O último Suspiro de Anne Ryan escrita por Paula C


Capítulo 6
Capítulo 6 - Lembrança perdida




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Eu via o sol nascer e adormecer. Eu ouvia o tic tac do relógio como se fosse alguma sinfonia. Eu não sentia vontade de fazer nada. Nem comer, nem dormir, nem mesmo de me levantar daquela poltrona velha que eu tanto amava odiar. 

Às vezes eu me esquecia o porquê de eu estar daquele jeito. Meu pensamento ia se aprofundando em outras coisas e em outras pessoas que eu nem mais me lembrava. Até que Antwon batia à minha porta e meu pensamento voltava para ele.

Eu sempre ficava em silêncio quando ele aparecia. Para que ele deduzisse que eu não estava em casa e fosse embora. Mas ele, é claro, sabia que eu estava. Mesmo que eu não me movesse ou fizesse qualquer barulho. 

- Anne... eu sei que você está aí. Você entendeu tudo errado. Abra a porta. - dizia ele, um tanto cansado. 

Tinha vezes que ele ficava o dia inteiro sentado na porta. Só saía, depois que seu telefone tocava.

Você deve estar se perguntando, por que eu estou tratando ele desta forma. Mas se você estivesse em meu lugar, uma garota com problemas de timidez, insegurança e que recentemente tentara suicídio, de repente tem em sua vida um namorado maravilhoso, quase que irreal... você realmente não desconfiaria desta sorte?

- Garoto! Não é permitida a entrada de estranhos aqui. - disse a vizinha para Antwon. 

- Não sou estranho. Estou esperando minha amiga. - disse ele cansado. 

- Vá embora, antes que eu chame a polícia!

- Não posso sair daqui antes de falar com a minha amiga

- Não está vendo que não tem ninguém aí

- Uma hora ela vai aparecer. 

Eu pude ouvir o estrondo de uma porta batendo com força. Logo percebi que a vizinha voltou para seu apartamento com raiva. 

- Eu não vou embora até você falar comigo. - disse Antwon para mim. - É ridículo você não querer que eu explique sobre o que você ouviu ontem. 

Ele tinha razão. 

- Por favor... Eu não quero te perder também. Eu preciso te contar a verdade. 

Eu finalmente me levantei da cadeira. Tentei não fazer barulho, mas o rangido dos meus passos no assoalho logo me entregaram. Caminhei até a porta, mas ao invés de abri-la, eu me sentei ali. Talvez de costas para ele, acredito que ele estivesse encostado na porta como eu. Na verdade, eu até podia senti-lo. 

- Eu sei que você passou por algumas situações difíceis. Que é difícil de confiar nas pessoas. Mas... você entendeu tudo errado. 

- Sua mãe pediu que você me deixasse em paz. Por que você não faz isso?

- Deixe-me entrar, pra falar com você. Por favor. Eu vou te explicar tudo e se você não me aceitar, prometo ir embora e nunca mais voltar. Por favor, Anne. 

Eu não sabia o que Antwon estava fazendo comigo, mas eu não conseguia odiá-lo. Eu sentia que ele estava sendo honesto. É, eu sentia sim.

Eu me levantei lentamente e abri finalmente a porta pra ele entrar. Afinal, eu queria saber o que se passava.

Antwon estava sentado, encostado na porta, como eu suspeitava. Seu cabelo estava bagunçado e sua roupa toda abarrotada. Não era pra menos que a vizinha tivesse achado que ele fosse um invasor. 

Ele logo se levantou e me abraçou. No início, eu fui um pouco fria, mas estar nos braços de Antwon me trazia uma sensação de segurança que não pude me conter e então retribuí o abraço. 

Depois do abraço, ele segurou meu rosto com suas mãos, e se inclinou para beijar minha boca, mas eu fugi de seu beijo, o que o deixou um pouco sem graça. 

- Então, pode me explicar agora? - pedi fechando a porta do apartamento. 

Antwon assentiu e fez sinal para que eu senta-se. Preferi ficar em pé. Não que eu quisesse apressá-lo ou algo do tipo. Eu só estava cansada da poltrona velha. 

Ele então sentou-se no sofá e respirou profundamente. 

- Eu fui ver sua mãe. - disse ele finalmente.

- Minha mãe? Por que você foi ver minha mãe? - perguntei um pouco alterada. 

- Ela me contou uma coisa sobre você. 

- Por que você foi ver minha mãe? Que direito você tinha?!

- Ela me contou sobre o seu irmão. 

Eu não sabia do que Antwon estava falando, provavelmente ele estava me confundindo com outra pessoa. 

- Antwon, me perdoe, mas acho que você está me confundindo com outra pessoa. 

Ele ficou em silêncio por alguns instantes. Talvez estivesse pensando na forma como ele me contaria algo ruim.

- Houve um acidente de carro. - disse ele, levantando-se e dando as costas para mim. O que quer que ele fosse me contar, não tinha coragem de olhar nos meus olhos. - Você estava dirigindo o carro e seu irmão, Julian. Ele estava ao seu lado...

- Eu não sei do que você está falando...

Eu realmente não lembrava até que surgiu em minha mente uns flashes de lembranças. Eu pude ver a antiga picape de meu pai capotando pela estrada. 

- Sua mãe disse que seu irmão conseguiu sair do carro e te tirar de lá. Mas...

Mais flashes surgiam em minha mente. Eu estava presa nas ferragens, e meu rosto encharcado de gasolina. 

- e... quando ele viu que o tanque vazava, ele te empurrou pra longe, e conseguiu te salvar da explosão... mas ele... não conseguiu sobreviver.

Eu agora lembrava. Julian. Meu irmão mais velho. Como pude esquecer de um irmão tão bom. De um irmão que morrera pra me salvar?

- Eu... eu consigo ver. - eu queria chorar. Mas não conseguia, embora uma tristeza infindável tomasse conta de meu peito. 

- Sua mãe me disse que você passou dois anos sem falar nada. E quando voltou, parecia ter esquecido da existência dele. 

- Minha mãe, meu pai e minha irmã me culpavam pela morte dele. 

- Não foi isso que ela me disse. Como você poderia saber disso se nem ao menos lembrar do acidente você lembrava? Você chegou a conversar com sua mãe sobre isso? 

Eu olhei para Antwon um pouco confusa.

- Por que você está me contando essas coisas?

Ouvi lá fora do apartamento, passos apressados subirem as escadas e a voz da vizinha que antes reclamara com Antwon. 

- É aqui. Eu o vi entrar. 

- Antwon? - supliquei pela resposta.

- Por que eu precisava saber o motivo de você ter se matado para poder então te salvar. 

- O quê? Do que você está falando?

Batiam a porta. 

- Alguém aí? Vamos abrir a porta! 

- Anne... você está morta. - disse Antwon. 

- Você está louco? 

Dois policiais invadiram o meu apartamento, seguidos de minha vizinha. 

- Você não pode, querido, invadir um apartamento dessa forma. - disse a vizinha. 

- Do que você esta falando? Ele não invadiu meu apartamento. Eu deixei que ele entrasse! Ei, eu estou falando com você!

Mas a vizinha não deu bola pra mim. É como se eu fosse invisível. É como se eu estivesse...

- Morta.


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Notas finais do capítulo

Em breve continuação...



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