Todos sabiam que Rony Weasley não era muito bom em perceber sinais. Ele era um pouco lerdo, tinha dificuldade em captar pequenos sinais, e normalmente não notava coisas sutis.

Mas, naquela situação, ele não precisou de muito esforço para entender. Estava tão obvio, claro como água, e Rony não podia fingir que não via. Ele sabia ler Hermione Granger como ninguém.

 Rony e Hermione namorava há alguns meses. No começo, como tudo, tinha sido bom. Ela era apaixonada por ele há tantos anos, e ele gostava dela, ambos queriam ver se davam certo como namorados. Com o passar do tempo, o namoro esfriou e eles pareciam mais um casal de amigos, tão diferentes de Harry e Gina. Eles não eram tão afetuosos, não se abraçavam sempre que estavam perto um do outro, e se não estivessem acompanhados de Harry e Gina, não saiam em encontros. Ele não tinha dado muita bola para isso antes, não parecia grande coisa, mas agora ele não podia deixar de notar.

Ele havia chegado a sala comunal da Grifinória a quinze minutos, e desde então, estava assistindo a cena com atenção, enquanto sua mente juntava as peças de um quebra-cabeça que ele não sabia que estava montando.

Seus olhos iam de Hermione, sua namorada, para um dos seus irmãos mais velho, Fred. Hermione estava sentada na poltrona com um livro de poções, ela estava concentrada em seus estudos, enquanto Fred estava sentado no chão, jogando cartas com seu gêmeo, mas tinha as costas apoiadas nas pernas de Hermione. Aquela era uma cena corriqueira do salão: Hermione estudando, os gêmeos jogando cartas – xadrez bruxo fazia muito barulho e atrapalhava Hermione – e no canto, sem disfarçar, Harry e Gina namoravam. Mas, o que realmente prendia atenção de Rony, era a mão de Hermione no cabelo de Fred – ela acariciava de modo automático, sem desviar a atenção do livro, Rony duvidava que ela estivesse consciência do que fazia.

Aquela não era a primeira vez; Sempre que Hermione estudava no salão comunal, Fred estava por perto, as vezes lendo revistas esportivas ao seu lado, as vezes sentado aos seus pés - como um animal de estimação. Eles sempre encostavam, despropositadamente, um no outro - Mãos roçavam, coxas pressionadas, pés cutucando um ao outro. As vezes o toque era proposital - Ela acariciava seu cabelo, ele tirava as mexas da frente do rosto dela, ela apoiava a cabeça no ombro dele quando vinha cansada das rondas, ele ganhava massagens depois dos árduos treinos de quadribol. Eram como imãs se atraindo.

Levou um tempo, ele confessa, para parar de explicar a si mesmo com outra resposta que não fosse a verdade. Ele fingiu não ver, inventou desculpas, negou o que estava bem na sua frente. Mas, não dava para ficar em negação para sempre, dava?

Sua mente lhe lembrou dos outros sinais. Nas férias, Hermione passou na toca. Sempre que cozinhava, para ajudar à senhora Weasley, era Fred quem provava da sua comida por primeiro. Quando ela precisava de ajuda com algo, ela não corria para Rony e Harry, como fazia nos outros anos, era Fred quem a ajudava. Quando ela queria assistir a algum filme, algo que Rony não era tão adepto a cultura trouxa, era Fred quem assistia com ela.

Sinais pequenos, coisas rotineiras, que casais faziam. Hermione e Rony eram um casal, mas não faziam essas coisas. Hermione e Fred, por outro lado, não eram um casal e faziam essas coisas.

— Hermione? — Rony chamou, levantando-se — Pode vir comigo, um segundo?

— Agora? — Hermione perguntou, confusa

— É, agora? — Fred questionou, manhoso demais para um homem daquele tamanho

— É rápido — Rony prometeu

Rony a levou para fora, longe dos olhares e ouvidos curiosos, e longe de Fred.

— O que foi, Rony? — Hermione perguntou, curiosa

— Olha, acho que devíamos ser francos um com o outro, né?

— Do que está falando, Ron?

— Não está dando certo, Hermione — Rony respondeu, optando por ser direto – Nós não estamos mais dando certo.

— Rony...

— Está tudo bem. Acho que sabíamos que não íamos dar certo. Nascemos para ser só amigos, você sabe disso, eu sei disso.... Fred sabe disso.

— Fred? O que ele tem a ver com isso? –Hermione perguntou, confusa

— Não vamos mais negar, Hermione. Sei que sente algo por ele, eu vi isso.. Acho que todos já viram isso.

— Rony..

— Está tudo bem. Eu não estou chateado. É sério.

— Nunca quis te magoar — Hermione disse, triste — Foi.. o que sinto por Fred cresceu devagar, tão devagar que eu não notei, eu juro que não fiz por mal..

— Eu sei — Rony garantiu, sorrindo tristemente — Não estou com raiva, eu juro. Ele merece ser feliz, e você merece estar com alguém que realmente te faça feliz.

— Não quero te perder, Ron — Hermione sussurrou, com os olhos marejados

— Hermione — Rony puxou a amiga contra si, lhe dando um abraço apertado — Você jamais vai me perder. Eu vou sempre vou estar aqui por você, e com você, sempre.

— Promete?

— Claro. Você é minha melhor amiga, Hermione Granger, não vai se livrar tão fácil de mim.

— Você.. — Hermione se afastou lentamente — Está realmente bem com isso?

— Não vou dizer que vou aceitar isso bem.. Ver vocês juntos vai doer. Mas, com o tempo e com um pouquinho de espaço.. Eu vou ficar bem.

— Eu nunca quis te magoar.

— Eu sei.

— Se você disser que não está bem com isso, eu vou entender. Eu vou recuar, prometo.

— Eu estou.. Ou melhor, eu vou ficar. Não pare sua felicidade por mim, Hermione.

Os dois se encararam por longos minutos. Havia muitas coisas entre eles, uma história de amizade, um amor platônico. Eles sabiam que, independentemente do que aconteceria dali para frente, continuariam amigos.

Rony despediu-se com um simples beijo na testa dela, decidindo ir dar uma volta pelo castelo, querendo dar um tempo antes de retornar a Grifinória. Ele estava feliz por Hermione ir procurar sua felicidade, mas isso não amenizava o sentimento de perda. Ela era sua namorada, afinal. E agora ela pertencia a Fred. Porém, sabia que ainda permaneceria com as memórias do bom tempo que tinham, dos momentos fofos e de tudo que viveram até ali. Isso bastava.

Rony Weasley levou 15 minutos para perceber que Hermione Granger amava Fred Weasley.