Os cabelos molhados de James Potter serviam como lembrete para o que havia acontecido naquela tarde todas as vezes que ele questionava se aquilo fora ou não um sonho. Ele estava sentado na floresta proibida com os amigos, olhando para o nada enquanto se lembrava de cada centímetro, cada curva de Lily Evans.

Não sabia como aquela situação os deixava, mas estava pronto para contar toda a verdade a ela. Ela merecia saber que tudo o que aconteceu não foi apenas ele tentando tirar vantagem de seu sofrimento e sim a forma que ele havia encontrado de tentar protegê-la. Sabia que ela ficaria irritada e não a julgava por isso.

—Caralho, Prongs! –Ouviu a voz de Sirius, o chamando de volta para a realidade e voltou sua atenção para os amigos quando ele lhe jogou alguma coisa.

—O quê? –Perguntou.

—Aconteceu alguma coisa? –Remus perguntou, preocupado.

—É por causa da Mitchell? Por isso você está assim? –Peter perguntou com um sorriso. –Moony disse que vocês iriam se encontrar.

—Transou com ela de novo? –Black perguntou, analisando bem a expressão do amigo. –Transou! Você transou com ela de novo!

—Me deixa em paz, Padfoot. –Pediu, revirando os olhos.

—Você transou com ela? –Lupin arqueou as sobrancelhas.

—Esse é o meu garoto. –Pettigrew disse rindo.

—Quem transou com quem? –Marlene perguntou com um sorriso despreocupado nos lábios, visivelmente interessada em saber da fofoca. Enquanto chegava ao lugar acompanhada da melhor amiga ruiva.

—Potter e eu. –Lily confessou. Se ele queria contar para os amigos então ela não tinha nada a esconder.

—O QUÊ?! –Todos gritaram juntos enquanto James apenas arregalou os olhos, passando a mão que estava boa pelo rosto, sem conseguir conter a risada.

—Não era sobre isso que vocês estavam falando? –A ruiva perguntou, as bochechas começando a atingir um tom vermelho.

—Não, Evans, não era sobre isso. –James disse.

—E você não me disse nada, sua traidora?! –McKinnon gritou, empurrando a amiga.

—Aconteceu há tipo, umas quatro horas.

—Merlin, tantas perguntas! –Peter disse rindo.

—Ela não te odiava? –Sirius perguntou e James olhou para Lily esperando que ela respondesse. –Quero dizer, lógico que você quase morreu, mas não sei se isso foi o suficiente. Você foi um filho da puta completo, Prongs.

—Obrigado pelas doces palavras, Padfoot.

—Podemos falar sobre outra coisa, por favor? -Ela pediu. Nunca havia desejado tanto uma capa de invisibilidade como a dele só pra sumir dali rapidamente.

—Não? –Todos gritaram como se fosse óbvio.

—Você não vai dizer nada? –Ela perguntou ao garoto de óculos.

—Ainda processando o que houve. –Ele respondeu, olhando pra ela de forma apaixonada.

—Eu acho que você o quebrou, Evans. –Sirius disse rindo. Todos ainda a olhavam em expectativa esperando uma explicação.

—Eu nunca odiei ninguém. Aconteceu e não conversamos sobre, então não sabemos exatamente aonde estamos. Podemos seguir em frente agora, por favor? –Ela disse rápido, visivelmente nervosa. -Alguém pode me dizer o que estamos fazendo aqui?

—Vai ter uma chuva de meteoros essa noite. –Remus contou. –Não vai dar pra ver direito de dentro do castelo.

Sirius se aproximou de Marlene, passando seus braços ao redor dela e fazendo-a sorrir. Remus começou a explicar para Peter tudo sobre aquele fenômeno enquanto James apenas observava a ruiva atentamente. Ela não disse nada, apenas se aproximou de Potter e sentou-se ao seu lado, deitando a cabeça em seu ombro.

—É verdade o que disse? –Ele perguntou baixo.

—Qual parte?

—Nunca me odiou, Lily? –Ela balançou a cabeça negando.

—Não vou dizer que não tentei... –Ela levantou os olhos, encontrando os dele. –Mas por algum motivo nunca consegui.

—Me desculpe por ser um filho da puta completo.

—Fico feliz que reconhece isso. –Ele riu.

—Ei Prongs, tem uma coisa que eu ainda não entendi.

—Fala Wormtail. –Murmurou, olhando para o amigo.

—E a Mitchell?

—A Mitchell? –Lily arqueou as sobrancelhas, tirando sua cabeça do ombro de James assim que ouviu o nome da garota.

—Não tinha nenhuma Mitchell.

—Ah... –Ele exclamou, finalmente entendendo. –Aaah!

James revirou os olhos e Lily deitou sua cabeça no ombro dele novamente. Foi quando a chuva de meteoros aconteceu. Todos ali contemplavam o fenômeno, impressionados, mas James e Lily não ousaram desviar o olhar um do outro. Ele segurou o rosto dela, acariciando lentamente. Ela sorria e então se aproximou, beijando os lábios dela outra vez. Foi quando uma coisa lhe ocorreu.

—E se você estiver grávida? -James perguntou com os olhos arregalados.

—O quê? -Ela perguntou, corando intensamente enquanto arqueava as sobrancelhas. Ele estava mesmo perguntando aquilo?!

—Nós não usamos nenhum tipo de proteção. Por Merlin, Lily... Você provavelmente vai me matar porque vamos perder o último ano, né? Mas não se preocupe, nós podemos nos casar e eu posso cuidar do Harry pra você estudar...

—Tá bem, tá bem, tá bem, pode parar por aí que ninguém vai perder o último ano.

—Essa é sua preocupação? Okay, nós podemos pedir ao Dumbledore pra trazer ele pras aulas, mas eu não acho que ele vai concordar. Já sei, nós podemos trazê-lo escondido debaixo da minha capa e colocar feitiços anti-ruídos em torno dele, ninguém notaria...

—James. -Ela disse, segurando o rosto dele para que olhasse bem em seus olhos.

—O quê?

—Você está entrando em pânico.

—É claro que não estou. Quer casar comigo? -Disse rápido.

—Eu não estou grávida! E mesmo se eu estivesse, não iria querer que se casasse comigo por isso.

—Como você sabe que não está? Nós não usamos proteção nenhuma! E você sabe que não seria só por isso, Evans.

—Tem uma poção que pode ser tomada nesses casos. Por sorte a Lene tem algumas no malão, está tudo sob controle.

—Mesmo?

—Mesmo. -Ela disse, rindo. -Eu não acredito que me perguntou isso.

—É claro que eu perguntei, você faz ideia de como cuidar de uma criança? Porque eu não, então quanto mais cedo eu começar a me preparar pra isso melhor. -James disse sério e ela gargalhou, passando os braços dele ao seu redor.

—Tenho certeza que vai se sair bem.

—Eu só sei que essa criança vai ter muita sorte de ter você. E se eu colocar fogo na casa? -Lily gargalhou. -É possível, quase aconteceu uma vez. Por Morgana, eu vou ser péssimo nisso, não é? Só está falando essas coisas para eu me sentir melhor.

—Se você colocar fogo na casa nós vamos apagar. Você vai ser um ótimo pai, James Potter. -Murmurou. -Agora para de pensar nisso antes que você enlouqueça e me enlouqueça junto.

—Como se fosse fácil... -Resmungou.

—Eu te ajudo. -Lily disse, puxando-o para outro beijo e, como havia prometido, ela varreu todas as preocupações dele pra longe.

...

Os Marotos voltaram para o salão comunal ainda conversando sobre o que haviam visto. Potter, que mantinha-se calado durante todo o trajeto, pela primeira vez disse algo após dar um beijo de despedida na testa de Lily.

—Pode esperar um pouco, Moony? Eu preciso falar com você.

—Claro.

Os outros subiram as escadas e os amigos se sentaram diante da lareira já apagada. Remus encarava o amigo um tanto curioso e um tanto receoso de que o outro fosse gritar com ele ou tivesse se arrependido de perdoá-lo. Não o julgaria se o fizesse. Para falar a verdade, não entendia como ele havia conseguido depois do que fez a ele e a Lily.

—Está tudo bem, Prongs?

—Não, infelizmente não está nada bem.

—O que houve?

—Você é um dos meus melhores amigos, sabe disso, não é? –Ele parou, olhando para ele. –Sabe que eu não me importo se você é um lobisomem ou o próprio Merlin, não sabe?

—Prongs...

—Eu não te culpo pelo que aconteceu, já te disse isso. –Interrompeu. -Nem eu, nem Lily, nem Sirius ou Peter, nós sabemos que se tivesse escolha nunca machucaria ninguém. Nunca me machucaria.

—Não, eu nunca tentaria... –Remus disse, mas não conseguiu terminar.

—Eu quero que me prometa uma coisa.

—Qualquer coisa.

—Nunca mais vai fazer tudo o que eu quiser porque se sente culpado pelo que aconteceu.

—Eu não...

—Moony, se eu tivesse sugerido para explodirmos a sala do diretor você teria concordado. –Interrompeu e ele riu.

—Também não é pra tanto.

—Promete? –James murmurou.

—James, você poderia ter morrido.

—Mas eu não morri, e se eu tivesse morrido teria virado um fantasma só pra dizer que também não me importaria. Não é como se você tivesse algum controle, Remus.

—Vai ficar com essas cicatrizes pra sempre.

—Eu não me importo. A Evans acha sexy. –Ele arqueou as sobrancelhas.

—Ela disse isso?

—É claro que não. –Os dois riram.

—Fico feliz que vocês se acertaram.

—Eu também.

—Eu prometo, Prongs. –Murmurou depois de um tempo em que eles caíram no silêncio. -Vou tentar não sentir culpa pelo que aconteceu.

—Você não sabe o quanto isso me deixa feliz, Moony. -Potter murmurou e ele lhe deu um leve sorriso. -Ainda vai ao encontro com a Hannah, não é?

—O que diabos estava pensando? -Ele disse, se lembrando daquilo. -Sabe que eu não gosto de me aproximar das garotas, nunca daria certo considerando o que eu sou!

—Essa foi a coisa mais idiota que já ouvi na minha vida e eu falo isso levando em consideração todas as conversas sem sentido que já tivemos com o Wormtail.

—Não é brincadeira, James.

—Também não estou brincando. Essa de lobo solitário não vai funcionar comigo.

—Ela nunca me aceitaria e eu não gostaria de ficar mentindo o tempo todo.

—Tá bem, já estou arrependido, pode voltar a fazer tudo o que eu quero, por favor? -Remus revirou os olhos, mas não segurou o sorriso. -Você vai, não é?

—Sabe que eu não conseguiria desmarcar e muito menos deixar ela me esperando. Eu te odeio.

—Ainda vai me agradecer quando estiver trocando saliva com ela.

—Eu não vou trocar saliva com ninguém. -Lupin riu, batendo uma das almofadas na cara do amigo.

—É o que vamos ver.