Darkness In The Clouds escrita por Lua Redbird


Capítulo 2
Brigas na cabine


Notas iniciais do capítulo

Olá, aqui teremos a primeira aparição do Malfoy, espero que gostem da interação entre eles, que por sinal, não será amistosa.



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NARRADO POR HERMIONE GRANGER

—Hermione! —Ouvi alguém gritar do andar de baixo, provavelmente Gina, encarnando uma pessoa histérica.

Olhei para o meu relógio de pulso e não precisou muito para saber que estávamos atrasadas, mas o meu nervosismo me impedia de cruzar a porta do quarto e descer as escadas. Eu sentia como se algo me puxasse para baixo, fixando meus pés no piso, e não me permitindo dar mais nenhum passo. Estes que me levariam à Hogwarts.

A porta do quarto se abriu estrondosamente para revelar a pessoa por trás dos gritos arrebatadores.

—Sabe que não pode ficar aqui para sempre, não é?- Gina perguntou.

—Nada que uma tentativa não revolva.

—Hermione Granger com medo de ir à escola? —Seu tom foi de zombaria. —E eu achando que o fim do mundo já tivesse acontecido.

—E se não chegarmos a tempo de alcançar os rapazes, outro vai acontecer.

—Vem, vamos logo, vamos perder o trem se não nos apressarmos, você sabe como o trem de Hogwarts segue uma linha de pontualidade britânica impecável. —Gina falou, me estendendo sua mão. Ela tinha um sorriso fraco no rosto, mas, ao mesmo tempo, encorajador, e era apenas isso que bastava. Peguei meu malão com uma das mãos e com a outra segurei a mão estendida de Gina e descemos as escadas.

—Partiram a muito tempo? —Perguntei quando vi que estávamos sozinhas na Toca.

—O suficiente pra você saber que tivemos tempo o bastante pra alcançá-los e ainda estamos aqui.

Nos encaminhamos para fora da Toca com as malas em mãos e invocando uma coragem Grifinória adormecida. Olhamos rapidamente uma para a outra e aparatamos na Estação Kings Cross.

(----)

Desaparatamos e para não sermos avistadas por trouxas, logo atravessamos a plataforma 9¾. Caminhamos pelo lugar que estava apinhado de bruxos e crianças correndo, provavelmente indo se aventurar em seu primeiro ano.

Avistamos algumas cabeleiras ruivas e seguimos em direção a elas. Molly ao nos ver veio ao nosso encontro e me envolveu em um abraço reconfortante e esmagador. Gina lidou com ela pacientemente, respondendo a todas as perguntas e comentários fervorosos.

Seguimos em frente e entramos no Expresso Hogwarts onde eu podia ver os amigos dos últimos anos à frente procurando por uma cabine vazia, então seguimos em direção a eles. Eles encontraram um lugar e começaram a guardar os pertences, fiz o mesmo quando se sentaram e logo peguei um livro para ler enquanto a viajem decorria.

Sem abraços nem nada. Estávamos cansados demais, e a única coisa que nos impulsionava era Hogwarts. Não me surpreendi ao ver que a aparência deles estava tão ruim quanto a minha, mas isso era algo que levaria tempo. Muito dele.

—Todos ficamos surpresos quando soubemos que vocês voltariam. —Neville começou a conversa, nos cumprimentando com a cabeça.

—Não é como se a Hermione fosse deixar nós dois ficarmos com os estudos incompletos. —Harry sussurrou. —Todos sabem como ela é. —Ele dispensou a discrição mais uma vez ao sussurrar tão alto que todos ouviram.

Ela está bem aqui. —Comentei sem tirar os olhos do meu livro. —Vou tentar ignorar o insulto impresso e aceitar o elogio que eu acho que existe nessa sua frase aí, Potter.

Eu tentei parecer divertida, afinal, eu estava com meus amigos, eu podia me esforçar em agir normalmente. Adormecer a Hermione que eu havia me tornado nas últimas semanas. Uma pessoa monótona, sempre absorta em seus pensamentos e devaneios, em um constante estado de torpor, revivendo a cada minuto as lembranças que insistiam em invadir minha mente sempre que tinham oportunidades. Mas o problema, era que eu já havia me tornado essa pessoa, mesmo quando eu tentava parecer normal, todos os meus atos e sorrisos pareciam fingidos demais, forçados demais.

Era inevitável.

—Eu não quero preocupar vocês, mas… —Neville estava incerto se deveria continuar. —Vocês souberam?

—Só pelo começo já sei que é algo que vai nos preocupar. —Comentou Rony baixinho.

—Soube que ainda estão tendo alguns ataques em algumas vilas e até mesmo cidades trouxas. —Neville informou.

—Provável que sejam alguns comensais que conseguiram fugir, só é estranho que o Ministério da Magia não tenha tido muito sucesso em capturá-los. —Harry pensou em voz alta, mais para si mesmo.

—Parece que a situação tem ficado bem preocupante, algumas regiões têm relatado um número de mortes que chamou a atenção do Ministério. —A expressão de Neville se tornou séria.

—Mas eles já estão mandando Aurores e alguns outros bruxos para investigar essas áreas, tudo vai se resolver quando menos esperarmos. —A positividade de Gina foi o que baixou a tensão entre todos.

—Talvez eles estejam apenas confusos, desesperados para seguirem ordens. —Luna finalmente palpitou.

—Ordens de quem, Luna? Voldemort morreu. —Nev lembrou.

—Por isso eles devem estar confusos, bobo. —Ela sorriu levemente. —Talvez eles queiram apenas seguir os ensinamentos passados por ele. Destruindo, matando, causando ao menos um pouco de desespero e aflição como estão fazendo e conseguindo.

—Eu não imagino nenhum motivo pra isso depois de Voldemort ter morrido, eles são tipo um… corpo decapitado. —O raciocínio de Neville continuou funcionando. —Voldemot era o cérebro de tudo, dos planos, das teorias, era ele quem tomava as decisões. Sem ele, eles são apenas corpos sem vida ou inteligência o suficiente.

—Mas parece que eles são inteligentes o suficiente para matarem algumas pessoas e não serem pegos por isso. —Harry falou então.

—Talvez seja por uma informação? —Sugeriu Rony.

O assunto de repente bateu em meus ouvidos, me irritou saber que estávamos conversando sobre o passado, e me irritou ainda mais ver que aquilo ainda estava afetando a realidade atual, o presente em que achávamos estar livres de qualquer ameaça.

—Eles eram perigosos antes seguindo uma linha de raciocínio de planos que poderiam ser previstos e anulados, mas agora eles estão atacando aleatoriamente, não há como montar algo pra impedi-los porque não tem como saber o que vão fazer. —Opinei enfim, sabendo que minhas palavras teriam um peso a mais.

—Hermione está certa. —Rony afirmou e todos concordaram em silêncio, até mesmo Gina.

—Devo lembrá-los que não temos mais nenhuma ligação com isso e não precisamos ficar batendo a cabeça pensando nos motivos que os levam a fazer o que fazem ou o que ainda vão fazer. —Fui firme. —Contribuímos o suficiente. Basta.

—Nos envolvemos do mesmo jeito antes, não deveria ser diferente agora. —Rebateu Harry apesar do meu olhar decidido.

—É diferente, justamente, por termos nos envolvido. —Disse. —Harry, já chega.

—Mesmo se precisarem de nós mais uma vez? —Todos se calaram ao nos ver tendo aquela conversa.

—Eu estou cansada. —Confessei o que já sabiam. —Enquanto eu tiver a opção de deixar isso nas mãos de outros, eu vou deixar.

—Nem mesmo se eu pedir?

—Já perdi muito com a guerra, sei que não tenho autoridade, mas não vou permitir que faça isso, que se envolva de novo.

—Ajudar os outros nunca nos tomou tanto tempo para pensar.

—A possibilidade de te ter em perigo mais uma vez, cercado por inimigos não é algo que eu vou apoiar. —Minha voz vacilou. —Não vou te perder. —Recuperei a chama de determinação que se esquentava em mim. —Não vou. —Repeti.

—Você não vai, ser tragado para uma confusão assim não é novidade, depois de tudo o que passamos deveria saber que sei me cuidar.

—Sabe mesmo? —Ironizei. —Posso jurar que você quase morreu diversas vezes nos anos que se passaram.

—E aqui estou, pronto para outro desafio.

—Você não pode me pedir para que afague seu ombro dizendo que está tudo bem você ir resolver um problema que não é mais seu e que pode te custar bem mais do que parece imaginar.

—Venha comigo então, como fez antes e como pode fazer agora.

—Percebe para onde estamos indo agora?

—Sim, e por isso você também deve notar que para eu dispensar esse lugar eu sei que as coisas vão piorar se não nos envolvermos.

—Acabamos de chegar de uma jornada longa e dura, não pode me pedir para ir em outra.

—Tem razão, peço desculpas, não vou pedir.

—Mas também não deixará de ir. —Concluí.

—Assim que eu puder.

Suspirei fundo.

—Harry, por favor, não faça isso.

—Hermione…

—Por favor, não vá.

Nos encaramos sem quebrar aquele contato, a determinação de um sobrepujando a do outro em uma batalha.

—Harry, ela está certa, você sabe disso. —Rony disse ao fundo, mas, mesmo assim, continuamos a nos encarar.

—Rony, você sabe que isso é importante. —Harry tentou ganhar um aliado.

—Eu sei, mas o que você vai fazer, cara? Nem tem um plano. Você sairia de Hogwarts pelo país tentando solucionar ataques que não tem um padrão?

—Falando assim parece meio estúpido,

—Porque é mesmo.

Até que Harry desviou o olhar.

—Outras pessoas revolverão isso, até lá, vamos esperar, sei é algo novo para quem esteve na linha de frente por tanto tempo, mas é o que há agora. —Rony tentou persuadir o amigo.

Harry intercalou seu olhar entre mim e Rony, pesando os nossos argumentos e os dele.

—Sim, tudo bem.

—Isso agora é trabalho do Ministério, não temos mais que nos preocupar. —Rony reforçou. —Mesmo que eu esteja curioso para saber sobre isso.

Todos então relaxaram de onde estavam.

—Porque todos sabemos que alguém não deixaria nós nos metermos nisso. —Harry caçoou com o humor já renovado. —Mesmo que só para saber mais a respeito.

—Alguém que acha que só fazemos besteira. —Gina cantarolou.

—Ah, e vocês são os certos, não é mesmo? —Expressei minha indignação. —Porque vocês são conhecidos por suas ações cuidadosamente pensadas e decisões prudentes. Peço perdão, ó senhores de sabedoria e sensatez.

Mas antes que qualquer um deles pudesse responder ao meu sarcasmo, fomos interrompidos. Era um garotinho, provavelmente do primeiro ano que estava na porta da nossa cabine. Os olhos grandes e atentos da criança evidenciavam sua excitação e pavor diante de todos nós, mas suas primeiras palavras foram firmes.

—Srta. Granger? —Ele se aprumou todo, ajeitou a roupa e ergueu a cabeça, parecia até um ritual.

—Sim?

—A Diretora McGonagall solicita a sua presença na sala dela neste momento.

Meus amigos me encararam como se eu soubesse o motivo e quisessem que eu compartilhasse. Eu dei de ombros como se aquilo fosse novidade pra mim também.

—Desculpe, mas ela disse sobre o que era?

—A Diretora McGonagall solicita a sua presença na sala dela neste momento. —Ele repetiu como se tivesse decorado apenas essa frase e eu tivesse que me contentar com isso.

—Certo, já vou, obrigada.

Assim ele foi embora, olhando para trás em êxtase.

—O que você fez? —Rony perguntou

—Queria eu saber.

Após me despedir de todos, eu segui reto por algumas cabines até parar diante de uma porta azul, então hesitei sem motivo aparente. Coloquei minha mão na maçaneta da porta e a abri vagarosamente observando logo o quê ou quem estava ali.

Havia mais duas pessoas além da diretora McGonagall, um rapaz alto e uma moça, a diretora olhou rapidamente para a porta como se sentisse que eu estava parada ali.

—Srta. Granger, estávamos a sua espera, sente-se por favor. —McGonagall falou apontando para uma cadeira.

—Obrigada. —Tentei buscar palavras e formular uma frase que pudesse mostrar meu estranhamento com a situação.

—Parece confusa, Srta. Granger.

—Perdão, mas estou sim. —Confirmei o óbvio. —Eu fiz algo de errado? Todas as alternativas possíveis me levam a crer que sim, mas eu não estou entendendo.

—Eu reconheço que a situação parece um pouco fora do usual, mas tem um motivo e espero poder explicá-lo se você se sentar.

Ela olhou para a cadeira dando ênfase ao seu pedido.

—Certo, desculpe. —A vergonha quase me abateu.

—Com tudo o que ocorreu, mais especificamente, a guerra e a destruição eminente de Hogwarts quando a utilizamos como campo de batalha, pretendemos voltar o máximo que pudermos a normalidade. Claro, com algumas alterações benéficas que vocês terão conhecimento sobre elas futuramente.

Levantei minha mão logo quando seus lábios findaram a breve explicação.

—Sim, Srta. Granger?

—Com licença, Diretora McGonagall, eu sei que como estudantes nós temos uma certa parcela de comprometimento nisso, mas para a senhora nos chamar em particular, no que isso nos implica especificamente?

Pela primeira vez ela me olhou como se eu fosse uma tola.

—Vocês foram escolhidos como monitores, é claro.

Olhei para os outros dois que permaneciam em silêncio.

—Isso é estranho, geralmente não mandam uma carta antes?

—Sim, esse é o procedimento padrão, mas acho que vocês compreendem que tivemos certos imprevistos algum tempo atrás que nos impediram de retomar a sequência de sempre.

—A guerra. —Falei.

—Exato, por isso tive que chamá-los para informar sobre isso.

—Eu não pude deixar de notar que temos aqui apenas três alunos, o número de monitores foi refeito?

—De fato, está faltando. -Minerva respondeu. —Parece que nosso outro monitor tem outro compromisso mais importante que esse, mesmo eu não conseguindo imaginar qual.

Eu levantei minha mão novamente.

—Gostaria de acrescentar alguma coisa, Srta. Granger?

—Se me permitir, contudo o que a senhora falou, acabou não nos dizendo quais foram nomeados monitores chefes.

—Que descuido de minha parte. —Ela alisou a ponte de seu nariz. —Muito bem lembrando Srta. Granger. Devo informar, que por mostrar uma postura exemplar, magníficas notas e bom comportamento, foram nomeadas as senhoritas Sophia Myers e Hermione Granger monitoras chefes da escola de Hogwarts, meus sinceros parabéns.

Agradeci silenciosamente.

—E claro, por conta da quantidade, foi feito um salão para os monitores para que a comunicação e a organização se torne mais fácil e acessível, espero que todos se adaptem e continuem com a performance até a graduação. Irei acompanhá-los ao chegarmos em Hogwarts, por enquanto é só. Podem retornar as suas cabines por gentileza.

Fomos nos levantando rapidamente e caminhando em direção a porta, quando a Diretora me chamou.

—Srta. Granger, por favor, gostaria de lhe pedir um favor.

—Claro, diretora. —Falei com um ar derrotado e me voltando para ela.

—Por gentileza, você me faça o favor de comunicar ao outro monitor sobre tudo o que foi aqui falado.

—Como queira, diretora. —Balancei a cabeça. —Quem seria o outro monitor?

—O Sr. Draco Malfoy.

E por um milésimo de segundo eu fiquei sem saber como reagir, me perguntando se ela havia errado o nome ou algo do tipo. Então me convenci de que era eu quem havia entendido errado.

—Quem é o outro monitor mesmo? —Perguntei mais uma vez, querendo ouvir uma resposta diferente.

—Como disse o outro monitor é o Sr. Draco Malfoy. —Ela pareceu notar meu olhar incrédulo. —Sei que é muito para pedir, mas gostaria que não fizesse perguntas ou objeções sobre isso..

—Diretora, isso não faz sentido algum, ele era um deles!

—Eu não tive escolha.

—O que quer dizer?

—Apenas vá, e não quero repercussões sobre esse assunto.

Vendo que eu argumentaria mais uma vez, ela tornou a voz mais autoritária.

—Você já pode se retirar, por favor.

—Sim, senhora. Com sua licença.

Saí dali apressadamente, procurando por uma cabine onde o Malfoy se encontrava. Eu realmente não entendia, talvez McGonagall estivesse ficando senil, essa era uma opção plausível, porque apenas alguém debilitada compensaria ele após todas aquelas atrocidades cometidas.

Eu não ligo mesmo.

Fiquei repetindo a frase em minha cabeça até me convencer, mas a verdade era que me incomodava, afinal, ele era um comensal, lutou na guerra e não foi do lado certo.

Parei em frente a uma cabine onde pude avistar uma cabeleira loira platinada folheando um livro.

Abri a porta da cabine vagarosamente e entrei. Ele ainda não havia notado a minha presença. Estava desatento e desarmado e em uma posição que dificilmente poderia servir de alguma forma para defesa. Se estivéssemos em batalha eu já poderia tê-lo matado facilmente, pensei.

Me sacudi mentalmente.

Eram esses os pensamentos que você adquiria depois de enfrentar uma guerra.

Ele tinha uma aparência abatida, olheiras delineavam seus olhos e seus cabelos lustrosos emolduravam seu rosto, os seus olhos cinzas percorriam as linhas muito rapidamente, enquanto seu corpo forte e esguio parecia desajeitado por estar em um local em que ele não se encaixava corretamente.

Ele levantou os olhos do livro, e por ter sido pego desprevenido sua máscara caiu por alguns míseros segundos e por um instante eu pude ver que sua expressão estava assustada, como se eu fosse uma assombração que estava ali com o único objetivo de lhe atormentar a mente, mas essa expressão logo foi substituída por uma feição fria e sem nenhum tipo emoção senão o tédio.

—Está me encarando a tanto tempo que sinto que vai começar a me pintar.

—Duvido que eu consiga capturar todos os detalhes que o fazem assim tão vil.

—Se quiser tentar sei que vai achar muitos outros detalhes para te entreter.

—Se esse entretenimento envolver forçar o vômito por nojo de você, então imagino que sim.

Seu sorriso foi ácido.

—Granger. —Meu sobrenome pareceu um ruido de desgosto vindo de sua boca. Fiquei tentada a ficar ofendida, mas fazia muito tempo eu não me ofendia mais com o que era falado por ele.

—Malfoy. —Retornei friamente.

—Presumo que tenha um motivo para estar aqui.

—Vim prestar um favor à Diretora McGonagall. —Falei com calma. —A sua ausência na reunião de hoje foi notada, e por isso ela me pediu que viesse lhe informar o que foi falado e decidido hoje.

—Quanto mais tempo demorar para falar, mais tempo ficará aqui comigo. —Em seus olhos eu vi divertimento. —Se apresse.

—Não me trate como se eu fosse sua garota de recados, Malfoy. —Rosnei. —Deveria saber que se eu tivesse alguma escolha, preferia correr atrás do trem agora do que estar na mesma cabine que você.

Eu lhe expliquei o mais rapidamente sobre o que foi falado na reunião para que eu pudesse voltar logo para a cabine em que eu estava e não ficar mais na presença dele. Porque não parecia certo. Uma heroína da guerra no mesmo ambiente que um comensal, um inimigo, e não duelarem? Me parecia extremamente errado.

Quando terminei minha explicação, ele me encarou e disse:

—Dividir o mesmo salão, ano desafiador esse.

Ele estava parado, apenas seu peito se mexia conforme ele respirava, se eu olhasse por muito tempo poderia dizer que ele parecia uma pintura de um anjo da renascença, mas eu sabia bem que sua aparência apenas mascarava o quão execrável ele era.

—Por que está aqui, Malfoy?

—Você quer dizer aqui nessa cabine ou essa é uma daquelas perguntas filosóficas que pedem uma longa explicação sobre por que estamos todos aqui?

—Você me entendeu.

—Por que eu não voltaria? Eu não vou me tornar um exilado só porque alguns não gostam de mim. Mas a pergunta certa seria, por que você está aqui, Granger?

Eu sabia que era estupidez, mas eu não conseguia me fazer responder nenhuma pergunta feita por ele.

—Eu não interajo por vontade própria com criminosos. —Eu me virei pra ir embora mas ele continuou falando.

—Sorte sua que eu possuo métodos de persuasão não convencionais. —Sua voz parecia mais alta e clara, por isso imaginei que ele estivesse mais perto.

—Podem ser inconvencionais, mas não milagrosos.

Ele riu disso.

—Sinto que cada vez que eu te encontro sua polidez decai um pouco mais.

—Já a sua nunca esteve assim tão alta para eu notar a diferença.

Granger, o tempo foi bom com você, em outra ocasião você seria menos agressiva, vejo que aprendeu a rebater.

—Infelizmente, o tempo não está muito a seu favor, continua arrogante e prepotente.

—Eu deveria me ofender? —Sorriu.

—Olha, eu ainda não entendo os motivos que fizeram McGonagall te querer novamente em Hogwarts. Uma das pessoas que destruíram a escola sem o menor pudor. É tão irônico que chega a ser ridículo. —Eu cuspi as palavras.

A expressão do Malfoy se tornou sombria, sua testa estava franzida, sua boca comprimida estava tremendo, seus olhos cinzas reluzentes agora estavam tempestuosos e escuros, como se uma sombra pairasse sobre eles, seus dedos estavam firmes em seu livro, amassando-o sem hesitação, como se não percebesse que estava fazendo isso, e talvez nem percebesse.

Eu quase tive um pouco de medo.

Quase.

Eu sabia que a minha expressão deveria estar parecida. Eu estava muito absorta por uma sede de ódio que me era familiar, algo que eu havia experimentado antes, em meus piores momentos, e eu tive muitos momentos ruins.

A justa Hermione, a garota do Trio de Ouro, julgando uma pessoa por seus feitos passados? Você mudou mesmo, Granger.

Senti asco em ouvir meu nome saindo da boca dele.

—Feitos que tiveram por consequência a morte de diversas pessoas, bruxos e bruxas que estavam lutando por uma boa causa, que morreram e se sacrificaram para que em um futuro próximo pudesse haver um pouco de paz. —Falei aumentando meu tom de voz.

—Não haveria uma causa boa para se lutar sem a oposição, já pensou? —Ele não parecia estar falando sério, estava apenas me instigando a continuar para o seu divertimento, e eu com raiva, segui.

—Você tem ideia de quantas pessoas perderam pessoas importantes por conta de Voldemort? Muitas. E não é carinho que elas sentem pelo pouco que restou da escória que eram os comensais.

—Pensei que as pessoas adorassem um órfão de guerra. —Disse. —Seria eu o novo Harry Potter?

—Cuidado com os feitiços perdidos, um pode lhe atingir. Sem querer, é claro. —Minha cabeça estava doendo enquanto eu falava. Algo estranho e agoniante.

—Preocupada?

—Eu, obviamente, não mancharia o meu nome, nem sujaria as minhas mãos, para lançar um feitiço em você quando outros podem fazer isso por mim com um sorriso no rosto. —Respondi, ignorando a dor que se ampliava a cada segundo.

Ele olhou pela janela rapidamente, pegou suas coisas e andou em direção a porta.

—Vou ter muito tempo para testar essa sua teoria. —Malfoy falou e saiu da cabine, me deixando sozinha, atordoada e nervosa.

Toda aquela discussão se esvaiu com facilidade da minha mente por um pequeno momento, e meus pensamentos se focaram apenas em um magnífico e suntuoso castelo que estava tão perto de mim agora.


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Notas finais do capítulo

Bem, foi isso, espero que tenham gostado, comentem o que acham que eu posso melhorar. Talvez os diálogos ou mais detalhes nas cenas? Me avisem.
Obrigada.