Carousel Series - Eclipse

Capitulo 02 – Os três desejos

As férias de primavera.

Finalmente as férias começaram.

A melhor época do ano para muitas pessoas, o período mais esperado por todos, os dois meses mais rápidos do ano.

Resumindo, uma época sem compromissos e de liberdade.

Bem, era assim que deveria ser.

Hoje, em contraste com um dia comum, surpreendentemente acordei cedo, esse universo conspira contra mim, nos dias de aula eu acordo atrasado e bem em dias como esse, eu acordo no horário. Injusto.

Adoraria que o dia passasse num instante, mas não tenho esse tipo de poder e devido a isso o único jeito de acontecer seria eu passar o dia dormindo, mas pelo que parece eu não conseguirei fazer isso, porque nesse momento, começo das minhas férias, eu estou na rua.

O universo conspira contra mim.

Hiroshi Kazuki, 17 anos, tenho um metro e setenta e três centímetros de altura, estou no terceiro ano no colegial. Não tenho nada de especial, não sou bonito nem feio, não sou popular, resumidamente, sou normal.

Apesar de eu ter um ótimo físico, por causa da academia, eu não tenho costume de praticar algum esporte.

E não tenho amigos.

Mas não tenho amigos por não conseguir ter, eu não tenho amigos por opção.

Afinal, eles não são confiáveis e não se importam com você, eles só pensam em si mesmos. Como qualquer humano, eles só se importam com eles mesmos, eles querem ser ajudados, mas não querem ajudar.

Eles se lembram de todos os seus erros, todas suas partes ruins, mas qualquer coisa boa, agradável, qualquer coisa assim, eles não se importam em lembrar, na verdade, eles não se importam em esquecer.

Claro que nem todos são assim, e se eu achar alguém assim algum dia, vou querer me tornar amigo dela, desejo por isso.

Os únicos quatro contatos que eu tenho no meu celular, são dos meus pais e das minhas duas irmãs mais novas.

Por isso, não sou de sair de casa e ir para fliperamas, karaokês ou algo do tipo.

Se eu pudesse eu queria ter três desejos. Obviamente seriam desejos triviais, mas eu realmente desejo eles.

No primeiro deles, eu pediria por companheiros confiáveis, ou seja amigos, pelo menos um, que esteja sempre ao meu lado.

No segundo, não seria algo como não ter medo ou insegurança, porque esses sentimentos são como um instinto, então é bom ter eles, o que eu desejo é ter à coragem para enfrentar meus medos e inseguranças.

No terceiro e ultimo, seria com toda certeza, sem nenhuma duvida, ser feliz e, no futuro, não me tornar alguém frio e triste.

Agora são por volta de seis horas da tarde.

Meu pai e minha mãe estão viajando a trabalho, minhas duas irmãs mais novas foram para casa de alguma amiga da escola delas.

Minha casa esta completamente vazia.

Sem ninguém nela eu me sinto mais livre. Então, o que eu, alguém que gosta de ficar sozinho em casa, esta fazendo na rua?

Meus pais como estavam se preparando para a viajem, eles acabaram não comprando nenhuma comida, deixando a responsabilidade disso comigo e minhas irmãs.

Mas minhas irmãs estão agora na casa da amiga dela, então elas devem ter algo para comer. Elas obviamente me passaram para trás, me deixando em casa sem ninguém e sem comida.

Então o único jeito de eu conseguir ‘sobreviver’ seria eu ter que comprar algo para comer. O motivo de eu estar na rua sozinho é de comprar comida.

Bem, não que eu goste de ter que fazer isso, mas não é como se eu tivesse outra opção, e de qualquer jeito eu não me importo.

Gosto de passear. Eu posso estar saindo de casa para comprar comida, mas um passeio ainda é um passeio.

Chego na loja de conveniência, prendo minha bicicleta numa vaga e entro.

Dentro da loja demorei bastante para escolher o que comeria, mas acabei pegando alguma comida fácil de fazer. Decepcionado comigo mesmo, dou um suspiro.

Por muitos motivos eu acabei aprendendo a cozinhar, mesmo que só o básico, mas mesmo assim eu peguei um simples macarrão instantâneo.

Mesmo assim não mudo de ideia e simplesmente entro na fila do caixa.

A fila vai diminuindo.

Como não sou de prestar atenção nas coisas, demoro a descobrir, mas a garota ruiva na minha frente esta virada para mim, me encarando.

De primeira me estranho, achando que ela esta olhando para alguém ou para algo, mas percebo que ela esta me encarando, ela esta olhando para mim fortemente.

Por mais que seja estranho alguém que você não conhece te encarar, meu único pensamento no momento foi ‘essa garota me é familiar’.

Antes de eu sequer conseguir abrir minha boca para perguntar alguma coisa, ela se vira para o caixa para pagar pelas suas compras.

Ela paga e sem se virar para mim, vai embora da loja de conveniências.

Depois foi minha vez, dei o meu dinheiro restante pagando meu macarrão instantâneo. Peguei a sacola com o produto dentro e vou embora apressado da loja para ver se consigo me encontrar com a garota misteriosa.

Saio da loja com um suspiro.

Não encontro a garota de cabelo vermelho que me encarava agora pouco.

Fico confuso, mas mesmo assim relevo o caso e decido ir embora. Então coloco a sacola com as compras no guidão da minha bicicleta.

Após começar a pedalar, penso, ‘mas que estranho, quem será que era aquela garota?’.

Voltando para casa, eu encontro uma colega de sala.

Yoshioka Ami.

Ela é uma aluna muito famosa no colégio, provavelmente nem sabe da minha existência. Bom, que seja, vou apenas passar reto e fingir que nunca a vi, ela nem deve notar que eu passei em frente a ela.

Então nos cruzamos.

“Ora, ora. Você é o... Hiroshi Kazuki-kun... certo?”

Ao chamar meu nome, paro a bicicleta rapidamente sem muito esforço.

De modo imprevisível ela se vira para mim.

Ela é Yoshioka Ami, a melhor aluna da minha escola. Apesar de não ter um corpo muito ‘desenvolvido’, ela é muito bonita. Em seu primeiro ano do ensino médio ela ganhou varias competições ficando em primeiro lugar em cada uma delas, provando ser muito inteligente. Mas ainda assim é uma pessoa muito gentil e com muitos amigos.

Ela já recebeu varias declarações de amor de muitos garotos da nossa escola, eu mesmo observei esses acontecimentos que coincidentemente ocorrem normalmente onde eu fico durante os intervalos.

Uma pessoa de prestigio como essa não tem como ter conhecimento da minha existência patética! Será que eu fiz algo de ruim para acabar sendo notado por esse ser? Não, não, não! Não tem como eu ter feito algo nesse nível no meu dia-a-dia maçante naquele colégio.

Deve ser só uma coincidência mesmo. Impossível, impossível, impossível.

Viro-me para ela com uma expressão calma em meu rosto.

“Sim... e você é a Yoshioka Ami -san, correto?”

“Certo, certo!” – Ela da um sorriso genuíno como se não esperasse isso. – “Então, o que você veio fazer aqui Hiroshi-kun?”

“Compras.” – Mostro a sacola da loja de conveniência na minha mão esquerda.

Não tem porque eu ficar e simpatizar com essa garota, não tem sentido em conversar com ela. Então. Agora, de volta ao plano número um.

“Bem,” – Enquanto digo isso me viro cuidadosamente para ir embora e fingir que nunca nos vimos antes – “até mais,” – Enquanto digo seu nome começo a acenar para ela de costas, como um ‘tchau’, já começando a pedalar – “Yoshioka-san”.

Nesse momento eu sinto que estou sendo puxado com forca por trás, era Yoshioka-san, ela havia me parado pegando no banco da bicicleta.

“Espera, vamos conversar mais um pouco.”

Ela deu um pequeno sorriso depois de dizer isso. Isso foi meio embaraçoso. Eu poderia simplesmente pedalar o mais rápido possível para fugir dessa situação, mas por algum motivo não consigo fazer isso, por causa de seu lindo sorriso eu acabei cedendo a ela.

Desci da bicicleta e de modo a aceitar seu convite, começamos a andar.

Desde que começamos a andar. Eu me pergunto o porquê. Mas a Tsubane-san não para de me encarar! Será que tem algo na minha cara. Não, não deve ter.

Mas só para conferir.

Passo minha mão na minha bochecha para sentir se tem algo nela, e na outra bochecha também, como esperado, nada.

Então. Por que isso? Não, isso não importa. Tem outra duvida mais importante.

“Hmm. Yoshioka -san, como você me conhece? Fico surpreso e feliz com isso, mas eu não sou ninguém especial para ser conhecido. E por que você iria querer andar comigo?”

Como alguém que normalmente é odiado e excluído por todos, esse recente ocorrido é muito inesperado por mim. Na verdade, chega a ponto de eu pensar que pode ser algum tipo de pegadinha e alguém só estar querendo tirar sarro de mim. Estou tão paranoico que penso até que deve ter câmeras escondidas por aqui nos filmando.

Yoshioka-san da uma risada, ela começa a rir da minha pergunta, eu disse algo engraçado será?

“Hiroshi-kun, nós somos colegas de sala, não tem como eu não te conhecer, ainda mais eu sendo a representante de sala e ao mesmo tempo presidente do conselho estudantil.” – É. Por isso ela deve ter rido logo depois de eu perguntar. Eu também riria caso eu estivesse no lugar dela. Não é incomum ela me conhecer. Realmente, foi uma pergunta idiota. – “E, além disso, escuto coisas sobre você de algumas pessoas da sala.”.

“Espera ai. Eu estou sendo envolvido em assuntos na nossa sala sem meu conhecimento? Eu exijo agora meus direitos, eu não deixo ninguém usar meu nome ou falar sobre mim, sem meu consentimento, eles tem que pagar uma taxa antes! Direitos autorais!”

Yoshioka-san começa a rir muito.

“Hiroshi-kun você é muito engraçado.” – Ela continua rindo da minha piada.

De volta ao assunto de antes da piada.

“Yoshioka-san essa resposta só me responde a primeira pergunta. Então, por que você iria querer andar por ai com alguém como eu, você poderia gastar o seu tempo melhor, não é?”

“Isso é... Porque eu não tenho interesse em pessoas normais!” – No momento em que ela disse isso, a garota se vira para mim e faz uma pose, colocando seu braço esquerdo apoiando-se em sua cintura e com seu braço direito apontando para mim.

“HARUHI?!” – Essa garota acabou de fazer uma referencia nesse momento?! Por quê?!

Depois de eu me estranhar e ficar confuso com isso, começamos a rir com essa frase.

“Na verdade eu não tenho mesmo nada melhor para fazer, mas não quer dizer que eu não esteja me divertindo com você. Hiroshi-kun, não se rebaixe desse jeito, você pode até não ter amigos, mas isso não quer dizer que não possa fazer um. Eu também sempre tive interesse em saber como você é.” – Ela para de falar no meio da frase e se vira para mim. – “Nós somos amigos agora, você queira ou não.” – Ela da um sorriso.

Nesse momento o que se passou pela minha cabeça, não foi das câmeras escondidas, ou de alguém chegando em mim falando que era uma pegadinha, mas sim que alguém quis se tornar meu amigo.

E então, o sem amigos, sem objetivo de vida, Hiroshi Kazuki, ou seja, eu, acabei de arranjar, um amigo.

Eu nunca imaginei que depois de tanto tempo, eu fosse ter um amigo. Isso foi um choque e tanto para mim. Eu não tenho um amigo desde o final do ensino fundamental.

Eu fiquei muito confuso com isso, mas eu percebi que ela deve ser esse tipo de pessoa, que considera todos que conhece como amigos, eu não tenho nada contra o tipo de pessoa que ela seja.

Eu consegui um amigo bem rápido... Afinal, quanto tempo será que se espera para duas pessoas se tornarem amigas? A verdade deve ser que, não se espera. Não importa se eles se falaram pouco. Não importa se eles acabaram de se conhecer. Eles já podem ser amigos. Mas essa resposta era até então desconhecida para mim. Demorei para aprender isso, mas aprendi.

Deixando isso de lado.

Estou feliz de ter conseguido um amigo. Na verdade eu estou muito feliz. Depois de tanto tempo, eu tenho um amigo. Depois de tanto tempo, alguém me considerou o bastante para me chamar de amigo.

‘Amigo’, né?

Estou... muito contente.

Num pulo de emoções ao que acabou de acontecer, me viro com uma expressão de surpresa no rosto para minha nova ‘amiga’. E ao mesmo tempo ela se vira para mim, dando um sorriso que complementou sua beleza.