Christmas Carol escrita por CrazyCullen


Capítulo 4
Bella & Edward


Notas iniciais do capítulo

Sinopse: Edward não podia prever o que 2013 reservava para ele, mas de uma coisa ele tinha certeza: Isabella Swan faria aquele ser um ano muito, muito interessante.



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"Creio que quase sempre é preciso

um golpe de loucura para se construir um destino."

Marguerite Yourcenar

Trilha: Be The One – The Fray

letras.mus.br/the-fray/1452123/traducao.html

Ano novo, vida nova. Foi repetindo essa frase quase como um mantra que Isabella Swan fechou as últimas malas e seguiu rumo à Penn Station. No dia seguinte, àquela hora ela estaria começando em seu novo local de trabalho. Nova cidade, novo emprego, novos amigos, isso era tudo o que a morena precisava.

Os últimos anos não foram fáceis. A residência em cirurgia médica tomava quase todo o seu tempo e, quando por um acaso não estava no New York Hospital Cornell Medical Center, estava no ColerGoldwater Specialty Hospital & Nursing Facility dando um suporte ao seu pai, embora nos últimos tempos Charlie Swan não soubesse nem mesmo seu nome – quanto mais que aquela morena de feições simpáticas e olhar triste que o visitava frequentemente era sua filha.

Do outro lado da cidade, Edward Cullen tentava convencer sua mãe de que tudo ficaria bem e de que se alimentaria direito, daria notícias e não se meteria em confusão. Quem visse a cena de longe ou apenas ouvisse alguém contar, poderia achar que Edward era um adolescente prestes a fazer sua primeira viagem sozinho, e não um homem feito, formado, dando uma reviravolta em sua vida após ter recebido uma ótima proposta de trabalho. Não que ele já não tivesse um ótimo emprego em Nova York, mas a ideia de ir para Montreal, para um emprego novo e uma cidade nova, o atraía demais. Ficar longe da cidade onde crescera e dos cuidados da família seria um desafio – e se havia uma coisa que Edward Cullen gostava mais do que tudo nessa vida, era de desafios.

Como sempre, Isabella chegou com antecedência à estação, aproveitando o tempo que lhe restava antes da partida para a viagem de dez horas entre Nova York e Montreal para tomar um café e observar o ir e vir de pessoas à sua volta. Às vezes tinha a sensação de que se não fosse médica teria sido jornalista ou escritora, já que adorava passar horas observando as pessoas e as paisagens ao seu redor.

Como se houvesse havido escolha. A medicina estava no sangue. Mais precisamente, a cirurgia. Seus pais haviam sido os melhores naquele ramo, e Isabella se lembrava com um misto de tédio e orgulho dos colegas e professores da faculdade querendo saber tudo sobre Charlie Swan e Renée Dwyer. Não que ela não amasse seus pais ou que eles a tivessem pressionado para seguir seus passos. Ela ainda podia ouvir seu pai lhe garantindo, em uma das longas noites que Isabella passara em claro estudando, que ela brilharia em qualquer coisa que optasse por fazer. Ela apenas queria ser reconhecida pelos seus próprios feitos, e não por ser filha de pessoas que fizeram muito pelo avanço das técnicas da medicina.

Edward, por sua vez, entre a escolha de ficar na cama o máximo possível e os inúmeros abraços dados por sua mãe e irmãos, chegara à estação faltando cinco minutos para a partida e por pouco não perdera o trem. Não que ele fosse do tipo irresponsável ou algo assim. Ele apenas gostava de curtir ao máximo os bons momentos que surgiam à sua frente e procurava não esquentar a cabeça com coisas que estavam além do seu controle. Seu trabalho já era estressante demais para que ele ainda perdesse tempo se preocupando quando não precisava.

Ao entrar no trem, a primeira pessoa que Edward notou foi a morena encolhida junto à janela em uma das fileiras intermediárias do vagão. A luz que vinha de fora refletia em seu cabelo castanho-avermelhado e ela parecia perdida em seus próprios pensamentos enquanto encarava a plataforma, o olhar fixo em um ponto qualquer, ou talvez encarando o nada. Seu lábio inferior estava preso entre os dentes, e quase instantaneamente Edward sentiu vontade de mordê-lo também. Assim que o trem começou a se movimentar lentamente, o rapaz aproveitou para se sentar na mesma fileira da morena, ocupando a janela do outro lado do corredor. Dali, através de sua visão periférica, ele podia vê-la ainda encarando o nada.

Definitivamente ela era o tipo de garota em quem ele chegaria se estivessem em um bar. Bonita, seu jeito de vestir certamente agradaria sua irmã, e ela tinha um ar de independência que deixava Edward ao mesmo tempo atraído e amedrontado. Ela com certeza não era do tipo que fazia joguinhos. Não querendo ser pego em flagrante, Edward abriu sua mochila, colocando os fones do iPod nos ouvidos e pegando o primeiro livro que encontrou lá dentro.

O que Edward não sabia é que Isabella não estava assim tão concentrada em algo do lado de fora do trem. O rapaz esbaforido, despenteado e usando roupas leves demais para o frio que fazia lá fora captou sua atenção assim que entrou no trem, poucos segundos antes deste arrancar, iniciando seu percurso. Isabella cogitou rapidamente tirar a bolsa do assento ao seu lado enquanto o rapaz parecia escolher um lugar para sentar, mas lhe faltou coragem. Assim, apenas acompanhou disfarçadamente pela sombra na janela ele caminhar em sua direção e tomar o assento ao lado do seu, mas do outro lado do corredor, e colocar um fone no ouvido antes de abrir um livro.

Em 10 horas de viagem, no último dia do ano, em algum momento eles se falariam, certo?, foi o pensamento de ambos. E o momento surgiu antes do que eles poderiam imaginar.

"Sério que você está lendo isso?" – Isabella viu seu pensamento sair em voz alta antes que pudesse reprimi-lo, enquanto encarava o rapaz com um misto de horror e divertimento. Definitivamente aquele livro não condizia com a imagem que ela havia feito dele em sua cabeça.

"Quê?" – Edward respondeu, tirando o fone do ouvido ao se dar conta que seu desejo se tornara realidade e a morena ao seu lado estava finalmente falando com ele.

"Desculpa, é só que eu nunca imaginaria alguém como você lendo esse livro."

"Alguém como eu?" – perguntou erguendo uma sobrancelha enquanto cogitava pedir para a morena parar de morder seu lábio, já que aquilo o estava deixando louco.

"É que... você parecia tão descolado ao entrar no trem. Eu esperava mais que você fosse tirar tipo algum desses joguinhos portáteis dessa mochila, ou quem sabe um livro tipo As Crônicas de Gelo e Fogo ou O Hobbit... qualquer coisa menos isso."

"É impressão minha, ou você estava prestando muita atenção em mim?"

Edward estava se segurando para não gargalhar. Meio que sem querer ele descobrira que deixar a morena ao seu lado sem graça seria sua maior diversão, e ele poderia fazer isso pra sempre, só pelo prazer de vê-la morder o lábio enquanto um leve tom rosado tomava conta de sua bochecha.

"Eu não, é só que..."

Sem conseguir formar uma frase coerente para explicar para o desconhecido ao seu lado porque tinha prestado tanta atenção nele, Isabella fez o que sempre fazia nessas ocasiões: fugiu.

"Ei, onde você vai?" – Edward perguntou confuso, ao ver a morena levantar apressada, passando a mão na bolsa e se encaminhando para a parte de trás do vagão.

"Tentar encontrar uma xícara de café onde eu possa me afogar."

E antes que ele pudesse confessar que ela não havia sido a única a prestar atenção, ela já havia desaparecido, deixando-o ali com um sorriso bobo na cara e mil e um pensamentos sem nexo na cabeça.

Enquanto Isabella, sentada no vagão-restaurante, repassava toda a conversa em sua cabeça infinitas vezes para tentar entender por que sempre acabava fazendo papel de boba em momentos como esse, Edward pulava música atrás de música no iPod e tentava ler pela milésima vez a mesma frase, sem se concentrar em nada. A verdade é que de repente, a viagem se tornara um tédio só para os dois jovens.

Depois de pensar que o mais difícil a morena já fizera – que era puxar assunto – e cansado de continuar ali, fazendo nada, Edward estava pronto para ir atrás dela e lhe dizer que só estava lendo aquele livro idiota porque sua irmã havia lhe dado ele de presente antes de sua partida, e ele nem sabia direito do que se tratava. Mas uma freada brusca fez o trem parar ao mesmo tempo em que um grito chegou aos seus ouvidos, e ao virar a cabeça ele viu Isabella praticamente caída aos seus pés, estirada no meio do corredor do trem.

"Ei, você está bem?" – Edward perguntou enquanto se abaixava na frente da morena, passando os olhos rapidamente pelo seu corpo em busca de algum ferimento.

Droga, essa viagem tinha como ficar pior? era a única coisa que Isabella conseguia pensar, enquanto tentava engolir o choro.

—-//--

Isso não pode estar acontecendo. Foi a primeira coisa que Isabella pensou quando Edward voltou, dizendo que a informação que conseguira é que, devido à forte nevasca que levara à queda de árvores e fios de alta tensão na região, o trem teria que ficar parado por algumas horas até que uma equipe responsável retirasse os materiais que estavam bloqueando os trilhos.

"Tem certeza que você está bem?" – perguntou preocupado. "Quantos dedos têm aqui?" continuou, mostrando três dedos da mão direita para a morena.

"Sério, eu não bati a cabeça, estou ótima e mais acostumada do que gostaria de admitir com esse tipo de situação, não precisa se preocupar, pode voltar para sua leitura interessantíssima."

"Saiba que se trata do livro mais vendido em todos os lugares este ano." – Edward disse, mais para provocá-la do que pra qualquer outra coisa.

"É pornografia ruim."

"É, nesse ponto tenho que concordar. Quem compra um livro desses?"

"Aparentemente você?" – Bella respondeu, erguendo a sobrancelha, enquanto um sorriso brincava em seus lábios.

"Eu não comprei isso. Minha irmã me deu como último presente antes de eu embarcar. Eu nem sabia direito do que se tratava."

"Tudo bem, não precisa ficar com vergonha, eu não tenho nada a ver com que tipo de livro você compra ou deixa de comprar."

"Argh, alguém já te disse que você é insuportável?"

"Algumas vezes."

"Sério?" – Edward perguntou espantado. Por aquela ele não esperava.

"Hum, hum... não tenho um gênio dos mais fáceis."

"Não me diga... Aliás, sou o Edward."

"Isabella."

O aperto de mão desajeitado durou apenas alguns segundos, mas o suficiente para que Isabella percebesse que o aperto dele era firme e sua mão áspera, forte. Já Edward não conseguia deixar de pensar como a mão pequena se encaixara perfeitamente na sua. Aproveitando a confusão que se instaurara dentro do vagão desde que a viagem fora interrompida, com vários passageiros em pé, andando para lá e para cá, Edward aproveitou para fazer aquilo que queria fazer desde que entrara ali e se sentou como quem não quer nada ao lado da morena, que apenas suprimiu um sorriso, observando a imensidão branca do lado de fora.

"Então Bella, o que vamos fazer pra passar o tempo?"

"Você não tem um livro pra ler?" – Isabella perguntou, tentando esconder como o fato dele lhe chamar pelo apelido a afetara.

"Meu Deus mulher, esquece esse maldito livro." – Edward exclamou, passando as mãos pelo cabelo. Maldita hora que Alice lhe dera aquele livro. "Já sei, que tal brincarmos de 20 perguntas?"

"Como é isso?"

"Sério?" Como alguém nunca brincara de 20 perguntas na vida?

"Não é óbvio? Cada um tem direito a fazer 20 perguntas para o outro, de modo intercalado."

"Não vou falar sobre a minha vida pessoal para um completo estranho dentro de um trem, Edward."

"Não sou um completo estranho! Você sabe o meu nome, que eu tenho uma irmã e que leio pornografia ruim."

Isabella não conseguiu conter a gargalhada diante daquela resposta e do olhar ultrajado que ele parecia lhe dar. Ele não era de desistir fácil, e por mais que nunca fosse admitir isso em voz alta, ela gostava disso.

"Tudo bem, mas se eu não quiser responder alguma pergunta, eu não irei."

"Tudo bem, Senhorita Eu Tenho Muito o Que Esconder. Eu começo."

Edward passou alguns segundos encarando a morena, que agora estava sentada de frente para ele, com as costas na janela e as pernas dobradas, abraçando o joelho de modo com que os dois ficassem cara a cara. Tinha tantas coisas que ele gostaria de perguntar, mas precisava ser cauteloso. Pelo jeito ela não era do tipo que se abria facilmente com qualquer um. E então, quase como um estalo, ele soube qual seria a primeira pergunta que de quebra lhe daria mais de uma resposta.

"Por que você pareceu tão chateada quando soube que provavelmente ainda estaremos no trem à meia-noite? Algum plano especial para o réveillon?"

"Tecnicamente não são duas perguntas?"

"Dá pra responder logo, ou você vai ficar discutindo semântica comigo?"

Isabella pensou em dizer que não tinha nada a ver com semântica e sim com o fato de que ele ficava lindo emburrado, mas achou melhor guardar aquela informação para si.

"Meu único plano para o réveillon era desfazer as malas e dormir cedo. Amanhã começo cedo em meu novo emprego e não quero correr o risco de chegar atrasada logo no meu primeiro dia."

"Pelo o que ouvi quando fui procurar saber o que estava acontecendo, a nevasca foi muito mais forte do que estavam prevendo. O trem não foi o único afetado. Com certeza seu chefe deve estar sabendo e vai entender."

"E se ele for um velho ranzinza e mal amado, de mal com a vida?"

"Caramba, garota, aí eu realmente espero que você arrume um novo novo emprego logo."

A partir daí o clima entre os dois não tinha como ficar mais leve, e à medida que o jogo continuava, Isabella e Edward iam descobrindo um pouco mais sobre a personalidade um do outro. Ela descobriu que assim como ela, Edward estava indo para Montreal por causa de um novo emprego e que ele não gostava de séries médicas, com exceção de House, enquanto ela era aficionada por Grey's Anatomy. Ele parecia ser completamente louco pela irmã e pelos irmãos, e era fácil ver a admiração que tinha pelo pai – ao ponto em que ela pulou todas as perguntas relacionadas à família. Assim como ele havia tentado descobrir antes, ela deu um jeito de descobrir se ele havia deixado alguém especial para trás ou esperando por ele em Montreal, e suspirou aliviada quando ouviu que não, nenhuma namorada.

"Namorado?"

"Jesus, não!" – Edward exclamou quase engasgando com a água que estava tomando. "Nada contra, mas não é a minha." – disse num misto entre aborrecido por ela ter pensado nisso e feliz por vê-la rindo, tão relaxada.

"Algo que você odeia?"

"Que me chamem de Isabelle ao invés de Isabella e pessoas que nem me conhecem e já vão me chamando de Bella pelo simples fato de ser um apelido natural do meu nome."

"Acho que quem precisa se afogar em uma xícara de café agora sou eu." – Edward disse, sentindo-se estranhamente tímido. De repente ela dera um jeito de lhe dizer que não gostara do que ele havia feito anteriormente, e ele se sentia como quando tinha cinco anos de idade e sua mãe o pegava fazendo algo errado.

"Relaxa Ed, estranhamente eu não me importei com o fato de você ter me chamado de Bella."

Ela estava flertando com ele, ou ele estava vendo coisas onde não existia?

"E você, o que odeia?"

"Esse apelido."

"Qual? Bella?" – Isabella perguntou meio confusa.

"Não, odeio que me chamem de Ed."

"Mas por que, Ed?"

E Isabella precisou se segurar para não rir enquanto o rapaz à sua frente passava as mãos pelo cabelo e ela podia jurar ter ouvido um grunhido.

"Argh, você é insuportável." Ele murmurou, mas Bella pode ouvir o riso por trás de sua voz.

Surpreendentemente as horas passaram e os dois, presos em suas conversas e descobertas, nem se deram conta que a meia-noite já se aproximava até que o carrinho de guloseimas começou a passar. Com o imprevisto, a companhia determinara que todos os passageiros poderiam retirar o que quisessem do carrinho ou do vagão-restaurante sem precisarem pagar.

Quando a senhora de óculos e olhar doce parou ao lado deles, Bella optou por uma Coca-Cola e um pacote de batatas, enquanto Edward parecia uma criança diante de uma vitrine repleta de doces, praticamente pegando um chocolate de cada tipo.

"Bem que poderia ter cerveja amanteigada e feijõezinhos de todos os sabores, né?" ele disse assim que o carrinho se afastou, em direção ao próximo passageiro.

"Você sabe que esse trem não vai para Hogwarts, certo?"

"Não?"

Edward perguntou, fazendo um biquinho que fez Isabella fechar os olhos para não acabar fazendo o que queria fazer há muito tempo: agarrar o rapaz ali mesmo, naquele trem parado no meio do nada, com neve para todos os lados. Ela podia jurar que seu lábio inferior chegara a tremer ao formar aquele beicinho, deixando-o adorável.

"Infelizmente não, meu querido." Isabella disse, esfregando levemente a perna do rapaz à sua frente, em um ato natural, como se nem se desse conta do que estava fazendo. Mas claro que aquele gesto não passara despercebido ao rapaz em questão. Será que ela ficaria brava se ele a beijasse?

"Eu sempre quis ter uma varinha." Ele disse de repente, e dessa vez Bella não foi capaz de conter a gargalhada. Edward a encarava espantado, como se não entendesse o que fora tão engraçado no que ele havia dito.

"Sério, Edward. Se uma criança dissesse isso eu até acharia engraçadinho, mas eu realmente não acho que pega bem alguém da sua idade dizendo que queria ter uma varinha. Fica difícil não pensar merda." – Isabella conseguiu finalmente completar, entre as risadas, agora já controladas.

"Isso porque você tem uma mente muito poluída. Eu só estava pensando na facilidade de nunca mais ter que arrumar uma mala ou lavar louça na minha vida."

"Sei."

Em algum lugar a contagem regressiva para a meia noite começou. 10... 9... Aquela era a primeira vez que Isabella passava um ano assim, cercada por pessoas nunca antes vistas e que muito provavelmente ela nunca mais veria. Ela sentiu um nó na garganta ao pensar nisso, mas achou melhor não pensar muito se aquilo tinha a ver com sentir falta dos pais ou com o fato de que possivelmente nunca mais veria o rapaz de cabelo acobreado que tornara aquela viagem infinitamente melhor.

8... 7... 6... Enquanto a contagem se aproximava cada vez mais do seu final, Edward estava em um dilema consigo mesmo. Deveria ou não beijar a morena à sua frente? O que ele tinha a perder? O máximo que poderia acontecer era ela ficar irritada e eles nunca mais se verem. Mas e se ela também quisesse aquilo? E se Isabella também fizesse parte do seu novo começo em Montreal?

5... 4... 3... 2... 1... Como se tivessem chegado a um acordo mútuo, naquele momento, enquanto os outros passageiros gritavam e se abraçavam comemorando o novo ano, Edward e Bella apenas se encararam, marrom e verde se fundindo por alguns segundos, as respirações erráticas até que os dois resolveram não resistir mais e se entregaram a um beijo cheio de paixão. Edward pode finalmente morder o lábio da morena que, por sua vez, pode sugar o lábio inferior do rapaz, como tanto ambos desejaram durante horas.

Aos poucos, à medida que o beijo se aprofundava, as mãos se permitiam explorar ao redor. Bella aproveitou para deixar seus dedos passearem pelos braços fortes até chegarem ao cabelo emaranhado que ela puxou com força quando sentiu o rapaz morder seu lábio com um pouco mais de vontade. Foi só quando sentiu as mãos de Edward tentando adentrar por sob sua saia, por cima da meia grossa, que Isabella resolveu parar. Como ela havia ido parar no colo dele?

"Edward, para, a gente não pode."

Sem dizer uma palavra o rapaz continuou suas investidas, deixando uma trilha de beijos molhados pelo pescoço da morena.

"É sério, Edward, eu não vou fazer isso aqui e muito menos com um desconhecido."

Aquelas palavras o atingiram mais do que ele gostaria de admitir, embora soubesse que ela estava certa. A verdade é que era difícil raciocinar estando assim, tão próximo dela. Evitando pensar e não querendo demonstrar como as palavras dela o chatearam, Edward resolveu fazer o que sempre fazia: brincar com a situação.

"Sabe aquela expressão que usamos quando conhecemos alguém?" disse tirando uma mecha de cabelo do olho de Isabella.

"Qual?"

"Muito prazer."

"O que tem?" – Isabella perguntou levemente desconfiada. Pelo pouco que sabia de Edward, já dava pra pressentir que não viria nada de bom daí.

"Eu posso fazer com que realmente seja um grande prazer me conhecer, Bella."

Um arrepio percorreu a espinha de Isabella e um lado seu queria ser inconsequente e puxar Edward para alguma cabine escura ou até para o banheiro mais próximo e deixar que ele a tomasse ali mesmo. Mas seu lado certinho e racional sabia que ela se arrependeria depois e principalmente, que seria ainda mais difícil esquecer o rapaz depois que a viagem chegasse ao fim e eles se despedissem.

"Você é muito convencido, né?"

"Apenas sei no que sou bom."

"Como eu disse, convencido." – ela disse pontuando cada palavra com um selinho nos lábios que novamente haviam formado um lindo bico.

"Feliz 2013, Edward." – Bella sussurrou por entre seus lábios.

"Feliz 2013, Bella." O rapaz disse enquanto a puxava para os seus braços quase no mesmo momento em que o trem finalmente voltava a entrar em movimento.

E ali, se sentindo segura nos braços fortes de um quase desconhecido, mas que a deixava à vontade como poucas pessoas em sua vida a deixavam, Isabella não pode deixar de pensar no que significaria tudo aquilo para o ano que se iniciava.

—-//--

Se havia uma coisa que Bella não suportava, eram despedidas. Principalmente as do tipo sofridas. Por isso ela aproveitou o momento em que Edward a deixou em seus lugares assim que o trem finalmente parou na estação, no início da manhã, para ir ao vagão restaurante pegar um café para os dois antes que eles desembarcassem, para pegar suas coisas e sair logo dali. Assim seria melhor, sem despedidas, sem palavras desnecessárias, sem falsas esperanças.

Com passos apressados e se obrigando a não olhar para trás, a morena atravessou a plataforma e entrou no primeiro táxi que encontrou na saída da estação. Rapidamente indicou ao motorista o endereço que passaria a ser sua nova casa dali em diante e só enquanto o carro percorria as ruas ainda vazias àquela hora foi que ela permitiu soltar o fôlego, e não conseguiu evitar que algumas lágrimas deixassem seus olhos.

Com o atraso na viagem, mal teve tempo de tomar um banho e trocar de roupa antes de seguir seu caminho para o St Mary's Hospital. Pelo jeito, as malas teriam que ficar para outra hora.

A manhã fora movimentada, ao que Isabella agradecia profundamente. Ela hoje estava apenas acompanhando a Dra. Victoria para poder se acostumar ao jeito de trabalhar do hospital, mas todos até agora haviam sido muito gentis com ela e estavam fazendo de tudo para que ela se sentisse em casa. Estava comendo um sanduíche natural e um suco na lanchonete do próprio hospital, em um dos intervalos que conseguira, quando um dos internos veio chamá-la, informando que o diretor queria todos do setor de cirurgia reunidos em cinco minutos na sala dos médicos para uma reunião.

Ao chegar, Isabella viu que a maioria dos seus colegas de setor já se encontrava ali, então optou por ficar em um canto mais para o fundo da sala mesmo, próxima à parede – o que foi sua sorte, pois teve a sensação de que cairia a qualquer momento quando o Dr. James, diretor do hospital, entrou acompanhado de um jovem rapaz com um cabelo que ela reconheceria em qualquer lugar.

Isabella mal conseguiu processar as palavras que foram ditas, onde Dr. James informara que a partir daquele dia o Dr. Edward Cullen seria o novo médico responsável pelo setor de cirurgia do St. Mary's, e quase teve vontade de chorar quando o diretor pediu que ela permanecesse na sala ao final da reunião, já que não tivera a chance de lhe dar às boas-vindas pela manhã. James e Charlie haviam sido companheiros de faculdade e, como a maioria das pessoas, ele ainda não sabia o que havia acontecido com seu velho pai.

Quando voltara do vagão restaurante e encontrara o vagão onde ele e Isabella viajaram praticamente vazio, Edward sentiu um misto de raiva e tristeza. Por mais que tentasse, não conseguia entender porque a morena teria ido embora sem ao menos se despedir. Ele sabia que o que sentia por ela não era algo de uma noite só, e estava pronto para pedir que ela lhe desse seu telefone, endereço, e-mail, qualquer forma para que eles pudessem se encontrar novamente, conversar em condições normais e quem sabe se conhecerem melhor. Mas Isabella simplesmente não lhe dera essa chance.

Quanto mais pensava naquilo, menos entendia. Eles tinham passado uma noite tão boa, não era possível que ela não tivesse sentido o mesmo. Edward simplesmente não podia se lembrar da última vez que dormira tão bem, mesmo estando sentado em uma poltrona não tão confortável assim. Ele sabia que a presença de Isabella em seus braços havia sido o fator fundamental para aquilo. Por mais que tentasse levar seus pensamentos para outras coisas, a morena sempre acabava voltando. Foi assim durante toda a manhã enquanto seguira para seu apartamento, enquanto conversava com sua mãe rapidamente, para avisar que havia chegado e que estava bem e no caminho para o hospital.

E então, assim que entrou na sala de reuniões acompanhado do diretor, ele a viu encostada na parede, no fundo da sala, parecendo totalmente perdida em seus próprios pensamentos. Quase como quando ele a vira pela primeira vez, mirando o nada pela janela do trem. Só se deu conta de que a reunião havia chegado ao fim quando muitos dos médicos e enfermeiros começaram a se aproximar para lhe dar as boas-vindas, mas Edward só conseguia pensar se ela se aproximaria. Mas então Dr. James pediu que ela esperasse.

Isabella podia sentir os olhos verdes queimando em suas costas durante todo o tempo que passou conversando com o diretor. Ela sabia que não poderia escapar de enfrentá-lo. Mas se antes ela se sentia culpada por ter ido embora da forma como fora, agora ela sentia alívio. Ele era seu chefe, eles não podiam se envolver. Mesmo sem saber, ela havia feito a melhor escolha.

"Pelo menos você sabe que seu chefe não é um velho mal amado."

A voz grave e com uma pitada de raiva ecoou pela sala assim que Dr. James saiu, deixando os dois jovens sozinhos.

"Eu sinto muito, Dr. Cullen. Eu não sei lidar com despedidas, e achei que indo embora daquele jeito estava facilitando as coisas para nós dois." Isabella tentou explicar ainda de costas. Ela não estava preparada para encará-lo nos olhos ainda, e se perguntava se em algum momento estaria e se havia sido uma boa ideia aceitar aquele emprego.

"Dr. Cullen? Há algumas horas era apenas Edward."

"Há algumas horas você não era meu chefe."

"E?"

"E que eu tinha razão, facilitei as coisas para nós dois ao ir embora sem despedidas."

"Você não acha que eu deveria participar dessa decisão?" Edward perguntou, se aproximando e apertando sua mão, fazendo com que ela se virasse para encará-lo.

"Não tem decisão a ser tomada, Dr. Cullen. Você é meu chefe, eu sou sua subordinada, nós não podemos nos envolver."

"Que tal discutirmos isso tomando um café na sexta-feira à noite?" – Edward perguntou abrindo seu sorriso, sabendo que ela acabaria cedendo em algum momento.

"Eu não vou sair com você, Dr. Cullen."

"Eu estarei de folga na sexta-feira, então tecnicamente você estará saindo com o Edward e não com o Dr. Cullen, se isso é tão importante para você."

—-//--

Três semanas se passaram com Edward repetindo o mesmo convite todos os dias, e em todas às vezes ele ouviu a mesma resposta: "Eu não vou sair com você, Dr. Cullen."

Na última semana Isabella teve o final de semana de folga e aproveitou para ir até Nova York. Ela precisava fazer uma limpeza na casa que pertencera aos pais e cuidar de tudo para que o imóvel fosse finalmente alugado. Na segunda-feira quando voltou ao hospital, foi avisada de que estava escalada para uma cirurgia importante junto com o Dr. Cullen, e não pode deixar de sentir seu coração acelerar ao ouvir o nome dele. Só Deus sabia o quanto estava custando para ela recusar seu convite dia após dia.

A cirurgia durou cerca de duas horas, e tanto Isabella quanto Edward estavam no modo profissional, tensos com a responsabilidade diante deles, os dois entretidos diante do que mais amavam na vida, operar e salvar vidas. Como já era de se esperar com dois médicos tão experientes e responsáveis, a operação fora um sucesso e os dois caminhavam lado a lado, sentindo-se leves depois de trocarem de roupa e finalmente saírem da sala.

Eles pegaram o elevador juntos, com Edward cavalheiramente segurando a porta para que Bella entrasse, e assim que a porta se fechou, ele voltou a repetir a frase que Bella já sabia de cor:

"Que tal um café na sexta-feira à noite?"

No exato momento em que o rapaz terminara a pergunta o elevador parou, indicando ter chegado ao andar em que a morena deveria descer.

"Eu..." Isabella começou a falar, mas parou. Ela não sabia se estava cansada de lutar contra o que desejava, ou se fora o fato de ter passado horas vendo os álbuns de fotografias de seus pais que a fez mudar de atitude. Caminhando em direção à porta, ela respirou fundo antes de se virar para o outro médico e colocar a mão na frente, para impedir que a porta se fechasse.

Edward já estava repetindo mentalmente a habitual frase de recusa da morena, mas foi pego de surpresa. Respirando fundo como se tomasse coragem, ela tentou soar indiferente, mas ele detectou um ar de sorriso quando encarou seus olhos castanhos enquanto ela lhe respondia:

"Eu saio às 19 horas na sexta e pretendo tomar um café na Central Station. Estamos em um país livre, Dr. Cullen, não posso impedi-lo de frequentar os mesmos locais que eu."

Edward não podia prever o que 2013 reservava para ele, mas de uma coisa ele tinha certeza: Isabella Swan faria aquele ser um ano muito, muito interessante.

FIM


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Notas finais do capítulo

Bem, essa fic foi postada no Natal/Ano Novo de 2012 para 2013 no fanfiction.net e só hoje me dei conta que nunca tinha postado ela aqui. Espero que gostem.



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