normal. Sua irmã dançando com um cavalheiro deveras bonito. Havia alguma coisa de diferente naquele sujeito, sua postura era confiante, mas ao mesmo tempo misteriosa. Elizabeth não sabia exatamente o que pensar dele, se tinha boas intenções ou não. Mas o que mais chamou atenção da filha mais velha foi o jeito que June olhava para o cavalheiro.

Seus olhos cinzentos estavam iluminados, suas bochechas coradas e seu sorriso mais sincero aberto. Elizabeth não sabia o que aquele homem havia feito ou dito, mas definitivamente June estava encantada por ele.

—Quem é o cavalheiro que está dançando com June? -Thomas chegou discretamente ao lado de Elizabeth, e perguntou baixinho, dando um susto das duas damas sentadas.Seu irmão sempre fora protetor em relação às suas irmãs e não precisava ser a pessoa mais esperta do planeta para saber que June estava ofertando muitos sorrisos para ele.

—Pelo amor de Deus, Thomas, você poderia fazer algum barulho para anunciar sua presença. Parece uma sombra- Natalia afirmou com um leve tom de irritação na voz, o qual ela fazia questão de não esconder. Ela e o irmão de Elizabeth não se davam muito bem.

—Ninguém perguntou a sua opinião, Natalia- foi o que Thomas respondeu rapidamente, dispensando-a. Natalia não pareceu nada feliz com a resposta curta e grossa, normalmente os dois entravam em longas discussões, às vezes até esqueciam o porquê estavam brigando.

Thomas continuou olhando para Elizabeth, esperando uma resposta.

—Não sei quem é. Você definitivamente está perguntando para a pessoa errada sobre aristocratas ingleses- Elizabeth deu uma pequena risada em sinal de deboche.

—Talvez se você passasse mais tempo socializando, e menos cavando terra saberia quem é aquele sujeito.- Natalia dirigiu esse comentário ácido para Thomas.

Thomas olhou feio para Natalia e ela, em advertência. Saiu de perto das duas. Elizabeth sabia exatamente o que aquele olhar significava. Elizabeth e Thomas sempre foram responsáveis por ficar de olho nos pretendentes de June, eles se sentiam no dever por serem irmãos mais velhos. Aqueles dois pares de olhos castanhos nunca deixava passar nada, e aquele cavalheiro era desconhecido, o que inquietava o espírito do seu irmão.

Mas June parecia realmente feliz, dançando com o homem em questão. Elizabeth ficava empolgada pela felicidade da irmã, deixando de lado aquela pequena voz de preocupação de saber se o pretendente poderia ser confiável. Aquele rosto nem era pelo menos familiar. Voltou a conversar com sua amiga e o resto do baile correu agradavelmente.                                                        

 

                                                             ***

—James conheceu uma dama muito interessante no baile, Duque- Ethan estava afrouxando o nó de sua gravata enquanto atualizava seu sócio dos acontecimentos do baile. James encarava Ethan de cara fechada. - O nome dela é June Clark. Muito bonita, por sinal. Seu pai é dono de uma editora que publica o The Globe.

James revirou os olhos. Dos três, ele era o mais privado sobre a sua vida amorosa. Não dividia muitos detalhes.

—Ter dançado com June duas vezes não quer dizer que a senhorita Clark é minha pretendente, Ethan - Duque engasgou com o conhaque que bebia. Começou a tossir compulsivamente.

—Você convidou uma dama para dançar? E ainda duas vezes?- Duque estava com os olhos arregalados- Você nunca faz isso, pelo meu conhecimento- James ia tentar se defender quando Ethan entrou no meio.

—Exatamente. E você deveria ver o quão bobo ele parecia dançando. A moça falava qualquer coisa e ele dava uma risada, ou abria um sorriso. Dava pena - Ethan falava como se James tivesse contraído algum tipo de doença e havia cuspido sangue no meio do salão, não que havia se interessado em uma moça da alta sociedade. Duque balançou a cabeça, completamente incrédulo.

—June Clark. Eu nunca ouvi falar deste nome. Se ela é da aristocracia, já deve ter passado pelo clube, pelo menos uma vez- Duque franziu o cenho, tentando recorrer à sua memória. Nunca se esquecia de um nome.

—Ah não. Você não vai saber quem é, porque a moça é completamente respeitável. Sem uma única mácula na sua reputação. Ela é daquelas que se você chegar perto demais, um pedido de noivado será exigido. -Ethan continuava não deixando James falar.

—Isso se deve ao irmão mais velho dela, Thomas Clark.- James falava realmente contrariado que um irmão havia atrapalhado seu momento a sós com uma dama solteira e de boa conduta.

— E também a irmã mais velha solteirona, Elizabeth. Não se esqueça dela, meu caro- Ethan se serviu do conhaque que Duque tomava e sentou na poltrona e apoiou os dois pé na escrivaninha.

— A dama tem dois guarda- costas? Ela é o que? A versão humana da Afrodite?- Duque parecia realmente confuso.

—Não é isso. O irmão parecia realmente querer avançar no cangote de James, a irmã estava só analisando de longe, pensativa.- Ethan disse, tentando corrigir o que disse anteriormente.

—O nome dos outros Clark também não me é familiar. Nunca ouvi falar de uma Elizabeth e Thomas- Duque parecia confuso.

James tirou seu paletó e começou a dobrar as mangas de sua camisa.

—A família nasceu bem pobre. O pai investiu todo que pode na abertura de uma editora e acabou acertando na abertura do The Globe. Ganhou bastante dinheiro e pode comprar um título. Mas são burgueses de origem.

Duque acenou com a cabeça

—E os filhos?- perguntou curioso.

—Thomas toma conta das propriedades do baronato. June não tem uma ocupação e Elizabeth trabalha como tradutora na editora do pai.

—Tradutora?- Ethan entrou de novo na conversa, perguntando ligeiramente surpreso.

—Ah sim. Aparentemente a irmã não tem muito interesse em casar, ela lê muito e sabe diversas línguas e o pai acabou contratando a filha pela sua habilidade- Duque também ficou surpreso com uma dama trabalhando, aquela figura parecia intrigante, mas não admitiria aos seus amigos, hoje era o dia de fazer chacota com James.

—Percebe-se que você teve muito tempo para conversar com esta moça e ficou realmente inteirado na vida dela- Duque lançou um olhar duvidoso para James.

—Dê um tempo. A única coisa que vocês sabem fazer é testar a minha paciência.

—Mas é essa nossa função como amigos - Ethan abriu os braços, se divertindo muito com a irritação de James. Foi aí que o amigo começou a fazer sons de beijos e pequenos gemidos. Ethan parecia realmente numa missão para tirar James do sério. E sua missão foi muito bem sucedida.

Com esta fala, James se levantou de sua cadeira e saiu da sala como um verdadeiro furacão. Parecia que as brincadeiras realmente pegaram em seu ponto sensível. Ethan e Duque se entreolharam ligeiramente confusos e entretidos com a atitude de seu sócio. Ele nunca havia reagido dessa maneira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada pela atenção

Até a próxima

Beijos



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Exílio do Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.