–Você precisa parar com essa merda agora. -Sirius Black disse entrando no quarto de James, que se encontrava deitado na cama olhando para o teto enquanto pensava no que fazer com sua situação e a de Lily.

–Com o quê?

–Levanta e vai atrás da Evans. -Black mandou, abrindo o guarda-roupa do irmão e separando algo para ele vestir.

–Por quê eu faria isso?

–Porque eu não aguento mais, você está insuportável.-Ele disse jogando as peças nele. -Anda logo, eu te empresto a minha moto.

–Eu não posso.

–Você não só pode como vai ou eu juro que vou te matar durante a noite com um travesseiro. -Sirius disse e pela forma como ele olhava para James, ele sabia que o irmão não estava brincando. -Eu não sei o que aconteceu com vocês, não sei por que não quis me contar e tá tudo bem, mas isso tá te fazendo mal pra caralho. Desde que vocês brigaram você fica se arrastando pela casa, nem tá comendo direito, Prongs!

–Eu estou bem.

–Você está tudo, menos bem. E eu acabei de atingir o meu limite.

–Você só está falando isso porque quer que a gente fique junto, mas não é tão simples assim.

–James, você é o meu irmão e eu te amo. Eu nunca vou ser capaz de agradecer o que você fez por mim, mas eu juro que se você não levantar dessa cama agora seus pais vão ter que entrar em contato com o ministério outra vez pra impedir que eu seja expulso por usar magia fora da escola. -Ele o encarou, furioso. -Eu estou falando sério.

Potter se deu por vencido, soltando o ar cansado e pegando as peças que ele havia separado para que vestisse. Black jogou a chave da moto para o irmão e por pouco ele não conseguiu pegá-la, fazendo com que o outro revirasse os olhos.

–Se você não descer em vinte minutos eu volto aqui e te arrasto pelos cabelos.

–Você é insuportável, sabia?

–Eu sou um anjo por não ter feito isso antes, isso sim. Ah, se arranhar a minha moto eu te mato. -Sirius disse antes de deixar o quarto do irmão.

James deu um leve sorriso. Black havia se recuperado bem do que aconteceu com seus pais e por sorte não teria nenhuma cicatriz ou sequela. Ele parecia feliz ainda que estivesse preocupado com o que seria de Regulus.

Quando Euphemia e Fleamont tentaram entrar em contato com as autoridades a respeito da tortura que o garoto havia sofrido nas mãos dos pais, todos simplesmente agiram como se não houvesse nada a ser feito, era como se nada tivesse acontecido. Sirius esperava por isso, seus pais tinham dinheiro e influência o suficiente para comprar quem quer que fosse naquele ministério, ele mesmo já havia visto eles fazerem diversas vezes. Quando a carta acusando o menino de usar magia fora da escola chegou, os Potter foram até lá dizer que, se nada que haviam denunciado havia acontecido realmente, então o uso de magia por parte dele também não, e foi assim que eles livraram Sirius de ser expulso de Hogwarts.

James desceu as escadas pronto para ir, encontrando o irmão sentado no sofá. Quando colocou os olhos nele, o Black sorriu.

–Agora vai lá e pede desculpas.

–Por que acha que eu fiz algo errado? -Sirius arqueou as sobrancelhas e James soltou o ar, se dando por vencido. -Tá bem, vou pedir.

–Se brigarem de novo, você não precisa nem voltar.

–Por que você me odeia?

–Porque você tem olhos azuis e eu não. -Os dois riram. -Boa sorte.

–Obrigado.

–Toma cuidado com a minha moto!

–Pode deixar.
…

Lily estava irritada. Não só pelo fato de Marlene ter ido embora naquele dia, mas também porque em algum momento havia cometido o erro de dizer a sua mãe que ajudaria sua mãe no baile que fariam para as crianças da escola onde ela trabalhava. Ela gostava de crianças até, mas não sabia que seria a única jovem naquele lugar e quando perguntou aos seus primos se gostariam de acompanhá-la - já que mesmo que Petunia fosse, ela não poderia ser classificada como uma boa companhia -, nenhum deles pareceu minimamente animado com a ideia de ficar de babá.

Com os cabelos presos para cima e um vestido longo branco, Lily desceu as escadas atrás de sua irmã, encontrando-a sentada na sala com seus primos, assistindo televisão. Eles não eram tão próximos de Lily quanto ela gostaria pelo fato de que a bruxa estava sempre fora, mas ainda sim ela gostava bastante deles.

–Tuney, você pode me emprestar seu batom vermelho? -Pediu, mas a mais velha ignorou completamente. Lily bufou. -Tuney, por favor? -Os primos das duas olhavam de uma para a outra, mas ainda sim ela não respondeu. Lily então ficou na frente da televisão, de braços cruzados, foi quando todos começaram a reclamar. -Eu estou falando com você, Petunia.

–Sai da frente, Lily! -O primo mais novo de apenas cinco anos pediu, fazendo um esforço enorme para levantar as grandes almofadas e acertar a prima.

–É, sai da frente, Lily. -Disse o mais velho, rindo.

–Pode me emprestar o batom? -Ela repetiu. Foi quando alguém tocou a campainha e todos se entreolharam, entrando em um acordo silencioso de que ninguém abriria a porta.

–Só se você atender. -Petunia disse. -Se for o Vernon diz que eu não estou.

–Obrigada. -Lily sorriu, indo até a porta sem nem ao menos questionar enquanto a outra subia as escadas e sumia em direção ao seu quarto. Mas não era Vernon e sim James Potter quem estava lá.

Olhando para aquele anjo ruivo parado em sua frente ele não conseguiu dizer nada por alguns segundos, se perdendo em todas os vértices e arestas dela. Por um momento foi levado para a sensação de tê-la em seus braços naquela mesma casa há poucos dias, mas não mergulharia ali. Aquelas águas eram perigosas e se ousasse cair de cabeça como queria talvez não conseguisse dizer a ela tudo o que queria.

Durante todo o caminho James tentou pensar em algo que fosse bom o suficiente, algo sincero e que fizesse com que ela o perdoasse ou pelo menos entendesse, mas nada parecia bom o bastante, então ele respirou fundo e deixou aquela escolha de palavras nas mãos do James Potter do futuro - e estava torcendo para que ele escolhesse as certas.

–Eu aceito. -Ele disse, sorrindo para ela.

A garota pareceu confusa por um momento, mas então o choque por vê-lo passou e ela entendeu: o vestido branco, aquela promessa de que um dia se casariam… Ela aceitava também.

–Muito engraçado, Potter. -Lily disse, balançando a cabeça e falhando em conter o sorriso.

–Por que está demorando tanto pra mandar ele… Ah, é você. -Petunia disse descendo as escadas com o batom em mãos, olhando na direção da porta e ficando surpresa que aquela visita não era pra ela. -O que ele faz aqui?

–Eu preciso falar com você, Lily, mas se quiser posso voltar outra hora. -Disse.

–Não, está tudo bem.

–Eu sabia que a Lily tinha um namorado! -James ouviu alguém dizer e olhando para dentro da casa encontrando o sofá repleto de garotos.

–Ele não é meu namorado. -Lily resmungou para eles, que começaram a rir em resposta, deixando claro que não haviam acreditado nem um pouco naquilo. -Obrigada, Tuney. -Ela então pegou o batom das mãos da irmã e fechou a porta atrás de si, puxando James em direção ao jardim. -Não liga para os meus primos.

–Eu gostei deles, sabem que nós somos perfeitos um para o outro e eu nem disse nada. -Ele sorriu e ela revirou os olhos. -Você está linda.

–Obrigada. -Murmurou, sentando-se no pequeno banco que havia naquele jardim e desejando que ele não tivesse notado que ela estava corando. James sentou-se ao seu lado, achando-a realmente adorável. É claro que ele havia notado, não havia nada que lhe passasse despercebido quando o assunto era Lily Evans. -Eu pensei sobre o que você me disse.

–E? -Ela perguntou, olhando com expectativa.

Seu coração batia nervoso com todas as possibilidades. Ele havia entendido? Ele a deixaria? O que ambos sentiam significava tanto para ele quanto para ela? Porque ela nunca conseguiria abrir mão daquilo, nem mesmo por uma vida mais longa e ao lado de outra pessoa. Não valeria a pena se ele não estivesse lá. Ele pensava da mesma forma?

–E eu quero pedir desculpas. -Não, ele não pensava da mesma forma. Seus lindos olhos marejaram e por um momento Lily Evans pensou que fosse morrer, mas então ele continuou. -Eu quero pedir desculpas por sequer ter cogitado deixar você e por machucá-la enquanto tomava essa decisão sozinho.

–O que está dizendo? -Ela perguntou, olhando bem no fundo dos olhos dele. James lhe deu um leve sorriso, acariciando o rosto dela e secando uma lágrima teimosa que insistia em cair.

–Que se nós só morremos uma vez, eu quero morrer com você. Eu quero morrer por você, pelo Harry. -O sol iluminava o rosto dele, deixando o azul de seus olhos ainda mais brilhante, ganhando um destaque pelo branco tapete de neve que cobria tudo ao redor. Dentro daqueles olhos ela conseguiu ver que não havia nem um pingo de arrependimento na escolha que fazia naquele momento. Pelo contrário, era quase como se ele tivesse se libertado. James Potter nunca esteve tão certo do que queria. -E você, Lily? O fato de que eu sou um grande idiota fez você mudar de ideia?

–Não, não fez. -Ela sorriu. -Se nós só vivemos uma vez, eu quero viver com você, James Potter.

A ruiva o envolveu em um abraço apertado, respirando aliviada, feliz por ele ter entendido e mais ainda por ele ter escolhido ficar. Não o julgaria se ele não quisesse, sabia que o futuro era assustador, mas valia a pena se esse fosse o preço de uma vida - ainda que curta - ao lado dele.

–Me desculpe por ser um imbecil. -James pediu, acariciando as costas nuas dela, sem soltá-la. -Eu não tinha o direito de tirar a escolha de você. É a sua vida e por mais que eu odeie como vai terminar, eu não posso decidir por você. Finalmente entendi isso. Eu sinto muito por estragar tudo e por machucar você, era a última coisa que eu queria. Eu juro solenemente que isso nunca mais vai acontecer.

–James, você não tem controle sobre isso. -Ela disse, se afastando e lhe dando um leve sorriso.

–Você tem razão. -Potter murmurou, lhe estendendo o mindinho. -Então eu juro solenemente que eu vou fazer o possível pra não estragar tudo e nunca mais machucar você de novo, Lily Evans.

–Eu também juro solenemente. -Ela retribuiu o sorriso, enrolando o seu dedo ao dele e ele lhe dando um selinho demorado.

–Então… Já está vestida para o nosso casamento? Porque eu posso dar um jeito de trazer Sirius e os outros aqui rapidinho. Sabe como é, não posso casar com você se eles não aprovarem. -Ele perguntou e ela riu, revirando os olhos.

–Não é um vestido de casamento.

–Só está dizendo isso porque eu já vi e dizem que dá má sorte.

–É um vestido de baile. -Ela explicou, brincando com os dedos dele. -Eu prometi à minha mãe que a ajudaria no trabalho hoje e… Quer vir?

–Eu já disse, Evans. Pode tentar me arrastar pra um casamento sem que eu saiba, mas não vai acontecer sem os meus padrinhos. Está com medo que eles te achem uma má influência pra mim?

–Eu sou a má influência? -Lily arqueou as sobrancelhas. -Tem certeza?

–Pelo que nós sabemos a convivência com você pode me fazer querer respeitar as regras, essas coisas. Imagine o pesadelo que seria.

–Você bem que deveria.

–Assim não tem graça. -Ele lhe deu uma piscadela. -É claro que eu quero ir. O que eu tenho que fazer?

–Impedir que as crianças se matem e quebrem tudo na escola em que minha mãe trabalha.

–E os pais delas?

–Não vão estar lá. Somos só nós.

–Então eu sinto muito, mas não vai rolar. Eu não gosto de crianças que não posso devolver pros pais.

–James! -Ela o censurou e ele riu.

–Você sabe que essas são as melhores. Você brinca enquanto for divertido e quando ela fica chata, porque ela vai, você devolve.

–Não estou nem acreditando no que estou ouvindo. O casamento surpresa está cancelado. -A ruiva entrou na brincadeira e ele a puxou para um beijo demorado quando ela fez menção de se levantar, quase caindo em seu colo.

–Então, Lily, esse é o cara que você disse que não é o seu namorado? -Um dos primos de Lily, o maior deles, perguntou e ela interrompeu o beijo, ficando com as bochechas vermelhas.

–Eu acho que agora eu sou sim. -James disse e ela arregalou os olhos.

–O que está fazendo?

–Te pedindo em namoro, você aceita?

–Não disse que eu era uma má influência? -Ela arqueou as sobrancelhas.

–Eu nunca disse isso, foi o Padfoot. -Ela riu, lhe dando um selinho.

–É, eu aceito sim. -Lily murmurou.

–Uma gracinha, de verdade. -O primo da Lily disse, rindo. -Nós vamos jogar futebol, quer vir?

–Futebol? O que é futebol?

–Você nunca jogou? -O mais novo perguntou com os olhos arregalados. -Onde encontrou esse cara, Lily?

–Eu aprendo rápido. -James disse, se levantando.

–Não mesmo, Potter. -A ruiva se levantou também. -Ele sofreu um acidente há pouco tempo, não pode jogar.

–Por quê? É um jogo violento? -Ele questionou, parecendo ainda mais empolgado.

–Nós só vamos assistir. -Ela disse aos primos e eles balançaram a cabeça, seguindo para os fundos da casa. -Você ouviu o que Madame Pomfrey disse, se quiser ficar bom para jogar Quadribol, precisa se cuidar durante as férias. Você se machucou feio.

–Eu estou ótimo.

–James. -Ela cruzou os braços.

–Você sabe jogar isso?

–Sei, eu te ensino.

–Eu te amo, sabia? -Ele respondeu, sorrindo e passando as mãos em torno da cintura dela.

–Só depois que Madame Pomfrey te liberar pro Quadribol.

–Fechado.

–Eu também te amo.