Potter novamente não apareceu para o café da manhã. Queria não sentir falta dele, mas era mais forte do que ela. Sentia falta até de quando ele a tirava do sério com aqueles convites para sair que ela sempre recusava.

Por outro lado, havia Amos Diggory que, claramente, estava tentando se aproximar de Lily e todos haviam percebido isso. Agora que Potter não demonstrava interesse por ela, os outros começaram a se aproximar mais, sem medo de se tornar o próximo alvo do inferno que só os Marotos poderiam fazer com a vida de uma pessoa. Mas ela gostava. Ele era um cara legal, além de bonito e educado e os dois até que tinham os gostos parecidos.

Passaram as refeições daquele dia juntos e, na última aula do dia, ele se aproximou da mesa da garota. O lugar estava reservado para Dorcas, mas ela havia desaparecido na hora do almoço e Lily já estava preocupada. Ela nunca ficava tanto tempo fora, a não ser que algo ruim acontecesse.

—O lugar está ocupado? –Diggory perguntou com um sorriso. Haviam chegado cedo na aula e a professora Minerva estava dando uma olhada nos trabalhos que já estavam em sua mesa.

—Senhorita Evans? –A professora chamou.

—Sim?

—Onde está o senhor Potter? –Perguntou já preocupada. O aluno nunca se ausentava por tanto tempo assim por boa coisa.

—Não faço ideia, senhora, mas espero que tenha sido devorado pela Lula Gigante quando ninguém estivesse olhando, assim ninguém poderia ajudá-lo.

—Muito descritivo, Evans. Passou quanto tempo pensando em mim para chegar a essa resposta? –James entrou na sala com um sorriso presunçoso nos lábios e uma Dorcas corada ao seu lado.

—Na verdade não muito, é o que eu geralmente penso para me sentir melhor. –Lilían respondeu, com uma expressão pensativa.

—Em mim? –Ele sorriu, parando próximo à mesa dela e se colocando na frente de Amos, que a observava atento.

—Em você se machucando seriamente. –Ela devolveu o sorriso e se virou para sua amiga. –Aonde esteve? Eu fiquei preocupada.

—Oh, James e eu estávamos no saguão de entrada e acabamos perdendo a hora. –Dorcas contou e suas bochechas adquiriram um tom ainda mais rosado.

—Claro. –Revirou os olhos. –E imagino que vai se sentar com ele?

—Pedi primeiro, Evans. –Potter respondeu.

—Não vai ficar chateada, não é? –Meadowes disse.

—Sendo assim o lugar não está ocupado, Amos. –A ruiva disse sorrindo para ele, que retribuiu e logo colocou suas coisas sobre a mesa e sentou-se ao lado dela. O sorriso de Potter vacilou por um segundo, mas ele se recompôs e pegou a mão de Meadowes, se sentando mais à frente com ela.

A aula de Minerva passou rápido, embora com alguns comentários irritantes e piadinhas sem graça de Potter e Black que todos os alunos já estavam acostumados, mas, que estavam quase fazendo com que a Evans soltasse azarações nos dois. Todos os alunos saíram da sala, deixando apenas dois casais ali.

—Ei, eu não sei se o Black disse alguma coisa sobre a festa de aniversário da Lene, mas eu queria saber se você vai. –Dorcas perguntou com um sorriso.

—É, ele comentou. Quer ir comigo? –Potter sorriu para a castanha e aquilo foi quase como uma facada no peito de Evans.

—É claro! Q-quero dizer, sim, eu adoraria. –Murmurou, tentando disfarçar a empolgação e falhando miseravelmente. Ele segurou o rosto da garota e, olhando-a de maneira terna, se aproximou e beijou-lhe os lábios. Lily forçou-se a desviar o olhar até que os dois saíram da sala.

—Posso perguntar uma coisa? –Amos disse depois de um tempo observando-a. Por um momento ela quase se esqueceu de que tinha companhia.

—Claro. –Respondeu com um sorriso, embora não estivesse nem um pouco a fim de falar sobre o Potter, quem ela tinha certeza de que seria o assunto principal da conversa.

—O que há entre você e o Potter? Quero dizer, todos sabemos que ele é louco por você e nas últimas semanas vocês estavam bem próximos. Eu pensei que finalmente fossem ficar juntos, mas agora parece que se odeiam mais do que nunca.

—Eu estava enganada sobre ele. Pensei que finalmente estávamos nos acertando, mas o que pra mim significou algo para ele não passou de fingimento e pena por eu ter perdido a cabeça. –Murmurou. –E claro, não vamos esquecer oportunidade.

—Então você gosta dele?

—Como eu poderia gostar de alguém que não conheço, Amos? –Ela levantou seus olhos verdes na direção dos dele e deu um sorriso triste. –Ele se aproveitou de um dos piores momentos da minha vida. Não vejo como eu poderia gostar de alguém capaz de fazer isso.

—Parece horrível, mas infelizmente não escolhemos por quem nos apaixonamos, apenas aguentamos as consequências do que sentimos e, na maioria das vezes, passamos um bom tempo tentando arrumar a bagunça que aquela pessoa deixou. O mais incrível é que por mais que tentamos, nunca conseguimos deixar como era antes.

—Acha isso incrível?

—Qual seria a graça se tudo voltasse ao normal? Não teríamos a oportunidade de nos descobrir e reinventar quando tudo acabasse. –Ele deu de ombros, sorrindo para a garota.

—Maneira interessante de pensar, Amos. –Evans correspondeu o sorriso, com um misto de surpresa e admiração no olhar.

—Lily, eu gosto de você. –Confessou. Ela abriu a boca algumas vezes, mas não sabia o que dizer, então ele foi mais rápido. –Tudo bem, não espero que diga que sente o mesmo, eu só preciso que me responda algo: Acha que poderia dar certo algum dia?

—Eu adoraria que desse. –A ruiva respondeu sorrindo.

James Potter assistiu aquela cena da porta e naquele momento soube que era a hora de ir embora. Estava feito, ela o odiava e havia encontrado uma pessoa muito melhor que ele, que poderia fazê-la feliz e mantê-la longe do perigo. Mas se aquilo era o certo a fazer, por que estava doendo tanto?

O maroto se afastou, voltando para o salão principal deixando seu coração naquela sala, aos pés da ruiva. O coração que pertenceu e sempre pertenceria a ela, para que Lily Evans fizesse dele o que achasse melhor.

...

Naquela noite, James Potter se transformou em animago e mais uma vez a encontrou próxima ao lago negro. Se aproximou e ela estava tão perdida em seus pensamentos que quase não o viu. Ele fez um barulho para atrair sua atenção e ela pulou, assustada, gargalhando de si mesma logo em seguida.

—Você me assustou! –O repreendeu, sorrindo. –Por um momento pensei que fosse me deixar plantada essa noite. –Ele balançou a cabeça em negação e ela estendeu uma das mãos. O animago se aproximou o suficiente para que ela o acariciasse. –É um cervo bastante inteligente. Hagrid andou treinando você? –Um pensamento lhe ocorreu e ela gargalhou alto. –Qual será o nome que ele te deu? Se a cachorra dele se chama Dengosa... –Deu de ombros. Ele se afastou um pouco e se deitou diante dela, olhando atento. –Vou chamar você de Nugget. –O cervo bufou, arrancando gargalhadas da ruiva. –Qual é, nós dois sabemos que provavelmente é melhor do que o nome que ele te deu.

Lily ficou ali mais um tempo e o acariciou mais uma vez antes de sair, se despedindo. Ainda estava chateada pela cena que havia visto mais cedo, e se sentia péssima por isso. Estava sendo uma péssima amiga para Dorcas, que finalmente estava sendo notada pelo garoto por quem nutria sentimentos desde o segundo ano. Mas aquelas caminhadas a noite a estavam ajudando a pensar melhor na situação quando precisava ou então evitar totalmente fazê-lo, como naquela noite.

Quando ela finalmente estava a uma distância segura, James voltou a sua forma real e passou a mão pelos cabelos enquanto a observava sumir de seu campo de visão.

—Nugget? Sério, Evans? –Perguntou, rindo.

Quando voltou ao quarto, encontrou Remus lendo, Peter dormindo e a cama vazia de Sirius. O lobisomem o observou caminhar até sua cama com as sobrancelhas arqueadas e, ao ver o mapa aberto ao seu lado, soube exatamente o que ele estava pensando, mas não se importou. James se jogou na cama e rapidamente caiu em sono profundo.

...

—Tenho novidades. –Marlene anunciou com um sorriso para os Marotos e suas amigas. –Nossa, vocês podem, por favor, se animarem? É do meu aniversário que estamos falando.

—Pelas barbas de Merlin, Lene, nos conte tudo! –Lily ironizou, fingindo animação.

—Desde quando estamos nessa? –Potter perguntou para Black, colocando um cigarro na boca.

—É, Padfoot, você não disse nada sobre nossa nova função de organizadores de festa. –Pettigrew falou.

—Vocês não entendem que estaremos quebrando umas cinquenta regras da escola com essa festa? –Lupin questionou.

—Oh, eles entendem, só não se importam. –Evans respondeu revirando os olhos.

—Exatamente, não nos importamos. –Marlene respondeu. –E vocês quatro estão nessa desde que concordaram em ajudar na saída.

—Não sabia que teríamos mais tarefas depois dessa. –Sirius murmurou.

—Pois é, não deveriam ter concordado. –McKinnon retrucou. –Agora escutem, eu conversei com o Tyler e ele me deu uma ideia ainda melhor.

—Quem diabos é Tyler? –Black perguntou.

—O filho do amigo da minha mãe! Pelo delineador do Morgana, vocês não prestam mesmo atenção no que eu falo! –Respondeu, já irritada com as interrupções e o moreno levantou as mãos em sinal de rendição, rindo. –Ele disse que não pode nos deixar fazer a festa na casa noturna porque somos menores e se alguém abrir o bico ele vai ser deserdado.

—Ótimo, então além de estarmos saindo do castelo escondido ainda iremos a uma casa noturna onde claramente vão estranhar um bando de adolescentes bêbadas. –Remus constatou, irônico.

—Ele é sempre assim? –A loira perguntou ao moreno de longos cabelos e assim como ele, os outros dois amigos balançaram a cabeça em concordância. –Quero dizer, destruir o castelo parece tarefa fácil perto da de convencer o Lupin.

—Você não viu nada. –Peter murmurou, recebendo um tapa na cabeça do amigo.

—Voltando ao assunto, Tyler disse que não pode nos deixar usar a boate, mas podemos usar uma das casas de campo da família dele em Hogsmeade. Disse que é bem grande e que já fez muitas festas lá por causa da grande quantidade de quartos.

—Tem certeza que é uma boa ideia, Lene?

—É claro que sim, Dorcas, relaxa. –Ela sorriu. –Certamente não vou deixar todos dormirem lá, então seremos só nós. Podemos ir embora na manhã seguinte. Vamos estar melhores depois de beber toda a bebida que conseguirmos e ninguém vai desconfiar.

—E como pretende fazer com que ninguém abra a boca?

—Ai Remus, você é impossível. –A dona da festa revirou os olhos, bufando. –Simples, você quer ir a uma festa? Então não deixe que os professores descubram que ela vai acontecer.

—Acho que somos os únicos a ver o quanto isso pode dar errado. –Evans falou para o monitor.

—Ah, qual é, Moony, você está dentro ou fora?

—Tenho oportunidade de escolha? –Ele perguntou ao Black, que apenas suspirou. –É claro que eu estou fora, eu sou um dos monitores. Dumbledore confiou em mim.

—Ele adora dizer isso, não é? –James debochou.

—Não, Moony, você não está fora.

—Então por que diabos me perguntou?!

—Pensei que fosse dizer “Eu estou dentro, Padfoot!” e teria sido um momento muito legal, mas você meio que arruinou tudo.

—Qual o problema de vocês? –Marlene perguntou observando aquilo e eles riram.

Zack Bennet se aproximou da loira e aquilo foi o suficiente para cortar o riso de Sirius. Ele observou o garoto loiro de olhos claros segurando a cintura dela e murmurando algo em seu ouvido que a fez rir.

—Vamos? –Ele perguntou baixinho, mas o garoto ouviu. Ela balançou a cabeça assentindo e segurou a mão dele.

—Lily e Dorcas, vocês vão me ajudar a comprar tudo amanhã okay? Vejo vocês mais tarde. –Enquanto ela falava, Bennet encarava Black com um sorriso vitorioso nos lábios. Potter foi o único que percebeu aquilo e sabia que o amigo se irritava fácil, então colocou uma de suas mãos sobre o ombro dele, como uma âncora que o trazia de volta para a realidade e o lembrava de que ele não podia fazer nada.

Os dois saíram e Amos Diggory chegou, levando toda a paz de James Potter embora. Lily se levantou e com um sorriso se juntou a ele, deixando o saguão de entrada. Dorcas percebeu e aquele foi o seu momento de trazer alguém de volta. A castanha levou uma de suas mãos ao rosto dele e o acariciou, dando um sorriso leve que ele retribuiu, forçando-se a tirar seus olhos da porta por onde o casal havia saído.