O último Suspiro de Anne Ryan escrita por Paula C


Capítulo 7
Capítulo 7 - O que vence a Verdade?


Notas iniciais do capítulo

Score Inspiração: Thomas Newman - A Tour of Pleasures (Trilha sonora de "Scent of a Woman")



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Eu odeio praia. Não gosto de ver as garotas andando de biquíni, rebolando repulsivamente para os estrangeiros branquelos que aparecem. Odeio a areia grudando nos meus pés e tenho medo dos bichos que posso encontrar lá dentro. 

Eu odeio praia, mas foi ali que eu resolvi morrer. E foi para lá que eu fui, para entender o porquê de eu ter tomado uma decisão tão idiota.

Não conseguia nem mesmo lembrar do cheiro do mar. Nem lembrar de como era o sol queimando a minha pele. Não sabia que hora era aquela, mas eu nem mesmo me importava. 

Eu estava morta. 

- Sabia que te encontraria aqui. - disse uma voz que eu tão bem conhecia. Antwon sentou-se ao meu lado, na areia fina da praia. 

- Eu não estava me escondendo. Eu não preciso me esconder. - eu disse com desdém. 

Antwon não me respondeu.

- Que ironia. Eu odeio o mar. E foi aqui que eu resolvi por fim a minha vida. Eu realmente não gostava de mim. Ainda não gosto.

Antwon não respondeu novamente. Acho que ele não estava muito a fim de desdém.

- Quanto tempo faz que eu... morri? - fui direta.

- 1 ano. 

- O quê?!

1 ano? Eu estou morta há um ano e eu nem pude sentir. Pareciam semanas apenas. 

- Desculpe não ter lhe contado antes. - disse ele.

- Não se preocupe com isso. Eu entendo. Se viesse até mim, dizendo que eu estava morta, eu iria achar que você estava louco. 

- E como eu gostaria de estar. 

Virei meu rosto para olhá-lo e encontrei o olhar de Antwon. Seus olhos azuis estavam cheios de lágrimas. Eu poderia também chorar se me lembrasse como. Então eu apenas virei meu rosto, para não me sentir pior do que eu estava me sentindo e levantei-me. 

- Não é bom você vir me procurar. Não fará bem a você. - disse eu andando para longe dele. 

- E-eu não me importo. - disse ele se levantando depressa e correndo ao meu encontro. Ele segurou meu ombro firme, me fazendo parar. - Será pior sem você.

- Agora entendo por que sua mãe estava preocupada. 

- Tenho certeza que não entende. Há muito ainda para te contar. 

- Começando a me explicar por que você pode me ver... Eu sei que a vizinha não pôde, mas por que você pode? 

- É uma longa história. - disse Antwon. 

- Eu acho que tenho tempo pra ouvir. 

Antwon finalmente me soltou. Acho que agora ele não tinha mais medo que eu fugisse. 

- Não pense demais, ou vou pensar que estará mentindo. - eu disse.

Ele então virou-se para mim e uma lágrima deslizava pelo seu rosto bonito, e agora um tanto pálido. 

- Não era assim que eu planejava explicar tudo. 

Olhei para ele o incentivando a continuar. Penso que esse olhar dá resultado. 

- Não sei se você já ouviu falar sobre pessoas como eu. - Ele segurou minha mão e então começamos a caminhar lentamente à beira do mar. - Pessoas com a habilidade de falar com os mortos, senti-los e tentar ajudá-los à dar o próximo passo. Sou o que chamam de mediador. Ajudamos aqueles que morreram e deixaram assuntos inacabados. Pessoas que sofrem e que nos procuram em busca de ajuda. Digamos que eu resolvo os problemas deles e então eles estão... libertos.

- Por que você não me ajudou a dar o próximo passo? - perguntei.

- Eu não sei. Com você é tudo diferente, já que você causou a sua morte. Não entendo ainda por que você está andando entre nós. Na verdade, eu tenho até uma teoria, mas Paul acha que é bobagem. 

- Paul? - perguntei. 

- Sim. Paul Slater.

Lembro, é claro, de Paul. No dia do nosso primeiro encontro, meu e de Antwon, Paul apareceu e até falou comigo. 

- Ele também é mediador, creio eu. 

- Sim. Ele tem me ajudado nas minhas pesquisas. Estamos estudando seu caso há meses. 

- Caso? Então, eu sou apenas mais uma morta que você está querendo levar para o outro lado? - perguntei enfurecida. 

- Não! Anne! Jamais. Você é a pessoa que eu mais amo no mundo. Eu nunca poderia tentar me livrar de você! - disse ele parando na minha frente e segurando mais uma vez meus ombros. - Eu estou tentando salvar você! 

- Como poderia me salvar se estou morta? - perguntei tentando me desvencilhar das mãos de Antwon. 

- Paul disse que sabe como. Ele disse que uma amiga dele da Califórnia conseguiu salvar alguém. Ele... vai nos ajudar. 

O olhar desesperado de Antwon me deu medo. Não estava com medo dele, afinal... eu estava morta, o que mais poderia me acontecer? Mas eu tinha medo de não saber o que lhe aconteceria depois, se eu resolvesse lhe dar as costas. Tinha medo dele sofrer. Ele era um garoto maravilhoso e não merecia sofrer. 

- Salvar? Você está dizendo que eu posso ser salva... da morte? 

- É o que eu estou tentando lhe dizer. Eu não vou desistir de você. Eu quero que você fique comigo. Você tem muito ainda para viver. E ao meu lado. 

Os olhos de Antwon eram o que me faziam entender as coisas que se passavam  com ele. Eu o entendia e sentia sua honestidade apenas ao ver o seu olhar profundo e amável. Era o que entregava suas emoções. E era também o que eu mais amava. Nunca poderia pensar em perder a chance de viver ao seu lado e queria ver mais uma vez, o seu olhar feliz. O qual talvez eu nunca tenha visto. 

- Eu amo você, Anne. 

Os lábios de Antwon se aproximaram dos meus. Eu poderia dar uma de chata, e me desvencilhar deles. Mas era impossível. Porque eu também o amava demais para deixar de retribuir aquele gesto tão sincero. 

- Prometa que vai me deixar ajudá-la. - pediu ele com os lábios próximos aos meus. 

Eu fiquei em silêncio. Se eu o prometesse, não poderia quebrar e deixá-lo. Não por ser egoísta, mas não queria deixá-lo na esperança de que ele pudesse me salvar, o que eu quase poderia ter certeza de que ele não iria conseguir. 

- Eu não posso. E se você não conseguir. 

- Prometo deixar você em paz. 

- Você promete?

Ele assentiu. 

- Então... eu também prometo. 

Seus lábios finalmente tocaram os meus e algo em mim sentiu o amor de Antwon. Inacreditável, eu sei. Eu estava morta, mas ainda assim podia sentir o amor. 

Quando nossos lábios não mais se tocavam, eu sorri e olhei para ele, enquanto ele me abraçava aliviado. 

- E agora? O que faremos? - perguntei. 

- Temos de procurar Paul Slater. 


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Notas finais do capítulo

Em breve continuação...



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