É Véspera de Natal escrita por Lady Fos


Capítulo 1
Capítulo Único - Véspera de Natal


Notas iniciais do capítulo

Era pra ser fofinho, dramático e emocionante, mas acabou saindo algo bem ''real'', acredito eu. Atrasado, mas espero que o gesto de carinho transpareça algo bom para todos vocês.

Boa leitura :3



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   Quando encerrei a ligação com a minha mãe, o coração estava na mão. Outro natal que passaria longe de casa, longe da família. Há dois anos essa era a realidade. Dura realidade, diga-se de passagem, pois sempre foi minha época favorita do ano.  

   Me estiquei na cama, sentindo o calor da estação me consumir cada vez mais e pensando se a conta de energia ultrapassaria o meu limite mensal se ficasse com ela aberta enquanto tentava me refrescar. O mini apartamento já era quente por si só, a cidade mais ainda e para completar meu ventilador estava quebrado. Bela véspera de natal. 

   Me sentia cansado. O dia tinha sido longo e minhas costas pareciam ter oitenta anos, embora só fizessem vinte e dois que eu tivesse nascido. Trabalhar numa loja de brinquedos em pleno fim de ano é mais cansativo do que parece e meus pais estava com bolhas desde o começo de dezembro. E claro, como poderia esquecer a minha querida universidade? Com seus lindos professores que AMAM ter gelo no coração e não dão malditos 0,8 ponto para passar direto. É claro que eu tinha prova final para fazer. E sim, a prova seria depois do natal.  

   Abri a geladeira procurando por algo decente, mas só encontrei o belo vazio. Tinha uma água e um pão, (repito, UM pão). Confesso que o final de ano, o período mais cansativo no serviço e na faculdade, acabava sendo também a época em que pior comia. Mal tinha tempo de comer, correndo de um lugar a outro, mas mais que isso, não tinha tempo de fazer a famigerada feira do mês. E nesse horário, plenas quase 21:00, estava morrendo de fome pelo almoço ter sido minha última refeição. 

   Tateei a carteira, vendo que com certeza o que tinha não pagaria jamais uma refeição completa como a que queria. Talvez um sanduíche ou um cachorro quente, ou qualquer coisa que entregue e me impeça de morrer devido a um assalto essa hora da noite. 

   Pizza. 

   Claro. Barata, grande, saborosa, entregavam, tinha aquela promoção camarada para quem tinha o cartão fidelidade (já estava no sétimo) e a dona me amava. Claro que ia caprichar.  

   ‘’Boa noite.’’ 

   ‘’Boa noite dona Neide, é o Eduardo e eu queria pedir uma pizza grande, metade calabresa e metade quatro queijos, a senhora...’’ 

   ‘’Ah meu garoto, sinto muito, mas não estamos funcionando desde as 17:00. A ceia está sendo aqui em casa e precisei fechar mais cedo.’’ 

   ‘’Oh, compreendo.’’ 

   … 

  ‘’Não viajou para passar o natal com sua família?’’ 

  ‘’Ah, a faculdade e o emprego não deixaram esse ano, sabe como é.’’ 

  ‘’Sinto muito meu querido. A Garagem nem abastecida está, atendi mais por curiosidade, para ver se era engano. Eu mandaria se pudesse, sabe disso.’’ 

  ‘’Sei sim dona Neide, obrigado mesmo assim. E feliz natal pra senhora e pra sua família.’’ 

  ‘’Igualmente querido, boa noite.’’ 

 

   É, a noite estava indo de mal a pior. 

   Minha família morava no interior do estado e eu estava na capital para fazer faculdade. Tenho um pequeno auxílio, mas descobri no primeiro mês que se eu quisesse me manter minimamente nutrido, ia precisar trabalhar, já que o dinheiro que meus pais mandavam servia basicamente para pagar o aluguel. 

   Acabei conseguindo emprego numa loja de brinquedos do shopping, trabalhando entre a tarde e a noite, enquanto estudava de manhã. Em muitas datas comemorativas eu não conseguia estar presente, não só por não poder abandonar o emprego, ou pela faculdade, mas pelo gasto da viagem. Um gasto que não podia dar aos meus pais e nem poderia ter.  

   Minha família não era muito abastada e eu sentia que se não fizesse nada, uma hora eles não conseguiriam mais manter nem pouco que me mandavam. Então trabalhar e acima disso, economizar o que pudesse, era o meu lema. Queria muito estar com eles e meus irmãos hoje, mas precisaria voltar correndo no dia seguinte. Além da passagem, é um cansaço que não preciso no momento, já que além de trabalhar, ainda tenho a minha ‘’recuperação’’. 

   Só me restava o pequeno cubículo em que morava. E a dor nas costas. 

   Precisava arranjar algo para comer antes de voltar a estudar, seria uma longa noite e eu precisava de energia. Um banho e uma passada na conveniência próxima daqui teriam que bastar. 

   Saí do banheiro meio esbaforido com um interfone tocando incansavelmente quatro vezes. Se dona Neide me amava, o porteiro me odiava. Só porque debochei do time dele uma vez, ele ficou com ressentimentos seríssimos. 

   ‘’Alô?’’ 

   ‘’Vê se desce logo, que teu pedido da pizzaria chegou.’’ 

   ‘’É o quê?’’ 

   ‘’Se não descer logo, quem vai comer sou eu que tô com fome.’’ 

   E desligou na minha cara. Filho duma... 

   Fiquei confuso, ela havia dito que não estava funcionando e não poderiam me atender. Bem que poderia ser coisa do porteiro, pra me fazer de idiota. Me vesti e pensei nas várias possibilidades de vingança do homem, até que o interfone tocou de novo.  

   ‘’Alô?’’ 

   ‘’É melhor vir logo, antes que esse peru suma.’’ 

   E desligou de novo.  

   Peru? 

   Desci as escadas que tropeçando nos próprios pés, me rendendo várias ‘’quase quedas’’. Quando cheguei na guarita, ele me olhou de cara feia e me entregou a sacola a contragosto, como se realmente esperasse que eu não fosse e estivesse considerando comer o que quer que estivesse ali. 

   O cheiro invadiu desde as escadarias até o apartamento. A surpresa deu lugar a emoção quando vi a quetinha cheia de peru, chester, maionese, arroz, farofa... tanta coisa e cheirava tão bem. 

   Um pedacinho de papel estava na sacola também, com a letra inconfundível da dona Neide: 

  ‘’Eu percebi que você estava sozinho, por esse motivo mandei uma pequena ceia para você. Feliz natal!’’ 

   Dona Neide merecia tantos abraços que meus braços só fariam isso pelo resto da vida. Ela mandou parte da comida da própria casa. É esse tipo de coisa que me faz acreditar que existem mais pessoas boas que más no mundo. 

   Ela também ia ganhar uma ligação dali alguns minutos, assim que eu terminasse. As costas ainda doíam mas a barriga estava em festa. E o coração também. Preenchido com o melhor sentimento que poderia existir. 

   Afinal de contas, amor é um dos verdadeiros significados do natal.


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Notas finais do capítulo

Faz muitooooo tempo que não escrevo nada. Mas gostei da proposta da história, são essa atitudes bonitas que mostram que há pessoas com bom coração ainda.
Por favor, críticas construtivas são mais que bem vindas, ainda mais depois de tanto tempo parada. Me falem da formatação, se acharam algo incoerente, algo chato/errado...
Espero que tenham gostado, de qualquer jeito. Nos vemos na próxima, feliz natal e um ótimo ano novo o/



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