Anistia de Natal escrita por Machene


Capítulo 2
Cap. 2




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Cap. 2

 

Na gloriosa Terra dos Contos, é a manhã da véspera de Natal, e do lado de fora do palácio da família real, os quatro prisioneiros da cela 13, do prédio 13 de Nanba, olham para todos os lados do jardim, sem saber o que fazer. Uno levanta um mapa em suas mãos, entregue pelos próprios rei e rainha cisnes, e observa suas rotas por ângulos diferentes.

— Eu não faço a menor ideia do que está escrito aqui. Como vamos chegar até o local que marca o “X” no mapa se não sabemos como andar neste lugar?

— Nós devíamos era estar preocupados em como vamos voltar para Nanba. – Rock relembra – Devíamos voltar por onde viemos e procurar aquela caverna. Se é que nós não estamos mais na prisão. Pode ser que, na verdade, ainda estejamos dentro do complexo, no meio de um evento maluco planejado pelos guardas. Vai saber; Nanba é enorme!

— Mas se estamos mesmo sonhando, talvez a gente não consiga acordar sem antes ajudar as garotas a serem humanas de novo. – Nico rebate, vindo mais atrás dos amigos e sendo seguido por quatro cisnes fêmeas.

— Como fez para elas te seguirem? – Jyugo pergunta, vendo-o erguer uma caixa de palitos doces na mão direita – Chocolate?

— Parece que elas gostam. – o rapaz ri quando a princesa alada tenta escala-lo para comer uma guloseima – Estava na bolsa da secretária do Papai Noel.

— Ah, com certeza aqueles cisnes só querem que a gente vá até esse lugar por causa dessas mulheres! Não deve ter nada lá para nos tirar desta roubada!

— Mas Rock, ouviu aquela princesa dizer que só a fada pode nos mandar para casa. Se elas deixarem de serem cisnes, vão nos ajudar em agradecimento. – o inglês explica, logo sorrindo com malícia – E talvez deem uns agrados a mais.

— Se não conseguimos acordar por conta própria, mesmo sendo nosso sonho, duvido que você consiga o que está pretendendo com alguma delas.

— Não seja estraga-prazeres, Jyugo! Tudo bem, agora, como se lê este mapa?

— Talvez tenha alguém que possa nos levar até lá. – sugere o americano mais magro – Que tal pedirmos carona no trenó daquele elfo ali? – ele aponta para o portão.

Na entrada, uma bela criatura com orelhas pontudas e roupa natalina conversa com os guardas quebra-nozes, pedindo algo. O grupo não pode ver o seu rosto, então se dirige para fora, e logo todos têm uma grande surpresa.

— SEITAROU? – os presidiários falam ao mesmo tempo.

— Sim? – responde o belo homem – Como sabem o meu nome? Ah, Uno! Era aqui que você estava esse tempo todo? Sabia que a senhorita Victória está louca te procurando?

— Sabia. – a rena loira dá um meio sorriso – Já nos esbarramos.

— Oh sim, altezas! – Seitarou se curva em cumprimento – É um prazer conhece-los. Eu sou um dos ajudantes do Papai Noel, Seitarou. Fiquei sabendo que estavam no palácio.

— Certo, certo... O que você está fazendo aqui? – o prisioneiro 69 questiona – Você é um elfo? Embora seja estranho, essa roupa combina contigo.

— Sou um duende. É que nasci com gigantismo. – ele faz uma pausa – Preciso falar com a princesa Usagi, para pegar os presentes de Natal que ela vai doar às crianças.

— Ah, devem ser aqueles que estavam dentro do ovo gigante! – Nico menciona – Só que você vai ter que falar com os pais dela, porque a princesa não vai entender.

— E por que não? – o duende finalmente repara nos cisnes perto dele, arensando.

— Porque ela virou um cisne. – o preso 25 segue – E sua prima, a fada e a secretária.

— E esta é a conversa mais estranha que eu já ouvi na vida. – Rock balança os braços.

— Oh não, que coisa terrível! – o guarda do prédio 13 lamenta, bem como os quebra-nozes surpresos – Isso, eu aposto, foi coisa daquele malvado mago Musashi!

— Foi ele mesmo! – Jyugo confirma – Chegou voando, literalmente, e transformou todas em aves quando deixou várias penas caírem. Como sabe?

— Bem, há muito tempo ele quer casar suas filhas com Vossas Altezas, mas nunca teve a oportunidade de entrar no seu reino. Agora que estavam visitando a família real da Terra dos Contos, ele deve ter transformado a princesa e as outras em cisnes para evitar que tenham ajuda e saiam daqui antes de concretizar seus planos.

— Como é? – Uno faz uma careta – Que história mais louca é esta? O que nos deram para comer antes de apagarmos ontem, heim?

— Do que está falando? – Seitarou ergue uma sobrancelha.

— Ah, esquece! Olha, nos deram um mapa para trazer elas de volta ao normal, mas não sabemos o que, ou quem, devemos procurar, nem como chegar lá. Pode ajudar?

— Deixe-me ver. – o duende segura o mapa e dá uma olhada na direção indicada – Ah, eu conheço este lugar! É a casa do senhor Hajime!

— Do Hajime? – o príncipe japonês repete – Então ele também está aqui?

— É claro. O príncipe conhece ele? Bem, suponho que sim. O senhor Hajime vive nestas terras há muitos anos, mas sua rabugice deve ser conhecida por todos os reinos. – o guarda do prédio 13 dá uma risada, até de repente fazer uma expressão chorosa – Ai, por favor, não digam para ele que eu disse isso!

— Tudo bem, mas você vai ter que nos ajudar a chegar lá. – Rock negocia.

— Querem ir à casa dele? A Montanha Nevada é o território da rainha da neve, e ela não deixa ninguém entrar naquele lugar excerto o senhor Hajime e seu cãozinho.

— Pensei que o Hajime tivesse um gato. – o prisioneiro 15 ergue uma sobrancelha.

— Seja o que for, tem um jeito de transforma-las de volta? – a rena inglesa insiste.

— Acho que sim. O senhor Hajime é o guardião do Livro de Previsões da Floresta. Tudo que foi escrito, ou será escrito, na história da Terra dos Contos está nele. Talvez o livro possa mostrar como quebrar a maldição das senhoritas.

— Ótimo! Se quebrarmos a maldição, elas nos mandam para casa! – Jyugo celebra – Vamos logo Seitarou! Nos dê uma carona no seu trenó! – ele aponta para o veículo atrás do duende, que rapidamente se desespera.

— O quê? Não! Ele não é meu, é do Papai Noel! Eu só tomei emprestado para pegar os presentes da doação. Não posso viajar com ele; eu nem mesmo trouxe as renas!

— Falando nisto, como você dirigiu esse negócio sozinho? – indaga o quebra-nozes americano – Não me diga que esse trenó é motorizado. – os presidiários riem.

— Não entendi, porém, na verdade, ele pode sim voar sozinho. – Seitarou confirma, fazendo os demais pararem – Com pó mágico, é claro. As renas não precisam mais puxar o trenó, mas isso virou uma tradição de Natal, então mantemos por causa das crianças.

— Quer dizer que esse tempo todo eu fiquei preocupado por nada? – Uno bufa – Ah, já cansei! Vamos logo subir essa montanha e terminar com isto!

Dito isto, os prisioneiros logo puxam o guarda do prédio 13 na direção do trenó, e os cisnes também entram nele com o incentivo dos palitos de chocolate. Após o ajudante do Papai Noel receber os presentes doados pela família real, buscados e entregues pelos quebra-nozes, ele aperta um botão no veículo que solta um pó colorido ao redor, fazendo o transporte voar. Em pouco tempo, rumando para o norte, o grupo chega ao seu destino.

— Até que enfim, terra firme! – o preso 11 suspira, colocando uma pata para fora do trenó que flutua perto da beira de um penhasco, quando de repente as pedras quebram e caem, fazendo-o se encolher dentro do veículo de novo – Só que não!

— Seitarou, não tem como você estacionar isto? – o impaciente Rock questiona.

— Eu tenho que voltar e entregar os presentes que faltam. Sinto muito, mas a partir deste ponto, vocês estão por conta própria.

— Fazer o quê. Vamos logo! – o japonês dá de ombros e pisa no solo gélido.

Depois que ele sai sem o menor problema, é seguido pelos cisnes e o estadunidense de cabelo verde. Todavia, na vez dos outros, a rena tropeça em seus cascos, indo de cara na neve, e o quebra-nozes distraído cai por cima dela. Seus amigos não demoram a rir.

— Que droga! É muito difícil andar deste jeito! – o inglês reclama, balançando seus chifres – Rock, saia de cima de mim! Você pesa mais do que o normal!

— E quem mandou você tropeçar nas próprias pernas, rena idiota?!

— Ei pessoal, escutem: – Seitarou os chama seriamente – O senhor Hajime odeia o Natal, então ele vai evitar ajuda-los a todo o custo. Portanto, não sejam grosseiros.

— Não nos diga o que fazer, duende superdesenvolvido! – Uno sacode seus galhos na direção dele, acertando-o com um punhado de cristais de gelo.

— Não se esforce para parecer sério! – o presidiário 69 chuta outra porção de neve, e logo todos estão jogando bolas na cabeça do guarda.

— Você é tão irritante, bonitinho! – eles dizem dentre outras gozações.

— Vocês... VOCÊS SÃO TÃO HORRÍVEIS! EU NÃO TENHO CULPA DE SER BONITO! – o duende se vai chorando aos berros.

— Ah, senti falta disso. – Jyugo toma fôlego – Quase parece que estamos em casa.

— Excerto pelo fato de que estamos no topo de um precipício, em um lugar bastante estranho. – Rock suspira, e logo todos se viram para a porta de madeira entre duas rochas.

— Será que Hajime vai nos deixar entrar? – Nico indaga – Devíamos bater?

— Claro que não! – o príncipe japonês se aproxima da maçaneta – Só me deem um segundo. – e mal ele termina, a porta é rapidamente aberta – Pronto. Vamos!

Devagar, o quarteto de prisioneiros e o dos cisnes adentram o local, subindo a longa escadaria que dá acesso à sala da casa. Assim que ouve os passos dos intrusos, o cão de guarda do morador corre para se colocar entre eles e a próxima escada no corredor.

— Alto intrusos! Saiam agora da casa do meu mestre!

— Kenshirou? – os invasores masculinos dizem juntos, rindo em seguida.

— Você é o cachorro do Hajime?! – o americano mais velho aponta para o homem com orelhas de cão, fazendo uma expressão provocadora.

— Eu não pensei que fosse viver para ver este dia! – o preso 15 segura a barriga.

— Ei, ei, será que o Hajime é um gorila então? – Uno sugere entre gargalhadas.

— Sim, como o supervisor Samon sempre chamava ele! – lembra o presidiário 25.

— O que está acontecendo aí embaixo, Kenshirou? – a voz grossa do seu supervisor faz os residentes da cela 13 silenciarem de imediato.

O som de passos e uma sombra tremulante indicam que alguém está descendo os degraus lentamente. A tensão, e alguma curiosidade, consomem os rapazes, até aparecer um Hajime versão verde e completamente peluda. Aí eles começam a rir outra vez.

— HAJIME É O GRINCH! – Rock grita, agora apontando para o outro morador.

— QUE COISA MAIS RIDÍCULA! EU VOU MIJAR!

— NÃO UNO! VOCÊ NÃO ESTÁ USANDO CALÇAS! – Jyugo alerta enquanto se acaba de rir, apoiando-se no loiro conforme Nico se segura nele para não cair.

— QUEM É ESSE BANDO DE IMBECIS? – Hajime berra para Kenshirou.

— Não sei mestre. Eles invadiram a casa. Mas acho que essa rena é do Papai Noel, e o quebra-nozes só pode ter vindo do palácio.

— Muito bem, o que vocês querem na minha casa? Não viram os avisos na entrada?

— Aqueles de “cai fora”, “fim da trilha” e etc.? – o jovem de olhos bicolores pergunta – Pisamos nessas placas para limpar os pés.

— Hajime, precisamos de um livro que você guarda aqui, na sua casa. – esclarece o estadunidense de cabelo verde – O Musashi transformou a princesa e suas amigas nesses cisnes. – ele mostra as aves brancas se espalhando pelo cômodo.

— Ei, controlem esses bichos! Não quero sujeira na minha casa!

— Você ouviu o que o Nico acabou de dizer? – o inglês pergunta – Entrega logo o livro! Sabemos que está com você, o tal “Livro”... Alguma coisa “da floresta”.

— Que ousadia invadirem a casa do mestre para exigir que ele entregue seu bem mais valioso! Saiam agora mesmo, e levem esses bichos com vocês! – a revolta de Kenshirou termina aborrecendo os cisnes, que vão bicar o cachorro até seu dono afugentar as moças.

— Então era essa a intenção de vocês? – o supervisor do prédio 13 acaricia a cabeça do tristonho parceiro – Vir nos chantagear com essas aves, se é que são mulheres mesmo!

— Ah... – o prisioneiro 69 troca um olhar com os amigos e todos fazem um acordo mudo – É, isso mesmo! Parece que você percebeu, então passa logo o livro!

— Como são irritantes!... Eu não cedo tão fácil! – Hajime se interrompe ao ouvir um choramingado de Kenshirou, que tem sua cauda mordida por um dos cisnes – Droga...! Está bem, está bem! Eu vou buscar o maldito livro, então tirem esses bichos de perto do Kenshirou, criaturas abusadas! – ele diz, subindo novamente a escadaria do corredor.

— Olha só quem fala. – Uno torce o nariz, e quando finalmente o supervisor retorna, traz consigo um grosso livro verde e empoeirado.

— Pronto. – ele assopra a capa, fazendo alguns espirrarem, e vira algumas páginas – Disseram que esses cisnes são, na verdade, a princesa deste reino e suas amigas? – o grupo de jovens acena em confirmação, fazendo-o passar mais algumas folhas – Ah, aqui está. Pelo visto, isso realmente aconteceu. A data bate, e a sequência de acontecimentos...

— Dá para saber isso tudo mesmo? – Nico tenta espiar o conteúdo.

— É claro! – é o cão, supervisor do prédio 4, quem responde desta vez – Esse livro é mágico, e contém toda a história da Terra dos Contos; passado, presente ou futuro.

— Certo, e aí diz como fazemos para as garotas voltarem ao normal?

— Eu vou verificar; não me apresse, Vossa Chateza! – enquanto Hajime busca uma resposta, os demais riem do novo apelido de Jyugo – Achei! É simples: vocês só precisam pedir à rainha da neve para transforma-las ao que eram antes.

— Quer dizer, a dona da montanha? – Rock faz uma careta.

— Sim. – o supervisor do quarteto sorri diabolicamente, fechando o livro – Não deve ser problema para vocês, excerto que... Oh, que cabeça a minha! Vocês invadiram este lugar, e a minha casa! Então, boa sorte. – ele ri ao lado de Kenshirou.

— Não mesmo! Você vai com a gente! – Uno exige – Nós sabemos que essa rainha gosta de você, por algum motivo, portanto precisamos que peça para ela desfazer a...

— Nem pensar! Aquela mulher é assustadora! Ela nem é uma rainha de verdade, mas por morar sozinha em uma montanha e ser muito brava, todos começaram a chama-la de “rainha da neve”. – os presidiários se entreolham.

— Mas... Hajime, você mora sozinho em uma montanha, e é rabugento. – Jyugo fala, provocando mais uma careta na criatura verde – Olha aí, viu?! Não deve ser problema.

— Dois rabugentos se entendem. – o príncipe de cabelo verde sorri.

— Escutem aqui, eu não me importo com quem vocês são... – o olhar de Hajime vai ficando mais assustador, causando receio nos outros – Deem o fora da minha casa agora, ou eu juro que vou...! – o supervisor é interrompido por um arensado, e pela primeira vez, o preso 15 consegue distinguir Kazumi das demais aves, por seus olhos de pêssego.

— Eu... Acho que elas não gostam quando fica tão irritado. – sorri o jovem dos orbes heterocromáticos, e quando o dono da moradia abre a boca para revidar, ouve-se um novo arensar da prima da princesa, o que se repete por um tempo.

— Mas que coisa! Por que eu tenho que ser pressionado por vocês?

— Oh solitário Hajime, não seja tão rabugento. – uma voz inesperada preenche a sala de repente, e de uma luz vinda do teto, surge uma entidade translúcida e maquiada – Você precisa deixar seu rancor de lado e... AH! – o ser de aparência peculiar se interrompe ao fitar Hajime – Pelo amor de Deus, o que te aconteceu? Os anos foram cruéis contigo.

— Supervisor Kiji?! – a rena inglesa se apavora – Está voando! Você morreu?

— Bem, sim, mas já faz muito tempo. Agora estou trabalhando como o Fantasma do Natal Passado. Não lembro de ter lhe visitado. Nós nos conhecemos, rena estranha e feia?

— “Feia”?! Por que eu tenho que ser insultado por você até aqui?

— Mas o que está acontecendo? Quantas pessoas mais vão invadir a minha casa?!

— Ah sim, desculpe Hajime; eu me distraí por um momento e perdi o foco. É que eu fui chamado de última hora para fazer uma visita a uma criatura ranzinza, mas não sabia quem era. Fiquei um pouco chocado. – o irritado supervisor do prédio 13 cruza os braços e faz uma careta – Muito bem, então... Pode me chamar de Kiji. Sou o...

— É, já ouvimos quem é você. O que está fazendo na casa do mestre?

— Que cachorrinho mais nervoso! Eu vim mostrar ao Hajime sua vida no passado.

— Não preciso ver nada. Lembro muito bem como foi minha infância.

— Bom, mas eu não sei como ela foi, então, quem quiser assistir, acompanhe comigo. – Kiji balança a varinha branca em sua mão, formando uma esfera luminosa no ar, e logo quase todos estão sentados no chão para assistir ao show— Oh, pobrezinho. – o carcereiro do prédio 3 de Nanba faz um som estalado com a boca, em negação – Sem pais, com um irmão pequeno para cuidar... Seu irmão foi adotado por uma família boazinha, e você foi deixado de lado para viver sozinho nesta montanha. – ele pega um lenço do bolso e seca os olhos – Tendo como companhia apenas um cachorro tão azedo quanto ele. Tão triste... – o fantasma empresta o pano para os presos assoarem seus narizes.

— NÃO PRECISA NARRAR TUDO! TODOS ESTÃO VENDO!

— Então, Hajime, você ficou aborrecido com o Natal porque teve inveja dos outros? – questiona Jyugo, encarando a criatura verde – Por que não ficou com seu irmão?

— É. Não parecia que aquela família ia te recusar. Você é que preferiu não ficar lá. – Rock declara ao ver as imagens do passado, aparecendo diante dos seus olhos.

— Era uma família grande. Eu não queria que Hitoshi corresse o risco de passar fome, porque tinham mais duas bocas para alimentar, mas sabia que ele iria querer vir atrás de mim, então preferi viver longe da cidade. Aí encontrei Kenshirou, e não me custava deixar ele ficar. Assim, passamos a morar juntos. – ao fim da explicação, Hajime se surpreende, assim como Kenshirou, ao ver o público chorar ainda mais.

— Pobrezinho do Hajime! – Nico passa as mãos nos olhos – Passar o Natal sozinho!

— Acho que te julgamos mal. – Uno dá um sorriso triste – Sinto muito, camarada.

— PAREM DE SENTIR PENA DE MIM! EU NÃO PRECISO DISTO!

— Certo, certo. Ele não merece a delicadeza de ninguém! – outra voz conhecida surge repentinamente, logo atrás do cachorro – Esse gorila verde precisa ser menos insensível.

— E agora, quem é você? E a quem está chamando de “gorila”, seu macaco?!

— EU NÃO SOU UM “MACACO”, SUA BESTA! Sou Samon, o Fantasma do Natal Presente. – o supervisor do edifício 5 aponta para si – Eu vim mostrar...

— Deixa eu adivinhar: o presente dele? – o quebra-nozes ergue uma sobrancelha.

— Ah... É, pois é. Pensando bem, é bastante óbvio... Enfim, eu tenho uma lista aqui das coisas que você fez de ruim este ano! – Samon desenrola um pergaminho comprido.

— E você é o quê, Papai Noel? Vai me castigar com carvão por ter sido “malcriado”?

— Até que eu quero, quero muito agora; mas só posso prestar contas. Escutem: esse gorila verde é acusado de vários crimes natalinos! Você levou todos os enfeites da loja de decoração da cidade, e agora ninguém está podendo decorar suas casas!

— Ele já tinha encomendado os enfeites para decorar a casa da família que adotou o seu irmão. Eu tenho os recibos. – Kenshirou tira alguns papéis de dentro do seu chapéu.

— Ah... Tá, mas... E quanto a isto aqui?... “Roubo de presentes de um velhinho”! – o “macaco” fantasma lê no papel – Se defenda disto!

— Eu protesto! – o carcereiro do prédio 4 de Nanba levanta a pata – O mestre pegou de volta os presentes que esse falso velhinho estava roubando das casas! Era um ladrão!

— Como “ladrão”?! – Samon relê seu relatório com aborrecimento, porém, ao ver o cachorro abrir o Livro de Previsões da Floresta, e mostrar o ocorrido descrito nas páginas, ele se cala – É... Tudo bem, foi um engano. Mas e... Esperem aí! – o fantasma puxa a lista em mãos até o final – AHÁ, aqui está! “Multas por estacionar trenó em local proibido”.

— Isso é um crime de Natal? – o príncipe japonês ergue uma sobrancelha e cruza os braços – Agora acho que está apelando.

— Se não tem nada a esconder, ele também pode justificar isto! E aí? Pode explicar?

— Na verdade sim, com uma justificativa óbvia: eu não tenho trenó.

— COMO NÃO? E COMO EXPLICA ESSA RENA NA SUA CASA?

— Eu sou a rena do Papai Noel. Aparentemente... – o inglês troca um olhar com os amigos, que acenam em confirmação – Então... Se já acabou, podemos voltar ao assunto principal? Queremos a ajuda do Hajime para quebrar a maldição das garotas.

— E eu disse que não planejo ir falar com a rainha da neve em nome de vocês.

— RECONSIDERE! – alguém canta alto bem atrás de Hajime, assustando a todos.

— QUE IDEIA FOI ESSA? – o dono da casa berra em irritação – QUER QUE EU FIQUE SURDO? QUEM É VOCÊ, SEU MALUCO ROQUEIRO?

— Eu não sou um “roqueiro”, sou o... – a entidade nova no ambiente faz uma pausa dramática, fazendo várias luzes se agruparem sobre si e outras formarem uma frase em cima – FANTASMA DO NATAL FUTURO! – quando ele acaba a apresentação cantada em seu microfone, nota que o público continua quieto e desfaz a sua pose de ídolo – Mas podem me chamar de Mitsuru. Que público difícil... Eu vim...

— Me mostrar meu futuro. Ok, ok... Nossa, se eu soubesse que ia ter tanta gente me visitando de surpresa hoje, teria instalado antes aquele sistema de segurança que planejei!

— Se tivesse instalado, teríamos passado por ele de qualquer jeito.

— O Jyugo tem razão! Ficamos muito bons nisso! – Rock dá uma risada.

— Vocês são estranhos. – Mitsuru prossegue – Eu só vim recomendar que aceite a missão, Hajime. Você terá boas surpresas, que farão o Natal melhorar nos próximos anos.

— Nós te deixaremos em paz depois. A menos que esteja com medo. – Uno provoca.

— Eu vou mostrar quem é medroso! – Hajime tira dois cachecóis de um cabideiro ali perto, colocando um nele e o outro em Kenshirou – Pois nós vamos subir esta montanha!

 

Continua...


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