Tentações, Segredos e outros Contos escrita por Ganp3 Di3x


Capítulo 2
Valores


Notas iniciais do capítulo

Seguindo a mesma linha do primeiro conto, me baseei em um conto de Luiz Vilela, este chamado de "Deus sabe o que faz". Para iniciar a leitura, tenha em mente que há, na escrita, várias possibilidades de "fluxo" de ideias. Por que um autor deixa de usar pontuação final, por exemplo? É o caso deste conto, pense sobre isso.



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Garotos não choram e por isso ele guardou tudo para si, garotos não choram mesmo que se sintam destruídos por dentro – a sua mãe, agora velada, fora vítima de um acidente, morrera jovem; seu pai nada pôde fazer, ou melhor, poderia ter parado de beber, mas não o fez, estando agora preso numa cela suja e apertada com outros dezenove detentos, cujos crimes variavam entre estelionatário, furto leve e homicídio doloso; porque garotos não choram, e isso sempre lhe foi repetido, ele não mostrou reação, seguiu parado, um rosto lapidado na pedra, imbuído de nenhum sentimento, vestido de preto, é o que pede a tradição, ao lado do irmão mais velho e em frente a todos os presentes; até que tudo terminou, então todos os convidados os deixaram a sós, se despediram e foram para suas casas viverem suas vidas, chorarem suas perdas, serem sensíveis; os órfãos seguiram na presença de um parente distante, distante no grau e no contato, viveram juntos até que se tornaram moços; o irmão mais velho entrou no mundo do tráfico, vendia cocaína batizada com pó de giz e crack em bocas de fumo decadentes, o parente distante tomou mais distância, cortou laços e se acabou com álcool e prostitutas, deixando-o, então, mais só do que ele uma vez já fora; porém moços não choram e ele seguiu com sua vida, encontrou uma doce moça, começou a trabalhar como garçom num bar de esquina, cujo esforço provia um baixo salário e um teto para se viver; e como moços não choram, eles crescem para virarem homens; a doce moça que estava com ele deixou sua doçura para trás, passou a odiar a própria vida e a tomar decisões infelizes: se tornou usuária das drogas batizadas que seu irmão vendia –  apenas uma erva, dizia, até que se tornou uma carreira e, por fim, uma injetada; seu irmão se aproveitava do delírio da mulher e se enfiava com ela no quarto do fundo da casa onde eles moravam, ficavam lá por horas, até que ele voltava do turno como garçom do bar e os pegava rindo e fugindo pela janela; isso aconteceu até que ele chegou numa verdade libertadora e tomou uma decisão, ouviu a vida toda que homens, moços e garotos não choram, mas nunca ouviu que estes não poderiam se matar.


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