Mar de flores. escrita por Mestre do Universo dos Vermes


Capítulo 1
O doce e cruel mar.


Notas iniciais do capítulo

Uau, há quanto tempo eu não posto um yaoi?
Bastante.
Parte de mim acha que eu estou pagando por todas as vezes que falei mal dos romances... Mas foi a única classificação que consegui dar! Pode até ter partes trágicas, mas não é bem uma tragédia, e partes engraçadas, mas não é bem uma comédia.
Enfim, espero que goste desse romance!
Agora vou calar a boca porque escrever uma Bíblia nas notas finais nunca é interessante. Não é como se muita gente lesse mesmo.

Capítulo baseado no poema "Canção", Cecília Meireles.
https://www.pensador.com/frase/MjIzNjI2/



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Quando você é criança, sonhos são tudo.

Quando é adolescente, sonhos são ambições.

Quando é adulto, sonhos são apenas sonhos.

Ou era o que pensava Nino. Do dia pra noite, ele sentia ter amadurecido anos. Um crescimento forçado.

Mas ainda um crescimento. Ele tinha se tornado um adulto, aparentemente.

Sonhos são só sonhos.

Apenas tolices e nada mais.

E, a cada vez que repetisse isso, menos doeria.

Então era repetir, repetir, repetir.

Repetir até parar de doer.

Quando criança, seu sonho era ser pirata.

Então cresceu e seu amor pelo mar tomou uma forma mais palpável: queria velejar. Cortar o mar num veleiro e sentir a liberdade, o vento no rosto, a bela visão das ondas abrindo passagem e a areia da praia desaparecendo.

No ímpeto da juventude, decidiu entrar em competições. Ele era muito bom velejando. Era seu sonho, afinal. Quase como ser um pirata, a mesma liberdade que o mar proporciona.

Nino ficava cada vez melhor e as competições, mais difíceis. Mais arriscadas.

E lucrativas.

Velejar se tornou mais que um sonho, se tornou um modo viável de pagar as contas. Unir o útil ao agradável. Investir em veleiros e equipamento, ter o retorno nas competições.

E aproveitar o mar no processo.

Até aquele dia.

Aquele fatídico dia.

Era só mais uma competição.

Uma emocionante.

Ah, como ele amava a adrenalina.

O veleiro cortando as ondas.

Mais e mais rápido.

E mais e mais.

A adrenalina.

O mar.

A liberdade.

O vento.

Boom.

O estrondo.

O fogo.

Explosão no motor.

Ele perdeu o controle.

O veleiro tombou.

Dor.

*

Nino não se lembra bem do que aconteceu. Memórias vagas de fogo e da sensação sufocante de afogamento. E de dor, claro. Muita dor.

A coesão da água pode fazê-la tão dura quanto concreto. A velocidade do veleiro era insana. O fogo da explosão era cegante e se alastrou pela vela. O baque foi repentino.

Algumas queimaduras superficiais, outras nem tanto. Ossos quebrados. Fraturas expostas. Contusões. Luxações. Etc. Etc. Etc. Ele estava em choque demais para realmente ouvir o que os médicos diziam.

A dor deu espaço a analgésicos.

Ambos os braços quebrados, um precisou de cirurgia por fratura exposta, outro foi imobilizado. As queimaduras foram tratadas. A cirurgia foi um sucesso. O gesso foi retirado. A fisioterapia o ajudou muito.

Ainda assim, Nino não se sentia como antes.

Aquele acidente fez mais que quebrar seus ossos ou destruir seu veleiro ou o fazer perder a competição.

Ele destruiu algo dentro dele.

E seu sonho de velejar afundou junto com seu veleiro.

Para sempre perdido no fundo do belo e implacável mar.

E ele chorou. Ah, como ele chorou.

Nino chorou assim que seus pensamentos ficaram coerentes o bastante para fazer sentido.

Chorou até seus olhos ficarem vermelhos e inchados.

Chorou até dormir e acordava ainda com lágrimas secas marcadas na face.

Chorou até não chorar mais.

Seus olhos secos. Seu coração duro.

E foi então que Nino se julgou um adulto.

Quando, finalmente, conseguia pensar no que aconteceu como o que era: tolice de criança. Velejar profissionalmente era tão irreal quanto querer ser um pirata. Onde ele estava com a cabeça?

Ele precisava de um emprego de verdade. De um rumo na vida.

Seus braços estavam quase totalmente recuperados graças à fisioterapia, tirando um ou outro movimento ainda difícil de realizar, ele estava ótimo. Mesmo assim, as fraturas ficaram marcadas na memória como um lembrete. O preço de se perseguir um sonho, de se perseguir uma tolice.

Não... Era hora de crescer. Esquecer o mar, achar algo sólido, algo estável.

E assim seria.

Nino nunca mais entrou no mar. Seu coração duro e seu olhar rígido.

Sonhos? Bah, coisa de criança. Ele não precisava de sonhos.

Ele só precisava organizar sua vida. Ordem, estabilidade, segurança.

Sim, era só isso.

Só isso e tudo seria perfeito.

Perfeito.


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Notas finais do capítulo

Essa história foi um desafio de Natal que fiz com a Little Hobbit.
Escrevemos por uma semana, dia 19 ao 25, contagem regressiva para o Natal. Sete capítulos.
Quando ela postar a história dela, ponho o link aqui.
(E ela vai postar nem que eu tenha que infernizar ela pelo resto do ano que vem!)
Enfim, espero que tenha curtido!

Bye!