Num Ano Qualquer escrita por Sak Hokuto-chan
Notas iniciais do capítulo
Sim, demorou. Foram tempos difíceis, que ainda não melhoraram de fato, mas enfim consegui voltar a escrever. Desculpem a demora. E se alguém me mandou mensagem privada e não respondi é porque não fiquei sabendo. Não chegou nenhum e-mail do Nyah avisando e ele apaga as mensagens do site após um tempo (e eu passei muito tempo sem entrar aqui) :(
Agradeço ao Orphelin, o carneiro-beta, pela betagem.
Resumo da primeira parte para os esquecidos (não os culpo): Mu acordou no final da tarde com o som de um choro. Aiolia brincou com ele, tentando convencê-lo de que era uma bebê que Mu tinha parido e que Mu deveria estar com algum problema por não conseguir se lembrar. Mu não tardou a descobrir que se tratava de uma cachorrinha que Aiolia lhe trouxera de presente de Dia dos Namorados. Ela ganhou o nome Lithos…
Num Dia dos Namorados Qualquer
Parte II
Talvez Aiolia estivesse se arrependendo. Não de adotar Lithos. Isso nunca. O problema era tê-la levado para casa em pleno Dia dos Namorados: não havia a menor chance de Mu concordar sobre realizarem indecências na frente dela.
— Isso é absurdo! – Aiolia estapeou a mesinha de centro da sala com tanta força que as taças estremecerem. – Basta trancar a porta do quarto e pronto.
Mu acariciou os pelos negros de Lithos. Ela corria sem parar de seu colo para o de Aiolia, visto que estavam os dois sentados no tapete com o móvel entre eles. Tinham jantado fazia um tempo e Aiolia já havia devorado todo o chocolate que Mu preparara para ele na noite anterior. O clima estaria ótimo se não fosse este detalhe.
Não pretendiam sair – tinham uma filhote recém-chegada para cuidar e o céu ameaçava despencar em uma tempestade daquelas. Portanto, lhes restava beber vinho e discutir a respeito da consequência da atitude impensada de Aiolia.
— Ela vai ficar chorando do outro lado, como aconteceu minutos atrás.
Aiolia ergueu a mão. Mu se apressou a pegar as taças.
— Você nem me deu tempo de te distrair! – Ele esfregou a mão no cabelo bagunçado. – Fala sério, Mu.
— Uma filhotinha, chorando na porta. Você acha mesmo que conseguiria me distrair?
O sorriso enviesado de Aiolia apareceu, meio libertino e meio perigoso.
— Esqueça. – Mu ergueu Lithos à altura do rosto dele. – Veja esses olhinhos castanhos pedindo companhia.
— Okay, okay. A Lithos fica no quarto então. Ela logo vai dormir.
Lithos escapuliu de Mu e se apoiou no joelho de Aiolia, agitando o rabo com furor. Latiu para ele, correu para o colo de Mu e repetiu os movimentos. Três vezes.
Ela não dormiria tão cedo.
Aiolia revirou os olhos e recuperou a própria taça das mãos de Mu.
— Pelo pau relampejante de Zeus! Não é como se ela fosse entender algo.
Lógico que não, Mu tinha plena noção disso. Ainda assim, era constrangedor compartilhar certas intimidades na frente de animais de estimação.
— Teve várias vezes que rolou na presença dos gatos. Até achei que você tinha superado essa neurose.
Aiolia o encarou com tal intensidade que até uma esfinge teria virado o rosto.
Calor se espalhou pelas faces de Mu.
Sim, ele tinha razão. Contudo, as coisas aconteceram somente depois que tomou total conhecimento sobre o comportamento dos gatos ao dormirem.
— Duvido que, nesses três anos, eles nunca acordaram.
— Ao menos eu estava, ehrm, envolvido demais para me dar conta.
— Exato! Vai ser igual com a Lithos.
Mas até ela adormecer… E mais: tinha a impressão de que ela acordaria com facilidade ao primeiro barulho que fizessem.
— Hum, em algum momento ela vai se acostumar e ficar tranquila sem a nossa presença. Aí, nós poderemos…
Aiolia quase engasgou com o vinho.
— O quê?! Pode levar dias pra ela se acostumar. Você está sugerindo uma greve de sexo?
— Eu nã–
— Venha, Lithos. – Aiolia a apanhou e se levantou.
— O que pretende aprontar?
— Vou ver se um dos nossos amigos pode ficar de babá.
— No Dia dos Namorados? Querido, você se lembra de que nossos amigos namoram uns aos outros? E que os poucos solteiros sempre arranjam algum lugar para irem se divertir? – Mu gesticulou para a janela, indicando a chuva. – Por pior que esteja o clima.
Aiolia rosnou de tal maneira que Lithos rosnou também.
— É inútil vocês rosnarem para mim.
— Durma, Lithos. – Aiolia a balançou no colo como se ela fosse um bebê humano. – Canta uma canção de ninar aí.
— Tenho certeza de que não adiantaria. Céus, você é um pai terrível. Pare de sacudir a coitada. – Mu se levantou, resgatou Lithos dele e voltou a se sentar, dando tapinhas no tapete para que Aiolia o acompanhasse.
— Que Dia dos Namorados deprimente. – Ele desabou ao seu lado com um muxoxo.
— Ora, nós nunca nos preocupamos com datas comerciais.
Afinal, era desnecessário uma comemoração específica para recordá-los de como se sentiam todos os dias, certo?
— É, mas nem por isso a gente deixou a data passar batida.
O sorrisinho torto reapareceu. Aiolia apertou sua coxa e foi subindo a mão por seu quadril, pela cintura… Mu reprimiu um suspiro e a afastou com um tabefe.
— Há diversas atividades decentes para não deixarmos a data passar batida.
— Eu prefiro as indecentes.
— Por exemplo – disse Mu, sua muralha mental contra absurdos ativada –, podemos assistir a um filme.
— Ah, você quer que eu assista a esses filmes românticos toscos, com pessoas que estão se dando melhor do que eu?
— Existem outros gêneros.
Se bem que o mau humor de Aiolia acabaria arruinando a sua tentativa de reverter a situação.
— Certo, vamos conversar.
Aiolia ergueu as sobrancelhas, formando arcos perfeitos.
— Conversar? A gente está conversando há horas. Só conversando.
— Não, você está reclamando enquanto eu estou tentando te acalmar há horas.
Aiolia bufou, desviando o olhar para o teto. A expressão dele abrandou. Então, o que quer que tenha observado lá em cima deve ter sido bom. Ele encheu a taça abandonada de Mu e a colocou em suas mãos.
— Sobre o que você quer conversar?
A voz dele estava suave demais. Mu colocou a taça sobre a mesinha. Era uma péssima ideia ficar bêbado perto de um Aiolia sóbrio. Ou, pior, perto de um Aiolia bêbado. Sequer era possível determinar em qual estado ele se encontrava no momento.
— Você está tentando me embebedar para me induzir ao sexo?
— Jamais.
— Seria uma atitude irracional de sua parte.
— Hmmm… Você tem vergonha de fazer sexo na frente de pets, mas o irracional sou eu.
O fato de que ele manteve a voz suave ao dizer aquilo fez Mu contrair os lábios.
— Aposto que várias pessoas têm essa dificuldade – disse, com uma sensação obscura de que era importante destacar aquela informação.
Aiolia encostou a lateral do corpo no seu, ajeitando sua longa trança para o lado, e envolveu suas costas com um braço.
Lithos girava embaixo da mesinha, empenhada em alcançar o próprio rabo.
Mu esperou um movimento indevido. Um comentário sarcástico. Em vão. Aiolia permaneceu comportado. Estranho.
— Desistiu?
— Vou deixar pra lá. Você está desconcertado de verdade, e eu sou um namorado compreensivo.
Mu apontou um dedo para a testa dele em advertência.
Aiolia colocou as taças e a garrafa longe, parecendo querer enfatizar o que dizia. Virou-se para Mu com um sorriso completo e honesto.
Oh, sóbrio. Ele não o perturbaria mesmo. O que, de certa forma, era desconcertante.
Como Aiolia era capaz de confundi-lo com tamanha habilidade? Um segundo antes, Mu pretendia dar um peteleco na testa dele. Agora, queria se aninhar nos braços dele. E foi o que fez.
— Você entende que o problema não é que eu não queira, mas, sim, que preciso primeiro conhecer o comportamento dela?
— Uhum.
— E que ela precisa se acostumar à rotina da casa, à nossa ausência?
— Uhum.
— Não está aborrecido?
— Meu interesse em você não se limita a sexo, Mu.
Aiolia beijou o topo da sua cabeça e deu tapinhas na própria perna, atraindo a atenção de Lithos. Ela correu até ele, deitou-se com a barriga para cima, permitindo que Aiolia a coçasse, e ficou tentando mordiscar os dedos dele.
— A falha foi minha por trazer a Lithos justo hoje. Ela é tão fofa e eu estava tão animado que nem imaginei o que poderia acontecer. Fora que, como eu disse, achei que você tinha superado. Foi mal.
— Tudo bem. Eu sei que soa tolo. Agradeço por você não ficar zombando. – Mu percorreu os lábios pela mandíbula dele, de leve.
Aiolia estremeceu. Em seguida, coçou a nuca, os olhos fixos em Lithos.
— Huh, sexo não é essencial hoje. Tem um monte de casais que não estão fazendo sexo agora e continuam sendo namorados, né?
Ele soava como se estivesse tentando se convencer do que dizia.
— Eles podem estar apenas se beijando. – Mu o puxou pelo pescoço.
Suas bocas se encontraram em um selinho. Aiolia enrijeceu e não correspondeu.
— O que foi? – Mu se afastou o máximo que pôde sem perder o contato entre seus corpos. – Se não for para ter tudo, você prefere ficar sem nada?
— Não. – Aiolia o puxou para si, balançando a cabeça. – É que… Sei lá se tenho maturidade suficiente pra apenas te beijar.
Mu deslizou os dedos pela franja dele, penteando-a para um lado.
— Será?
Aiolia mordeu o lábio inferior. Parecia estar sofrendo um conflito interno. Então, o estrondo de um trovão o fez pestanejar. Os olhos claros se estreitaram para Mu.
— Você está me desafiando?
Não. Nem tinha lhe ocorrido isso. Entretanto, um Aiolia desafiado se manteria consciente de suas atitudes, pois odiava perder. Sem concordar ou discordar, Mu se limitou a acariciá-lo sob o queixo como se ele fosse um gatinho.
Aiolia respirou fundo.
Devagar, Mu o beijou de novo. Desta vez, ele correspondeu à altura, deixando-se guiar pelo seu ritmo tranquilo. Porém, o corpo dele se matinha tenso feito uma corda de piano.
Não demorou para que Lithos latisse, chamando a atenção dos dois.
Mu riu baixinho. Sentada diante deles, Lithos exibia um ar orgulhosíssimo por sua façanha.
— Pode relaxar, Aiolia, ela com certeza vai te manter na linha.
*
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
A ficlet de Valentine's Day acaba aqui. Próximo capítulo é outra situação na vida deles, dessa vez sem nenhuma relação com datas comemorativas (quem sabe o Aiolia tem mais sorte, né?).
Esqueci de mencionar na primeira parte, mas, para quem não está familiarizado com o mangá "Saint Seiya: Episode G", Lithos é o nome de uma criança próxima ao Aiolia por lá :3
Obrigada pelas reviews: Ishizur, Serenity Elián, Wolf White, Suh Domingues, Orphelin, arianinha, katsu ♥
Que tal este capítulo? ;3