E os namoradinhos? escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 8
31 de Dezembro




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São quase nove horas da noite do dia 31 de dezembro. Geralmente, o intervalo entre Natal e a virada de ano passa voando, mas dessa vez parece ter se arrastado. Foi uma semana longa, fastidiosa, torturante. E não teve um dia sequer durante ela que meus pensamentos não me traíram e lembraram de Daniel. Não teve um dia sequer em que não senti uma tremenda falta dele.

O lado bom é que tive bastante tempo para remoer o que aconteceu, para entender o que Daniel despertou em mim...

Não vou ser sonsa ao ponto de negar o óbvio, em algum ponto da nossa farsa, as coisas saíram de controle e eu não precisei acreditar que estava apaixonada por ele, eu tinha me apaixonado mesmo.

Sendo impossível dividir essa aflição com meus pais, me abri com André. Aproveitei que ele passou aqui em casa para fazer uma visitinha antes da virada do ano, me tranquei no quarto com ele e abri o jogo.

Contei tudo, desde os passeios com Daniel, as conversas noturnas, os flertes indiretos que nenhum de nós pareceu ter se dado conta enquanto aconteciam, mas que estavam lá nas entrelinhas. Falei do turbilhão de sensações que os beijos despertaram em mim, do desfecho em tom de despedida na ceia de Natal, da saudade implacável que vem me machucando desde então, da sensação de que meti os pés pelas mãos e estraguei algo bonito e perigoso que nascia entre nós.

Acabei desembuchando tudo de uma vez, muito rápido e atropelando as palavras que brotaram de mim com afobação, tudo para não perder a coragem. No fim da sessão confidências, estou um tanto sem fôlego e André visivelmente zonzo e chocado.

— Peraí, deixa eu ver se entendi direito, gata. — Ele se recosta na cabeceira da minha cama e continua devagar: — Você está me dizendo que...

— Talvez eu tenha me apaixonado pelo namoradinho falso, é isso — completo seu raciocínio. — A essa altura ex-namoradinho falso — ressalvo com uma nota inevitável de tristeza.

Talvez? Foi por isso que vocês se beijaram pra valer na frente da família e, não satisfeitos, se pegaram no banheiro também? Porque talvez se apaixonaram de verdade?

Sem graça, com medo de ter feito papel de idiota, de ter magoado Daniel e ignorando a conclusão a que cheguei sobre meu próprio coração na última semana, busco o irresistível refúgio na negação.

— Eu não sei se ele corresponde, beleza? Nem sei se estou apaixonada mesmo. Pode ter sido só uma coisa de momento, de pele, química, sei lá. Você não acha?

— Se tudo aconteceu como você me contou, eu diria que é bem óbvio que não foi só isso. Você está caidinha e ele está no papo também — André pondera taxativo. Um sorriso repentino se abre e ele joga uma almofada na minha direção. — Que plot twist! Esse plano saiu melhor que a encomenda então!

Embora feliz com a possibilidade de Daniel corresponder ao meu sentimento e tudo ter sido real, balanço a cabeça.

— Eu não diria isso. Ele não deu sinal de vida depois do Natal. Nem pra me cobrar a transferência. Não é estranho? Estava tão desesperado por causa daquele maldito boleto e nem por isso se dignou a me procurar!

De repente, estou muito brava e ressentida. Assim como ficaria brava e ressentida se ele tivesse me procurado por causa do pagamento apenas. Eu sei, sou bem indecisa e difícil de entender.

— Você não fez a transferência e ele não cobrou?

Há algo implícito no tom de André. Como se insinuasse algo óbvio, porém foge da minha compreensão mesmo assim.

— Eu sei que era o acordo, cheguei a abrir o bankline e tudo, mas na hora... Eu senti que seria errado pagar por algo que pareceu de verdade pra mim, sabe?

— Porque foi de verdade, coração. E ainda pode ser. Verdade, intenso e arrebatador...

Balanço a cabeça de novo, subitamente tomada por minha insegurança em apostar em relacionamentos.

— Não, não pode.

— Do que você tem tanto medo, Marina?

Sem pensar, me abro de novo:

— De estragar tudo? De machucá-lo? De me machucar?

André busca minha mão na cama e a afaga entre as suas. Olhando-me de um jeito terno, diz muito sério:

— Bem-vinda ao mundo real. Tudo isso são possibilidades e não tem como prever o futuro para garantir que não vão acontecer. Mas dar tudo certo e ser muito feliz também são possibilidades. E se vocês se apaixonaram, já é meio caminho andado para o sucesso.

Sério e surpreendentemente sábio. Sei que meu melhor amigo está coberto de razão e que as chances de uma história com Daniel darem certo podem ser muito maiores do que de darem errado. Sei que estou fugindo dos meus sentimentos por puro medo de apostar nisso.

Era tão simples fingir que eu era sua namorada — pelo menos, antes da fatídica ceia e daqueles beijos de tirar o fôlego —, mas agora o receio de me envolver, de embarcar de cabeça, sofrer e provocar dor, de nos decepcionarmos um com o outro, tudo me paralisa. É como seu meu coração quisesse se jogar, mas minha cabeça cheia de grilos me impedisse de dar o passo necessário para sair do chão.

Droga... É exatamente por isso que insisto na negação:

— E se o Daniel só estava atuando?

— No fundo, você sabe que ele não estava — André afirma, encarando-me firme. — Mas se quer ter certeza, pergunte a ele.

A ideia é assustadora e irresistível ao mesmo tempo. Causa uma aceleração imediata em meu pulso.

— Assim na lata? Tá maluco?

— Ué... Foi assim, na lata, que vocês firmaram o acordo. Por que não seria assim para encerrá-lo de uma vez? Agora deixa de ser burra, de inventar desculpas esfarrapadas e liga para o gato logo.

Antes que eu assimile o conselho final — ou seria uma ordem? — André me dá um beijo no rosto e sai do quarto.

Sozinha, relembro tudo que aconteceu desde que meu caminho e o de Daniel se cruzaram. Como se tornou surpreendentemente bom ficar perto dele, conversar com ele, conhecê-lo melhor, rir do seu jeito bem-humorado e ácido, rebater suas provocações, olhar para ele quando não estava me vendo, sentir seu olhar queimando minha pele quando ele pensava que eu não tinha notado...

Penso em como não consegui resistir na ceia de Natal quando nos beijamos de um jeito insano e definitivamente muito bom! De como me senti triste quando Daniel foi embora e me chamou de Mariana, numa clara referência ao dia em que nos conhecemos no Starbucks, como se dissesse que tudo voltaria a ser como antes.

Pergunto-me se ele me chamou daquele jeito apenas por que eu frisei que queria manter o foco no plano. Pergunto-me se Daniel também tem dúvidas sobre como realmente me senti ao seu lado, se pensa que não gosto dele e, por isso, decidiu abandonar a batalha.

Por fim, olho bem para dentro de mim, reflito sobre o que ando sentindo por Daniel, sobre como ele se comportou durante a farsa, sobre como pareceu magoado no final.

Sim, é bem possível que não tenha sido mentira para ele também. É bem possível que ele também esteja caidinho por mim. E talvez ter essa confirmação me ajude a deixar meus medos para trás para descobrir aonde essa história pode nos levar. É um risco, mas quem não arrisca não petisca, certo?

Agarrando-me a uma desconhecida determinação, procuro o celular pelo quarto. Respiro fundo. Na pior das hipóteses, eu imaginei o clima entre nós e os beijos não significaram nada para Daniel. Na pior das hipóteses, terei que me esforçar para esquecê-lo. O importante é que não posso conviver mais com essa dúvida paralisante.

Seleciono o contato e encosto o celular junto à orelha. Lembro de quando Daniel colocou uma mecha de cabelo atrás dela e meu estômago se comprime. Para minha surpresa, Daniel atende no primeiro toque, mal me dando tempo de pensar em como iniciar a conversa.

— Marina, eu...

— Eu não fiz o pagamento! — interrompo-o de súbito, dizendo a primeira idiotice que me vem à cabeça, com medo de perder a coragem e desligar na cara dele.

— Tudo bem, eu notei — Daniel diz segundos depois, com uma estranha apatia na voz.

Uma suposição me assombra e me sinto uma idiota por ter ligado.

— Você estava esperando que eu fizesse, né?

— Não, não é nada isso — ele se apressa em negar. — Eu só lembrei porque o banco me ligou para cobrar e ainda fez questão de avisar que a minha conta está no vermelho.

Incapaz de pensar numa resposta elaborada para o que ouvi, simplesmente lamento:

— Desculpa.

Ouço a respiração cadenciada de Daniel. Ele soa calmo e sério quando replica:

— Eu não teria aceitado, sabe? Se você tivesse transferido, eu mandaria de volta na mesma hora. Não quero o seu dinheiro.

Meu coração dispara num misto de alívio e confusão.

— Por quê?

Embora eu não esteja vendo o seu rosto, algo em sua voz me dá a impressão de que Daniel está sorrindo sem jeito quando explica:

— Porque eu meio que... quebrei a minha parte no acordo, se não percebeu. O combinado era fingir que eu estava louco por você, não enlouquecer de verdade.

Meu coração não dispara de novo, dá cambalhotas dignas do Cirque du Soleil, isso sim!

Pega de surpresa e impactada com a mensagem nas entrelinhas, fico completamente muda. Será que entendi direito? Isso significa o que eu acho que significa?

— Ainda está aí, princesa?

Sua voz soa como um sorriso mais uma vez. Aquele sorriso enviesado e charmoso que fazem de Daniel um cara lindo. Ele sabe como sorrir e como aquecer uma garota com aqueles dentes. Lembro bem de uma mordida suave nos meus lábios quando nos beijamos no banheiro, por falar nisso...

— Então você foi... — Engulo em seco. — Foi...

— Sincero? — ele me ajuda ao perceber a minha dificuldade de elaborar uma simples pergunta. — Em cada palavra, olhar, carinho e beijos. — Sua voz soa muito quente quando Daniel emenda num tom sedutor de confissão: — Aqueles beijos não me deixaram dormir, sabia? Eu pensei que fosse enlouquecer ainda mais.

— Por que você não me ligou?

De repente, estou brava com Daniel por ter esperado que eu — justo eu, a rainha do drama e da insegurança — desse o primeiro passo. Se tivesse me ligado, talvez a gente tivesse esclarecido tudo antes e eu poderia dar um jeito na loucura dele. Loucura esta que também não me deixou dormir direito nas últimas noites.

— Primeiro porque eu pensei que não era o que você queria. Segundo porque fiquei meio ofendido quando você pensou que ainda era pelo dinheiro que eu embarquei na farsa. Aquilo nem era mais uma farsa pra mim... Enfim, orgulho é uma desgraça. — Tenho certeza que Daniel sorri de novo. — Mas o que você precisa mesmo saber agora é que eu não ligo se meu nome continuar sujo, Marina. É só uma droga de CPF. Dou um jeito nisso quando for possível. Os juros eram abusivos mesmo. No fim, você me livrou de uma cilada.

— Eu não quis te ofender, juro. Fui tão burra...

— Tudo bem, ninguém é perfeito.

Quase o vejo dando de ombros.

— Daniel!

Ele ri do outro lado. Aquela sua risada fácil e gostosa que me arrepia inteira com facilidade também. Ele soa divertido e curioso quando recomeça instantes depois:

— Eu não estou te cobrando nem nada, mas posso saber por que raios você não transferiu a grana? O que te fez desistir e me dar o golpe, sua caloteira?

Abro a boca, pronta para desembuchar a certeza que inflama dentro de mim. Mas... uma ideia melhor surge.

— Prefiro responder isso pessoalmente.

— Quando? — Sua voz está rouca agora.

Sorrio inevitavelmente. A insegurança se dissipa por completo. Surpresa, percebo que Daniel vale qualquer risco, que quero tentar e que não posso esperar nem mais um segundo para vê-lo.

— Agora. Onde você está?

— Aqui embaixo, em frente ao seu prédio.

Daniel diz isso tão tranquilamente que, por um instante, quase respondo um “tudo bem” automático. Porém, quando a ficha por fim cai, sou tomada por um misto de surpresa e revolta.

— Em frente ao meu prédio?

Talvez eu não tenha entendido direito, certo?

— Ah-ram. Já ia tocar na portaria. Queria esclarecer nossa situação, me desculpar, essas coisas, porque não estou aguentando mais. Ah! E se tudo desse certo, como eu acho que já deu, te chamar para assistir à queima de fogos comigo na Paulista.

Ele soa tranquilo de novo. Irritantemente tranquilo.

— Então você veio atrás de mim?

— Pois é. Que coincidência, não? Você me liga bem no dia que eu decido deixar o orgulho de lado e te procurar. Se tivesse ligado um minutinho mais tarde, eu, com certeza, já estaria aí na sua frente.

Recuperada da surpresa, fico só com a revolta.

— E não me disse isso antes por que...

— Oh! — Tenho certeza que agora Daniel captou minha irritação. — Eu ia falar assim que atendi, mas você não me deu brecha. Eu não quis te interromper porque parecia que a gente estava tendo um momento.

Meu rosto enrubesce no mesmo instante. Não de paixão, mas por causa da raiva que se potencializa e se mistura com certa vergonha.

Se eu soubesse que Daniel tinha dado o primeiro passo, entenderia que ele se importa comigo de verdade e isso teria feito meu medo e minha insegurança se dissiparem bem antes. Em vez disso, fiquei pensando que ele estava no conforto do seu lar ou em qualquer outro lugar porque ele deixou que eu pensasse assim.

— Quando eu te ver, vou te matar.

Sinto um sorriso torto na voz dele quando tem a cara de pau de me seduzir:

— Tirando o meu fôlego?

— Não, com requintes de crueldade — esclareço entredentes.

Daniel suspira do outro lado e, de novo, não me leva a sério.

— Uh... Desse jeito eu me apaixono mais, princesa.

Algo nessa frase — sim, o bendito verbo — faz meu coração disparar e abandonar a irritação de vez. Era uma irritação artificial e sem importância mesmo. Além disso, se eu ainda tinha alguma dúvida do que ele sente por mim, agora definitivamente não tenho mais.

— Desse jeito, quem está ficando sem fôlego sou eu — provoco, tentando seduzi-lo também.

Acabo rindo da mudez de Daniel e procuro minha bolsa na bagunça do quarto ao mudar de assunto:

— Você não ia passar a virada do ano com seu pai e sua irmã?

Parecendo aliviado por eu ter perdoado o pequeno deslize dele em não ter me contado que estava por perto, Daniel explica de um jeito tranquilo:

— Eles já estão na Paulista, inclusive a minha mãe resolveu ir também. Parece que está rolando um clima com o meu velho de novo. — Daniel faz uma breve pausa. — Eu pensei que, se a gente se acertasse, você podia conhecê-los hoje mesmo. Eles não param de perguntar da minha namoradinha, sabe? Agora eu posso imaginar como você se sentiu todos esses anos esperando por mim enquanto ouvia essa pergunta infame.

Esperando por você? — Dou risada. — A modéstia te mandou lembranças.

— Jura? Manda um beijo pra ela.

Um sorriso inevitável me vence enquanto abro a porta do quarto e desço a escada. Em parte, porque o jeito convencido de Daniel é irritante e charmoso ao mesmo tempo. Em parte, porque estou radiante por ele querer me apresentar à sua família.

— Você deve estar feliz pelos seus pais. Por uma possível volta, né?

— Ah, estou mesmo — ele assente e, após um breve momento de silêncio, diz de um jeito insinuante: — Mas ainda falta uma coisa para me deixar totalmente nas nuvens hoje.

O calor em minha pele é imediato e meu coração não fica indiferente à proximidade de encerrar essa ligação. O medo de embarcar num relacionamento fica definitivamente para trás. Quando dou por mim, estou retribuindo a sedução:

— Relaxa, essa coisa já está a caminho.

— E eu que sou o convencido! — Daniel ri de novo, mas soa muito sério e incisivo quando emenda: — Vem logo.

— Em um minuto, príncipe.

— Ãn... — Daniel gagueja um pouco. — Para ser sincero, eu ainda não gosto muito desse apelido.

— Que pena, combina com você — digo resoluta, retribuindo algo que ele me disse quando começou a me chamar de princesa. — E eu que mando na relação, lembra?

— Sim, senhora.

Suspiro antes de desligar, paro no meio da sala para guardar o celular na bolsa a tiracolo e olho ao redor.

Sem graça, percebo vários pares de olhos me observando com uma atenção curiosa. A parentada ainda não foi embora, só irão depois de amanhã, e parece que eles me ouviram falando toda apaixonada ao telefone.

Todos estão arrumados, vestidos com a cor predominante dessa festa para simbolizar o desejo de paz. Bebem e beliscam alguns petiscos, mas pararam de fazer isso e apenas me observam.

A ceia de Ano Novo já está na mesa e a televisão, ligada no Show da Virada. Lá fora, alguns fogos de artifício colorem o céu noturno, anunciando a queima maior que virá à meia-noite.

Além dos meus tios, tias, primos e de meus pais, vejo que André está aqui. De certo, resolveu ficar um pouco mais na festa. Quem sabe está pensando em passar a virada por aqui e depois ir para a festa na casa dos pais? Eles moram a poucas quadras do meu prédio e aposto que a ideia de celebrar duas vezes é tentadora para o meu amigo.

Ao notar a indisfarçável felicidade e expectativa que emana de mim, ele arregala os olhos.

— Ai. Meu. Deus. Você vai atrás do Daniel.

Vou explicar que nem precisarei ir tão longe assim, já que ele veio atrás de mim primeiro, mas sou interrompida:

— E por que o choque? — Rodrigo, jogado no sofá com muita folga, está claramente confuso. — Não é o namoradinho dela?

Um sorriso bobo me vence. Os fantasmas das paixões que não deram certo são exorcizados por fim. Minha esperança se renova. Fui muito boba por pensar que não iria dar certo. Já deu certo.

— É sim, meu namoradinho. — Zarpo rumo a porta sem explicar mais nada e saio por ela feito um foguete me despedindo aos gritos: — Volto no ano que vem, família! Feliz ano novo!

***

Enquanto desço de elevador, a urgência e o desejo quase doloroso de reencontrar Daniel imperam dentro de mim. É uma ansiedade muito boa, no entanto. Uma ansiedade que se mistura ao sentimento cada vez mais inegável que sinto por ele. Inegável, irresistível e certo. Poucas coisas no mundo me parecem tão certas quanto ficar com Daniel. Quanto ouvir o meu coração e seguir o que ele deseja.

No momento em que Daniel me beijou pela primeira vez, eu soube que estava perdida, que era inútil negar. Ainda assim, eu tentei. Apenas para falhar miseravelmente. E ficar feliz por falhar, agora eu percebo. Falhar se mostrou uma vitória afinal.

Fico tão mergulhada nesses devaneios que quase esqueço de sair do elevador quando a porta dupla se abre no térreo. A porta já está começando a fechar quando eu me lanço para fora, desejando “Feliz ano novo” aos risos para o porteiro, que me encara confuso.

Às pressas, corro para fora puxando o portão automático. Num nível indescritível de expectativa, estico o pescoço para explorar a calçada à procura da pessoa que mais quero e preciso ver agora.

Em meio a algumas pessoas que passam pela rua, vestidas de branco para o Réveillon, Daniel se destaca de alguma forma. Está sentado num banco do outro lado da rua. Lindo como no dia da ceia de Natal, mas dessa vez com roupas claras que combinam com o meu vestido branco.

A princípio, ele não me vê. Está distraído, olhando para os pés no chão. Mas, quando ergue o olhar e me avista do outro lado, levanta do banco no mesmo instante. As mãos estão inquietas ao lado do corpo.

Apesar de certa distância, consigo perceber quando engole em seco. Ao mesmo tempo, seu rosto se ilumina de uma maneira misteriosa. Provavelmente, o mesmo efeito que deve estar estampado no meu agora.

Meu coração dá um salto impressionante quando cruzo a rua após olhar para os dois lados — como lembrei de fazer isso é outro mistério.

Apesar da pressa primitiva me agitando por dentro, caminho em sua direção com passos lentos. Chego à conclusão de que não vou conseguir dizer muita coisa num primeiro momento, porque minha boca está louca para se ocupar com algo mais interessante e prazeroso do que palavras.

Noto um brilho nos olhos de Daniel quando paro na sua frente. Um brilho que contém justamente aquela chama ardente que eu queria tanto reencontrar. Que me aquece e arrepia ao mesmo tempo. A chama que preciso aplacar porque também queima em mim de um jeito quase doloroso.

Daniel dá um passo à frente, alcança meu rosto com a mão e despeja sem rodeios:

— Eu não estava aguentando de saudade de você.

Sorrio e pulo em seu pescoço. Ele envolve minha cintura na mesma hora.

— Pois então somos dois!

É tudo o que digo antes de capturar sua boca num beijo apaixonado, profundo e inebriante, enquanto braços me apertam mais contra o seu corpo acolhedor.

Sinto-me em casa. Arrebatada e perdida até o dedinho do pé. O coração disparado de um jeito frenético, as batidas retumbando nos ouvidos, um calor lascivo por cada célula do meu corpo, uma fraqueza dominadora nas pernas enquanto mergulho no delicioso beijo e agarro Daniel com vontade.

Sei lá como, consigo romper nosso contato em dado momento a fim de cumprir a promessa que fiz a ele ao telefone. Sem fôlego, com as bochechas queimando, despejo numa velocidade impressionante:

— Eu não fingi, foi tudo de verdade. Deixou de ser uma farsa quando você me beijou, sabe? Foi ali que eu percebi que estava lascada. No bom sentido, claro! Você é lindo, Daniel. Por dentro e por fora. É o melhor e mais irritante namoradinho do mundo! Eu fui tão cega, burra e depois tive medo que...

— Shhh, princesa. — Ele me silencia, posicionando o indicador nos meus lábios que ardem e formigam. Seu olhar está tomado por um desejo selvagem e uma felicidade cristalina como água. — Não diz mais nada. Só me deixa te beijar de novo.

— Manda a ver, príncipe.

Daniel cobre minha boca com a sua com uma fúria incontida. As mãos no meu rosto transbordam um desejo possessivo e cheio de ternura. Sua língua envolve a minha com um ardor desconcertante, testando minha saúde cardíaca e minha sanidade ao extremo. Minhas pernas vacilam e me agarro com mais força em seus braços arrepiados.

— E mais uma vez. — Daniel afasta os lábios apenas por um instante e me beija suavemente.

Encosta a testa na minha depois, igual ao dia em que tiramos aquela foto no parque sob o Sol. A lembrança me faz sorrir.

— E de novo, princesa...


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Notas finais do capítulo

This is it!

Espero que tenham curtido a história, gente! Eu amei escrevê-la e tô surpresa com o tamanho que ficou porque minha ideia inicial era uma oneshot kkkkkkkkkkkkkk Sim, eu fui muito tolinha :v

Obrigada por lerem e pelos comentários (ainda vou responder os do capítulo anterior).

Um 2019 maravilindo para todos vocês! Fiquem com Cher!

Beijos de luz!

PS: Quer ler mais um comédia romântica da minha pessoa? Meu perfil está cheio delas, mas por ora vou indicar uma que escrevi esse ano e amei de paixão: Meu Crush Literário ♥