Punição divina escrita por Aislyn


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Pra dar um clima mais realista à história, leiam enquanto escutam a música Anjos de Deus *passagem para o inferno garantida com sucesso* -q



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Sangue.

 

Sangue em vários pontos no chão próximo à árvore. Pedaços de tecido da batina e os sapatos do padre jogados ao redor. Os sinais indicavam uma luta e o cheiro fresco de sangue mostrava que fora recente. Droga… Tendou o abordou para ganhar tempo e conseguiu! Entretanto, se houve luta e não havia um corpo, então o padre estava vivo. A questão é se havia sido levado ou fugido.

 

Precisou olhar bem ao redor em busca de novas pistas, até encontrar um par de pegadas que adentravam a floresta. Um único par. Suspirou aliviado, mesmo sabendo que era cedo demais para comemorar. Podia ser outra armadilha. Olhou para trás uma vez, estranhando a demora de Tendou em segui-lo para vigiar, mas não pensou duas vezes antes de ignorar o alerta de perigo e seguir para o meio das árvores. Ia se culpar mais caso não conseguisse encontrar o padre com vida.

 

Os passos de Kuroo, mesmo cuidadosos, faziam pequenos ruídos ao pisar em folhas secas e gravetos. As pegadas sumiram quando a luz não se fez mais presente e, em poucas horas, quando o poente chegasse, a escuridão tomaria conta de tudo. Seu tempo estava contado.

 

— Hei, padre! Está aí? – ia entregar sua localização caso houvesse alguém atrás de si, mas era também a forma mais rápida de obter resposta – Hei, padre Akaashi?! Está me ouvindo? Keiji! Tsc… por que ele não correu pro lado que eu fui?

 

Era uma pergunta idiota. Kuroo sabia que Akaashi estava com medo dele e do que o destino guardava para sua vida. Ele ia preferir fugir sozinho a ficar perto de alguém que não confiava. Não o conhecia bem, mas tinha certeza disso.

 

Um movimento num arbusto à direita chamou sua atenção, mas o anjo não seguiu de imediato para lá, esperando confirmar se era o padre ou um animal. Caminhou lentamente, pé ante pé até estar próximo o suficiente para distinguir o que quer que fosse.

 

— Akaashi? – a figura pareceu sobressaltar, dessa vez deixando Kuroo realmente aliviado. Ele estava vivo – Hei, eu não consigo te rastrear com magia ou algo assim. Podia facilitar pra mim! – abaixando à sua frente, Kuroo notou seu estado, que não estava tão ileso quando imaginou – Consegue levantar? Você precisa de um curativo, mas não é bom ficarmos aqui muito tempo.

 

Keiji resmungou algo incompreensível para Kuroo, mas se ergueu, os pés repletos de cortes que pareciam doloridos, além de um ferimento no braço esquerdo, sendo visível apenas o sangue que manchou a roupa por baixo dos dedos que pressionavam o local. Vistoriando o restante de sua aparência, Kuroo considerou-o razoavelmente bem para alguém que havia encontrado um demônio.

 

— Não consegui trazer a água… tive um contratempo, mas vou te levar lá e vamos atrás de comida também. Depois procuramos um lugar pra passar a noite.

 

Não houve resposta verbal além de um grunhido. Pelo visto ele ainda estava irritado consigo, mas não o suficiente para preferir a solidão. Kuroo guiou o caminho para fora da floresta, comentando que ia responder a todas as perguntas dessa vez, sem enrolações ou mentiras. Não que tivesse mentido antes, talvez só omitido algumas informações.

 

As árvores pareciam bem mais espaçadas conforme caminhavam para a saída e Kuroo sabia que estava perto da trilha, quando algo o incomodou. Tendou não o seguiu e não encontrou nenhum outro demônio por perto. Akaashi mostrou que conseguia se cuidar, mas aquele era um feito grande demais para um mero humano. E talvez aquela fosse a resposta.

 

— Ah, droga… você pode mudar a aparência, não é? – Kuroo parou de andar completamente, virando-se para encarar o homem atrás de si, uma careta se formando em seu rosto ao notar o sorriso de quem pensou ser Akaashi. O padre, sempre tão sereno e controlado ficava com uma expressão bizarra quando sorria daquela forma.

 

— Achei que ia conseguir te enganar por mais algum tempo.

 

O rosto e as roupas de Keiji pareciam derreter, uma nova aparência surgindo por debaixo da máscara. E não só a forma visual, mas a criatura também parecia ter aprendido a ocultar seu cheiro característico, que se tornava aparente à medida que retornava à sua verdadeira forma. Outra descoberta de Kuroo, um pouco tarde demais, é que o demônio não havia dito nada antes, mantendo apenas os resmungos, por não poder mudar a voz.

 

As chances de encontrar o verdadeiro padre vivo haviam despencado.

 

* * *

 

Akaashi encarou seu agressor ao ser virado com o pé, mas não o reconheceu. Não era Kuroo quem o abordava novamente.

 

Um homem alto de cabelos vermelhos e espetados pairava sobre si, encarando-o com curiosa atenção. Keiji percebeu, tarde demais, que não se afastou o suficiente, se é que havia distância satisfatória para mantê-lo seguro. E então seu estômago embrulhou e se viu obrigado a cobrir o nariz e a boca com a mão para evitar aquele cheiro.

 

Eu não sou um demônio… Vai notar a diferença… Ah, o cheiro é podre!

 

As palavras de Kuroo voltaram à sua mente como uma pancada, abrupta e forte. Encarou novamente a criatura, reparando nos esqueletos às suas costas. Koutarou e Kuroo tinham asas bonitas e lustrosas, repletas de penas e plumas, não uma armação caindo aos pedaços. Kuroo falou a respeito do cheiro, mas não das asas, o que significava que talvez não pudesse confiar naquela característica.

 

Na verdade, não podia confiar em nada que tivesse vindo de Kuroo, levando em conta que ele tentou matá-lo há pouco.

 

— Eu acho que Kuroo não te ofereceu essa proposta, mas não quer se vingar do que fizeram com você? – a criatura se aproximou mais, segurando-o pelo queixo para que o encarasse e Keiji só não vomitou por não ter nada no estômago – O bispo e todos os seus colegas? Eles não foram muito gentis com você.

 

— Não, não foram… – o padre respondeu com dificuldade, levando a mão ao peito devagar – Mas você está sendo muito, não é?

 

— Se está procurando seu pingente, ele caiu logo ali na frente. – comentou o ruivo, segurando os dedos do padre com força e então prendeu suas mãos acima de sua cabeça – Coitadinho… não quer mesmo negociar? Veja, você pode se tornar um de nós. Não é uma troca ruim.

 

— Prefiro morrer. – Keiji tinha certeza que isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde. Talvez mais cedo do que desejava e, mais certeza ainda, não de forma tranquila.

 

— Isso pode ser providenciado. – a criatura respondeu em tom sério, mas seus olhos brilhavam em expectativa – Vossa Santidade está muito descomposta… será que isso significa que está abandonando sua missão com a igreja aos poucos? Não usa mais batina ou sapatos… deixou seu crucifixo cair por aí… não usa mais o cíngulo…

 

Akaashi prendeu o fôlego quando o primeiro botão de sua túnica foi aberto, mordendo o lábio com força. Aquilo era pior que a morte.

 

— Por falar no seu cinto, sabe o que ele representa? Assim como essa túnica branca?

 

Outro botão… e mais outro…

 

Sim, Keiji sabia o que cada peça representava, assim como imaginava o que o aguardava.

 

* * *

 

— Onde ele está? – Kuroo questionou sério, virando-se para encarar o demônio de frente, mas ele não lhe dirigiu a atenção até voltar à sua forma por completo. Para desagrado do anjo, era alguém que conhecia e não confiava – O que fez com ele, Oikawa?

 

— Por que acha que fiz algo? – o comentário veio despreocupado, irritando-o mais – Se perguntar para o padre, tenho certeza que ele vai contar o que você mesmo fez.

 

— Usou a minha forma… Argh, eu não acredito! – Kuroo esmurrou a árvore ao seu lado, sem saber o que fazer a seguir. Eles estavam com todas as cartas boas na mão.

 

— Ele ficou tão assustado, pobrezinho, achando que você o tinha traído. O que realmente devia ter feito, não é? Estava esperando algum milagre para salvá-lo?

 

Uma luz se acendeu na mente de Kuroo. O padre não estava ali. Não havia nenhum corpo ou pessoa presa. E Tendou não o seguiu. Oikawa estava tentando distraí-lo, mas a última coisa que tinha era tempo para brincar. Se aqueles dois estavam pressionando, era porque seu tempo estava acabando.


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Notas finais do capítulo

Façam uma autora feliz! Não esqueçam de ameaçar pedindo mais *cof cof* comentar sobre o que acharam do capítulo!



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