—Precisamos fazer alguma coisa. –James afirmou, andando de um lado para o outro no quarto, pensativo, já pronto para descer para o café da manhã.

Ele havia se encontrado com Lily mais uma vez na noite passada, mas a garota não disse nada além de um “Oi Nugget!” um tanto desanimado. Ela permaneceu quieta durante todo o tempo, com um olhar distante e pensativo enquanto o acariciava de leve. Mas ele também não estava muito para conversas, pois ainda repassava a reunião que havia acontecido na sala de armaduras da escola.

—Por favor, não. –Remus pediu.

—Por favor, sim. –Sirius falou, animado.

—É só uma questão de tempo até Você-Sabe-Quem chegar a Hogwarts. Principalmente agora com esses imbecis facilitando a entrada para ele. Nós temos que saber exatamente em quem podemos confiar.

—Ah não... Não diga. –Peter pediu.

—Temos que ir a tal reunião.

—É, ele disse. –Black falou. –Admito que não era o que eu tinha em mente, Prongs. Estava pensando em explosões, algo mais divertido.

—Você ficou louco? –Lupin se levantou. –Se nos descobrirem estamos mortos.

—E se confiarmos nas pessoas erradas também. –Potter falou.

—Ele tem razão.

—Acha que isso vai dar certo, Padfoot? Não podemos dizer a eles que sabemos a respeito da reunião ou eles mudarão de lugar. Assim como eles nunca vão acreditar se dissermos que odiamos nascidos-trouxas. Wormtail é mestiço e um covarde...

—Ei!

—Você está quase sendo deserdado por não ser preconceituoso como sua família, Prongs nunca escondeu que gostava da Evans e eu... Se souberem o que eu sou vão me achar ainda pior!

—Ele também tem razão. –Sirius disse.

—Além disso, o primeiro final de semana após as férias é véspera de lua cheia, o que significa que eu vou estar péssimo e somos grandes demais para usar a capa juntos.

—É por isso que não vamos usar a capa. –James falou. –Temos pouco mais de um mês antes da reunião, certo?

—Pelas barbas de Merlin, eu não estou gostando disso. –Pettigrew murmurou.

—O que significa que temos tempo suficiente para fazer uma poção polissuco. É o plano perfeito! Só precisamos escolher alguém insignificante e que seja idiota o suficiente para não estar entre os líderes da equipe e sim aqueles para quem se passam as informações. Além disso, como já vimos os convidados, não tem como dar errado.

—Está brincando? Tem um milhão de coisas que podem dar errado!

—Estou começando a gostar do plano. –Black disse e um sorriso começou a se formar em seus lábios, fazendo Lupin bufar.

—Querem saber? Eu desisto, vocês deviam estar no St. Mungus e não em Hogwarts. São totalmente loucos!

Os dois voltaram seus olhos para o amigo que tentava trazê-los de volta a razão, mas não conseguiram se manter sérios por muito tempo. Gargalharam alto e o mais responsável do grupo, se não o único, revirou os olhos.

—Supondo que eu aceite participar desta insanidade... –Começou, fazendo o sorriso dos amigos aumentarem tanto quanto os olhos arregalados de pavor de Peter. –A poção é complicada, vai precisar de toda a nossa atenção.

—Ah, nós daremos atenção a ela. –Falou com um sorriso divertido.

—Estou falando sério, Padfoot. Isso quer dizer nada de lua cheia para um de vocês até que ela esteja pronta.

—Isso não é uma opção. –Potter rebateu. –Slugh deve ter um pouco no estoque, podemos roubar.

—Mas será o suficiente? –Lupin questionou, cruzando os braços. Se iriam mesmo fazer aquilo, então que fosse do jeito certo. Não queria que seus amigos fossem descobertos.

—A não ser que encontrássemos alguém para fazer a poção. –Pettigrew sugeriu.

—Não. –O cervo murmurou, baixo, sabendo exatamente aonde ele queria chegar.

—Alguém que fosse excelente em poções, diminuindo assim as possibilidades de algo sair errado. –Ele acrescentou.

—Não. –Reforçou, um pouco mais alto.

—E que já soubesse o que está acontecendo, portanto nos pouparia de explicar que estamos fazendo isso por uma boa causa. –Black ajudou.

—Podemos, por favor, deixar Lily Evans fora disso? –Pediu.

—Eu receio que ela seja a nossa melhor opção. –O lobisomem respondeu.

James sabia e, embora seu plano inicial de fazê-la odiá-lo estivesse indo mais do que bem, ainda sim ver toda aquela mágoa em seus olhos verdes era pior do que imaginara que seria. Ele encarou os amigos por um tempo, então tirou um cigarro do bolso e o acendeu, olhando bem para Remus.

—Você fala com ela.

...

Após o primeiro horário, o sexto ano da Grifinória e Lufa-Lufa haviam recebido a notícia de que a professora McGonagall havia ido até o ministério, portanto teriam dois horários vagos. Aquela era a oportunidade perfeita para falar com Evans a respeito do plano, então Remus se aproximou da garota e inventou uma desculpa de que precisavam resolver um assunto da monitoria para tirá-la de perto de Diggory.

—O que pode ser tão importante para resolvermos no curujal, Remus? –A ruiva perguntou, rindo enquanto o acompanhava.

—Infelizmente eu não posso dizer até que estejamos lá. –Ele falou, fazendo-a revirar os olhos.

—E por que não?

—Você faz muitas perguntas.

—E você não responde nenhuma. –Rebateu e os dois riram. Entraram no curujal e o sorriso dela deu lugar a uma careta mal-humorada quando seus olhos focaram em Potter. –Traidor.

—Nós precisamos falar com você, Evans. –Sirius disse.

Os quatro Marotos estavam ali reunidos agora. Haviam se certificado de que o lugar estava vazio para conversarem. Black e Pettigrew estavam mais próximos, enquanto Potter se mantinha afastado e com um olhar distante. Ele tinha um cigarro em sua boca e não estava usando os óculos. Estava lindo. Mas a garota se obrigou a desviar o olhar para o monitor que a havia levado até lá.

—O que querem?

—Ajuda. –Lupin respondeu. Haviam concordado que ele falaria com ela, assim as chances da garota aceitar participar seriam bem maiores. –Queremos ir até aquela reunião, Lily.

—Bom, caso tenham esquecido eu sou uma nascida-trouxa, então não há nada que eu possa fazer para colocá-los para dentro. –Ela cruzou os braços. –Além disso, podem usar a capa de invisibilidade do Potter, ela se mostrou muito útil da última vez.

—Mesmo com Remus de fora, somos muito grandes para entrar juntos, nossos pés ficariam de fora. –Black disse.

—Você não vai? –Ela questionou, olhando para o lobisomem.

—Não. –Respondeu, um tanto desconfortável, resolvendo usar o que os boatos de Hogwarts diziam a seu respeito para sair dessa. –Lily, você já ouviu o que as pessoas dessa escola dizem sobre mim? –Ela se calou e ele deu o sorriso doce de sempre. –Estou doente, precisarei ir até o St. Mungus no dia da reunião.

—Sinto muito, Remus. Você quer falar sobre isso?

—Talvez em outra hora. –Ele disse, calmo. –Estávamos pensando em usar a poção polissuco.

—Sabem que é perigoso, não é? –A garota ruiva arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços. Já havia lido a respeito dela em alguns livros.

—É, nós sabemos. –Peter resmungou, ainda apavorado com a ideia.

—O que querem que eu faça, exatamente?

—Me ajude com a poção. Ela é complicada e por isso requer um nível de habilidade que sabemos que você tem. Além disso, como estou doente não poderei dar a ela a atenção necessária.

—E por que o Potter não ajuda? Ele é bom em poções. –Questionou, tentando causar alguma reação no garoto que até agora não havia nem ao menos dirigido os olhos a ela.

—É, eu sou bom, mas sou desatento e as vezes confundo os ingredientes. Não podemos correr o risco de errar, Evans. –Respondeu, sério, colocando os olhos nela pela primeira vez mesmo que não estivesse enxergando muito bem.

—Sendo assim, estou dentro. –Lílian deu de ombros. –E então? Já escolheram quem vocês serão?

—Sirius será Gary Nott, James será Travis Goyle e Peter se transformará em Kevin Crabbe.

—Okay... Mas já pensaram em quantas informações Narcisa Black deve ter?

—Olha Evans, temos que admitir que sim, minha querida prima deve saber de coisas que com certeza não serão ditas na reunião, mas nenhum de nós está interessado em beijar o Malfoy, obrigado. Remus faz mais o meu tipo. –O garoto revirou os olhos quando o amigo lhe mandou um beijo acompanhado de uma piscadela.

—Eu sei, por isso eu serei a Narcisa. –A ruiva disse com um sorriso e James gargalhou, cruzando os braços e indo até a garota, parando diante dela.

—Definitivamente não.

—Não estou pedindo permissão, Potter.

—É perigoso, você sabe disso.

—Como se o resto do plano já não fosse. –Revirou os olhos.

—O que acha que o Malfoy vai fazer com você se descobrir que está se passando pela Black? Ou melhor, o que acha que ele vai fazer se não descobrir?

—Ele não vai descobrir. Malfoy nunca presta atenção na Narcisa. Além disso, uns beijos não vão me matar. –Ele arqueou as sobrancelhas e deu as costas para que ela não visse seu rosto adquirindo o tom avermelhado de quando ele estava com raiva.

—Lily está certa, James. –Remus murmurou, tentando trazer o amigo a razão.

—É claro que estou. Se querem descobrir algo mais interessante do que uma lista de nomes, vão precisar se infiltrar muito mais do que apenas ir a reunião.

—Você é insuportável, sabia disso? –Ele se virou para ela, passando a mão pelos cabelos rebeldes e usando seus olhos azuis para fuzilá-la.

—Voltamos aos insultos, então? –A garota questionou, sorrindo de forma petulante e empinando o nariz daquela forma que o tirava do sério. Os outros garotos que ali se encontravam tinham quase certeza de que o amigo estava próximo da explosão e não sabiam exatamente o que ele faria quando chegasse lá.

—Não sabia que algum dia havíamos passado dessa fase. –James provocou, se aproximando.

—Você é um idiota.

—Estou avisando, Evans, fique fora disso.

—E eu estou dizendo que não preciso da sua permissão. –Rebateu e então se virou para Lupin. -Precisamos fazer isso o mais rápido possível, então vou pedir a professora Minerva autorização para pegar um livro na sessão reservada. Já tenho alguns títulos em mente onde podemos encontrar as instruções para a poção e depois iremos até Hogsmeade buscar os ingredientes, tudo bem pra você, Remus?

—C-claro. –O monitor respondeu olhando da ruiva para o melhor amigo. - Enquanto isso vou pensando em um lugar seguro para fazermos.

—Ótimo. Vejo vocês depois, então. –Ela sorriu, saindo de lá e deixando apenas os quatro no corujal.

Todos os olhos se voltaram para James, que ainda tinha os olhos fixos no lugar por onde ela saíra. Em seu peito seus sentimentos se dividiam, estava irritado, mas ao mesmo tempo orgulhoso, queria matá-la por ser tão idiota e queria beijá-la por ser tão corajosa, queria odiá-la porque assim seria mais fácil, mas também estava se segurando para não confessar o que realmente sentia.

James Potter era uma confusão total. Uma bagunça, que acumulava pilhas e mais pilhas de sentimentos enquanto arcava com as consequências de suas decisões impulsivas, mas que ele não via outra saída. Já Lily Evans era o verdadeiro sinônimo de organização. Todos os seus passos eram bem pensados e seus sentimentos eram fáceis de se decifrar por mais que ela tentasse escondê-los. Aqueles olhos verdes mostravam a imensidão dentro dela, expondo claramente como se sentia em relação a tudo o que acontecia. Eles eram diferentes, alguns até ousariam dizer verdadeiros extremos, opostos que nunca conseguiriam nem ao menos tolerar um ao outro.

Ela o odiava, todos sempre disseram.

Mas por algum motivo, ele sabia que não.

Sempre soube.

A verdadeira questão é: Estaria ele pronto para fazer com que aquela afirmativa se tornasse realidade?

—Você... –O cervo apontou para o lobisomem. –Trate de tirar essa ideia estúpida da cabeça dela. Não quero que ela se machuque.

—Ele fica tão sexy quando acha que manda em alguma coisa. –Sirius murmurou para Peter, mas James o ignorou.

—E por que não diz isso a ela?

—Por favor, Remus, eu estou sem paciência. –Ele soltou o ar, cansado. –Pode fazer isso por mim antes que eu exploda?

—Vou tentar.

—Obrigado.