Clube dos Oito escrita por Biia Lightwood Potter


Capítulo 2
Alec e Caleb


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Trago hoje mais um capítulo, para quem por acaso está lendo a história.
Espero que gostem!



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Às vezes, Alec Lavely queria voltar ao ensino médio. Já tinha se passado dois fodendo anos desde que ele tinha terminado o colegial, e que ele já deveria estar na faculdade e arranjado um emprego melhor que servir cafés. Pelo menos era o que sua mãe dizia.

[12/09 14:42] Chubby Bunny: eu odeio essa escola

[12/09 14:42] Chubby Bunny: eles me fazem estudar sem o Eli

[12/09 14:45] Alec: a vida é injusta mesmo

[12/09 14:45] Alec: agora me deixa trabalhar e vai estudar seu vagabundo

O menino sorriu de lado para o celular. Ele tinha mesmo que ser o melhor amigo do cara mais idiota que existia naquela cidade?

Mas isso era culpa das mães deles, que fizeram dos meninos praticamente irmãos. Eles até tinham um ensaio fotográfico com Rory bebê sentado no colo do mais velho, com roupinhas de marinheiros.

— Bom dia? — Lavely ouviu e levantou a cabeça. Ele tinha apoiado-se com os cotovelos no balcão da recepção do café enquanto mandava mensagens para o amigo.

Lavely trabalhava em uma típica rede multinacional, que vende os mesmos produtos com o mesmo sabor. Ele não considerava aquilo um café de verdade.

— Desculpe — disse e olhou para o menino. Magro, alto, carinha de quem ainda estava no ensino médio. Aparentemente jogava no mesmo time que ele. Okay, talvez conseguisse um encontro para o final daquela semana. — Estava distraído. Não mais do que estou agora olhando para você. — E sorriu galanteador para o cliente, que ficou com as bochechas vermelhas na mesma hora. Bingo.

— U-um Latte Macchiato médio, por favor — ele disse e, envergonhado, desviou o olhar para a vitrine que expunha os lanches do local.

— Seu nome? — Alec perguntou com o copo de plástico em uma mão e a caneta permanente na outra.

— Marcos. — Ele definitivamente parecia querer se enfiar em algum buraco. Alec estava achando aquilo fofo.

— E o número de telefone? — Segurou o riso quando Marcos quase engasgou com a própria saliva, ficando ainda mais vermelho que antes.

— Quanto ficou? — O outro desconversou.

— Quinze libras — respondeu. Talvez não tivesse dado muito certo chegar com tanta sede ao pote, mas tinha valido a tentativa.

Alec recebeu o dinheiro do menino, e o mesmo foi se sentar em uma das mesas disponíveis do lugar.

— Um Latte Macchiato, Octavia — disse para a garota negra que tinha voltado do banheiro. Ela era, além de colega de trabalho, sua amiga desde o ensino médio. Diferente dele, ela já estava faculdade prestando psicologia.

— Você estava dando em cima do cliente de novo? — ela perguntou juntando as sobrancelhas.

— Não — respondeu o menino, tentando disfarçar ao limpar a bancada com um pano úmido.

— Tem que parar com isso — Octavia disse enquanto pegava o copo com “Marcos” escrito e ia preparar a bebida. — Qualquer dia vai ser denunciado por assédio.

— Não seja tão chata! — Ele virou de frente para a amiga e ficou olhando-a trabalhar. — Eu não faço isso sempre...

— Só de quarta, né? — Ela riu enquanto colocava o chantilly na bebida.

— Assim até parece que eu sou um assanhado. — Alec cruzou os braços e fez bico.

— Mas você é! — A menina riu mais ainda, depois exclamou: — Marcos!

Alec precisava confessar que não era dos mais tímidos e reservados. E que talvez desse em cima de bastantes meninos enquanto trabalhava. Também que eram poucas as festas que saía sem beijar alguma boca. Mas não era um assanhado! Na maioria das vezes, os caras chegavam nele, e não o contrário. Até porque ele era um cara bonito, devia ser sincero. Era alto, tinha os cabelos quase negros sempre cortados mais baixos nas laterais, os olhos verdes escuros, que Eli sempre comparava com “as águas de piscinas sujas” nas Poesias Lixos que fazia.

E claro, também tinha os caras que chegavam já acertando o soco no olho direito, mas isso é outra história.

Alec ouviu seu celular apitar.

[12/09 15:02] Mãe: Pode comprar ovos quando estiver voltando para casa?

[12/09 15:03] Alec: claro

Lisa, sua mãe, era uma mulher adorável. Fazia o possível e o impossível pelo filho, sempre dando suporte no que podia. Um exemplo foi quando ele terminou o ensino médio e não sabia o que queria seguir profissionalmente. Foi Lisa quem colocou a mão no ombro do filho e disse que estava tudo bem, que ele não precisava escolher ainda. Também foi ela que abriu os braços para o menino quando se assumiu gay para a família. Muito diferente de seu pai.

“Argh.” Ele nem gostava de pensar.

Mark, seu pai, (se é que podia chamar assim) era um cara do tipo machão. Sempre grosseiro e bastante ignorante. Desde que Alec era pequeno, tentava fazer com que o filho fosse igual. O jovem Lavely saiu-se bem jogando futebol e rugby igual ao pai, participando das reuniões dos amigos do homem e ouvindo o que eles tinham de mais péssimo a dizer sobre o mundo.

Só que quando a puberdade bateu à porta de Alec e ele se viu gostando de meninos da forma que o pai mais condenava, não conseguiu mais acompanhar o homem naqueles encontros.

Mas Mark desconfiava do filho muito antes de Alec desconfiar dele mesmo. Por isso, quando o mais velho recebeu a confirmação de seus piores pesadelos, quis praticamente matar o filho. Foram meses de discussões que Lisa tentou mediar e que o menino dormiu na casa dos Fish. Descobriram depois de um tempo que o melhor para todos era que apenas se ignorarem. Então tinha assim nos últimos três anos.

— Hoje tem festa, você vai? — Octavia perguntou enquanto amarrava de novo as tranças cor de rosa em um rabo de cavalo para depois colocar o boné marrom claro.

— Provavelmente — respondeu guardando o celular no bolso traseiro. — Meu pai tem sido um babaca essa semana por causa da festa de domingo que fui com Caleb. Se eu não o matar até o final do dia e não for para a prisão, te vejo lá.

— Você carregou o Caleb para aquela festa? — A menina perguntou incrédula. — Primeiro: como ele entrou? E segundo: você é maluco.

— Ele insistiu em ir comigo. — Alec deu de ombros. — Você não conhece o poder de persuasão daquele ser.

Por mais que Alec insistisse em tentar ser a razão do Clube dos Sete, ele ainda continuava com a visão de que todos deveriam ter suas experiências. Era isso que o fazia tão fácil de convencer. Também o fato de Caleb Bowe ser um garoto muito bom de lábia.

O menino era ruivo e um tanto magrelo, mesmo jogando futebol americano, e podia não ter a aparência ameaçadora, mas convencia qualquer um do contrário com suas palavras.

O amigo, que ainda estudava na Perse era seu fiel companheiro nas festas. Quase toda semana eles pegavam o táxi da casa de Bowe e iam para onde tivesse música, bebidas e pessoas dançando.

Por mais que não fosse tão próximo de Caleb como era de Rory, Lavely sempre passava bons tempos com o ruivo.

E falando nele...

[12/09 15:17] Gingerbread Man: vc passa em casa hj as 11?

[12/09 15:17] Alec: para?

[12/09 15:17] Gingerbread Man: porra caralho vai me dizer q tu esqueceu

[12/09 15:17] Gingerbread Man: vou te matar seu fdp

[12/09 15:17] Alec: hahahaha

[12/09 15:17] Alec: esqueci não seu bosta

[12/09 15:17] Alec: as 11 tá bom

Aparentemente, naquele dia todo mundo queria falar com Alec. Nem respeitavam mais seu horário de trabalho!

Pela terceira vez, ele enfiou o celular no bolso das calças do uniforme e tentou parecer o mais profissional para os novos clientes que entravam no café.

Depois do pedido de dois Frappuccinos, ele sentou-se no banquinho atrás do caixa e ficou olhando o movimento até que percebeu que Marcos vinha na sua direção. Abriu o mesmo sorriso galanteador de quando falou com o menino e, sem dizer uma palavra, o estudante lhe deixou um pequeno papel em cima do balcão antes de se virar para ir embora.

Lavely esticou-se um pouco para pegar o bilhetinho e sorriu abertamente ao ver o número de telefone do outro escrito.

Talvez a semana realmente terminasse bem.

 

***

 

Caleb Bowe estava com uma dor de cabeça dos infernos naquela quarta-feira.

No dia anterior, ele estava entediado e sozinho em casa, então ingeriu quantidades grandes de álcool. Jamais iria negar bebida ao seu corpo, mesmo tendo que comparecer na escola na manhã seguinte.

Já era o meio da tarde, e Caleb sentia que o dia estava passando mais devagar que o normal. Ele só queria estar em casa, dormindo profundamente e só acordar pouco antes das onze da noite para ir à festa de aniversário de um dos caras da faculdade com Alec.

— Está na hora de você acordar, princesa — disse Bella, sua irmã, cutucando-o no braço.

Ter Isabella como irmã podia ser tanto um alívio, como um martírio. Naquele momento, por exemplo, estava sendo um martírio. O fato de serem gêmeos fazia deles muito iguais em momentos não propícios (e isso irritava o menino até os fios de cabelos), e muito diferentes em momentos realmente bons.

— Pelo amor de Deus, garota. — O menino ruivo deu um leve empurrão na irmã. — Vê se cala a boca e me deixa em paz.

— Olha aqui — Ela apontou o dedo indicador para a cara dele. — Você me respeita que eu sou mais velha.

— Sete minutos não é o suficiente para ter como base — ele respondeu pegando o dedo dela.

— Obviamente é — Bella respondeu puxando o dedo. — Percebe-se que eu sou muito mais responsável que você.

Preferindo ignorar a menina, ele apenas sorriu de lado, irônico. Quando a aula acabou, o menino Bowe só pegou sua mochila, que ele não teve o trabalho de abrir para tirar seus materiais, e saiu da sala na companhia da irmã.

Coincidentemente — mas na verdade não —, os armários deles eram um do lado do outro.

Como se eles não tivessem menos privacidade em casa.

— Eu tenho que ir para o treino — Caleb disse depois de jogar a maioria dos livros que carregava na mochila dentro do armário. — Te vejo na saída?

— Tenho treino extra de boxe. — Bella fechou a porta do armário e sorriu para o irmão.

O menino meneou a cabeça acenando em resposta ao beijinho da irmã, que já se afastava ainda com o sorriso no rosto.

Caleb suspirou, voltando a andar.

Às vezes, ele sentia que ele e Isabella não eram mais os mesmos. Cresceram como a maioria dos gêmeos: vestindo roupas iguais ou pelo menos de mesma cor, dormindo no mesmo quarto até os sete anos de idade, compartilhando sentimentos e segredos.

Mesmo depois de Caleb mudar-se para o quarto no final do corredor, os irmãos continuaram até os catorze anos com um ritual só deles.

O menino deitava-se junto da irmã na cama dela e assim ficavam, um de frente para o outro, conversando por horas a fio até que Bella caísse no sono. Era nesses momentos que eles compartilhavam os acontecimentos de quando não estavam juntos.

Mas com o passar dos anos, Caleb passou a não contar tudo o que fazia e sentia para a irmã, assim como ela.

Então, as horas que eles passavam juntos deitados na companhia um do outro começaram a reduzir, e reduzir, e reduzir até não existirem mais.

Quando pequenos, Caleb sabia o que Bella estava sentindo só de olhar para as expressões da irmã. Se precisasse fazer o mesmo naquele momento, nem saberia dizer se o sorriso que ela estampava era verdadeiro ou não.

— Bowe! — Ele ouviu gritarem assim que entrou no vestiário masculino.

O vestiário tinha as mesmas cores que o resto da escola, ou seja, roxo. Os armários de metal tinham as portas daquela cor, os bancos e as toalhas que os meninos usavam, também. Por ali sempre tinha o vapor dos banhos quentes que eles tomavam depois dos treinos e muitos corpos seminus. E como todo bom lugar que tem muitos garotos e as roupas sujas dos mesmos, aquele lugar fedia. Mas não era como se Caleb ligasse.

“Eli ligava,” ele pensou e riu. Lembrar-se de como o amigo era totalmente diferente dele era sempre engraçado. Se fosse Gibbons no seu lugar, com certeza estaria com uma cara de nojo e querendo que cada um dos garotos fizesse uma limpeza geral nos respectivos armários.

Yo, Caleb! — Greg Hamish chegou passando o braço pelo pescoço do ruivo assim que abriu a porta do armário. Hamish era um cara moreno e da mesma altura que Bowe, porém mais encorpado que o rugby e o futebol americano podiam lhe proporcionar. Por mais que o ruivo tentasse, ainda estava no lado magro da coisa.

— Fala, Greg — Caleb disse, tirando o braço do amigo de si para depois trocar o uniforme social ridículo para o do time.

— O treinador queria falar com a bonequinha dele — o menino disse e Caleb revirou os olhos enquanto o outro ria.

Okay, ele odiava quando o treinador Turner o chamava para conversar. Sempre era alguma coisa chata sobre técnicas para o time, ou que algum deles tinha feito merda e o diretor tinha ido reclamar para ele.

— Agora? — ele perguntou dando um suspiro cansado.

— Agora. — Greg cruzou os braços e deu um risinho.

Fechou o armário e foi lentamente para o escritório do treinador, que ficava no final do corredor onde os meninos se trocavam. Bowe sempre achou que ficava estrategicamente ali para que Turner pudesse olhar os meninos pelados. Aquilo lhe embrulhava o estômago.

Ele realmente não gostava do senhor Turner. Ele era um homem alto, de meia idade, com cara de quem morava com a mãe — se não a tinha matado com as próprias mãos — e cheirava igual ao vestiário. Tinha um bigode que lhe cobria parte do lábio inferior, as sobrancelhas tão cheias que quase se juntavam e o cabelo era penteado para trás com algum tipo que gel grotesco. Ele sempre estava com o mesmo uniforme de calças e blusa de frio amassados, roxos e do mesmo tecido dos uniformes que os times usavam. Além de sempre parecer que tinha algo a esconder independentemente do assunto de conversa.

— Senhor Turner? — O ruivo chamou depois de dar duas batidas na porta pintada de roxo do escritório do treinador.

— Entre. — Caleb ouviu o outro dizer.

— Greg disse que queria conversar comigo — ele falou, já dentro do escritório.

Ali era um lugar um tanto curioso. Repleto de artigos de jornais da cidade sobre como o time da Perse tinha ganhado vários jogos dos anos anteriores e era considerado o melhor da cidade. Também as fotos dos antigos treinadores pendurados atrás da única mesa do local. Mesa essa que vivia cheia de uma mistura de papéis importantes e embalagens de comida. E que também tinha aquele homem nojento sentado atrás.

— Sim — Turner respondeu enquanto jogava uma bolinha de papel no lixo. — O diretor Plum me ligou hoje. Disse que suas notas em matemática e história estão entre as piores da turma dos dois últimos bimestres.

Caleb suspirou esperando o homem terminar de falar.

— Isso significa que eu posso tirá-lo do time se as notas não melhorarem no próximo bimestre. — Turner apontou o indicador num gesto que só ele considerava ameaçador. Depois pegou um papel da mesa e formou outra bolinha. — Alguma desculpa?

— Tive alguns problemas com as últimas matérias — Bowe respondeu amargo. — Prometo melhorar minhas notas.

O treinador levantou-se da cadeira, foi até o ruivo, passou um braço pelos ombros do menino e disse:

— Espero mesmo. — O homem sorriu. Caleb sentiu-se totalmente desconfortável com aquilo. — Seria uma pena perder um dos meus melhores jogadores. E é claro, o capitão do time. Pelo menos um nove, estamos combinados?

— Claro — Bowe respondeu e fingiu um sorriso.

— Já pode ir — o outro disse, bagunçando os cabelos do menino.

Caleb saiu do escritório e fez uma cara de nojo. Toda vez que conversava com o treinador tinha a mesma ânsia.

Se pudesse, nunca mais passava perto daquele homem.

Ele saiu do vestiário para o campo de futebol. Era o único que ainda não tinha descido para o treino. Dali ele conseguia ver as líderes de torcida no campo da pista de atletismo. Um milagre elas estarem ao ar livre, mas o dia ensolarado — coisa rara em setembro — permitia. Caleb acenou para Rie quando a menina olhou para ele. Olhou para a arquibancada só para ter a certeza que Nicole estava lá sentada em qualquer sombra que ela tinha conseguido achar e também acenou para a outra amiga.

Às vezes ele queria que Bella estivesse lá junto de Rie. Por anos ela passou dizendo que iria entrar para as líderes, mas do nada deixou aquela ideia de lado e passou a lutar boxe. Caleb não perguntou o porquê e ela também não fez questão de o dizer.

Suspirou. Ele sentia falta da antiga irmã.

— Caleb! — Um dos meninos o gritou do meio do campo. — Anda logo!

— Já estou indo! — ele gritou de volta, colocando o capacete branco enquanto corria para junto do time.


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Notas finais do capítulo

Então?
Me digam o que acharam!
Até o próximo!



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