A Maldição da Rosa escrita por RyuJin, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
A Maldição da Rosa


Notas iniciais do capítulo

oOo LUMUS. Eu juro solenemente que não fiz nada de bom! oOo

Hey Galerê, td certo?

Essa Oneshot é meu presente para o ISN desse ano, e minha amiga secreta é a Juliana (Desert Wolf). Espero que goste de lê-la tanto quanto eu em escrevê-la, e principalmente ter conseguido alcançar tuas expectativas!

Avisos: Fiz algumas mudanças na letra da música para encaixar melhor com a história. Também usei alguns trechos do Enigma do Príncipe e Relíquias da Morte aqui e notarão que tem algumas alterações ??” nada mirabolante ??” apenas para o bom andamento do plot, sim?



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"I'm never gonna let you close to me

(Eu nunca vou deixar você se aproximar)

Even though you mean the most to me

(Mesmo que você signifique muito pra mim)

'Cause every time I open up, it hurts

(Porque toda vez que eu me abro, dói)

So I'm never gonna get too close to you

(Então eu nunca vou chegar perto demais de você)

Even when I mean the most to you

(Mesmo que isso signifique muito para você)"

Too Good At Goodbyes - Sam Smith

Julho de 1996 - Blackburn Hall, Lancaster.

A estufa abandonada recebeu-a com uma lufada abafada do ar fétido e ácido. Anos lacrada sem um feitiço de climatização, haviam feito seus estragos, produzindo fumaças tóxicas vindas de algumas plantas sobre as bancadas de trabalho.

Floreou a varinha, lançando um feitiço para reduzir os gases a uma bolha esférica, onde uma fumaça esverdeada dançava tentando libertar-se. Passou os olhos negros pelos vasos, um esgar de pesar e desgosto quase transpassando a máscara de indiferença. Afinal, não é como se suas plantas ainda tivessem qualquer importância nas atuais circunstâncias.

Caminhou entre os corredores, checando uma ou outra muda seca, sem qualquer esperança – ou vontade – de revitaliza-la. Notou que, em algum ponto antes do fim das bancadas, as heras subiam serpenteando e se estendendo como um tapete verde por cima das mesas e dos outros vasos. As folhas entrelaçavam-se aos acônitos apodrecidos, como se algum dia tivessem travado uma batalha onde as heras os impediram de avançar até o fundo da estufa.

E aquele era o ponto. A área de trabalho ao fundo da estufa abrigava vasos de cristais com um líquido turvo, onde boiavam as raízes das rosas completamente intactas, como se anos a fio não tivessem corrido desde que receberam qualquer cuidado. Os galhos espinhosos haviam crescido e se esticado até as paredes de vidro abobadado, quase como arbustos e não mais mudas envasadas. De certo, necessitavam de poda e a poção adubo fortalecida em algum grau, mas ainda assim, mesmo ali de longe podia sentir o toque aveludado das pétalas sem sequer tocá-las.

Riu zombeteira para a imagem quase perturbadora diante de si. Se não a visse com os próprios olhos, arrancaria a língua de quem quer que ousasse lhe dizer que aquilo seria minimamente possível. A rosa resistia ao tempo, ou o que quer que viesse contra ela. Fora assim vinte anos atrás, porque não o seria agora?

Sentou-se no banco e guardou a varinha nas vestes, no mesmo instante em que notou uma silhueta esguia aproximar-se da porta da estufa. Distinguiu a sombra dos contornos do corpo femininos, o cabelo longo, a varinha em punho, os passos cautelosos.  Sentiu o frescor do feitiço de reconhecimento lhe atingir, sorriu pela ingenuidade. A pessoa do lado de fora se aprumou adquirindo uma postura defensiva mais eficiente.

— Já estava começando a pensar que nunca me encontraria, pequena Black! — As feições tranquilas da mulher fizeram uma chama acender-se nos olhos negros da garota que acabara de entrar.  

A varinha levantada, apontada diretamente para o seu peito, os olhos ágeis, vasculhando o local atrás de armadilhas – ou comensais? – A expressão de puro ódio a fazia imaginá-la como uma versão mais nova de si, em seus tempos áureos. Bervely Black fazia jus ao sobrenome, se alguém a perguntasse. Não era por acaso que numa primeira vista a confundiam com a mãe.

A capa de viagem azul petróleo repousada sobre os ombros finos, tinham resquícios de uma fina camada de umidade, e o cheiro de sua roupa fazia coçar uma lembrança infantil e familiar dentro de si. Islington, Grimmauld Place.

— Não cogitei que fosse tola o bastante para vir esconder-se justamente no local no qual foi capturada da última vez, Bellatrix! — a voz da outra a puxou da nostalgia inoportuna. O sarcasmo escorria como veneno, e tinha que admitir que combinava muito bem com a filha. Contudo, a mais velha limitou-se a soltar um riso de descaso.

— Não estamos exatamente em Lancaster, estamos? — Não, Bellatrix estava certa, a estufa ficava no chalé dos Tonks em St. Catchpole, a passagem por Blackburn era apenas um dos meios de chegar até lá.

Bervely examinou-a de cima a baixo sem baixar a guarda. Não havia qualquer sinal de que Bellatrix estava preocupada em manter a varinha erguida e a constatação a ofendeu profundamente. Era um ultraje que a mãe não a considerasse uma ameaça. Um erro enorme da mulher – em sua opinião – pensar que ela seria fraca e falharia em matá-la na primeira oportunidade que surgisse.

— Estava farta de esperá-la apurar o faro para o rastreio. Devia ter tido alguma consideração e feito o favor de me caçar devidamente, garota. Ou o papai não lhe ensinou nada nos últimos anos em que esteve brincando de casinha com a família feliz? — o sorriso desalinhado de Bella se alargou. A mão magra e de unhas afiadas capturou a ponta de uma pétala ressecada de Asfódelo.

— Não ouse falar uma palavra sobre Sirius! — Ameaçou Bervely subindo a varinha em direção ao rosto da mãe.

— Imagino que esteja aqui para vingá-lo. Mas veja, pela minha ótica eu lhe fiz a benevolência ao livrá-la do cão sarnento. Deveria ser mais agradecida, bastarda! — Os orbes enegrecidos registraram o segundo em que os dedos da filha tornaram-se brancos ao apertar a varinha com mais força. — Vamos ter uma conversinha, Bervely! — Bella apontou para o banco puído tomado pelas heras disposto atrás da garota. — Não precisará da varinha para isso, querida! — Avisou. Entretanto, a aprendiz de alquimia não estava disposta a dissolver-se de sua postura.

— Não temos assuntos pendentes, pelo que me lembro. Exceto, pelo qual vim matá-la, e não pretendo ir embora sem fazê-lo. — Ameaçou se aproximando, mas a mãe demostrou não estar minimamente acuada.

— Tá. Tá. Tá, garota! —Bella balançou a mão como quem espanta um Billywig. — Depois revolvemos essa rebeldia contra a própria mãe. Agora, eu preciso que me ouça, e pare de se meter em problemas. Vai acabar se matando, não vê?

— Isso, por acaso, é algum tipo de remissão? Sabe, eu não a imagino tão maternal! — Bervely passou a varinha de uma mão para outra.

— Não seja absurda, garotinha insolente! Maternidade é uma Beladona, que torna as mulheres fracas, frágeis, sensíveis e emotivas. E, se existe algo que não pretendo ser em hipótese alguma, é qualquer uma destas coisas. — Rosnou Bella, o tom rubro subindo como teias pelo pescoço. — Você foi dada de presente ao Mestre, caso não se lembre. E, de nada servirá para a causa se estiver morta!

— Para mim soou mais como uma oferenda, a coisa toda! — Ela tentava não pensar no dia em o Lord das Trevas a marcou, mas não é como se pudesse fugir dos traços negros em seu braço esquerdo. — De toda forma, eu não servirei causa alguma, sobretudo ao do seu Mestre! — ela cuspiu o título com repulsa, se a careta em seu rosto quisesse dizer alguma coisa.

— Você vai decidir-se pela causa, hora ou outra, Bervely Black. Eu sei disso, está no teu sangue, literalmente. E o Lord Negro a usará de bom grado!

— Um Lord que foi derrotado por um bebê de fraudas e que necessita de uma garota para qualquer coisa não me parece assim tão poderoso. Voldemort não é nada Bellatrix, não vê? Fadado ao fracasso sem suas marionetes mascaradas!

— Não ouse usar essa tua boca indigna para denegrir a imagem do Mestre! — Bella bateu com a mão em punho sobre a mesa, alterada. — Potter, quem não é coisa alguma sem Dumbledore. E o velho não foi de grande ajuda para o vira-latas quando meu feitiço o jogou naquele véu, foi?

— É assim tão doce o fato de tê-lo matado? De ter sido você a responsável pelo fim da vida de Sirius? — Bevy sentiu o peito apertar, um bolo amargo inchou em sua garganta, recusando-se a descer de volta ao estômago por mais que ela o engolisse.

— Black tirou-me muitas coisas. Foi mais do que justo eu tê-lo tirado a vida, se muito lhe interessa saber. — Bella se levantou, deu a volta no banco em que esteve sentada, e alcançou a bancada das rosas.

— O que era assim tão importante, para que tenha incitado ódio por Sirius ter lhe arrancado? — desafiou Bevy. Por alguma razão além de sua compreensão, Bellatrix estava receptiva aos seus questionamentos.

— Uma rosa! — ela sibilou, observando os espécimes alojados nos vasos de cristal. Um vento morno entrou pela claraboia aberta, trazendo o cheiro entorpecente do trigo de fogo apodrecido além do apropriado.

— Uma maldita rosa, Bellatrix? Consigo imaginar uma infinidade de desculpas óbvias para ter matado o meu pai. Essa é, simplesmente, intragável!

— Não era uma rosa qualquer, Bervely. Era a MINHA rosa. A única coisa que eu tive na vida. A única que era de fato inteiramente minha. — Bella se virou com o olhar inflamado de raiva. — O vira-lata sequer tentou me impedir quando o informei que a arrancaria, que daria fim a ela. A vida toda, foi sempre ele a ter algo que eu viesse a querer, pode imaginar o quão invejoso o papai se tornou quando percebeu que eu possuía algo que ele descobriu desejar, Rose?

Bervely piscou algumas vezes atônita. A mãe a havia chamado pelo segundo nome alheia ao fato de que tinha certo conhecimento que fora ela quem o escolhera para batizá-la. De repente, as mudas apodrecidas de acônito pareciam-lhe mais interessantes que a face da outra.

— Está tentando usar de sentimentalismo para me fazer concernir com os teus propósitos, Bellatrix? Estou surpresa. Mas devo avisar que esse tipo de abordagem não vai funcionar comigo, se é o que pensa!

— Se bem me lembro, houve um tempo em que não se importaria em fugir da Mansão Malfoy no meio da noite para me salvar em Azkaban, Bervely! — A mais velha sorriu largamente com o assombro no olhar da garota. — Sim, eu sei sobre isso. Nada se passa na tua vida sem que eu saiba, filha!

— Isso se deve justamente ao fato de ter me vendido a Voldemort e ganho passe livre em minha mente. Uma bela retribuição pelo presente, devo dizer!

— Me pergunto, em que momento a tua fidelidade se demoveu da mamãe para o papai? Cachorros são criaturas cegamente leais, ouvi dizer. A filhotinha deveria saber disso! — Bella acariciou as marcas em seu próprio braço – a caveira com a cobra e a rosa espinhosa – num sorriso sádico alcançando os olhos mortais.

— Com que propósito, continuar com a ideia de supremacia da pureza de sangue? Seguir as diretrizes de Narcissa? Toujours pur, não é? — Bervely reposicionou a varinha, no meio da conversa acalorada não notou ter baixado a guarda. — Não me pareceu sensato continuar a seguir os ensinamentos de uma mãe que pouco se importou a respeito de qualquer coisa sobre mim, ou se absteve da satisfação de me assombrar todas as noites em que esteve em Azkaban!

— O que de tão valioso o cão sarnento teve a oferecer, uh? Se estou certa, e sei que sim, ele esteve tão ferrado quanto eu dentro daquela prisão ridícula. O fato de ter lhe usado para conseguir escapar não o torna melhor do que a mamãe, sabe? — A comensal sorriu saudosista, como quem se recorda de uma piada muito infame — Ouvi dizer que o papai tentou matá-la enforcada, querida!

— Ajudei Sirius a fugir porque quis, não fui usada. E, ele é... era inocente, não saiu por aí orgulhoso de ser o responsável pelo massacre de trouxas ou a tortura de membros da Ordem! Coisas completamente diferentes, vê?

— Evidente, a amabilidade em pessoa, eu diria. Ele por acaso também a convenceu de que o amor é poderoso, lhe mostrou o quão lindo era aquilo que sentia pela imunda da Loren? Veja bem Bervely Black, deixe essa tolice sentimental para os trouxas antes que a mate também! — Segundo a concepção de Bella, o amor era como um Cacto hipnótico Egípcio, atrai os bruxos até que estejam próximos o suficiente para atacar e só soltam quando já não há mais vida a ser vivida. Deprimente o suficiente para Bervely sentir a necessidade de perguntar.

— Você já amou alguma vez na vida Bellatrix, ou essa é uma das coisas que o teu Mestre lhe ensinou a matar? — Os olhos da mais nova começaram a pinicar. Um fogaréu de raiva conscientemente visíveis em seus olhos injetados.

— Amor é tolice, Rose! — Cuspiu a mulher pegando a varinha de cima da mesa e virando-se para a roseira, analisando as pétalas, cortando e podando nos lugares necessários com um feitiço afiado. Definitivamente a Rosa precisava ser podada, haviam ramificações perigosas demais enforcando suas raízes.

— Nunca me amou, mãe? — A imagem de Bella tornou-se incômoda, mesmo que de costas para ela. Observou uma aranha minúscula patinar sobre a bancada puída, um belo aperitivo para Jinx, pensou.

— E-existe ... — Bella suspirou aturdida recuperando a compostura ereta, ciente de que o tom de sua voz capturou a atenção da filha. — Existe essa coisa, que me conecta a você. Acredito que foi essa mesma coisa, de alguma forma, a impedir que as tentativas de dar fim a tua vida ainda no meu ventre surtissem efeito. Talvez, essa mesma coisa seja a fonte de todo o teu poder, afinal.

— Coisa? É assim que o chama, o sentimento que tem por mim? Se me odeia, deixe isso claro. — Para a quase alquimista, não havia motivos o suficiente que a fizesse demover da ideia de matar a mãe, contudo se aquela era a última conversa que teriam, era melhor que fosse clara o bastante.  — Mas se não, tente dissecar essa coisa para que eu possa entendê-la. Faça-me esse favor Bellatrix, seja honesta comigo ao menos desta vez!

— Não há nenhuma chance de eu desfibrar isso, o que quer que seja. Ela apenas existe, e sou inapta de rotular ou compreendê-la. — Bella puxou alguns galhos espinhosos, furando as mãos no processo. Porque estava se deixando interrogar pela garota insignificante? — No início, tudo o que eu sentia era ódio, porque aquele traidor do sangue deixou um pedaço da sua indignidade em mim.  Como se a própria não fosse suficiente para manchar a honra da família. Imagine eu, Bellatrix Black, carregando um filho do traidor do sangue. Uma desonra para minha família e, principalmente para o Mestre. Eu estava disposta a me livrar do feto, mas Cissa e Regulus resolveram ser os tronquilhos salvadores da árvore mãe. Ademais, minhas irmãs estavam fortemente convencidas de que a cria estava usando sua magia excepcional para se proteger de qualquer que fosse a ameaça que eu lhe apresentava. Logo, fui obrigada a ceder, é claro.

Bella tomou algum tempo para se concentrar na tarefa de cicatrizar os galhos cortados. O cheiro característico de canela, escaravelho e menta despertaram o interesse de Bevy, que se virou para analisar o trabalho da mãe. A mão esquelética segurava um frasco – tirado sabe Merlin de onde – com um líquido violáceo que agia em contato com a planta, fumegando e cicatrizando-as. Provavelmente era alguma derivação da poção limpa-ferida, própria para o ofício herbológico.

— Eu não a odeio, Rose. No final, ter uma filha não foi uma maldição integralmente. Uma vez que percebi o poder que resultaria da mistura de décadas de sangue puro, a maternidade deixou de ser tão inoportuna. Veja, o vira-lata desleal me serviu de algo no final. Naturalmente, minha própria magia estava contribuindo minimamente para isso e meu corpo revelou-se um receptáculo resistente. Porque, caso não saiba, Sirius não fez a coisa toda sozinho. Eu estive lá, sabe?

Bevy fez uma careta enojada para a cena – de uma Bellatrix e um Sirius jovens fazendo “a coisa toda” – que se instalou em sua mente.

— Mais tarde, quando o Lord das Trevas me ofereceu uma provisão definitiva pra me livrar do problema que vinha me impedindo de servir para os seus propósitos, soube que poderia tirar algum proveito da situação degradante. Mais de Cinco gerações de pureza custariam a acontecer novamente, seria leviandade da minha parte desperdiçar tal oportunidade. Ser a única a brindá-lo com algo dessa magnitude teve todo um deleite.  

— Então a coisa nada mais é do que possessão! — Pontuou a garota, ainda observando a mais velha trabalhar com as plantas enquanto elucidava a sua narrativa, a voz beirando a loucura.

— Chame como quiser! — Bella relaxou a postura, finalmente se virando para observá-la. — A questão é que deve manter-se a salvo para que o Mestre possa fazê-la enxergar qual o lado mais vantajoso a servir, Bervely!

— Bervely, foi como ele desejou que me chamasse, não foi? Sirius? — Ignorou o alerta propositalmente. Havia todo um terreno perigoso por onde mãe e filha estavam caminhando e era imprudente, mas a garota queria arrancar tudo o que podia antes que a mãe erguesse o muro de indiferença novamente.

— Sim. — foi econômica. Ora, não era ela quem queria conversar, desde o começo?

— Você sentia algo por ele? — Porque estava insistindo num assunto tão inóspito, Bevy não conseguia compreender. Mas se a mãe batizou-a com o nome que o pai escolhera havia uma questão inacabada aí, certo?

— Ódio. Puro ódio. — Bella sentiu o lábio inferior tremer. Fitou a bolha esverdeada de gases voando por cima da cabeça da filha. — Aquele ingrato, como pode trair o próprio sangue e se aliar ao Potter? Uma rebeldia alimentada, incentivada ano após ano, não poderia resultar em boa coisa. Estava cego, amando a escória e virando as costas para a própria família!

— Então, você nunca o perdoou por deixá-la e preferir Potter a você? — Quando foi que a garota imaginou que teria aquela conversa com a mãe? Estava tão assombrada com a queda da máscara de Bellatrix, que quase não sentiu a mão repousar a varinha sobre a mesa bamba.

— Não seja obtusa, garota. Esse não é o ponto. A questão é ter preferido sujar a casa Black, a se alistar ao exército do Mestre. Regulus era o caçula, mas soube escolher a que lado lutar, porque era tão difícil para Sirius Black fazer o mesmo? Ele nos traiu, apodreceu o sangue por uma causa infundada e perdida. Por um amante de nascidos trouxas, um lobisomem, por Loren! — a voz da mulher ia de inconformismo para nojo.

— Olívia Loren sempre foi o ponto, não é? Agora compreendo, Bellatrix. Talvez a coisa que sente por mim, seja apenas um reflexo do que sentia por Sirius. A posse, a manipulação, tudo. Por que caso não fosse Loren, acredita que conseguiria demovê-lo para a causa. E caso não fosse Sirius, você me teria para o Lord sem qualquer resistência. Foi por isso que matou Loren, e pelo mesmo motivo matou meu pai!

Bervely Black aproveitou-se da estagnação da comensal para avançar cautelosamente. Conseguia ver os próprios sentimentos estampados na face conturbada da mãe. Havia fúria, ultraje, um turbilhão de emoções contraditórias.

A garota colheu uma das rosas, sob o olhar atento da mãe, sustentou-a na altura dos orbes negros da mais velha, e apertou a flor com a mão desnuda. Bellatrix assistiu o sangue puro da filha escorrer entre os espinhos e ser absorvido pela rosa, fazendo-a tomar uma coloração vermelha escura e depois negro brilhante, como o havia feito anos atrás, na primeira vez em que tivera contato com a estufa. Naquela ocasião, contudo, o fato de seu sangue ter causado uma reação tão impressionante a fascinou. Desta vez, ela sentia-se apenas insultada, ferida.

— A pureza do sangue lhe é tão importante. A causa, acima de tudo, eu diria. — Bevy pegou a mão de Bellatrix com a sua livre e pousou-a sobre a flor na outra as juntando dentro de um aperto, fazendo ambos os sangues – dela e da mãe – misturar-se. — Se quer mesmo uma rosa, então sugiro que fique com esta, porque é a única que terá!

Bellatrix agarrou os espinhos com força, enquanto assistia a filha recuperar a própria varinha em cima da mesa, e ir embora pela porta da estufa empoeirada. Ouviu o estampido da aparatação segundos depois, completamente ciente de que acabara de deixar Bevy entrar em um campo perigoso dentro de si. Reergueu os muros decalcados em pedras enregeladas que a protegiam de tudo o que formigava dentro do peito, e aparatou.

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"- É para você encontrar a sua mãe - Wendy argumentou.

Se algum dia teve mãe, já não sentia falta dela.

Podia passar muito bem sem mãe nenhuma. Havia eliminado tais criaturas de seu pensamento e só se lembrava dos defeitos que elas tinham. "

(Peter Pan, J.Barrie)

 

Julho de 1996 - Duas semanas depois, Rua da Fiação.

 A janela aberta do quarto no segundo andar não trazia qualquer alívio diante do calor, pelo contrário, a única brisa que adentrava o cômodo fazia o nariz sensível protestar com o odor do rio mau cheiroso.

Bervely demovera qualquer tentativa de reencontrar a mãe, após o ocorrido na estufa em St. Catchpole. A vingança se dissolvera, tornando-se algo confuso e indecifrável. As palavras sinceras de Bella criaram um sentimento amargo, um monstro que se embrenhava em seu peito todas as vezes que a voz da comensal ecoava em sua mente. Ademais, Severus não deixou de rastreá-la, a infernizando até que se aquietasse em algum lugar.

O hospital St. Mungus era a primeira opção, mas Bervely preferia mil vezes as palavras severas e julgadoras do padrinho, aos abraços maternais e acolhedores de Andrômeda. Não era aquilo que ela estava necessitando no momento. É claro que eventualmente teria que ceder, a afilhada era uma presença incômoda na casa de Snape, sobretudo, porque ele sabia que ela estava sofrendo pela morte de seu arqui-inimigo. Mas, por enquanto, a Rua da Fiação serviria, assim poderia mantê-la sob seus olhos de ave de rapina, em tempo integral.

“Maternidade torna as mulheres frágeis, Bervely. E, se existe algo que não pretendo ser em hipótese alguma, é fraca.”

Então, ela tornava a mãe fraca. Seja lá o que isso pudesse significar. Bem, se ponderasse melhor, se buscasse bem fundo em sua mente, poderia recordar-se de um momento específico em que Bella estivera desarmada emocionalmente. Foi na noite em que ganhou o Signo Negro, a mãe e ela engataram em uma conversa sobre estrelas, e Bevy nunca a viu tão crua quanto naquela ocasião.

Bellatrix, a estrela guerreira. A terceira mais brilhante da constelação de Órion. Andrômeda era toda uma constelação, e talvez por isso houvesse espaço em si para abraçar a todos. Narcissa, contra toda uma tradição, era uma flor, a delicada e mais querida. Mas, ainda assim, Bellatrix era a terceira, colocada em uma posição pouco prestigiada dentro da família. Não havia surpresa alguma que sua personalidade seguiu fielmente a estrela mãe de seu nome. Indômita, selvagem, guerreira. Para Bevy, sempre foi curioso o fato de os astros serem capazes de dizer algo sobre a vida das pessoas, entretanto em se tratando da família Black, eles pareciam ter muito o que dizer. Gritavam!

Suspirou tediosa, observando o céu noturno.

“Depois você volta para o céu, se for um Black. Vai ocupar seu lugar entre as estrelas.”

 O estômago vazio deu uma volta, não comia há algumas horas, mas o fato não era o responsável pelas náuseas. Pensar em Sirius, em sua morte e na executora, isso sim a enjoava. A própria mãe matar o pai não devia ser algo com o qual as outras garotas de sua idade tivessem que lidar. Entretanto, ela não era como qualquer outra garota, era?

Batidas na porta advindas no andar de baixo capturou a atenção da ex-justiceira. Sobressaltou-se, a varinha em punho atenta ao som da conversa que se desenrolava na sala. Não imaginava o mestre em poções confraternizando com os vizinhos, recebendo-os para um chá da tarde.

Desceu as escadas pé ante pé, tomando o cuidado de lançar um feitiço sob as botas tornando-as macias e inaudíveis. Parou defronte a porta que ocultava a sala de visitas aproximando-se atenta a movimentação do outro lado.

“Então, em que posso lhe ser útil?” A voz do padrinho estava controlada, como fazia quando falava sob o olhar de alguém indesejável.

“Nós... nós estamos sozinhos?” Era a voz de Narcissa, baixa, mas reconhecível. O que a tia estaria fazendo ali, na sala de Snape? Não era possível que Severus a trairia, revelando a Malfoy algo sobre a afilhada, era?

“Claro que sim. Bem, tenho uma hóspede, mas não acredito que seja um problema.” Por um momento Bevy pensou que os dois haviam deixado a sala. Porém percebeu que seu padrinho morcegudo tinha lançado um feitiço de imperturbabilidade sobre a porta.

Bervely sentou-se no terceiro degrau da escada, sentindo-se ofendida e intrigada. Se a madrinha não sabia sobre sua estadia na casa de Snape, então qual outro motivo teria para vir até Cokeworth requisitá-lo?

Reclinou a cabeça, encarando o teto baixo. Pequenas partículas de poeira dançavam no ar, aparecendo e desaparecendo entre os raios solares que entravam pela janela do segundo andar. Pareciam pequenas estrelas rodopiando no meio da galáxia. Gemeu angustiada. Nas últimas semanas parecia que tudo a levava de volta as estrelas.

Minutos quase eternos passaram-se sem que a garota movesse um músculo sequer, decidida a atravessar aquela porta no segundo em que Severus a liberasse. Aos poucos, sussurros passaram pela fresta entre a madeira e o chão liso. Por algum acaso inexplicável, o feitiço estava se dissolvendo.

“Meu filho, Severus... meu único filho ...” A voz de Narcissa soou como um gemido embargado e envolto em soluços. Já devia imaginar, por qual outro motivo se não Draco, a tia se deslocaria até a vila trouxa onde o padrinho do seu filho morava? Bevy levantou-se impetuosa.

“Você devia se orgulhar!” Congelou, todos os músculos tencionaram e os pelos da nuca eriçaram. Era a voz dela, Bellatrix. “Eu mesma entreguei minha filha ao Lord das Trevas e de muito bom grado. Se ela não oferecesse resistência, e se alistasse como Draco o fez, eu estaria orgulhosa. Sinta-se honrada Narcissa!” Bervely ouviu um grito desesperado vindo da tia, seguido de um tilintar e barulho de líquido sendo despejado.

É claro que Bella estaria orgulhosa, derretida em honrarias caso fosse sua filha a ocupar um cargo tão alto para um garoto de dezesseis anos. Ela mal conseguia enxergar quão absurda estava soando para a irmã. Por acaso não havia algum instinto materno dentro de si, que a fizesse simpatizar-se com a dor da outra? Era evidente que não, deixara suficientemente claro da última vez.

O pente dourado cravejado de pedras vermelhas pesou em seu bolso. Não sabia qual motivo a levara a surrupia-lo de seu antigo quarto em Blackburn Hall, mas sentira uma necessidade exorbitante de tê-lo para si no momento em que a lembrança da mãe penteando-a surgiu em sua mente, um par de dias atrás.

A vingança pela morte de Sirius ainda existia, mas estava guardada em alguma parte dentro de si esperando o momento certo para despertar e acabar de vez com todo o emaranhado de fios que a mãe deixou para trás quando se ausentou de sua vida propositalmente, para que ela pudesse lidar com eles sozinha.

“Narcissa, chega. Beba isso. E me escute.” Severus parecia contrariado, a julgar pela forma com que sua voz retumbou incerta. “Talvez seja possível... ajudar o Draco”

“Severus... ah, Severus... você o ajudaria? Você o protegeria, cuidaria para que não sofresse nenhum mal?” A madrinha resfolegou, agarrando-se ao fio de esperança estendido pelo ex-comensal.

“Posso tentar.”  Foi econômico.

“Se você estiver lá para protegê-lo...” Por um momento Bevy sentiu-se envergonhada pela forma com que a tia estava se humilhando, implorando pela vida do filho. Então essa é a fragilidade maternal, afinal. “Severus você jura? Você fará o Voto Perpétuo?”

“O Voto Perpétuo?” Se não fosse extremamente familiarizada ao padrinho, talvez Bervely tivesse deixado passar a nota de insegurança em sua voz. A gargalhada escarnecida de Bella machucou os ouvidos da filha, mesmo ali do outro lado da porta.

“Você ouviu bem, Cissa? Ah, ele tentará, com certeza... as palavras vazias de sempre de quem tira o corpo fora.” Porque Bellatrix seguiu a irmã até o bairro trouxa, era umas das muitas coisas que Bevy nunca compreenderia sobre a mãe.

 “Certamente, Narcissa, farei o Voto Perpétuo.” Mesmo saindo muito baixo, Bevy ouviu Snape confirmar. “Talvez, sua irmã aceite ser a nossa Avalista” O silêncio de Bella ilustrou quão incrédula ela deveria estar diante da afirmação.

Houve alguma movimentação na sala, antes da voz de Cissa soar novamente, desta vez aliviada e impetuosa, como se nunca estiver aos prantos segundos atrás.

“Você, Severus, cuidará do meu filho Draco enquanto ele estiver tentando realizar o desejo dEle?”

“Cuidarei”

“E fará todo o possível para protegê-lo do mal?” A tia parecia querer cobrir qualquer brecha, para que o filho estivesse a salvo do que quer que ameaçasse sua vida.

“Farei”

“E se necessário for... se parecer que Draco falhará...” A voz de Narcissa não passava de um sussurro a essa altura. “Você terminará a tarefa designada a Draco?” Um silêncio tenso se estendeu pelos segundos seguintes, e pareceu a Bervely que todos na sala estavam com a respiração suspensa.

“Terminarei” Snape jurou, mesmo a afilhada não fazendo ideia de como ele o faria.

“Um grande equívoco da tua parte, Cissa! Histeria desmedida, um despautério! Se humilhando, chorando aos pés desse lambido, isso é degradante, uma decepção para a família Black!” Bella silvou como a cobra que ela é. “Draquinho vai se sair bem. A fará perceber que não era necessário dar-lhe uma babá. Vê, se fosse a minha filha a ter tamanha honra, eu não me importaria que morresse, desde que estivesse lutando pelo lado certo!”

E essa, era a grande diferença entre as irmãs.

Narcissa ridicularizava-se, implorando e desonrando a memória de seus ancestrais ao descer do alto patamar em que sua família – Malfoy e Black – estava, tudo para garantir que o filho estivesse a salvo com as providências do padrinho, o que para Bervely era uma coisa altruísta demais para os próprios parâmetros. Era desnecessário, e podia compreender claramente a que Bella se referia quando disse que maternidade tornava as mulheres fracas, e era obrigada a concordar com isso.

Bellatrix, por outro lado, a ofereceu como moeda de troca ao Lord Negro, pouco importando as consequências que aquilo traria a própria filha, e se Bevy morreria em Batalha, lutando ao seu lado ou não.

“Já que estamos todos aqui envolvidos em um propósito tão nobre, assegurando filhos e afilhados, não está tentada a me pedir algo também, Bellatrix?” Sem sombra de dúvidas, a coisa de paternidade seria algo do qual Snape passaria longe, dado o tom de descaso em sua voz.

“É claro que não, acaso pensa que sou covarde? Se estiver afeiçoado demais para incomodar-se com a minha falta de interesse, pode se permitir cuidar para que a tua afilhada seja instruída devidamente.  

“Certamente.” A voz seca retumbou tão penetrante quanto fora em seu habitat natural, nas masmorras.

“Ah, não se esqueça de fazê-la receber os cumprimentos da mamãe!” Cantarolou aquela voz que protagonizou pesadelos perturbadores no passado da garota.

Enquanto uma destruía as barreiras da autopreservação, a outra construía muros de indiferença. Contudo, seja feitas de sentimentalismo derretido, ou abusivas pedras sólidas, para Bervely, todas as mães eram defeituosas de igual modo, e faziam falta alguma.

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"But every time you hurt me, the less that I cry

(Quanto mais você me machuca, menos eu choro)

And every time you leave me, the quicker these tears dry

(E cada vez que você me deixa, mais rápido essas lágrimas secam)

And every time you walk out, least I care

(E toda vez que você sai, menos eu me importo)

You know, we don't stand a chance, it's sad, but it's true

(Sabe, nós não temos chance, é triste, mas é a verdade)

And, no way that you'll see me cry

(E, de jeito nenhum você me verá chorar)

Because I'm way too good at goodbyes

(Porque eu sou boa demais com despedidas)"

Too Good At Goodbyes - Sam Smith

 

2 de Maio de 1998 - Batalha de Hogwarts.

Após a rebelde manifestação de Potter diante da própria morte, a batalha recomeçou se estendendo como uma cortina de fumaça negra e fétida. Jorros luminosos cortavam Hogwarts, maculando suas estruturas e habitantes sem piedade alguma. E, piedade, é precisamente o que seus estudantes descobriram não existir nas diretrizes de uma guerra, confrontados com a morte precoce de seus colegas, seja qual fosse a idade.

O grito esganiçado de Narcissa Malfoy feriu os ouvidos de Bervely, no momento em que ela adentrou o Salão Principal, onde estavam concentrados os duelistas mais tenazes. A madrinha atravessava no meio da algazarra, pouco se importando em lutar. Lucius vinha atrás, vasculhando o salão com uma expressão sôfrega e preocupada. Ambos chamavam por Draco desesperadamente.

Bevy viu um sectumsempra passar a milímetros do braço direito da tia, fazendo um filete de sangue escorrer sem que ela se atentasse ao ferimento. O rancor que sentia pela Malfoy foi estrangulado pelo pesar de imaginar vê-la juntar-se aos corpos que estiveram naquele mesmo salão mais cedo.

Sopesou se valia a pena desviar-se de seu objetivo para informar a madrinha que vira Draco algumas horas antes, são e salvo – exceto pelo ultraje de não ter sido reconhecido de imediato por um dos Comensais, e a boca esmurrada por Ronald Weasley invisível por algum feitiço de desilusão – mas considerou que dignidade ferida era algo com o qual o primo e os tios poderiam sobreviver.

Sobreviver – ou viver – era uma palavra tão sem importância naquele âmbito.

A garota tentou não pensar nos corpos que encontrou enfileirados naquele mesmo chão, após esbarrar com o primo alguns andares acima. Em Sia Rockwood, Severus, Weasley, na miudeza de Creevey trazido por Wood, em Lupin com o rosto virado levemente na direção de Nymphadora. Dela, sua prima estúpida, que deixara o filho em casa com a mãe para lutar numa guerra ainda mais estúpida.

Um feitiço estuporante passou pela orelha esquerda de Bevy, despertando-a de suas divagações. Não era hora para isso. Voldemort duelava com McGonagall, Slughorn e Kingsley, aos quais resistiam bravamente as investidas do Lord Negro, avançando contra ele e erguendo escudos fortíssimos.

Alguns bons metros, Bellatrix avançava contra três garotas, os cabelos dançando com os gestos incisivos da varinha, o sorriso de escárnio, a gargalhada estridente pela resolução de uma morte tripla, os olhos rubros pelo deleite antecipado.

Bervely apertou a própria varinha decidida, quando um furacão ruivo surgiu sabe Merlin de onde, empurrando alguém em cima da garota. Ela virou-se aturdida, mas havia nada mais que um espaço vago entre o corpo da velha e o seu. Ignorou a estranheza ao ouvir o berro.

— A MINHA FILHA NÃO, SUA VACA! — A velhaca se despiu de sua capa, renovando as gargalhadas da oponente. — SAIAM DO MEU CAMINHO! — As três garotas se afastaram antes que os feitiços das mais velhas as atingissem.

Mães são criaturas indecifráveis, emotivas e irracionais, em se tratando de suas crias. E, a prova estava ali diante daquele pandemônio. Narcissa deu as costas para o que quer que a causa significasse, porque a sua própria causa no momento era o filho. Nymphadora veio para o olho do tornado a fim de que o seu tivesse um futuro seguro, porque aquele era o seu princípio e estava disposta a lutar por ele para que Teddy usufruísse de uma infância pacifica. Andrômeda permitiu que a filha debandasse para a batalha, pela mesma convicção, confiando que ela voltaria para o pequeno metamorfomago. Weasley ironicamente transmutou-se em uma leoa faminta, para proteger a cria posta em perigo por Bella. Apesar de todas as diferenças, no fim das contas, mães eram supostas a escudar os seres gerados por seu ventre. Acolhê-los, abriga-los, salvá-los, protegê-los.

Pacey passou como um raio, correndo na direção do que parecia um duelo de três, equilibrando-o com seu reforço. O porquê de antigos colegas de sua época em Hogwarts continuavam a aparecer para engrossar as fileiras de ambos os lados das trincheiras, era algo que Bervely já não se dava ao trabalho de questionar.

— Não! — Gritou a Weasley, notando que alguém se aproximava para tomar as rédeas do duelo.

— O que vai acontecer aos teus filhos depois que eu matá-la? Quando a mamãe for pelo mesmo caminho que o pobre Fredinho? — A comensal fez um biquinho e em seguida a gargalhada exultante encheu o salão.

— Para trás! Para trás! Ela é minha! — A ruiva insistiu com a aproximação de Bevy.

Não havia um lado pelo qual lutar, causa certa a qual defender, ou motivo aceitável pelo qual morrer. Para Bervely, não existia nada disso. Entretanto, havia a sua causa, o seu motivo para agir contra Bella. Já tinha adiado aquele momento tempo demais, e agora aquela vingança morna que adormecera dentro de si, estava madura o bastante e pronta para aflorar e saciá-la.

— Pelo contrário Weasley, Bellatrix e eu temos pendências familiares a resolver. Se não se importa em nos dar licença. — Mesmo contrariada a ruiva se afastou, notando que ambas as Black se encaravam com um olhar injetado de ódio.

Bella retumbou sua famosa gargalhada de ironia, lançando um feitiço estuporante contra a filha, a fim de assustá-la. Bervely por sua vez revidou, segura e determinada. Mãe e filha lutavam com maestria, avançando ou recuando pelo salão destruído como se dançassem numa valsa sem música.

— Acredita mesmo que terá êxito em me matar, garotinha indigna? — O feitiço seguinte atingiu o ombro da mais nova, desequilibrando-a minimamente. — Se muito não me engano, na última vez que tentou saiu esperneando porque descobriu que a mamãe não a amava! — Bella fez um biquinho zombeteiro.

— Não pretendo sair desta guerra sem leva-la para o inferno! — Bevy avançou com as investidas, jorros verdes saindo de sua varinha. A mãe recuou consideravelmente, desestabilizada pela audácia, mas ainda assim bloqueando os feitiços. — Desta vez, ou Bellatrix, ou eu! — parafraseou em um silvo convicto.

— Eu vou matá-la, traidora. Por se virar contra mim, por escolher o lado de Potter exatamente como aquele cão fedorento fez, e por ousar ir contra a causa do Mestre! — O ódio inflamou a íris negra de Bella, provando que não hesitaria um segundo sequer em cumprir com suas promessas. Esqueceu-se completamente de que aquela a sua frente era Rose, porque se ela ousava abandonar a causa traindo o seu Mestre, então merecia morrer pela afronta.

— Não escolhi lado algum, mãe. Entre qualquer um, eu escolhi o meu lado! — A Black mais nova aproveitou-se da surpresa que o título ainda podia causar a outra, e avançou impiedosamente.

A rosa em seu braço pinicou, fazendo os espinhos subirem e emaranhar-se em sua pele alva. Começou a recuar, sentindo no pulso o impacto dos feitiços lançados contra ela. Cogitou mudar de estratégia, quando uma Shooting Star atingiu as pernas da mais velha desestabilizando-a. Seus olhos voaram para Wood metros atrás delas, costa a costa com Tara, que lançava feitiços impiedosamente. Ele piscou e sorriu antes de voltar a atenção para sua própria batalha.

Bellatrix se recompôs do susto, mas continuava recuando na mesma medida em que a filha avançava, tentando manter uma distância segura. A luz esverdeada saía de ambas as varinhas com uma língua de fogo decidida a lamber a primeira que fraquejasse. A rosa – gêmea de sua filha – queimou em seu pulso. A comensal arregalou os orbes negros recusando-se a acreditar que a única garantia de controlar Rose, estivesse se voltando contra ela.

Ambas as rosas subiam, cravando os espinhos na carne de mãe e filha. A dor era insuportável, queimava, ardia, invadia. Bella nunca fora fraca para esse tipo de coisa, era completamente inaceitável que estivesse definhando diante de uma magia tão inferior à sua. Mas, este era o ponto afinal, o motivo de tê-la mantido viva todos esses anos foi justamente este, o seu poder!

Bervely se lembrava com clareza da mãe ter esboçado qualquer reação na noite em que o Lord Negro a marcou. E, ver que tinha tanto controle sobre a mãe quanto esta tivera sobre ela – principalmente no período em que a fazia reviver os pesadelos de Azkaban – foi tudo o que ela precisava para avançar com maior afinco. O feitiço voou por baixo do braço esticado da comensal, atingindo-a no peito, na altura do coração.

A feição vituperiosa se congelou na face maníaca da mãe, transformando-se em incredulidade – dor, talvez – e no momento em que percebeu o que havia acontecido, sucumbiu se desfazendo direto pro chão, sob os escombros do que já foi a mesa da lufa-lufa. Por uma fração de segundos, pareceu a Bevy que o salão ficara em silêncio sepulcral, antes que o grito fúnebre de Voldemort ressoasse, expelindo uma força descomunal que afastou os professores com os quais duelava.

— Sua Rosa indigna! — O ofídico apontou a varinha segura pela mão esquelética para Black, os olhos vermelhos intencionando matá-la ou tortura-la primeiro. Todavia, antes que pudesse decidir um escudo surgiu entre ela e o Lord.

Bervely não viu o minuto em que Potter saiu debaixo de sua capa da invisibilidade aparecendo no meio do salão. Tampouco notou a batalha em que se enfiaram. Menos ainda o corpo pálido do que um dia fora o mais temido Bruxo das Trevas vir ao chão como se valesse menos que um nuque. Seus sentidos estavam formigando, como se um peso enorme estivesse sob sua vida todo esse tempo adormecendo-a, e agora ela finalmente conseguia respirar e sentir. Era fato, mães não lhe faziam falta.

Para ela, Bella nunca se tratou de uma proteção, como era Narcissa para Draco, Dora para Teddy, Molly Weasley para os filhos, ou Lílian Potter para o salvador do mundo bruxo. Não genuinamente, caso não houvesse um plano do Mestre, ou uma serventia para a eficácia da causa. Nunca foi sobre Bervely. Nunca houve escudos, amor, cuidado. Apenas a indiferença, ódio, e aquela coisa.

E a coisa podia ser vista, mesmo ali de longe, manchando o rosto que um dia fora tão bonito quanto o da filha. Um caminho úmido que vinha do olho esquerdo até o canto dos lábios. Tarde demais para significar algo.

— Adeus, Bellatrix! — A voz firme, convicta de que não haveria um próximo encontro. Sem mais caça, pesadelos, tortura. Nada.

Bervely Black se aproximou da mãe, sem espaço para dor, ou remorso, ou para lágrimas. Ela não conseguia sentir coisa alguma, se não a leveza em sua mente. Estava vazia. Porque em se tratando de Bellatrix não era sobre ter proteção, era sobre ela ser a Maldição da Rosa.

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Notas finais do capítulo

O que acharam? Algo a me dizer? Me deixem saber!

Quando a Juliana propôs esse plot a primeira coisa que imaginei foi Bevy e Bella de volta a estufa em Blackburn Hall, porque teoricamente aquele foi o primeiro contato ??” mãe e filha ??” entre elas. Logo, levá-las de volta àquela lembrança me pareceu bem lógico.

Depois, não sabemos muito sobre como Bervely se sentiu logo após a morte de Sirius ??” não de imediato, nas semanas que passou “foragida” ??” e principalmente por saber que a mãe fora a algoz. Mesmo com toda a segurança dela, esse tipo de coisa dá um nó na cabeça de qualquer um! Tentei expor ??” de forma branda ??” algumas fases do luto da Bevy tanto em relação a Sirius (que já havia morrido), quanto a Bellatrix (a qual estava disposta a matar). Se quiserem saber mais sobre, me digam e vamos bater um papo!

Daí vieram as questões da maternidade em si e tenho que admitir que já havia pensado sobre antes mesmo desse plot vir. Sobre como Bella poderia se sentir em relação a isso, e se Bervely sentia falta de uma mãe. É claro que pra isso eu não podia deixar de citar nosso querido Pan, e sua indignação em relação as mães, usando isso como base!

Por fim, tive que arrematar com algo que eu achei que seria possível dados os rumos que CDM está tomando até o momento, com a coisa toda da Bevy ter uma missão e estar supostamente tentando se manter viva como seu padrinho seboso. No mais, eu precisava de um desfecho que fizesse valer esse ponto!

Uffa’, foi quase um segundo cap essa nota final!
Se você chegou até aqui, muito obrigada. Um feliz Natal a todos e nos vemos por ai!
P.S.: Ouvi dizer que outra Oneshot está vindo por vir sem data de estréia, contudo! Aguardemos! XIU

oOo Mal feito, feito. NOX oOo



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