A Vida no Mundo da Lua escrita por Hurricane, Breno Velasco


Capítulo 2
Os Pecados de Luna


Notas iniciais do capítulo

O segundo - e último capítulo - dessa história é escrito por Breno Velasco, conhecido programador e músico.
Aqui, Heimrich toma os holofotes e organiza um motim com armas adquiridas de formas altamente ilegais. Ele leva a luta dos guetos para a superfície da base, em nome de uma moral própria - ou falta desta.



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Acabou de acontecer, mas eu sei que isso ficará para sempre na memória: Nico correndo em minha direção, com respiração trancada e ofegante, noticiando a morte de Jacques Dorian-Pierre.

E por que eu hei de nunca esquecer deste momento? Porque Jacques Dorian-Pierre dedicou sua vida em Luna aos renegados e famintos; porque sua última ação foi a de um sacrifício premeditado e corajoso; porque ele construiu uma fama tal que, em sua morte, tornou-se um mártir.

Se sua morte foi um fogo apagando, eu sou a energia que se aproveita da última centelha. E eu repassarei este fogo a quem sente falta do calor.

Volto minha atenção ao Nico assim que ele sai dos meus aposentos. Provavelmente esperava por alguma resposta minha, mas devo ter fitado a parede este tempo todo, pensando nos meus próximos movimentos no tabuleiro.

Em cima da mesa, a última carta que Elisabeth escrevera para mim, antes de me trocar por outro, mais rico e influente, residente da superfície de Luna.

“Heimrich, lamento por acabar com tudo tão rápido assim. Escreverei pouco para que Davi não perceba que eu ainda estou falando com você.

Eu não tenho a coragem suficiente para lhe encontrar novamente, não depois do que eu te fiz. Por isso, acho que o melhor a se fazer é o que eu já estou fazendo, que é sair do gueto e conhecer outras pessoas, outros lugares.

Lá, eu espero conquistar a maturidade que eu sinto que falta em mim – o que você já havia apontado. Nestes 2 anos e 3 meses juntos, sinto que tudo o que eu fiz foi errado, de que eu não era boa suficiente para você e–“

Ler a parte em que ela diz “não depois do que eu te fiz”, se referindo à traição que eu sofri mês atrás, não é tão difícil de engolir quanto a parte em que ela diz que fez tudo errado e não era boa suficiente para mim. 2 anos não podem ser resumidos a isso.

Paro de ler, e para tal, uso como desculpa o barulho dos burburinhos lá fora: a notícia está se espalhando rápido e eu preciso agir.

Minha vontade é de fazer uma grande e heróica proclamação, “eu, Heimrich von Wolfgang, liderarei a caça aos nossos inimigos, honrando Jacques Dorian-Pierre! Voltarei com armas e precisarei da ajuda de vossa força!”, mas os corredores são estreitos, e os de cima nos buscam todo dia, toda hora. Por isso, torno a afogar meu orgulho nas águas da realidade e digo a mesma frase que eu pensei em pronunciar, mas sussurando, no ouvido de quatro, cinco vizinhos, que começam a espalhar a notícia.

Seus olhos voltam a ser de esperança e todos sorriem para mim. Na nossa última conversa, Jacques disse que eu era “qualquer um”, mas não agora – agora, eu sinto o que Jacques sentia, e por isso eu me sacrificaria.

E quanto à Elisabeth… encontrarei-a nas ruas da superfície, no embate prestes a acontecer.

Um dia, Jacques me disse: “Em Luna, conhecemos nossa verdadeira natureza.”

Sinto falta da vida na Terra.

Tudo aqui é artificial e superficial. Sinto como se tivéssemos desviado do caminho do que é divino, do que é belo.

Aqui, as árvores são criadas em fábricas e exercem a mesma função que as árvores naturais. Há relevos projetados especialmente para simular planaltos, planícies, montes e montanhas. Não há animais, além dos já mortos para consumo imediato – e de pensar nisso, sinto saudades do canto dos rouxinóis…

É um tanto satírico, mas por aqui só existem ricos e pobres – o meio termo é uma raridade. Estes, os da classe média, normalmente são recém-chegados cujo destino ainda não lhes reservou um lugar estático.

Talvez seja porque, aqui, tudo é construído, até mesmo a pobreza, diferentemente do que na Terra, com a intervenção do que é maior; do que nos é desconhecido. Aqui, o homem é causa e efeito de tudo, sendo, portanto, o único responsável sobre as coisas que acontecem.

De pensar na minha vida antes de Luna, também sinto falta de Elisabeth. Nossa vinda até aqui mudou tudo para pior.

Preciso parar de pensar nessas coisas.

Infiltro-me na sala de registros da polícia. É impressionante a facilidade com que um habitante dos guetos consegue fazer isso, embora o mesmo não possa ser dito para os que vivem lá em cima. Para eles, a segurança é reforçada em cada canto.

Aqui em baixo, contudo, basta cortar as conexões certas e abrir as portas. Nenhum problema.

As câmeras me vigiam, mas eu tomei todas as precauções e, agora, os guardas estão revendo as gravações de 30 minutos atrás. Dentro de 30 minutos, os guardas virão uma tela preta, descerão à sala para buscar por anormalidades e eu não estarei mais lá.

Encontro uma pasta chamada “#0170997 Incidente na Doca”, e ela ainda está quente da impressão. Pego na minha mochila uma ficha que Yukio havia me passado.

Ainda bem que eu recusei o trabalho.

Yukio Kawagari é um dos irmãos Kawagari que me convocara para um trabalho de contrabando de armas potentes – algumas até nucleares –, solicitadas por um cliente desconhecido. Deu-me uma folha, contendo o valor do pagamento total, integrantes da operação, localização e hora. Ao recusar o trabalho e sabendo que o dinheiro era o suficiente para nos tirar dos guetos de Luna, pedi conselhos ao meu amigo Jacques, que me disse para manter recusada a oferta.

Depois disso, o contrabando ainda ocorreu, mas Jacques, famoso vigilante dos guetos de Luna, parou o processo a tempo de evitar algum desastre maior, principalmente contra os moradores do subterrâneo, quebrando o vidro do deck de reparo que separa Luna do vácuo espacial, condenando todos os contrabandistas, incluindo ele, à morte.

A pergunta que fica é: onde estão as armas?

Quem pode me responder é Yukio, mas ninguém o vê ou ouve – o cara é um fantasma. Outra pessoa que pode saber é o cliente desconhecido, mas não sei se ele foi morto no incidente e, mesmo estando vivo, não teria por onde começar a procurá-lo.

O único restrito contato que Yukio mantém é com algumas de suas mulas, empregados ou quando precisa de terceiros para o trabalho. Por isso, abro a ficha policial do incidente e comparo com a folha que Yukio me dera e busco por nomes de pessoas que ainda estejam vivas.

Hikaro Izami, Matthew de Garça… todos estes nomes na ficha de Yukio, mas também na ficha policial, assinalados como mortos. Continuo olhando, e nada…

Frank Solano? Ele não é mencionado em lugar algum nos registros policiais, mas está na outra folha – um dos últimos nomes listados.

Guardo tudo o que tenho que guardar e apago os vestígios da minha presença. Esgueiro-me de volta ao subterrâneo.

Paro. Tomo uma ação inconsiderada: subo as escadas, retomo o caminho e volto à sala de registros policiais. Controlado pela ansiedade, busco por um nome particular nas mais de dezenas de milhares de fichas: Davi Heinz.

Demoro alguns segundos ou minutos, não sei, mas encontro a ficha. Abro-a, e encontro seus detalhes mais particulares, além de uma foto de perfil. Seus olhos são dignos de quem é traiçoeiro, e seu sorriso, falso.

Vou à parte que me interessa: os boletins de ocorrência.

Só há um, e diz:

“#221512940

       17 de Janeiro de 2215, 8h30 a.m.

       Agressão doméstica contra a Srª Elisabeth Sans Heinz.

       Corpo de delito: marcas de pancadas na têmpora e na bochecha. Pequeno corte próximo à pálpebra do olho esquerdo. Pequeno sinal roxo de hemorragia nos pontos já mencionados.

       Liberado por pagamento de fiança: $500,00.

       A vítima se recusa a tomar medidas cautelares quanto ao agressor.”

Eu não consigo pensar em nada senão em: ele é um homem morto.

Não faz muito tempo que isso aconteceu. E ela não me enviou carta alguma. Não falou nada sobre o que aconteceu.

O que a vida quer me ensinar com isso?

Ouço passos ritmados e pesados próximos da porta. A maçaneta gira e eu já estou correndo. Gritos invadem meus ouvidos, que por muito pouco não são atingidos por disparos.

Diversas papeladas caem no chão. A perseguição é curta, mas o suficiente para uma estante inteira cair sob um guarda desajeitado.

Ele chama reforços, mas nesta altura eu já estou no subterrâneo. Eles vão me procurar, com certeza. Seus passos pesados na escada de metal. Mas eu já estou em outro lugar.

Não há como competir contra ratos em um labirinto.

Luna não tem um pôr-do-sol, mas tem uma linda e artificial aurora boreal. Eu não sei como conseguiram colocar esses tons purpureados e esverdeados, mas talvez seja a coisa que eu mais goste daqui.

Se fosse na Terra, a essa altitude, a brisa beijaria meu rosto e acariciaria minha nuca, mas aqui, o ar é o mesmo em qualquer lugar, em qualquer hora.

Como o ar daqui nunca muda, os barulhos do trânsito e dos outros prédios não chegam aos meus ouvidos. Em vez disso, ouço o estertor de Frank Solano, logo atrás de mim. Acho que se passaram 2 minutos. É melhor eu manter o ritmo.

Saio do parapeito, no 22º andar, e entro novamente no interior do apartamento. Frank não está em suas melhores condições. Aliás, aposto que, mimado como aparenta ser, nunca esteve em estado pior.

Removo abruptamente a fita em sua boca. Ele grita por ajuda.

Ninguém ouve. “Ter comprado dois andares inteiros como seu apartamento não deve ter sido uma boa ideia”, ele deve estar pensando.

Seu olhar continua petrificado na minha cicatriz e no meu olho cego. Ele sabe que eu estive lá, em Saturno-I, o maior e mais desumano presídio de Luna. Se ele está a par da hierarquia de lá, ele sabe o que significa a minha cicatriz, especialmente estando no olho direito. Por isso seu olhar está cinza e duro, como pedra.

— Eu não sei onde estão as armas!

— Eu conheço um mentiroso — disse calmamente, acariciando com dedos soltos uma faca de cozinha, em cima da mesa da sala. — Você tem certeza que essa é sua decisão final?

— Tenho. Eu já disse que não sei. Yukio nunca passaria essa informação para mim — disse, resignado e orgulhoso. E amedrontado.

— Bem… já que você se faz de cego, talvez isso não doa tanto. — Agarro a faca e ando sossegadamente em sua direção.

Eu vejo o medo em seus olhos. À medida que aproximo a faca do seu rosto, eles tremem e os dentes machucam os lábios ressecados. Ele sabe onde está Yukio, mas o  que eu estou lhe reservando não é pior que a atitude que Yukio tomaria caso fosse incriminado, eu imagino.

Tentarei, mesmo assim.

Tremo a faca de propósito para que a visão seja pior – um louco de Saturno-I, com uma cicatriz no olho direito, sem o devido controle sobre uma arma branca.

Ele cede. E afinal, quem deseja ficar com um olho cego?

Ele balbucia algo sobre Lun Innovatives. A famosa consultoria?

— Sim, as pessoas não sabem, mas Yukio é o verdadeiro diretor executivo da Lun Innovatives. É uma grande fachada para a entrada de tudo o que é ilícito em Luna, e isso inclui as armas.

— E por que ele iria querer trazer armas nuclerares para Luna? Quem é o cliente interessado?

— Eu não sei quem é o cliente, mas pelo tamanho do poder de fogo, provavelmente deseja explodir Luna inteira — disse, com ódio no olhar.

Mantive-me em silêncio por um tempo. Isso só fez aumentar o medo em Frank

— Por que alguém iria querer destruir Luna?

— Vai além da minha compreensão — respondeu, com um sorriso malicioso.

— As armas estão nessa empresa?

— Sim — disse, sentindo-se demasiadamente culpado —, no armazém subterrâneo.

É tudo o que eu preciso saber. Vou até o sofá e coloco minha touca.

Não sei se um dia me acostumarei a ver tanto conforto e luxo em Luna, como Frank vê todos os dias em seu apartamento. Vou até o banheiro e recoloco minha lente de contato no olho cego. Aprecio os quadros e objetos mais uma vez, andando pelo corredor, e chegando na sala, retiro uma nova fita para colocar na boca de Frank.

— Ei! Eu falei o que você queria!

— Eu sei. — Coloco a fita em sua boca.

Saio do apartamento.

Irônico pensar que eu nunca viria a saber que, do grupo que encomendou as armas e contratou Yukio para realizar a troca, Frank era um dos membros – o cliente desconhecido. Um grupo disposto a explodir Luna. Mais irônico ainda é saber que ele morreu como um homem do gueto: de fome e sede, sozinho e rejeitado, depois de 4 dias amarrado à cadeira.

Eu não sei se foi uma ideia estúpida ou inteligente, mas por não ter dado certo para Yukio, eu diria que foi inacreditavelmente estúpida.

Havia dois problemas principais concernentes ao armazém de armas: subestimação e localização.

Sobre a subestimação: Yukio achou que ainda poderia revender as armas para outros compradores, mas não queria chamar atenção. Portanto, o armazém estava totalmente desprotegido. Nenhuma vivalma andava por lá. A única segurança era uma tranca digital pela qual eu pude facilmente passar.

Sobre a localização: subterrâneo. Uma parede de 1 metro e meio de largura separava o fim de um dos becos da fina parede do armazém, de modo que não foi difícil reunir alguns homens prontos para retirar as armas assim que as furadeiras derrubassem a parede.

Enquanto o roubo acontecia, foram feitas barricadas nos corredores íngrimes do beco. Se descessem e tentassem batalha por ali, seria vitória garantida.

Não dei grandes discursos, nem bradei como bradam grandes heróis e mártires da nossa história. Simplesmente repassei as armas para todos os homens e mulheres dispostos a lutar. Pessoas com suas histórias esquecidas, suas humanidades reduzidas ao estado de animais desambiciosos. Há diversos nomes para pessoas como nós: massa, populacho, plebe, gado. Somos muito mais do que essas definições.

E em meu âmago, no mais fundo do meu coração, eu não gostaria que ninguém soubesse, nem gosto de admitir para mim mesmo, que grande parte das minhas motivações não dizem respeito ao povo e sua sofrença. O motivo é muito mais egoísta, e por isso, eu invejo um pouco Jacques.

Agora, todos me veem como um líder: o homem que sobreviveu a Saturno-I e trouxe armas ao motim. Mas eu só quero que tudo acabe logo. Só quero encontrar Elisabeth.

É meio-dia. O horário que combinamos.

Todos começam a subir escadas, canos, passagens que com certeza os moradores da superfície não tem ideia de que existem.

Eu sou um dos primeiros a subir. Estou num beco entre dois prédios gigantescos. Saio das sombras e deixo o sol bater em minha cara. Sua luz ofusca minha visão e percepção – há tempos não sabia o que era deixar o sol tocar a pele desse jeito. Este calor se faz ausente nos guetos.

Os transeuntes ficam assustados. Eles sabem o que significa a minha careca e minha cicatriz que passa pelo olho cego, e por este motivo se perguntam o porquê de eu ter saído dos subterrâneos. Tamanha afronta costuma ser contida por guardas bem posicionados em cada esquina, e assim que dois deles me veem, passam a correr, apontando seus fuzis.

Do outro lado da rua, moradores do gueto atiram. Atingem letalmente um soldado e fere o outro, que foge mancando. A desordem se estabelece com gritos, tropeços e choros. Atiro ao alto para garantir a balbúrdia.

Quando dou por mim, há centenas na minha retaguarda, atirando a torto e a direito em prédios, janelas, pessoas.

A resposta é rápida – o alarme é soado e helicópteros já começam a aparecer. A estrutura e as pás são gigantes, parecendo até um avião. Diversos disparos alcançam a lataria blindada do veículo, e os soldados que sobrevivem descem às ruas por rapel.

Marchamos, limpando as ruas e calçadas e conquistando espaço.

Cinco minutos depois, entramos em área residencial. A casa de Elisabeth e Davi está perto, e minha ansiedade só cresce. Uma onda de violência corre como um turbilhão em minhas veias, e arranco tudo da minha frente como um bandeirante arranca mato.

A adrenalina não faz eu perceber que eu fui atingido no braço esquerdo. Enquanto eu não sentir a dor, não há problemas.

A essa altura, a Terra já deve ter sido comunicada e estão enviando sua tropa de elite para conter nosso avanço. Estamos correndo contra o tempo.

Quem nunca viu alguém se sentindo vingado saberia distintamente o sentimento caso visse qualquer um dos moradores do gueto neste momento. A esperança que vi nos olhos destes rejeitados, quando anunciei a rebelião, não condiz com o que vejo agora. É um misto de prazer com sadismo involuntário. É uma raiva disfarçada de satisfação. É o pior que o ser humano tem a oferecer.

Mulheres e crianças caídas no chão, sem vida... Fomos longe demais. Não aguento mais ver essas cenas – cenas que eu já vi muito em meu passado.

Avisto a casa de Elisabeth. Corro contra o fogo cruzado, descarregando meu pente em homens uniformizados e armados até os dentes.

Olho para trás. Os moradores me dão cobertura. Deitado no chão, morto, jaz Nico, um dos mensageiros mais rápidos que eu já vi. Fui longe demais. Não posso parar agora.

A adrenalina não deixa eu perceber: já estou na frente da casa deles. A porta está a  alguns passos, e quando percebo, ela já está arrombada e eu já estou apontando a arma para a frente.

Encontro Davi abraçando Elisabeth, tentando protegê-la de mim. A minha pontaria é boa e acerto em cheio a sua cabeça. O sangue explode na parede e escorre até o chão, onde agora está seu corpo. Elisabeth grita.

Não, ela berra. Suas mãos tremem, suspensas no ar. Esse olhar… eu nunca havia visto esse olhar, antes. Uma pessoa perder outra pessoa amada.

Ela teria olhar semelhante se eu morresse?

Ela ajoelha e abraça o corpo imóvel e vermelho do marido. O rosto irreconhecível. E eu, parado, ouvindo o som do nada – um som que toca sempre que o tempo para, que as coisas parecem se mover mas ao mesmo tempo ficam estagnadas.

Ela me encara, incrédula, explosiva, angustiada… a soma de todas as emoções resumiria um sentimento que nutre o desejo dela pela minha morte. Semblante rancoroso, gritos, berros e choros. Além do mi bemol que se prolonga em meus ouvidos – o som do nada –, eu consigo ouvir algumas palavras. “Animal”, “larguei”, “morrer”, “morrer”.

Eu dou alguns passos para a frente.

De alguma maneira, eu ainda consigo ver uma saída disso tudo. Uma luz no fim do túnel. Mas como? Como?

Eu fui longe demais.

Mi bemol. Mais palavras; “monstro”, “Deus”. Ouço, também, sons de disparos diferentes dos quais estavam tendo. População gritando. Será que a tropa de elite da Terra chegou?

Estendo meu braço para alcançar o ombro recolhido de Elisabeth, mas ainda está longe...

A luz que passava pela porta e terminava no chão se torna a silhueta de um homem armado. Nossos olhos nos encontram e rajadas de tiros são disparadas contra mim.

Caio no chão. A luz já não tem mais a silhueta do homem, e consigo ver perfeitamente uma linda casa através da porta.

Olho para o lado e Elisabeth também foi atingida na barriga. Eu vejo seus olhos perdendo vida a cada segundo. Ao mesmo tempo, lembro dos seus olhos tão próximos dos meus, felizes.

Quando saio do meu devaneio, ela já não respira; seu corpo abraçado ao de Davi.

As ruas vão se silenciando. Eu não quero morrer.

“Em Luna, conhecemos nossa verdadeira natureza.”

Sinto minha respiração cortada.


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Notas finais do capítulo

Apesar de tudo, espero que tenham gostado da história. Até uma próxima vez.



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