Num Ano Qualquer escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 4
Num Dia dos Namorados Qualquer I


Notas iniciais do capítulo

Eis que hoje é Valentine's Day na maior parte do mundo~ Eu acabei tratando por "Dia dos Namorados" para não ficar estranho o título e as menções durante a fic, mas é desse dia aí que estamos falando :3

Ao carneiro-beta, Orphelin, meu obrigada pela betagem~

Esta segunda história está dividida em duas partes e é dedicada a reneev, que eu nunca sei se vai aparecer aqui ou no Fanfiction.Net, mas o importante é que ela aparece :3 Obrigada por ter recomendado Change of Heart ♥



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Num Dia dos Namorados Qualquer

Parte I

Alguém estava chorando. Um som baixo e agudo. Mu rolou na cama, ficando de barriga para cima, e pestanejou até o teto branco entrar em foco.

— Hey, você está legal?

Mu virou o rosto no sentido da voz. Aiolia tinha arrastado a poltrona que ficava no quarto para perto e estava sentado nela, como se fosse uma visita em um hospital. Mu se apoiou nos cotovelos para se sentar, porém, Aiolia espalmou a mão em seu tórax e o fez se deitar de novo.

— Ainda não.

— O que aconteceu?

— Depende. Do que você se lembra?

Como assim? Mu analisou o quarto atrás de alguma pista que justificasse o comportamento de Aiolia. A brancura geral – que descia pelas paredes até o piso, passando pelos poucos móveis e pela roupa de cama – nada lhe revelou.

Na verdade, produziu uma sensação meio hostil. Que estranho. Sempre gostara do efeito sereno e amplo do branco total. Aiolia não. Às vezes, ele implicava dizendo que seu quarto era um dormitório de hospício. Por certo, a causa desse desconforto anormal era por ele estar sentado daquele modo ao seu lado.

— Bem, eu tive que sair mais cedo do que o usual para o trabalho. Cheguei em casa no início da tarde e resolvi dormir um pouco. Minha cabeça doía e eu precisava descansar, ou não conseguiria ficar com você à noite.

Aiolia fazia questão de sua companhia no Dia dos Namorados e Mu queria ficar com ele também. Se ele já tinha chegado em casa anoiteceria em breve.

A lamúria aguda se repetiu. Mu inclinou a cabeça na direção da porta.

— Está ouvindo isso? Esse choro?

— Ah, é a bebê. – Aiolia deu de ombros, como se fosse algo óbvio.

Bebê? Desde quando eles tinham um bebê?

— Do que está falando?

— Ahn? – Aiolia contraiu uma sobrancelha, mordendo o lábio inferior.

Ahn?

— Droga, bem que os médicos avisaram que você poderia ficar meio estranho. – Aiolia se levantou, bagunçou os cabelos e passou a andar em círculos. – É. Trauma pós-parto ou algo similar.

Parto? Mu se sentou na cama com tanta rapidez que o mundo escureceu. Fechou os olhos e massageou as têmporas.

— Cuidado. – Aiolia segurou seus ombros.

— Não foi nada. – Respirou fundo, precisava trazer racionalidade para a conversa e esclarecer aquilo de forma prática. – Parto? Aiolia, minha condição de homem não permite a existência de um útero. Tenho certeza de que você sabe que a falta de um útero impede a produção de filhos.

— Você já viu aqueles yaoi esquisitos da Shina. – Aiolia se jogou na poltrona, apoiando os cotovelos no colchão. – Se for pra um cara engravidar, vai aparecer um jeito.

— Nós estamos na vida real. É impossível. Se fosse possível, eu me recordaria de ter estado grávido, não acha? Nove meses é um período considerável.

— Vai ver, algum defeito na Matrix mexeu com suas memórias.

Mu deu um peteleco na testa dele.

Ouch. Caramba, vem cá. – Aiolia se levantou e estendeu a mão para ajudá-lo a fazer o mesmo. – Vou te levar ao hospital.

— Não precisa, estou ótimo. – Mu ficou de pé sozinho, calçou suas pantufas de carneiro e caminhou sem problemas até a porta. – Por que não estaria? Não tive um bebê.

Uma bebê. É menina.

Mu deteve a mão sobre a maçaneta. Será que Aiolia bebera além da conta? Ou era um sonho bizarríssimo?

— Ela é linda. Tem as suas pintinhas na testa.

Céus, e se Aiolia tivesse ingerido fármacos recreativos ilegais? E se tivesse enlouquecido? E se…?

— Amor, atingiram você no treino? – Mu se aproximou e encostou as mãos no rosto dele com suavidade, deslizando os dedos sob a franja e pelo topo da cabeça até alcançar a nuca, em busca de algum inchaço.

— Não. – Aiolia envolveu seus punhos, afagando-os. – Putz, acho que você está em choque.

— Não estou. Espera. Isso… – Mu se calou, concentrando-se no som. – Isso não é um choro humano. É um… uma cachorrinha, não é?

— …

— …

— Dez pontos pra Ravenclaw! – Aiolia inclinou a cabeça para trás, dando risada.

— Você é inacreditável. – Mu se desvencilhou dele. Não era a primeira vez que dizia isso e duvidava que seria a última. Ah, que vontade de jogar o atrevido pela janela. – Não sei por qual motivo continuo dando atenção às suas loucuras.

Naah, você começou a acreditar em mim, admita.

— Eu comecei a achar que você enlouqueceu. Ou que andou se drogando. Ou… nem sei.

— Drogas? – Aiolia revirou os olhos. – Sem chance, a universidade me expulsaria da equipe.

Verdade. Mu saiu do quarto e avançou para a sala, seguido de perto por ele.

— Ela é superfofinha, aposto que você vai amar.

— É lógico que vou amá-la, este é o problema. Você vai se aproveitar do meu coração fraco para animais e vai arranjar vários. Quando eu notar, estarei com setenta anos e dezenas de cães.

— E gatos.

— E gatos. – Mu parou de andar e apontou um dedo para ele. – Hey.

— Pelo menos você não vai acabar um solteirão. – Aiolia piscou um olho e se abaixou atrás do sofá.

Hmm, e pensar que, três anos atrás, Aiolia disse que não sabia se o namoro daria certo, que não podia prometer nada. Agora, ele deixava implícito que ainda estariam juntos na velhice. Sem dúvidas, ele falou sem pensar, como sempre fazia, brincando com a situação. No entanto, Mu se pegou sorrindo mesmo assim.

— Aqui. – Aiolia estendeu as mãos, oferecendo uma cachorrinha inquieta.

A pelagem dela era curta e toda preta, com exceção das patinhas de cor bege. Logo acima dos olhos, havia pelos em um tom idêntico formando sinais que, de fato, pareciam os da testa de Mu. Tinha adesivos de brincos coloridos nas pontas das orelhas – uma se mantinha levantada e a outra dobrada.

— Oh, tão pequenininha. – Mu a pegou no colo. Ela sacudiu o rabo com vigor, cheirando-o sem parar. – Não é demais termos outro animal de estimação? Já temos dois gatos.

— Temos? – Aiolia girou, coçando o queixo. – Eles estão invisíveis?

— Ora, apesar de não estarem morando conosco, Regulus e Atla são nossos.

— Achei que você tinha desistido de trazer os dois.

— De modo algum. É que seria estressante para eles ficarem aqui durante a mudança. E, com nossas rotinas atribuladas, nós mal paramos em casa nas últimas semanas. Também pensei que seria bom para o Shion ter a presença dos gatos enquanto se acostumava com minha ausência.

— Okay.

— Sei que pareço estar dando desculpas, embora seja a verdade.

— Eu acredito.

E estava chateado. Mu sabia sem que nada na expressão ou linguagem corporal de Aiolia demonstrasse isso. Não era intuição, tampouco dedução. Seria alguma espécie de telepatia de quem está junto há muito tempo?

A chateação não era sem motivos. Afinal, Aiolia nunca pôde ter bichinhos em casa por causa da alergia crônica da mãe. Não era à toa que vivia brincando com os animais de estimação dos amigos.

Culpa se espalhou pelo estômago de Mu. Estavam mantendo contato frequente com Regulus e Atla porque moravam perto de Shion, mas não era a mesma coisa de ter os dois em casa.

— Bom, acho que está na hora de irmos buscá-los. Que tal sábado?

— Sério?

— É claro. Sinto saudades do Regulus deitando em cima de meu laptop e do Atla ronronando em meu colo. Sinto falta até da bagunça que eles fazem em plena madrugada, dá para acreditar?

Aiolia estalou um beijo em seu rosto e apontou para a cachorrinha.

— Acha melhor ela ficar com o Shion e o Dohko? Eles vão sentir falta dos gat–

— Não! – Mu a abraçou, não se separariam nunca mais. – Se ambos quiserem, podemos procurar outro animalzinho para eles. De preferência um gato, que eles estão acostumados.

Whoa, okay. Não é demais termos outro pet então, hein?

— Culpa sua. – Mu encolheu os ombros, acariciando o focinho dela com a ponta do dedo.

— Posso viver com isso. Qual vai ser o nome dela?

— Hmm, você nomeou o Regulus e, depois, eu nomeei o Atla. É a sua vez.

Aiolia a pegou de seus braços e a segurou no alto, diante do próprio rosto. Ela se remexeu e latiu, fazendo-o sorrir.

— Lithos.

Ele decidiu tão rápido que Mu estreitou os olhos. Era evidente que ele já tinha escolhido antes mesmo de chegar em casa, certo de que a nomearia. Ao menos teve a consideração de perguntar sua opinião.

Com um floreio, Aiolia tornou a oferecê-la.

— Feliz Dia dos Namorados!

Continua…


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Notas finais do capítulo

Nesse ritmo, até o fim do ano o Mu vai escrever uma autobiografia intitulada "Memórias de um Defenestrador"...

E para quem não leu Change of Heart, ou não se lembra, a Shina é fujoshi nesse universo. Por isso o Aiolia mencionou os yaoi dela '-'

Obrigada pelas reviews: PCHolmes, Wolf White, Suh Domingues, Orphelin, Serenity Solaris e Svanhild ♥

Que tal este capítulo? :3



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