Já era quase noite quando ela ouviu a ruidosa campainha de sua casa tocar, pelo menos teve a decência de aparatar a porta e não dentro do apartamento. Inspirou fundo e levantou-se, começava ali os 30 dias de eterno sofrimento que Merlim tinha destinado para si.

Abriu a porta, e não se enganou, com uma camisa branca mal abotoada coberta por um casaco de cabedal e aquele maldito sorriso, ele estava ali, carregava apenas um pequeno saco com alguma roupa. “Oi priminha” disse sarcasticamente e sem lhe responder ela cedeu passagem.

“Espero ainda ter vindo a tempo do jantar, estou com uma fome! O que fizeste para mim?” Ela disse quando ele se lançou, completamente à vontade. Bellatrix arqueou a sobrancelha e sorriu com sarcasticamente “Bom noite priminho” Ela disse enquanto se sentava, elegantemente, na poltrona ao lado dele. “Estava a pensar exatamente no mesmo, no que ias fazer para jantarmos! Os tachos e as panelas estão no primeiro armário e na gaveta à esquerda, as colher, por favor sente-te a vontade Keatcher… ups, Sirius” Ela disse fingindo-se atrapalhada mas rindo. “Bella…” Ele disse mas a ação dele a surpreendeu “Ok, eu posso cozinhar. Vamos ver o que é que tens!” Ele abriu os armários e ficou olhando. A verdade é que Bellatrix raramente comia em casa, o que significava que tinha pouquíssima coisa, um pote com sal, outro com açúcar e um pacote, já velho e provavelmente inutilizável, de macarrão. “Bem Bella, se queres que eu cozinhe, eu preciso de algo para cozinhar…” Ele explicou olhando-a “E eu preciso de comer. Vem!” Ele puxou pelo braço e antes que ela pudesse dizer algo mais, sentiu aquela sensação no umbigo, a voltas e contra-voltas, e puff, tinha aparatado. “E avisar não?!” Ela disse irritada com ele quando chegaram ao centro de Londres “Não voltes a repetir a piada” Ela pós a mão a varinha e ficou em pânico quando percebeu que a tinha deixado em casa, ou seja, precisa do estupor do primo para voltar o quanto antes. “Vamos só comprar alguma comida, é rápido.” Ele disse puxando em direção a um supermercado muggle. “ESTÁS A GOZAR COMIGO, MAS TU ACHAS QUE EU VOU ENTRAR ALI, NUM SÍTIO NOJENTO DE MUGGLES??!”

Mas ele tapou-lhe a boca, antes de ela trazer ainda mais atenção para eles. “Bella, o estatuto querida” Ele disse entredentes e ela inspirou fundo “Então, querido, vamos imediatamente embora”. Ele sorriu-lhe e baixou ainda mais a voz, alguns muggles ainda os olhavam curiosos com o jovem casal, e Sirius decidiu agir. Passou um dos braços pela cintura dela, e pôs um falso sorriso no rosto, inclinou-se para sussurrar ao ouvido dela “Bella, eu vou para aquele supermercado, comprar comida! Estás sem varinha, ou vens comigo e voltamos para a casa o mais depressa possível, ou ficas aqui, no meio dos teus adoráveis muggles a minha espera, e o mais certo é que eu demore até o supermercado fechar, querida” Ele disse-lhe e afastou-se dela sorrindo. E naquele momento, Bellatrix sentiu uma verdadeira vontade de espancar o primo fortemente, quer pela ousadia em desafiá-la, que pelo desplante de se chegar tão perto dela, com os braços na sua cintura, sussurrando ao seu ouvido. “Então querido, vamos as compras, afinal…” Ela saiu do abraço dele “Não nos podemos demorar”.

Sirius sorriu e ela sorriu, falsamente, de volta. ‘Sirius Black, tu vais pagá-las.

Bellatrix nunca tinha entrado em semelhante sítio, as luzes brancas incomodavam-na seriamente, e havia demasiadas coisas, e demasiados muggles, o sonzinho irritante de uma qualquer geringonça onde muggles passavam a comida dava-lhe vontade de bater em alguém. “Bella, prometo que vai ser o mais rápido possível” Ele disse seriamente “As luzes também me fazem confusão. Vem”

E desta vez Sirius Black, cumpriu o que disse, rapidamente encheram uma maldita geringonça que Sirius tinha arranjado para pôr as compras, era uma espécie de uma carruagem de thestrals com rodas, onde ele punha a comida que tiravam das parteleiras. Ela surpreende-se com a quantidade de variedade, sabores e cores que a comida muggle tinha, mas não comentou nada com Sirius. Ao fim de quase uma hora, os dois já estão no mesmo sítio onde tinham aparatado, carregados com pelo menos uma dúzia de sacos. “Mete tudo aqui” Sirius ordenou-a, inconsciente, mas rapidamente, e olhando o ar insultado da prima acrescentou “Por favor… Fiz um feitiço extensível nesta mochila” Ele apontou para um tipo de mala que Bellatrix nunca tinha visto na vida “cabe aqui até uma casa” Ele acrescentou rindo, enquanto os dois enfiavam os sacos desorganizadamente lá para dentro.

“Vamos então?” Ele disse e ela acenou, deserta para voltar para casa e para junto da sua varinha, e assim que ela tocou a mão dele, ele enlaçou a cintura dela, ouviu-se um clic metálico, e eles tinham desaparatado da muggle Londres.

            Assim que chegaram a casa de Bella, Sirius não trocou mais nenhuma palavra com a jovem feiticeira e começou imediatamente a preparar o jantar. Bellatrix fingiu-se de entediada começando a ler um pesado e velho livro sobre encantamentos avançados, já com a sua varinha ao seu lado, e Sirius começou entretido a fazer o jantar.

            Em pouco tempo, todo o apartamento de Bellatrix cheirava deliciosamente a um molho pesto que fez o estomago dela revirar-se com fome. Deu um olhar de soslaio para o primo, que cantarolava algo enquanto mexia, atentamente o pequeno e velho tacho, o único que Bellatrix possuía.

            “Ainda demora Black?” Ela perguntou ao fim de uma hora “Nope, Bella, um segundo” Ele limpou as mãos a um pano e com um gesto da varinha, pratos, talheres, copos e uma toalha, voaram para a mesa em poucos segundos. “vamos então?”

            Para espanto, e incredulidade de Bellatrix, aquela era realmente uma das melhores refeições que tinha feito, nos últimos meses. Comeram em silencio, ouvia-se lá fora o vento bater nas janelas, Janeiro era realmente um mês frio. “Está bom Bella?” Ele perguntou quando terminaram e ela se levantou, movendo a varinha para que toda a loiça fosse para o lava-loiça e se começasse a lavar. “Aceitável Black, aceitável” Ela disse e em poucos minutos a cozinha estava impecável como sempre.

            “Boa noite Bella” Ele disse quando ela sem uma palavra se retirou. Sem parar, sorriu. “Boa noite Black” Aquele sofá ia, definitivamente, fazer graves estragos nas costas de Sirius, ela mal podia esperar pelo amanhã.

(…) dois dias depois

            Sirius podia até dizer que os últimos dois dias tinham corrido as mil maravilhas, bem melhores do que ele alguma vez imaginou, considerando as circunstâncias, mas a verdade é que tinham corrido bem, porque eles nunca mais se tinham cruzado desde do jantar. Quando Sirius sai de manhã, ela já tinha saído, e quando ele chegava, ela já dormia… Mas naquele dia era sábado, e a verdade é que ele não tinha nada para fazer. Moony tinha seguido viagem para Norte para visitar os pais, e James tinha ido passar o fim-de-semana fora com Evans. Então ele ficará sozinho, e podia finalmente, tentar completar a missão, e começar a entender-se com Bella.

            Na verdade, e pensando bem no que o velho oficial do ministério tinha dito, ele achava toda aquela permissão do testamento muito falsa. Ora pensando bem, ele, Sirius Black, tinha de ter sentimentos positivos pela prima dele, Bellatrix. A família dele nunca jogou com o baralho todo, mas aquilo, até para o pai dele, era demais.

            E com estes pensamentos, Sirius levantou-se e começou a ferver água com a varinha para o café dele. “Bom dia Black” A voz da prima, segura e ativa fê-lo dar um pulo, e fazer da água que estava a tentar ferver, um jato de água potente.

            “Bom dia” Ele disse recompondo-se e tentando secar, a sua t-shirt, agora completamente ensopada de água a ferver “QUEIMA! QUEIMA! QUEIMA” Bellatrix teve vontade de rir do primo e quando pegou na sua varinha para pôr fim a brincadeira, viu-o tirar a camisola.

            Engoliu em seco, aquilo devia ser considerado crime “A gostar da vista?” Ela nem deu por ele ter secado a água quente com uma toalha e a olhava com um sorriso convencido. “Não Black!” Ela disse, irritado por ele a ter apanhado “Estava a tentar perceber se não queimaste nada, com o teu desastre!!”

            E com isto, ela retirou a pouca água que ele tinha fervido e fez café, apenas para ela. “Ferver novamente, isto não dá sequer para eu acordar!” Ordenou antes de se retirar.

            E Sirius voltou a ferver, agora com um sorriso no rosto, talvez aquela ‘missão’ pudesse ir a algum lado, a um prazeroso de preferência!

            Passou-se a manhã, sem que eles desse por isso, Bellatrix manteve-se a ler o pesado livro que lia desde do inicio daquela convivência, a capa velha e poeirenta, dava a impressão que se tratava de um velho livro de magia avançada, mas o que intrigava Sirius é que ela não praticava absolutamente nada, e algumas vezes, pegava-a a sorrir com o que lia, e não era um sorriso de satisfação, mas sim de simpatia.

            “Bella” Ele disse sorrindo e parando a frente dela, estendeu-lhe a mão “Aceitas almoçar comigo?”

            “Hum?” Ela disse, ainda desentendida. “Almoças comigo?”

            “Ah, sim claro” Ela estava meio sem jeito, Sirius Black, cavalheiro, era algo que ela não estava habituada “Por favor” Ele pediu sorrindo, e usou aquele sorriso, encantador, com os olhos azuis brilhando intensamente. Ela não respondeu e apenas deixou a mão dela repousar na dele… aquele contato foi como uma corrente elétrica a percorrer o corpo do dois. “Eu preciso de me arranjar…” Ela disse quando percebeu que a intensão dele era irem os dois almoçar fora. Ele sorriu e negou. Tocou-lhe a mão, novamente para aparatarem, mas antes sussurrou-lhe ao ouvido “Estás deslumbrante Bella” Ela não sabia quem era aquele Sirius Black, mas se ela estava a gostar de ser cortejada, estava. Preferiu pensar que aquilo era Sirius Black a tentar, finalmente, ganhar a aposta, do que achar que o primo, podia verdadeiramente, sentir algo por ela. Era só a missão não era?! Um estalico metálico, e os dois desaparataram.