Um dia. escrita por keemi_w


Capítulo 1
Os anos antes.


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! Apresento um capítulo que traz flashbacks da vida dos meus queridos personagens antes do momento que a história realmente vai se passar. É importante para situar a todos a respeito de quem cada um é! :) espero que gostem porque amo muito esse "prólogo".



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1 DIA.

 

            Ele colocou André para dormir na cama que costumava dividir com ela. Deu um beijo em sua testa e o cobriu. Foi em direção ao berço que estava ao lado da cama e pegou a menininha que parecia muito inquieta.

            Ele não tinha ideia de como fazer aquilo. Como segurar sua filhinha sem a ajuda dela? Aquilo era impossível, a criança tão pequena exigia cuidados que ele até conhecia, mas sempre fazia isso com a mulher da sua vida ao seu lado.

            Benjamin andava em círculos com ela no colo. Lágrimas escorriam livremente pelo seu rosto. Ele não daria conta de criar dois filhos sem o amor da sua vida. Observou Annaju e só serviu para a pontada em seu peito doer mais ainda.

            A porta do quarto se abriu e Fabi entrou no quarto.

            - Shhh, vai ficar tudo bem – ela disse abraçando Benjamin pelos ombros. – Deixa eu ver essa coisinha mais linda! – Pegou Annaju no colo e beijou sua bochecha. – Você pode não ter conhecido sua mamãe, mas foi muito amada por ela, viu? E será muito amada por mim também.

            Benjamin continuou em silêncio apenas se lembrando do dia que ela chamou Fabi para ser a madrinha de André, e logo depois de Annaju. Fabi amou as duas crianças desde o nascimento.

            A loira suspirou tentando ser forte. Aquilo tinha acontecido ontem, mas parecia que fazia apenas questão de segundos.

            Annaju pegou no sono.

6 MESES.

            Ele ainda não estava acostumado a trocar fralda sozinho. Normalmente com André, Benjamin sempre estava acompanhado dela.

            O homem observou aquela criança tão delicada e inocente na sua frente e sentiu um nó se formando em sua garganta. Ele nunca iria dar conta de criar aquelas duas crianças sem a ajuda dela.

            Benjamin sentiu seu coração se acelerar e suas mãos suarem. Ele estava tendo uma crise de ansiedade diante de uma simples troca de fralda. Apoiou-se na estante ao lado sem tirar os olhos de Annaju, pois ela poderia facilmente rolar pela cama e se acidentar. Ele não ia suportar que nada de ruim acontecesse com seus filhos.

            Passou a mão pelo peito e foi se acalmando sozinho, pedindo forças para Deus e o mundo para continuar. Ele precisava continuar.

            Pegou o lencinho e limpou sua filha enquanto chorava livremente se lembrando dela.

1 ANO.

            — Ela nunca vai conseguir brincar comigo! – André resmungou emburrado.

            - Ela ainda é muito pequena, Dedé – Fabi explicou.

            Benjamin esboçou um sorriso ao ver aquela cena. André estava bem incomodado porque a diferença de seis anos entre eles parecia uma eternidade.

            Annaju andava meio cambaleante pela sala repleta de brinquedos e era observada pelos três. Seu cabelo castanho já tinha crescido um pouco, mas continuava ralo. E seu nariz se parecia cada vez mais com o nariz de sua mãe.

            - Como vocês conseguiram fazer filhos tão lindos? – Fabi perguntou para Benjamin bem baixinho.

            Ele riu pelo nariz e reprimiu um suspiro triste.

            - A genética dela era muito boa.

            Fabi concordou.

            - Ben, eu deixei a mamadeira da Anninha pronta. O seu almoço e do Dedé também estão no forno. Agora eu preciso ir. Você precisa de alguma coisa? Qualquer coisa?

            O homem sorriu pelos cuidados de Fabi.

            - Não. Pode ir, muito obrigado! Só não vai se meter em encrenca, moça. Você tem dois afilhados que precisam de você! – ele brincou em tom de bronca.

            - Quando foi que eu me meti em encrenca, Benjamin?

            - Quer que eu liste? – ele retrucou. – Agora vai, menina! Até amanhã!

            A loira riu e se despediu dele.

            Benjamin ficou a sós com suas duas preciosidades.

2 ANOS.

            - Ei, princesa! – Benjamin segurou sua filhinha e a rodopiou assim que chegou de seu trabalho. – Brincou bastante? – ela assentiu rindo.

            - A Anninha é uma princesa mesmo, Ben! Se eu conto para as pessoas que uma criança da idade dela não dá o menor trabalho, ninguém acredita! – Fabi riu aparecendo na sala com um avental e luvas. Deveria ter feito comidas deliciosas.

            - Ei, ninguém vai falar que eu fiz meu dever de casa com perfeição? A tia Fabi não encontrou nenhum “i” sem seu pingo! – André se gabou mostrando seu caderno para o pai. – Para a Anninha é fácil ser obediente!

            Benjamin riu com gosto e colocou Annaju no chão, indo se sentar com André para ele explicar o dever que tinha acabado de fazer.

            - Quero que você me conte tudo sobre essa aula de ciências.

            Os dois começaram a conversar animadamente quando Annaju correu para os braços de Fabi e disse baixo, mas o suficiente para todos escutarem:

            - “Ma-mãe, eu télu ága”!

            Fabi arregalou os olhos sem saber o que dizer ou fazer.

            Benjamin fechou os olhos se sentindo de mãos atadas.

            - Ela não é a mamãe, Anninha – André explicou indo até ela. – Ela é a melhor amiga da mamãe que veio ajudar a gente.

            Um silêncio sepulcral pairou sob o ambiente.

5 ANOS.

            Aos 5 anos vieram mais responsabilidades. Mais dúvidas que precisavam de respostas. E apesar de já se terem passado 5 anos, o coração de Benjamin ainda não tinha cicatrizado.

            - Como foi na escola, meu amor?

            - Vai ter dia das mães na escolinha, papai – Annaju comentou. Seu pai empalideceu. – Eu quero que a tia Fabi vá.

            Benjamin não sabia direito o que responder. Ele não queria forçar o papel de “mãe” para Fabi e também não queria que Annaju a visse como mãe, já que ela não tinha essa responsabilidade. A Fabi era uma pessoa muito boa que os ajudava em tudo desde sempre, além de ser parte essencial da família e por isso não queria acidentes de percurso.

            - Eu posso ir à sua apresentação.

            - Eu quero ela.

            Ele se sentou no sofá e já ia começar uma explicação que nem ele sabia qual seria quando Fabi abriu a porta de casa e Annaju correu para seus braços.

            - Você quer ir à apresentação de Dia das Mães da escola? – a menina foi muito mais rápida que seu pai.

            Fabi arregalou os olhos, muito surpresa pelo convite vindo da pequena, e se emocionou.

            - Você quer que eu vá?

            - Muito muito!

            - Oba! Vou colocar meu melhor vestido! – ela sorriu, mas lágrimas discretas caíam de seu rosto. – Agora vai já pro banho que você está toda suada, menininha!

            Annaju desceu do colo de Fabi e deu uns gritinhos enquanto corria para o banho.

            - Você poderia ter me consultado antes – Benjamin falou.

            - O que que tem demais?

            - Ela pode criar algo que não existe na cabeça dela, Fabi. Esse é o problema. Ela pode criar a imagem de mãe em você e você não é a mãe nem tem as responsabilidades de ser uma!

            - Você acha que eu sou uma adolescente brincando com os sentimentos e com a cabeça da sua filha?

            Fabi fuzilava Benjamin pelo olhar.

            - Não foi isso que eu quis dizer.

            - Foi isso sim! – ela exclamou. – Pois saiba que se eu sempre tratei seus filhos com o máximo de responsabilidade afetiva e nunca cobrei que nenhum deles me visse como mãe porque eu bem sei que não sou, Benjamin. A Clarinha era a melhor mãe do mundo e eu nunca tomaria o lugar dela! Nem em um bilhão de anos! Mas sua filha de cinco anos quer uma presença feminina na apresentação já que o pátio vai estar cercado de mães! É só isso que ela quer. E eu vou dar isso a ela, sabe por quê? Porque é o mínimo que eu posso fazer por essa garotinha!

            Benjamin se sentou no sofá tampando o rosto com as mãos.

            - Desculpa, não foi nada disso que eu quis dizer. Eu só queria que você soubesse que você não tem a obrigação de cuidar deles...

            - Como não? Ela confiou em mim como madrinha, eu amei os seus filhos com todo meu coração. Como que eu simplesmente ia virar as costas para esta casa e ir embora? Se liga, Benjamin! Você não foi o único que sofreu.

            E dizendo isso pegou sua bolsa e foi em direção a porta já com mais lágrimas nos olhos. Benjamin a seguiu atrapalhado e sem saber o que dizer.

            - Desculpa, tá? – ele pediu. – Desculpa. Só isso! Eu não sei lidar com algumas situações. Já você sabe lidar com todas elas... Desculpa, fica para o jantar.

            Ela se virou para o seu amigo desconcertada.

            - E-eu não sei...

            Fabi então ouviu os gritos de André e de Annaju vindo de dentro da casa, parecia que os dois estavam brigando entre si.

            - Nós precisamos de você, Fabi. Desculpa, você tem todo o direito de ir para a apresentação da Anninha... – ele segurou sua mão com firmeza e olhou profundamente em seus olhos. – Por favor.

            A loira suspirou e abraçou seu amigo.

            - Tá bom, está tudo bem.

8 ANOS.

            Era sábado à noite. Annaju dormia em sua casa feito um anjo, a semana na escola tinha sido exaustiva. Já André tinha saído com alguns amigos e dormiria na casa de um deles. Fabi e Ben desconfiavam de que ele estaria apaixonado pela irmã desse amigo e por isso fez tanta questão em ir e não passar o sábado com eles.

            Já Fabi assistia a um filme deitada no sofá. Aquela casa tinha se tornado sua também. Benjamin e ela tinham um modo próprio de se organizar e estava dando muito certo. Aquilo a deixava feliz, apesar de saber que nutria um sentimento maior pelo homem.

            - Você está bem? – ela perguntou ao ver um Benjamin meio nervoso descendo as escadas.

            - Estou sim – ele olhou para ela de uma maneira esquisita e logo desviou.

            - Não parece – ela se levantou e foi até ele.

            Benjamin respirava de maneira acelerada e sôfrega. Fabi ficou preocupada.

            - Calma, Ben, é só sua ansiedade – ela disse guiando-o até o sofá. – O que houve que te deixou assim?

            - Aniversário de casamento – ele respondeu em um sussurro e a mulher entendeu tudo.

            Benjamin tinha desenvolvido ataques de ansiedade após a morte de sua esposa, apesar de agora estar mais controlado, ainda sim vez ou outra havia crises. Isso dilacerava o coração da loira, mas ela precisava ser forte por ele. Era tudo que ela precisava ser.

            - Presta atenção única e exclusivamente na minha respiração e repita – ela falou suavemente e começou a controlar a inspiração e expiração.

            Benjamin a seguiu e demorou um pouco para conseguir se concentrar somente em respirar, parecia muito mais difícil do que realmente era. Apenas uma data conseguiu fazer com que se desestabilizasse completamente. Muitas lembranças inundaram sua mente, assim como o sentimento de incredulidade de saber que de uma hora para outra sua esposa (e grande amor da sua vida) se fora.

Assim que a hiperventilação passou, ele analisou a mulher na sua frente que estava fazendo de tudo para ajuda-lo. Até mesmo aquilo que não estava em seu alcance, Fabi tentava. Ela era maravilhosa, tão linda. Em um ímpeto desgovernado e não calculado, ele selou seus lábios com o dela fazendo com que a loira se surpreendesse pelo gesto repentino. Da mesma maneira que o selou, entendendo o que tinha acabado de fazer, se separou.

            - Meu Deus – ele disse baixinho. – Desculpa, Fabi. Me desculpa, eu não deveria... Eu não estava pensando racionalmente...

            Fabi ainda sentia os lábios de Ben sob os seus.

            - Relaxa, Ben – ela tentou tranquiliza-lo, mas também precisava que seu coração parasse de tamborilar dentro do seu peito.

            - Nossa, eu estraguei tudo! – ele exclamou. – Eu nem pensei! Você é a Fabi, eu nunca deveria ter feito isso com você, me desculpa!

            Fabi já estava se assustando por ele pedir tantas desculpas. Ele não queria tê-la beijado? Ela não era atraente? Desejável?

            - Ben...

            - No meu aniversário de casamento eu faço uma coisa dessas – ele acumulou lágrimas no olhar. – Eu sou ridículo, espero que você me desculpe.

            A culpa lhe caiu aos ombros e Fabi sentiu vontade de chorar.

            - Esqueça que isso aconteceu, Benjamin. Fique tranquilo, não significou nada.

10 ANOS.

            - O QUÊ? – Benjamin gritou ao telefone. – ELA O QUÊ? ONDE? FALA LOGO!

            Fabi saiu correndo do quarto de André e desceu as escadas.

            - O QUE ACONTECEU, BEN?

            Ele anotou umas coisas no seu bloquinho e desligou o telefone depressa.

            - Que gritaria é essa? – André perguntou logo atrás da Fabi.

            - A Anna abriu a testa na Educação Física.

            Fabi suspirou aliviada.

            - Que susto! Você não pode simplesmente sair gritando igual um louco desse jeito, homem! Pensei que algo grave tinha acontecido!

            - SE ABRIR A TESTA NÃO É ALGO GRAVE ENTÃO EU NÃO SEI O QUE É.

            - Calma, pai. Acontece.

            Benjamin decidiu não dar ouvidos à Fabi e ao André, pegou as chaves do carro e disse que se quisessem ir era para correr. Os dois seguiram-no e foram até a área hospitalar do colégio onde Annaju estudava.

            Parecia uma eternidade até que a diretora liberasse a entrada da família no Colégio e conseguissem finalmente chegar até a área hospitalar.

            Quando abriram a porta, lá estava Annaju cercada de colegas, rindo enquanto o enfermeiro dava pontos em sua testa.

            - Menina, desse jeito você vai ficar com uma cicatriz em formato de onda. Se acalma.

            - ANNA! COMO FOI QUE ISSO ACONTECEU? – Benjamin gritou assim que a avistou. O enfermeiro teve até que se distanciar um pouco para o homem se aproximar.

            - Ah, papai... Coisa de jogo! – ela deu de ombros.

            Fabi e André reprimiram um riso.

            - Quem foi que te empurrou?

            - Ninguém... Eu só bati a cabeça na grade de arame da arquibancada quando fui tentar pegar a bola. Mas tinha um arame para fora e fez um cortezinho.

            - Ela salvou a bola pelo menos – um menino disse.

            - Salvou nosso jogo, Anna! – outra menina exclamou.

            O enfermeiro então veio até eles e disse naturalmente:

            - Eu desinfeccionei o local e estou dando três pontinhos na testa dela.

            - Ben, vai lá pra fora se acalmar um pouco e eu fico aqui com ela. Toma uma água, sei lá... Está tudo sob controle.

            Ele fez o que ela disse e saiu juntamente com André. Fabi se aproximou da maca e brincou:

            - Você vai poder criar histórias hilárias para essa cicatriz, sabia? – Annaju sacudiu a cabeça negativamente. – Por exemplo, quando te perguntarem o motivo dessa cicatriz, você pode dizer que lutou bravamente num navio pirata e venceu só com um arranhão na testa.

            A sala toda caiu na gargalhada.

            - Vocês viram agora o porquê de eu amar a tia Fabi? – Annaju disse rindo para os colegas.

            Fabi riu juntamente, mas com aquela frase quis chorar de emoção por Annaju assumir que fala dela para os colegas. Aquele foi um momento muito especial.

13 ANOS.

            - ANDRÉ, CHAMA A TIA FABI! – Annaju gritou do banheiro.

            - Que foi, pirralha? – ele perguntou do outro lado da porta.

            - CHAMA A TIA FABI, CABEÇÃO!

            - Ela tá ocupada. Que foi? Quer papel higiênico?

            - NÃO! FAZ ELA VIR ATÉ AQUI! EU QUERO A TIA FABI! – Annaju começou a chorar. – VAI!

            André estranhou a menina estar chorando dentro do banheiro e decidiu chamar Fabi que estava preparando o jantar para eles.

            - Fabi, eu acho que a Anna está precisando de você.

            - O que foi? – Ela e Benjamin perguntaram ao mesmo tempo.

            - Não sei.

            Fabi subiu as escadas até o quarto que André e Annaju dividiam.

            - Filha, o que houve? – Benjamin perguntou.

            - EU JÁ DISSE QUE EU QUERO A TIA FABI!

            Fabi fez sinal para Benjamin que ela estava de mãos atadas. Ela entrou no banheiro e fechou a porta. Quando viu aquela cena, gritou:

            - ASSUNTO DE MENINAS! NÃO OUÇAM ATRÁS DE PORTA!

            Fabi foi até Annaju que estava sentada no chão chorando.

            - O que foi, meu amor? – Annaju continuou chorando. – Aconteceu? Aconteceu aquilo que eu conversei com você?

            - E-eu acho que sim.

            Fabi se sentou ao lado de Annaju e começou a contar para ela sobre a sua primeira menstruação que foi em uma apresentação de Natal da escola e no dia ela usava uma calça branca. Isso arrancou um riso de Anna. A mulher então contou o que ela deveria fazer, quais os cuidados deveria ter, o que era normal acontecer durante esses dias entre outras coisas. Annaju ouvia tudo com atenção.

            - Agora, vai tomar um banho que eu te trago um absorvente super da hora que não vai fazer com que você se suje, tá?

            - Obrigada, Fabi! – Annaju abraçou a mulher com força. – Eu te amo muito! Obrigada por tudo.

            Fabi sentiu seu coração cheinho de amor.

            - Eu te amo muito muito mais!

            A loira saiu do banheiro para se deparar com Benjamin e André com olhares inquisidores para ela.

            - Ela teve sua primeira menstruação – Fabi disse em um tom de voz baixo. – Então vocês tratem de ser muito legais com ela! Ela está assustada e sangrando pela primeira vez! Nada de placas de “Parabéns” ou fogos. Só sejam legais, seus panacas.

            André gargalhou.

            - Sério? Foi isso?

            - Eu vou entrar em colapso... – Benjamin disse assustado e pondo a mão no coração. – Isso não pode estar acontecendo.

            - Iiiih... Que foi?

            - Ela está crescendo – Benjamin ficou pálido. – Eu não sei lidar com isso sozinho. A Clara saberia o que falar, eu não sei o que falar... Eu não estou preparado!

            André colocou a mão no ombro do pai e disse:

            - É por isso que a mamãe deixou a Fabi com a gente, né?

13 ANOS.

            - Alguém está em casa? – Fabi perguntou abrindo a porta da frente. – Trouxe uma companhia que está meio doentinha e não pode ficar em casa sozinha.

            Annaju apareceu com os olhos um pouco vermelhos por detrás do sofá. Assim que viu a tal da companhia que Fabi mencionara, sua expressão mudou.

            - Ah, meu Deus! Que coisa mais linda, Fabi! Eu quero um dálmata para mim! – a menina correu até o cachorrinho que abanava o rabo animado com sua presença.

            O coração de Fabi ficou menorzinho assim que percebeu que Annaju deveria estar chorando.

            - Meu amor, o que aconteceu? – ela perguntou preocupada.

            A menina sacudiu a cabeça.

            - Só estou muito feliz de ter um cachorrinho aqui. Qual o nome?

            A mulher loira suspirou.

            - Dominique. É o Dom. Thiago e eu o encontramos na rua, mas não parecia maltratado nem nada do tipo. Deve ter fugido do dono. Porém, já faz uma semana e ninguém nos contatou. Depois disso percebemos que estava meio doentinho. Mas é muito estranho porque é um dálmata e ninguém simplesmente perde um e nem vai atrás.

            Annaju assentiu.

            - Bom, agora ele está em ótimas mãos. Não é mesmo, Dom?

            Fabi pegou a mão da menina e a levou até o sofá para olhá-la diretamente enquanto conversavam.

            - O que houve, princesa? – A loira perguntou novamente. – Você sabe que eu estou aqui por você, conta comigo, vai...

            Os olhos de jabuticaba de Annaju se levantaram e se encontraram com os da mulher que mais amava no mundo.

            - Eu estou gostando do Andrei – ela contou. – Ele é muito inteligente, bonito, legal, engraçado e todos aqueles “mimimis” que fazem você se apaixonar por alguém.

            - Mas...

            - Pois é, sempre tem um “mas”. Mas ele me tratou muito mal.

            Fabi arqueou as sobrancelhas. Seja lá o que aquele garoto tiver feito, ele ia se ver com ela.

            - O que que ele fez exatamente?

            - Eu fui chama-lo para tomar sorvete lá no Miranda depois da aula, eu sempre faço isso com meus amigos, inclusive já é quase uma tradição minha e do Juca. Eu juro que não tinha a intenção de dar em cima dele, nem nada. Só queria mesmo sua companhia, apesar de estar meio que apaixonada. E daí ele simplesmente riu e disse que ele nunca me beijaria.

            Fabi ficou em choque com aquela declaração. Annaju era uma garota lindíssima. Apesar de estar naquela fase da adolescência em que todo mundo passa um período de transformações, a menina tinha cabelos lindos e ondulados até quase a cintura, tinha olhos lindos, grandes e pretos com cílios volumosos, um nariz arrebitadinho que herdara de sua mãe... Como algum menino daquela idade poderia rejeitá-la daquela maneira? O ser humano deveria ser estudado urgentemente.

            - Minha querida, esse garoto, e vamos acrescentar que ele é um idiota, provou por A mais B que não merece nenhum pouquinho o seu amor. E, além do mais, não merece suas lágrimas. Sei que é difícil passar por isso, mas olha para você! Você é incrível, maravilhosa. Qualquer pessoa que te para na rua te elogia por que você é estonteante! Esse Andrei pode ser bonito, mas olha que caráter horrível que ele tem ao falar assim com uma menina. Anna, você merece muito muito muito mais. Eu não te quero chorando por conta dele, viu? Chore pela fome no mundo, pelos cachorrinhos abandonados e maltratados, pelas guerras mundiais, por ter quebrado sua unha no dia da sua festa de aniversário... Mas de hoje em diante você está proibidíssima, com direito a castigo, se chorar novamente por causa desse idiota!

            A menina gargalhou com vontade e sentiu seu coração estar mais quentinho após aquela conversa.

            - Obrigada, Fabi.

            - E se ele te incomodar de novo, dê um chute no meio de suas pernas, tá?

            - Acho que não posso fazer isso...

            - Pode sim! Eu te autorizo.

            Annaju riu mais ainda e pegou Dom no colo.

            - Obrigada, Fabi – ela abaixou os olhos. – Obrigada, eu não me imaginaria tendo essa conversa com meu pai. – Annaju acariciou o pelo do cachorro em seu colo. – Você é minha melhor amiga.

            Fabi sorriu e disfarçou as lágrimas que queriam cair de seus olhos.

15 ANOS.

            - VOCÊ PEDIU PARA ELA ESCOLHER E ELA ESCOLHEU! – Fabi gritou irritada. – DA PRÓXIMA VEZ QUE VOCÊ NÃO QUISER QUE ELA ESCOLHA ALGO, NÃO OFEREÇA!

            - Era para ela ter escolhido a festa, logicamente! Todos os jovens querem festa de 15 anos.

            Fabi revirou os olhos.

            - Todos os jovens estão indo para a Disney aos quinze anos. Eles estão preferindo viagem à festa. E eu apoio, acho que ela deveria sim ir à Disney, eu não tive essa oportunidade e se pudesse iria com certeza.

            Benjamin pensou por uns instantes.

            - Eu vou fazer uma viagem de família à Disney! Prepare as malas, Fabi, porque nas próximas férias estaremos na terra do Mickey! – ele comemorou. A loira arregalou os olhos. – Vou falar para o André não pegar nenhum exame na faculdade e você nem pense em marcar nada para julho!

            - Eu não posso ir junto, Benjamin.

            - Por quê?

            - Porque eu tenho a clínica veterinária... E porque não tenho dinheiro o suficiente para uma viagem para a Disney, é muito cara e fora da minha realidade.

            - Você vai com a gente, Fabi, eu falo com o Thiago a respeito da clínica e ele com certeza tem como te cobrir por um pouco mais de uma semana – Ben segurou as mãos da loira com afeto e a olhou nos olhos. – E outra, foram 15 anos seus dedicados a nós. Não precisará pagar nada, pois quem sempre estará em dívida com você será eu.

            Ela se desvencilhou das mãos do homem e cruzou os braços.

            - Eu nunca vou poder aceitar isso!

            - Fique quieta, você sempre foi da família. Sem contar que a Annaju me mata se eu não levar a melhor amiga dela...

            Fabi sorriu e olhou para baixo envergonhada.


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Notas finais do capítulo

E é isso, gente! A trama começa a partir dessa última lembrança! ♥ por favor comentem e acompanhem a história. Beijossss! ♥



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