Crescendo - Shirbert escrita por Sabrina
***
— Anne, preciso te contar uma coisa!
Diana olhava para a amiga de modo culpado. Suas bochechas estavam coradas e a testa, suada. Ela havia corrido de sua casa até Green Gables. Não é uma distância muito longa, mas leva alguns minutos numa caminhada normal.
— Sente-se e me diga – disse Anne, e a outra obedeceu. – Aceita um copo d’água?
— Depois. Agora preciso te contar... – Diana respirou fundo. – Acho que estou desonrada.
Anne cobriu a boca com a mão, em choque. Desonra é a pior coisa que pode ocorrer a uma moça solteira e não podia acontecer com sua melhor amiga, justo ela, a pessoa mais honrada que conhecia.
— O que houve? – perguntou.
— Eu e Liam fizemos um passeio hoje mais cedo, e pouco antes de me deixar em casa, ele me beijou. Mas oh, eu esqueci de contar os segundos! Devem ter se passado uns vinte quando me toquei e encerrei o contato!
Anne arquejou, preocupada.
— Alguém mais sabe?
— Não, só você. Eu simplesmente não sei o que fazer, Anne. Vim aqui na espera de um conselho.
Ao ouvir aquilo, a garota ruiva começou a andar de um lado pro outro, pensativa. Ela vinha se esforçando tanto para não se deixar levar com Gilbert, e isso acontecia justo com Diana... Sempre achou que seria consigo.
— Anne? – chamou Diana. – Por favor, me diga que vê uma saída.
— Talvez devêssemos pedir a orientação de um adulto. Penso em Marilla, pois ela não contará a ninguém. Mas não podemos deixar que ela perceba o que aconteceu, está bem?
Diana assentiu, e as duas deixaram o quarto para ir ao encontro da senhora que estava lavando roupas. Ela parou o serviço e olhou para as duas como se previsse uma confusão.
— Marilla, queremos te perguntar uma coisa – disse Anne, enquanto Diana fitava o chão. – Estamos com uma dúvida agoniante.
— Sobre?
— Relacionamentos amorosos.
“Lá vem”, Marilla pensou, temendo pelo pior.
— Nós queríamos saber... – começou Anne, olhando nervosamente para a mais velha. – Qual é o limite para a desonra de uma moça solteira, e o que fazer quando isso acontece.
Marilla sentiu as pernas ficarem bambas e se sentou na cadeira mais próxima, com a mão no coração. Ela não conseguia falar, só olhar para Anne.
— Calma, eu não estou desonrada – ela se aproximou e tocou no ombro da mãe adotiva. – Não precisa se preocupar, está bem? Só queremos saber para... podermos agir bem, entende?
Marilla suspirou, aliviada. – Nunca mais faça isso comigo, Anne Shirley. Que susto você me deu!
— Desculpe.
Um longo silêncio se estendeu enquanto Marilla pensava em como responder a pergunta das garotas. Pensou no que Rachel diria, depois no que ela própria pensava.
— Creio que... creio que não há nada de desonroso em toques do pescoço pra cima.
Anne e Diana se entreolharam. Se aquilo era verdade, então estava tudo bem. Diana não estava desonrada. E só podia ser verdade, porque Marilla não mentia. Sempre dizia que mentir é um pecado muito feio e vergonhoso.
— Então... – começou Diana, timidamente. – Beijos não são limitados e desonrosos se durarem mais que dez segundos?
— Mais que dez segundos? – Marilla soltou uma risada. – Creio que não há nada de errado se você tiver um compromisso sério com o rapaz, e que seus pais aprovem esse compromisso.
As duas amigas se entreolharam novamente e sorriram aliviadas.
— Obrigada, Marilla – disse Anne.
— Obrigada – repetiu Diana, sinceramente agradecida.
As duas se aproximaram da senhora e beijaram suas bochechas enrugadas, uma de cada lado. Marilla ficou desconfortável, mas depois que elas se afastaram e foram embora, rindo, ela se permitiu sorrir também.
— Essas meninas...
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!