Desenhos de Chocolate escrita por Mellanie


Capítulo 3
Quarta-Feira




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NAQUELA noite, Bakugou não conseguiu dormir direito. Não sabia exatamente o motivo, ou fingia não saber, mas no fundo a razão de estar tão desconexo com a realidade tinha um rosto redondo e bochechas cor de rosa. Sentia raiva de si mesmo por não entender o que caralhos estava acontecendo e por qual motivo sua guarda tinha baixado. Em que momento ele deixou que Uraraka se aproximasse a ponto de conseguir lhe afetar dessa forma e lhe deixar confuso?

Se revirou na cama e por alguns minutos desejou estar no dormitório da U.A, que estava desativado durante esse período para que os estudantes passassem o tempo junto com suas famílias — coisa que não acontecia durante o período letivo. Se estivesse no dormitório, poderia explodir a porta de Kirishima e despejar seu ódio em alguma coisa por lá, até mesmo no maldito Deku. Em sua casa, não podia fazer nada ou sua velha encheria seu saco.

A chuva tinha parado — finalmente, e tudo o que restava de barulho no ambiente além da respiração pesada de Bakugou era o vento forte lá fora, que fazia um som engraçado quando entrava em contato com a janela de seu quarto. Ele cerrava seus olhos vermelhos com força, os apertando o suficiente para que sua visão ficasse nublada, como se estivesse se forçando a dormir.

Talvez devesse contar para sua velha o que estava sentido e porque se sentia daquela forma, mas tinha a sensação de que se fizesse isso ela só iria lhe incomodar mais. Se revirou no colchão macio jogando o cobertor no chão, e ficou trocando de lado até que adormecesse sem perceber.

Foi desperto pelo barulho irritante do despertador e teve que se controlar para não explodir o pequeno objeto que estava em cima do criado-mudo que ficava ao lado da cama. Rolou pelo colchão até ficar em uma posição estável para se sentar e colocar os pés no chão rapidamente. Fitou o sol intenso da janela e desejou que estivesse chovendo, mas provavelmente não seria possível com aquele clima. Calor dos infernos.

Bakugou puxou a toalha azul-escuro que sua mãe deixou em cima da escrivaninha que ficava no canto de seu quarto e andou em direção ao banheiro para tomar seu banho e ficar pronto para sair. Mas, onde?

Ele queria ver Uraraka de novo.

Aquilo estava se tornando uma rotina e ele sentia que deveria acabar com isso, mas ao mesmo tempo ela era a única companhia que ele tinha nas férias, e gostava de irritá-la. Observou sua aparência com os cabelos molhados e ignorou o pente em cima da pia. Não gostava de pentear seus cabelos. Bakugou já não tinha mais certeza se o que fazia ele ver Ochako era porque gostava de irritá-la ou se era porque tinha se acostumado com sua companhia.

A garota que todos subestimavam dizendo que era frágil não era nada disso, tanto em questão à seus poderes quanto de personalidade. Ela parecia, aquilo era um fato. Uraraka parecia fofa e gentil ao olhar geral das pessoas, mas Katsuki sabia que a garota era muito mais do que apenas “fofura”.

Terminou de vestir uma camiseta aleatória, a primeira que apareceu em sua frente, e andou pelo corredor até a porta da casa. Sua mãe estava sentada no sofá com um olhar aborrecido enquanto assistia alguma besteira na televisão, mas logo notou a presença do filho e sorriu para ele, que estava emburrado como sempre.

— Vai sair de novo, Katsuki? – Ela cruzou os braços enquanto olhava para ele, e ele fez uma expressão irritadiça.

— O que você quer, velha?

— Onde você tem ido tanto, meu filho? Conheceu alguma garota bonitinha, é? – Ela sorriu provocando-o e Bakugou teve suas bochechas tingidas por vermelho. Faíscas saíram de suas mãos e a mãe riu alto. — Pelo visto eu acertei.

— Cale a boca, velha desgraçada! – Berrou irritado e saiu batendo com força a porta.

Enquanto caminhava pelas ruas vazias de Musutafu em um calor que fazia parecer com que o inferno se localizava ali, Bakugou tentava se manter calmo em relação ao que sua mãe havia falado e calar seus pensamentos aleatórios sobre a garota de rosto redondo. O que era irônico, porque estava indo exatamente onde sabia que encontraria ela.

A cafeteria estava do outro lado da rua e ele apressou o passo, parando para observar a vitrine. Sentiu seus dentes se baterem e um sentimento de pura raiva inundou seu corpo, fazendo com que Katsuki cerrasse seus punhos, se controlando para não explodir aquela vitrine ali mesmo. Em uma mesa no meio do café se encontrava quem ele menos esperava que estivesse ali. Não era para ele estar ali. Por que Deku estava ali?

A garota de cabelos castanhos sorria alegremente enquanto seus olhos brilhavam para Midoriya, que coçava sua cabeça envergonhado por tanta atenção. Eles pareciam estar em uma conversa profunda e Bakugou sentiu inveja daquilo.

Era inveja? Era ódio? O que porras era aquele sentimento que fazia com que seu coração se apertasse e trancava a sua garganta? Ele queria explodir. Tudo. Deku, aquele lugar, e até mesmo Uraraka que sorria tão fofa enquanto conversava com Izuku.

Ele não conseguia ouvir a conversa e por alguns segundos cogitou chutar a porta e entrar no ambiente para que Ochako olhasse para ele, mas aquele sentimento de desconforto era maior e Bakugou apenas virou as costas para o lugar e saiu andando pelas ruas em um ritmo lento, cabisbaixo.

Ochako ria de Deku que lhe contava as últimas aventuras que teve com All Might. Ela não esperava vê-lo ali até o início das aulas, mas Midoriya lhe contou que apenas estava de passagem naquele dia e que já teria que voltar com seus treinos ao lado de All Might. Ele estava na cidade para acalmar sua mãe que mandava mensagens todo dia dizendo sentir muita saudade. Uraraka se sentia feliz ao estar na companhia do garoto que gostava, mas enquanto o tempo passava rapidamente ao lado dele, algo estava faltando.

Ou alguém.

Mas ela gostava de Deku, certo?! Não deveria sentir falta de outra pessoa! Mesmo se forçando a pensar aquilo, ela sabia exatamente o que faltava ali. O horário no qual Bakugou aparecia já havia passado. Ele não tinha lhe dito que iria com frequência?

Saiu de seu devaneio quando Izuku começou a passar a mão na frente de seu rosto, tentando chamar sua atenção. Midoriya tinha um olhar caloroso, porém preocupado.

— Aconteceu alguma coisa, Ochako-chan? – A voz gentil e preocupada de Deku pareceu acalmar um pouco o sentimento inquietante que preenchia o peito de Uraraka, mas não era o suficiente.

Ela sorriu amarelo e fez que não com a cabeça, pedindo licença e falando que deveria voltar para o balcão. Por algum motivo, lembrar que Bakugou não estava indo vê-la pareceu acabar com seu ânimo. Até mesmo para conversar com o garoto que tanto admirava. Cravou seus olhos na rua e conseguiu enxergar os cabelos loiros e rebeldes da pessoa que ela queria ver e seu rosto pareceu se iluminar. Uraraka correu até a porta do café, sorrindo.

Então Bakugou realmente estava indo lhe ver! Ele não tinha esquecido!

— Bakugou-kun! – Ela gritou, acenando e esperando que ele se virasse, mas a única reação que recebeu foi ele parando, ainda de costas para ela, do outro lado da calçada. Viu que ele cerrou os punhos, e se sentiu confusa. O que estava lhe irritando tanto? — B-bakugou-kun..? Algum problema?

Ele se virou para ela, seus olhos vermelhos mostravam sua raiva, mas tinha algo a mais ali. Uraraka lhe fitou tempo o suficiente para entender que.. Bakugou estava triste?

— Eu vou desenhar pra você hoje, você vem? – Ela gritou, com suas bochechas coradas ao notar que seus gritos na rua estavam chamando a atenção das poucas pessoas que passavam por ali. Midoriya apenas observava aquela cena, calado.

Katsuki abriu a boca para dizer algo. Ele queria gritar que não, ele não iria pisar naquele maldito lugar enquanto Deku estivesse ali, queria berrar que Uraraka devia focar sua atenção nele, queria dizer que aquele sentimento que sufocava seu peito era desconfortável e ele não o entendia, mas apenas virou as costas e saiu.

Porque aquilo não iria mudar nada.

Era de Deku que a maldita cara redonda gostava.

 


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