Pulsação escrita por Mandalay


Capítulo 1
Pulsação — capítulo único


Notas iniciais do capítulo

[ pul.sa.ção. noun. Pulsação é o batimento regular ao longo de uma música. Assim como a batida do coração sendo usada como exemplo, ela não segue somente um ritmo, indo de lenta a rápida, dependendo do que se toca. @ Ritmo e Pulsação, Magia da Música ]



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Os cartazes colados pelos muros a cada esquina anunciavam a chegada de um grande violinista a cidade e ele parecia ter nome, visto o lugar em que iria tocar. O grande teatro de Death City, Syren's Hall, era renomado e tinha a fama de não ser aberto a qualquer um que bem entendesse. Eram poucos aqueles que conseguiam um palco daqueles - ainda mais um violinista tocando sozinho - aquele lugar era reservado para bandas internacionais e grandes peças teatrais. O que aquele rapaz teria a oferecer que rivalizava em relação aos outros?

Soul encarava um desses cartazes com uma expressão que passava de surpresa, para o completo desconforto, como se algo não lhe caísse bem no estômago. Olhar para seu irmão ilustrado em um papel enrugado em um muro qualquer, posando com seu violino com a mesma expressão neutra que ele cansara de ver. Imponente, como se tivesse o mundo a seus pés. Ver aquilo fazia seu estomago revirar com memórias que ele havia enterrado em algum canto de sua mente a tanto custo e ele não queria ter que voltar ao passado, quando ele era apenas uma sombra do seu irmão mais velho. Logo agora que ele havia conquistado um lugar agradável para si com as próprias mãos - com as mãos de Maka - ele não teria estômago para passar por isso, não agora.

Agora tudo o que ele precisava era um banho quente e um pouco de café.

É, aquilo com certeza o ajudaria a desacelerar seus pensamentos ansiosos.

Passar a tarde na companhia de Kid e Spirit não fora tão ruim quanto imaginara. Dos possíveis cenários nos quais ele se permitira entreter, nenhum se concretizara para alívio próprio. Fora apenas uma reunião formal, que o novo diretor havia marcado para averiguar se ele aceitava o posto de "conselheiro oficial do shinigami", ou seja lá qual fosse a posição que Spirit ocupava. No final, ele não tinha a mínima vontade de tomar o lugar do pai de sua artesã, e era certeza de que a própria não ambicionava o título.

Soul não enxergava o motivo disso. Desde que chegara na academia seu objetivo maior, além de se afastar de sua família, era conseguir as noventa e nove almas de kishin mais uma alma de bruxa para que assim conseguisse subir seu nível e se tornar uma arma ainda melhor. Apenas isso. Tudo o que conquistara a mais refletia o quanto havia crescido. E mesmo assim, depois de todos os apuros que passara ele conseguiu aceitar suas origens.

Ele. Soul Eater. Agora com o Evans adicionado ao nome, conseguira finalmente fazer as pazes com o seu passado.

Isto é, até ele se deparar com o anúncio da apresentação de seu irmão mais velho.

A sensação era a de retrocesso, como se ele fosse uma criança novamente, conversando uma versão mais velha de si mesmo. Aos olhos dele, Wes sempre passava uma impressão de segurança e conforto, dizendo palavras mansas, incentivando ele a continuar na música, que o som dele era bom, por mais que Soul conseguisse sentir a pressão que seus pais e todos aqueles que admiravam Wes esperavam dele e aquilo o esmagava.

Ele era diferente e sinceramente, não conseguia se ver ali.

Não havia porque culpar seu irmão pelas decisões que tomara.

Então, porque ele sentia que iria passar mal a qualquer momento?

Ele não estava pronto para um reencontro, e torcia para que nada fizesse com que Wes cruzasse seu caminho.

Enquanto isso, a algumas quadras de distância em seu apartamento, Maka preparava o que seria o café da tarde. Ela contava que sua companhia não demoraria muito a chegar, entretida demais pondo a mesa, só fora notar que ele havia chegado sendo surpreendida pelo miado de Blair - a bruxa que acabara se agregando a dupla - notando que alguém havia pisado na cauda da gata.

Ela nem teve tempo de articular uma pergunta, Soul passara rápido demais pela cozinha, e não demorou muito para que o som do chuveiro tomasse conta do cômodo.

— O que houve com o Soul hoje? - choramingou Blair — Ele nem me notou.

A loira encarou a gata, fingindo indiferença.

— Talvez passar a tarde com meu pai não tenha sido tão bom.

Mas a loira tinha ciência de que a companhia de seu pai mulherengo não era a causa do problema de Soul, ambos já estiveram na companhia dele e o albino não costumava ficar tão alterado como estava, ainda mais deixando de notar a bruxa que gostava de incomodá-lo.

Algo diferente acontecera.

Soul não estava bem. Ele não conseguira enxergar o caminho que havia tomado para chegar ao apartamento, por algum motivo sua tática de desviar de todos os cartazes que estampavam o rosto de Wes fora muito complicada de ser colocada em prática, pois queriam muito que todos os moradores da cidade da morte comparecessem em peso, já que todas as ruas que ele pegava estavam impregnadas daquele rosto que ele tanto tentava evitar.

Quem diabos chamara Wes Evans para tocar em Death City, afinal?

Estava tão aliviado de chegar ao complexo de prédios onde morava, que não pensara duas vezes em correr até seu apartamento. Não se importando com nada ao seu redor, muito menos com a sensação macia embaixo de seu pé direito assim que abrira a porta.

Tudo que ele queria era relaxar, e ter uma corrente de água quente caindo sobre seu corpo fazia tudo parecer melhor, ao menos momentaneamente. Havia pânico em seu peito, ele conseguia até mesmo sentir o desespero na boca, como se perdesse sua coordenação. Assim como fora lutar contra a insanidade da bruxa Aracne. Se ele se concentrasse um pouco, conseguia ouvir com clareza as palavras que aquele demônio lhe dissera, e aquela altura ele não podia deixar de concordar com ele - tudo o que conseguia fazer era se apoiar na força que sua artífice irradiava e deixar que ela livrasse sua mente daqueles pensamentos que o consumiam como vinhas afinal, era ela que o livrava das sombras, sempre fora. Caso ele nunca houvesse trombado com Maka, não duvidava de que estaria no mesmo lugar de onde começara. Suas forças e habilidades poderiam ser grandes mas sem alguém para iluminá-lo, Soul sabia que estaria destinado as sombras.

As suas próprias sombras. Aquelas que ele criara sozinho e que até o momento, ainda não sabia lidar.

Seus dedos estavam ficando enrugados, um claro sinal de que se perdera demais em pensamentos para dar atenção a algo como o tempo que passara embaixo do chuveiro. O banheiro parecia uma sauna de tanto vapor acumulado, por sorte ele se lembrava de onde estava o quê para não trombar acidentalmente com a pia.

A visibilidade era baixa e destorcida mas, encarando o próprio reflexo no pequeno espelho, Soul se perguntava para onde fora toda a sua coragem. Aquela máscara que colocava sobre o rosto enquanto tentava parecer um cara legal aos olhos dos outros. Ele não parecia bem, seus olhos estavam fundos e seu rosto mais pálido que o normal. Se Maka o visse assim era certeza de que ficaria preocupada.

E ele só havia visto um cartaz de Wes, o quão poderosas eram aquelas memórias dentro dele?

Os olhos verdes da artífice o observavam criticamente enquanto sentavam a mesa para apreciar o café da tarde, conversando sobre a conferência que o albino tivera com Kid. Blair parecera perdoar Soul pelo que fizera visto que ronronava em seu colo tranquilamente.

— Aconteceu algo - aquilo não era uma pergunta, a loira afirmava com um olhar curioso — E eu sei que meu pai não tem nada a ver com isso.

Soul se sentia encurralado, tomando seu tempo em uma caneca fumegante de café. Não havia para onde fugir.

— É. Acabei encontrando algo que não queria.

— Algo?

No fundo ele sabia que enrolar ela não era a resposta, mas ele não conseguia pensar numa forma menos constrangedora de explicar o ocorrido.

— É, algo. Algo que eu não quero falar, não agora.

A loira suspirou.

— Certo, se quiser falar sobre isso depois, conte comigo. Agora eu vou arrumar meu quarto, tenho que separar aqueles livros que Ox me pediu para a pesquisa dele. O jantar é por sua conta.

O vapor saía por entre as tampas das panelas que estavam dispostas no fogão, enquanto o albino pensava em uma forma de ignorar o desconforto que sentia. Teriam um belo ensopado para o jantar, um dos pratos que Soul tinha mais facilidade em fazer e dos que a loira mais gostava nas noites em que o frio era tamanho, que eles tinham de usar mais de uma muda de roupa para se manterem aquecidos. Porém se distrair em meio a memórias de nada o ajudava.

Quando pensava em uma forma de encobrir seu problema, tinha todas as ideias que surgiam em sua mente imediatamente descartadas, ele sabia que Maka descobriria seus motivos de um jeito ou de outro.

Então porque hesitar?

Porque diabos ele, Soul Eater Evans, estava com medo do que sua artífice diria se soubesse dos seus problemas mais profundos?

"Dê uma boa olhada em si mesmo."

Soul quase cortara o dedo, a faca que usava para fatiar os legumes que havia separado para o jantar a centímetros de seu polegar. Algo, uma voz que ele jurava estar adormecida voltava com força a superfície de seus pensamentos.

"Esse é quem você é."

Era o demônio, aquele que se escondia em um quarto escuro bem ao fundo de seu consciente. Mas ele já ouvira aquelas palavras e se lembrava bem de quando elas foram ditas. Como resposta ele apenas balançou a cabeça, tentando afugentar os pequenos pontos de dúvida que começavam a espetá-lo de dentro para fora.

Ele havia mudado, havia melhorado, era alguém melhor do que costumava ser no passado entretanto, não negava que a ajuda da loira fora necessária para que todas essas mudanças acontecessem.

É, ele precisava ser mais honesto com Maka e consigo mesmo.

Estavam jantando quando Soul decidira ser um bom momento para se abrir.

— Eu vi meu irmão.

Maka parara sua leitura entre uma colherada o encarando confusa.

— Soul?

— Eu vi meu irmão, Maka.

Aquilo fisgara a atenção da loira que levara seu tempo para digerir a frase. Soul raramente falava de seus familiares, aquele se tornara um assunto inabitável entre os dois - ou qualquer outra pessoa - mas de uma coisa ela imaginava estar certa.

— Pensei que já tinha se resolvido quanto a isso - comentou pensativa.

— Eu também mas, eu não cheguei realmente a conversar com ele - suspirou o albino — Fazem uns bons anos que não falo com ninguém da família.

Os olhos carmim que costumavam passar a ela confiança e motivação pareciam nublados enquanto se voltavam para encarar o prato que tinham a frente. Ela estava surpresa por vê-lo tão fraco. Ter a oportunidade de ouvir um pouco sobre as origens dele, no entanto atiçava sua curiosidade.

Maka não tinha culpa se ele decidira guardar tudo o que o incomodava para si.

— E você achou que simplesmente decidir algo como encerrado o livraria de enfrentar os seus problemas de frente - ela balançou a cabeça, o reprovando — Se eu me lembro bem, você disse que arrastaria tudo consigo. Para onde foi aquele cara cool que conheci?

A tentativa de amenizar o puxão de orelha que dera surtira um pouco do efeito desejado, pois agora ela tinha a atenção dele, mas como não tivera resposta, prosseguiu no mesmo tom sério.

— Você nunca quis conversar comigo sobre o seu passado, ao menos não completamente, eu sei o quanto você evitava esse assunto e mesmo assim, respeitei isso - ela apoiara a cabeça sobre as mãos, esquecendo brevemente do livro e do prato na mesa — Mas se você quiser a minha ajuda, vai ter de ser sincero comigo. Não gosto de te ver desse jeito.

Soul se sentia envergonhado. As palavras de sua artífice eram brandas, mas não deixavam de ser rígidas. No fundo, ele imaginava que aquela conversa seria mais caótica, mas ela estava aceitando tudo muito bem, como se já houvesse imaginado aquela situação. Talvez fossem os livros que ela lia.

— Eu fugi de casa. Como posso explicar isso? - coçou a nuca, claramente desconfortável — A minha família é muito conhecida no meio musical, todo mundo lá toca alguma coisa. Meu irmão era o melhor violinista que ela já teve, todos adoravam ele e, eu bem, as pessoas esperavam algo de mim. Sei lá, que eu fosse melhor que ele mas eu não me via daquela forma. Eu não era bom o suficiente, eu não me sentia parte da minha família - seu olhar encontrou o dela — Quando soube do meu sangue, algo raro pelo que meu irmão disse. Que eu era uma arma, encontrei uma saída e nunca voltei atrás.

Olhos verdes se iluminaram, como se houvessem encontrado algum livro raro.

— Por isso você não gostava de outras pessoas ouvindo você tocando!

— Maka, isso foi tudo que entendeu?

— Desculpe - ela riu — Me parece que você ainda tem medo de não conseguir suprir as expectativas deles, do seu irmão, sobre você. Acho que seria bom enfrentar esse medo, conversar com ele. Assim como fez com o piano, lembra?

O albino não parecia tão otimista.

— Não sei se isso vai funcionar. Eu só vi um cartaz dele e fiquei assim, que diabo pode acontecer se eu falar com ele?

— Cartaz? Soul, você não viu ele de verdade?

— Não. Ele vai se apresentar naquele teatro grande, o Syren's Hall, no sábado. Tem cartaz aos montes pela cidade. Como não soube disso?

— Por passar a maior parte do meu tempo na biblioteca? - ironizou a loira, sendo abatida por uma grande ideia — Soul, seu bobo! Isso é melhor ainda, se você conseguir assisti-lo talvez isso o ajude. Está decidido. Nós vamos ver o seu irmão tocar!

Era complicado fazer Maka desistir de algo quando já estava decidida de que o faria, por mais que ele não soubesse o que teria de bom em ver Wes se apresentando.

— Vai decidir as coisas por mim agora?

Ela dera um sorriso de orelha a orelha.

— Sim, enquanto você estiver nesse estado quem comanda sou eu. Mas como vamos comprar os ingressos?

— É só ir na bilheteria, não pode ser tão caro.

Porém a atenção da loira não estava mais sobre ele.

— Soul, você fez o meu jantar esfriar.

Realmente, não fora complicado conseguir os ingressos e eles não estavam tão caros, a garota que ficava na bilheteria se surpreendera em ver um casal tão jovem interessado em uma apresentação de violino.

Faziam-se anos que Soul não entrava em um teatro daquele porte, a decoração antiquada e gótica, cheia de veludo vermelho acompanhada de ornamentos dourados traziam ele de volta ao passado e junto disso vinha a ansiedade. Soul olhava para todos os lados, esperando não encontrar nada que lhe fosse familiar, pelo que ele se lembrasse nunca havia pisado naquele teatro, ao menos.

— Aqui é bem bonito - comentou Maka olhando ao redor — Agora entendo o porquê de estarmos bem vestidos.

— É porque você nunca foi obrigada a usar terno e gravata só para sair de casa - disse fazendo uma careta, entrar para a Shibusen fora um grande alívio para o estilo dele — Mas até que você está bem, para alguém desacostumada ao estilo social.

— Ei!

E Maka estava realmente bonita com aquele vestido. A peça era simples, de corte reto, branco com detalhes florais azulados, acima do joelho. Saindo do preto usual, algo bem característico da loira, mas seus cabelos soltos e a sandália aberta a deixavam mais feminina.

— Você está linda, Maka. O vestido que conseguiu ficou muito bem em você.

— Obrigada. Você sempre fica bonito de terno também.

Soul definitivamente não queria estar sentado na fileira da frente, a mostra para quem o visse, praticamente com um holofote sobre si. Assim Wes o veria com facilidade e ele não tinha ideia de como reagir.

Seu estresse se apaziguara quase que imediatamente, quando Maka segurara sua mão dizendo que estava tudo bem, e ele sabia disso. Sabia que estava se preocupando á toa. Não. Não estava tudo bem, ele não sabia com que cara encarar o irmão mais velho, faziam anos que eles não se viam. Ela entrelaçara seus dedos com os dele e seu olhar ansioso encontrara tranquilidade no rosto da loira.

— Fique calmo, bobo. Não é como se ele fosse nos ver imediatamente.

As luzes se apagaram com o teatro embarcando numa escuridão e os cochichos intensos foram silenciados. Um anúncio fora feito, aplausos se fizeram ouvir e de repente, um homem em terno negro com um violino em um das mãos estava no centro do palco. Luzes brilhantes deixavam evidente seus cabelos brancos e pele alva, porém era quase impossível definir a cor de seus olhos, pois esses estavam semicerrados, como se ele estivesse se concentrando antes de começar a apresentação. Soul tentava desviar sua atenção do irmão observando sua artífice, que parecia curiosa sobre o que aconteceria a seguir e, por mais que ele houvesse dito que ela talvez não compreendesse o que seria tocado a loira estava ali, doando uma atenção desnecessária a pessoa no palco e confortando o lado ansioso de Soul, acariciando sua mão. E com um breve agradecimento de Wes de poder tocar naquele lugar mais uma vez, com uma voz grave, o espetáculo começara.

Um som suave tomava conta do lugar aos poucos, deslizando do palco para seus espectadores, os cativando, fisgando sua atenção a cada nota que era tocada e assim, a apresentação se estendeu pela noite, com melodias que iam de suaves e primaveris a agressivas e sóbrias. As expressões no rosto de Maka diziam o quão maleável ela era ao tipo de som tocado, indo de surpresa a algo que fazia seus olhos marejarem porém aquilo não impressionava Soul, ele já conhecia todas as notas tocadas de cor e salteado e se fizesse o mínimo de esforço, conseguia se lembrar de cada local em que o irmão as apresentara pela primeira vez. Nada mudara, sua técnica e delicadeza no violino continuavam as mesmas, impecáveis. Aquilo apenas o fazia mergulhar em memórias, o que nada tinha de agradável para seu estado atual. Ao menos, Wes estava concentrado o suficiente para não dirigir sua atenção a plateia mais que o necessário, assim não tinha chance de seus olhares se cruzarem.

Até o último ato.

Houve uma pausa breve onde Wes se acomodou melhor em sua cadeira, olhou para cima e inspirou como se estivesse se preparando para algo grande, maior que ele. Seus olhos vararam a plateia até que dois pares carmim fizessem contato e o corpo de Soul estremecera, ele havia sido encontrado! Porém tudo que o outro fez foi sorrir, fechar os olhos e começar o final de sua apresentação.

Aquilo não tinha nada a ver com o estilo de Wes, especificamente nada. Era um lamento, como se a alma de alguém chorasse a perda de uma pessoa muito importante e, conforme o andamento a melodia se tornava cada vez mais melancólica, fazendo com que o público se emocionasse ainda mais. Soul não se lembrava daquelas notas, sua mente não processava aquele arranjo como algo velho mas novo. Inteiramente novo. Coisa que o surpreendera pois aquele não fazia o estilo de seu irmão, mas sim o dele. O som que ouvia tinha o perfil dele, a melancolia dele e mais, ouvindo atentamente ele podia notar algo a mais, aquilo não era para ser um solo, mas um dueto.

Um dueto de cordas e teclas. Violino e piano.

Aquele era para ser um dueto entre os dois.

E enquanto aquela nova descoberta se assentava em sua mente, causando sensações engraçadas em seu estômago, a apresentação de Wes Evans se encerrava, a lamentação de seu violino diminuindo aos poucos, até que só restasse sua reverência ao público, em agradecimento. E enquanto era ovacionado o violinista disse poucas palavras e se retirou, as luzes do teatro se acenderam, cegando as pessoas que ali estavam e, de pouco em pouco, elas foram se retirando, comentando o quão bom havia sido o espetáculo.

Soul estava atônito.

— Nossa Soul, seu irmão é realmente bom! - comentara sua companhia num ímpeto alegre.

Pequenas partículas de eletricidade corriam pelas veias da arma, a voz de Maka era presente mas ao mesmo tempo, distante, ele não conseguia descrever as emoções que borbulhavam em seu peito.

Wes ainda se lembrava dele. A ponto de escrever um dueto para os dois.

— Soul, o que você achou?

Não houve resposta, o albino encarava seus sapatos engraçados.

— Soul? - dessa vez ela apertara sua mão, tentando chamar a atenção dele.

O rosto de Maka parecia preocupado quando seus olhares se encontraram. Então ele percebera que nada saíra de sua boca desde que entrara no teatro. A sensação era de que ele desconhecia como falar, as palavras não lhe vinham a mente na ordem correta.

— 'Tá tudo bem, Soul?

Não era uma boa ideia deixá-la esperando.

— Acho que sim - respondeu coçando a nuca — Eu só não esperava que ele fosse terminar desse jeito.

— A última música era diferente?

— Era. Eu nunca tinha ouvido ela antes, não é muito o estilo dele.

A loira assentiu com a cabeça.

— Realmente, me lembrou muito o que você costuma tocar.

Pelo jeito Maka o conhecia bem.

— É.

A deixa para se retirarem estava ali, quando a loira se levantou ajeitando o vestido branco e azul, estendendo a mão para seu parceiro em seguida, Soul a pegou sem pensar duas vezes mas antes que pudessem sair do recinto algo ou melhor, alguém, chamou a atenção do albino. Próximo a saída do palco estava seu irmão mais velho, o chamando.

Quando Maka percebeu que sua arma parara de andar, se virou para questioná-lo mas vendo que ela não era o foco de sua atenção, buscou na direção que os olhos dele se dirigiam. Então ela entendeu.

— Vai lá, é bom vocês terem uma conversa - disse soltando a mão dele — Vou estar esperando lá fora.

Antes mesmo que Soul pudesse buscar alguma âncora na presença da loira, ela já estava de saída, acenando para ele. O albino engolira em seco, seu foco se voltando para a versão mais velha dele mesmo. Tomou fôlego, subiu no palco e ficou frente a frente com o Wes e antes que pudesse dizer alguma coisa, fora surpreendido por um abraço que quase tirara sua capacidade de respirar.

— É tão bom poder te ver de novo maninho! - disse num tom afetuoso — O que achou do show?

— Você só tocou coisa velha, Wes - fora a única coisa que conseguira pensar tendo seu irmão tão próximo.

— É, fazia tempo que eu não tocava no Syren's, queria relembrar dos velhos tempos - comentou com um ar sonhador — Mas a última era especial.

A deixa de Soul estava ali.

— Era para ser um dueto, né?

O brilho nos olhos dele não deixavam sombra de dúvidas.

— Era. Depois que você saiu de casa as coisas mudaram um pouco, eu fiquei bem chateado de não poder te ouvir tocar de novo e acabei escrevendo aquilo, pensei que ficaria bom tocando com você - Wes colocara as mãos em seus ombros, chamando sua atenção para olhá-lo nos olhos — Mamãe não gostou muito, mas eu faço o que quiser com o que escrevo.

Tal declaração deixara Soul impressionado, ele não se imaginava como alguém importante para o irmão, na realidade odiava sentir inveja do talento que ele tinha. Por isso tomara a decisão de fugir para a Shibusen.

— Sério?

— Sério, e eu ainda quero poder tocá-la com você. Por isso vim me apresentar aqui, imaginei que ainda estivesse por essas bandas já que você não costuma manter contato com a família - cobrou em tom brincalhão.

— Ei, mas eu falei com você!

Sei. No natal do ano passado. Soul, eu pensei que você tinha mudado depois de ter conquistado tanta coisa na Shibusen.

E ele esperava por isso - pela cobrança - mas de uma forma diferente, em um tom mais irritado como se ele devesse resultados mas ali, Wes soava como se o contato dele fosse importante, algo necessário.

— Eu também - suspirou — 'Tô uma pilha desde o começo da apresentação.

Wes riu.

— Imaginei, desculpa se te deixo desconfortável mas não posso fazer nada, esse foi um problema que você criou sozinho.

Soul retirou as mãos de seu irmão dos seus ombros, as segurando.

— Eu sei disso mas, eu não imaginava que fosse ficar tão nervoso de te ver de novo. Tocando. Cara, isso é ridículo.

Tudo o que Soul conseguia pensar era no passado, nas memórias que tanto o incomodavam.

— Mas acho que precisava disso. Wes, eu consegui tocar para uma plateia na cerimônia de sucessão do Kid, tem noção disso? De como eu me senti?

Ele precisava deixar o passado pra trás mais uma vez. De verdade, sem que nenhum resquício ficasse sobrando em seu peito.

— Acho que deve ter sido muito bom para você.

— Se foi. Foi muito bom.

Ele afagou os fios rebeldes do irmão.

— É ótimo poder ouvir isso de você Soul. Posso não ter visto como foi, mas estou orgulhoso de você!

Orgulho. Wes sentia orgulho dele. Aquela sensação era tão boa quanto verdadeira.

— Valeu.

Um pigarro forçado chamara a atenção dos irmãos. Uma mulher os observava com um sorriso no rosto.

— Me perdoem atrapalhar o reencontro de vocês meus queridos, mas eu tenho de fechar o teatro por hoje.

Fora naquele momento que a arma percebera que só estavam os três no lugar, incrível como ele nem mesmo notara o eco que suas vozes causavam. A dona da voz que chamara a atenção dos irmãos era uma mulher que parecia ser a proprietária do local. Estava vestida informalmente para possuir um teatro de peso como aquele, tendo como peça mais clássica um blazer vermelho que contrastava estranhamente bem a calça boca de sino e a regata branca que usava. Ela parecia ser jovem demais para entender de alguma coisa que passara por aquele lugar.

— Desculpe, senhorita Valentine - fora Wes quem falara — Soul, essa é Emma Valentine, dona do Syren's. Ela assumiu o posto da avó dela a alguns anos atrás.

Ela balançou a cabeça afirmativamente.

— Exatamente, conheço Wes desde quando ele se apresentou aqui pela primeira vez - disse com um largo sorriso no rosto, cutucando-o — Suas desculpas foram aceitas Wes agora, se não for problema - os olhos da mulher de cabelos ruivos caíram sobre Soul, o estudando — Ora, se não é o Evans mais novo! Seria ótimo tê-lo tocando no meu teatro!

Aquilo surpreendera Soul.

— Eu não tenho repertório, já que eu nunca me apresentei.

— Como se isso fosse problema! Mas não se sinta pressionado, meu convite está feito. Me liguei caso mude de ideia - entregou a ele um cartão roxo com letras douradas — Agora xô! Eu quero poder dormir um pouco depois dessa apresentação maravilhosa do seu irmão.

— Ela sempre foi assim, a avó dela dizia que Emma era apaixonada por mim ou coisa parecida - comentou Wes enquanto caminhavam em direção a saída.

— Não me lembro dela, isso foi a um bom tempo, não é?

— Antes de você nascer, pianista. E acho que seria bom você tocar aqui uma vez ao menos, o palco do Syren's é um dos melhores.

Era bom poder conversar com seu irmão tão casualmente, sem se sentir culpado de alguma forma. Para Soul, a sensação era de um grande peso sendo retirado de seus ombros.

— Não sei - ele encarava o cartão roxo — Quem sabe.

O tempo mudara desde que ele entrara no teatro, o céu poderia estar estrelado e limpo mas nada mudava a diferença de temperatura entre o lado de dentro para o de fora. Ele conseguia ver Maka facilmente sentada, em um dos bancos que circundavam a praça do outro lado da rua, quando avistou o albino foi correndo ao seu encontro, parecia estar com frio, os pelos de seus braços arrepiados. Percebendo que ele não estava sozinho se calou momentaneamente, observando Wes de forma crítica.

— Vocês são muito parecidos pessoalmente Soul.

Ele não esperava por aquele comentário.

— Quem é ela maninho?

Ótimo, ele teria de cuidar das apresentações.

— Wes, essa é Maka, minha artífice. Quem me obrigou a vir para a sua apresentação - disse indicando a loira que acenou com a mão — E Maka, esse é meu irmão mais velho, Wes. O cara que tocou hoje - indicou o irmão que assentiu com a cabeça.

— Prazer - os dois disseram em uníssono, fazendo Maka rir do inconveniente.

Wes levara seu tempo observando a loira cuidadosamente, deixando a mesma um tanto constrangida por receber tamanha atenção.

— Então é você que tem cuidado do meu irmão?

Surpresa, Maka apenas assentiu com a cabeça, preferindo não dizer o óbvio.

— Que bom, pelo visto teve um trabalhão com esse introvertido aqui - comentou colocando uma das mãos no ombro de Soul, que a olhou sem graça — Não esperava ver ele conversando desse jeito. Aliás, ela é bonita, não é mesmo Soul?

Ótimo, agora Wes dera para constranger não só ele como Maka também, ele sabia que vir a apresentação acabaria em problema.

— Wes!

— Erm, obrigada pelo elogio mas, acho que o Soul também me ajudou bastante. No final, nenhum de nós chegaria tão longe sem a ajuda do outro.

O rosto da loira estava avermelhado e não pelo frio. Ouvi-la dizer algo daquele nível, depois de tanto tempo era reconfortante mas, na presença de alguém como seu irmão ele não tinha certeza de que rumo aquilo tomaria.

— Então ele conseguiu uma boa parceira, isso me deixa aliviado - disse Wes oferendo seu terno para a loira — Vocês deveriam aparecer em casa, nossos pais vão ficar felizes em conhecê-la, Maka.

— E-eu - ela olhou incerta para Soul, ficando minúscula na peça masculina.

Aquela noite estava com surpresas até demais para o gosto de Soul.

— Certo, a gente aparece por lá algum dia. Vê se não fica pressionando ela Wes, vocês acabaram de se conhecer!

— Não tenho culpa se meu irmão costuma fugir. Agora que te encontrei quero pelos menos assegurar um reencontro!

— Ele não deixa de estar certo, Soul - disse ela, fazendo o albino suspirar derrotado.

— Certo, os dois ganharam. Eu fico devendo uma visita. Agora é melhor a gente ir Maka, 'tá mais frio do que eu imaginei.

A artífice fechara mais o terno escuro que recebera do Evans mais velho, o observando sem jeito.

— Pode ficar com ele por enquanto - disse com um sorriso — Me devolva quando aparecerem lá em casa. Só não vou poder acompanhá-los hoje, ainda tenho assuntos para resolver.

Wes parecia cansado, talvez seus problemas fossem relacionados ao excesso de trabalho. Notando isso, Maka resolvera fazer um convite melhor.

— Eu posso te devolver amanhã, porque não aparece no nosso apartamento pela tarde? Vocês podem conversar mais.

Os irmãos trocaram um breve olhar, Soul não gostara de ver o irmão cedendo uma peça de roupa para aquecer Maka, mas oferta não era de toda ruim.

— Por mim, tudo bem.

— A gente pode treinar o duo também, vai ser maneiro - disse enquanto pedia pelo endereço, mostrando o monitor do bloco de notas no celular — Foi bom rever você Soul.

— Até amanhã, Wes.

Chegar no aconchego quente e reconfortante do apartamento que dividiam nunca fora tão bom. Enquanto a loira se livrava de suas sandálias altas, o albino se espreguiçava.

— E como foi a conversa, correu tudo bem?

O albino contemplara a pergunta por um momento.

— Acho que sim. Consegui dizer muita coisa que não costumava dizer para ele. Wes até me elogiou.

— Então a minha super-ideia deu resultado, hm? - brincou com um sorriso.

O brilho no olhar da loira fazia com que qualquer réplica negativa fosse imediatamente repensada, e pensar na noite que tivera fazia tudo se tornar ainda mais real. Tudo que o Soul poderia fazer era agradecer ao entusiasmo de sua artífice.

— É Maka, deu mesmo.

O riso contagiante de vitória ecoava pelo corredor, enquanto ela se dirigia para o quarto que possuía naquele pequeno apartamento, quando estava no batente da porta, se virou com um sorriso.

— Pode me agradecer amanhã, quando vocês estiverem tocando juntos na nossa sala de estar!

Soul mal conseguira conter o sorriso ao vê-la desaparecendo pela porta, a energia de sua artífice era contagiante, fazendo com que ele cedesse a ela e suas vontades quase sempre. E agora ele tinha que reaprender a se acalmar, voltar a sua faceta 'too cool for your bullshit' e relaxar. Sua noite fora melhor do que imaginara, qualquer sonho que tivera passava longe disso.

Wes se preocupava com ele, queria tocar com ele.

Parecia ser algo bom demais para ser real e com Blair em seu encalço, ele conseguira um meio de pensar em qualquer outra coisa que não fosse seu encontro surreal.

Afinal seu irmão estaria ali, em seu apartamento. O apartamento que dividia com Maka. Para tocar com ele, uma composição feita para ele.

Era manhã quando miados vindos de sua barriga o acordaram. O que era estranho, pois que ele se lembrasse, estômagos não miavam.

Até se dar conta de que Blair estivera com ele no quarto, noite passada.

— Soul, acorda. A Maka-chan já está fazendo o café - disse a pequena gata mexendo as patas sobre o peito do rapaz.

— Certo Blair, eu já vou.

É, o dia chegara mais rápido do que ele imaginara.

E fora pela tarde que o Evans mais velho decidira aparecer, com roupas menos formais e seu violino guardado no estojo, Wes vestia o seu sorriso característico. Parecia mais disposto, sem nenhuma sombra de cansaço. Soul respirara fundo antes de abrir a porta. Os irmãos trocaram um breve abraço, para depois a arma dar espaço para que o outro tivesse a oportunidade de conhecer o lar do irmão mais novo.

A sala de estar do apartamento era extremamente aconchegante, uma ampla janela permitia a luz diurna iluminar o cômodo, enquanto dois sofás de dois lugares preenchiam o espaço junto da pequena mesa de centro, o resto ficava por conta de um televisor, um console abarrotado por games, uma vitrola e uma larga estante de livros, que dividiam espaço com discos de vinil.

— Seu apartamento é bonito maninho. Tem a sua cara, bem diferente do seu quarto.

Tal comentário trouxera lembranças de seu antigo quarto, naquela mansão assustadora. Ele costumava ser bem expaçoso, mas ele nunca soubera como preencher aquele espaço.

— O que aconteceu com ele sabe, depois que eu fugi de casa.

— Mamãe fez dele mais um quarto de hóspedes. No começo ela pensou que fosse voltar, mas depois de um ano, mudou de ideia - ouvir aquilo fazia a arma rir, era bom saber que as impressões que tinha de sua mãe não mudaram em nada.

Aquela fora a deixa para Maka se mostrar presente na conversa, sua cabeça aparecendo em outro cômodo próximo a sala.

— Aceita algo para beber, Wes?

— Aceito o que tiver para me oferecer Maka. Obrigada.

A loira assentira, contente por ouvir seu nome dito por alguém diferente, ao menos aquilo demonstrava que ela não era estranha aos olhos dele.

Quando chegou a sala com uma pequena bandeja, tendo três canecas em seu centro, pôde ver parte do entrosamento que Soul tentava adquirir com o irmão. Enquanto conversavam sobre algo, ele lia as partituras do que seria o dueto dos dois.

E ela não pensaria em mentir ao dizer o quão ansiosa estava para ouvi-los.

— Então o pai saiu numa viagem com a mãe e deixou a casa com você? - sua arma parecia surpresa.

— É, agora a mansão é toda minha - o outro rira — Mas nossos tios e a vovó ainda estão lá, foi um dos motivos para eu conseguir escapar e vir pra cá. A Emma adorou a minha oferta.

Então fora ele que decidira vir. Sozinho.

— Sei.

Maka se sentara ao lado de Soul, deixando a bandeja sobre a pequena mesa de centro. Um sentimento de contentamento brotava em seu peito, enquanto observava os dois irmãos.

Aquilo era algo que ela nunca teve, sua vida inteira a única pessoa da família que tinha por perto era o pai, uma pena ele não ser a melhor companhia para conversas do tipo.

Mas o Soul.

Ah, Soul sorria. Seus olhos brilhavam, e ele parecia ser uma pessoa completamente diferente daquele ser que ela conhecera anos atrás. Parecia estranhamente em paz.

Em paz com seus próprios demônios.

— Papai não queria me ver aqui, disse que não tinha sentido correr atrás de você, por isso esperei o melhor momento.

— Parece que nenhum dos dois ficou feliz com isso - Soul rira.

— É, ambos se sentiram traídos de alguma forma, mas acho que tudo mudaria depois de te verem assim.

Pela primeira vez, a arma novo tirara os olhos da partitura.

— Como pode ter certeza?

— Você está incrível. Eles tem que se orgulhar do filho que tem, eu me orgulho de ter um irmão como você.

Aquela frase tinha poder, algo forte e acolhedor, como um escudo usado para proteger quem ousasse falar mal de Soul. Ela conseguia ver a alma de Wes pulsando fervorosamente.

Maka estava impressionada.

E ela não poderia perder a oportunidade de dar ainda mais certeza as palavras dele.

— Eu também me orgulho de você Soul. Além de uma arma incrivelmente habilidosa, você toca muito bem. Até meu pai se orgulha de você!

E por um momento a sala ficara em silêncio. Para logo em seguida, a loira sentir uma avalanche de sentimentos tomando conta de seu ser. Emoções que não eram as dela, mas tão intensas que ela não duvidava de quem as afligira.

Somente quando conseguiu respirar normalmente ela voltou sua atenção a arma. Para logo em seguida ser contagiada pela emoção de seu parceiro.

Soul estava chorando.

Ele procurava enxugar a maior quantidade de lágrimas que conseguia, para em seguida repetir o gesto novamente, ficando irritado por não conseguir fazer com que elas cessassem.

Se houvesse uma forma de descrever a alma de sua arma naquele momento, Maka diria que ela brilhava. Brilhava como nunca antes.

Soul estava genuinamente feliz.

E ela queria tanto poder abraçá-lo, mas Wes decidira que aquela era a sua deixa, como irmão mais velho. Se ajoelhando em frente ao mais novo dos dois, encolhido em meio a soluços, ele começou a afagar os fios claros.

— Eu tenho orgulho de ser seu irmão, Soul Eater.

E nem Maka, muito menos Wes esperavam pelo que viria em seguida. O abraço que Soul dera em seu irmão.

— Obrigado - fora tudo que ele conseguira dizer depois de certo tempo, equalizando sua respiração.

— Acho que você merecia um elogio desses.

— É, eu nunca pensei que fosse ouvir isso de você.

E enquanto os dois riam da cara estupidamente vermelha de Soul, a loira observava aquela interação com um sorriso no rosto, feliz por ter sido a causadora de tudo aquilo.

— E aí, viu a partitura?

— Já, você fez um trabalho bem legal.

O outro assentira com a cabeça.

— Ser reconhecido por você é algo bom, mas como você vai tocar a sua parte? - perguntou o mais velho, voltando a se sentar no outro sofá.

Para responder o irmão, Soul inclinou sua perna esquerda usando a outra como apoio, até que o que antes eram membros que compunham uma perna, se transformara em um teclado com formato de foice.

Os olhos de Wes pareciam saltar de suas órbitas.

— Eu não sabia que você podia fazer isso!

— Nem mesmo eu sabia - o mais novo deu de ombros — Descobri por acaso.

Seu irmão já estava com o violino em mãos, testando notas, enquanto observava Soul, passando seus dedos pelas teclas afiadas.

E Maka não conseguia deixar de sorrir, vendo o entrosamento dos irmãos que não se viam a anos. Suas almas irradiavam tranquilidade e por algum motivo, aquilo era bom.

Parte de seus questionamentos estavam resolvidos. Soul finalmente saldara seu débito com o passado, agora só faltava que ela fizesse o mesmo com sua família. Com o seu pai.

Se bem que, aquilo poderia ficar para outra hora. Agora tudo que ela queria era poder aproveitar o concerto musical que acontecia na sua sala de estar.

Soul sempre dissera que ela não entenderia como a música que ele tocava funcionava, mas a habilidade que possuía para ler almas fazia com que esse pequeno problema deixasse de ser um incômodo. Não agora, enquanto via os dois tão relaxados, se encontrando em meio as notas da partitura.

Aquilo com certeza não precisava de entendimento. Na realidade era bem simples.

O quanto os laços que unem as pessoas são fortes, e inquebráveis pelo tempo.

Soul rira em meio a uma passagem, pausando momentaneamente o andamento.

— Cara, isso daqui é demais!

Wes acabara contagiado pelo riso do irmão mais novo.

— Eu sabia que ia gostar.

É, disso Maka tinha certeza absoluta. Ela só esperava que esse encontro rendesse outros mais.


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Notas finais do capítulo

EU. NÃO. ACREDITO. QUE. ESQUECI. DE. ADICIONAR. WES. AOS. PERSONAGENS. NOMEUÚLTIMOREQUEST /SHOTME

[gritos histéricos] bem, heis que vocês encontram o meu maior tesouro até o momento em se tratando de Soul Eater. Eu realmente amo tudo o que escrevi aqui, e estava louca para poder trabalhar com algo relacionado a "Wes Evans" desde o momento em que o vi no mangá. Ookubo poderia ter dado mais crédito ao passado do Soul, ter feito um especial, um spin off, sei lá. QUALQUER. COISA. Eu tava pagando, lol.

Então, o Soul tem sim um irmão mais velho. E ele é bonito, legal, toca violino e deu muitos probleminhas para o Soul em toda a série, porém só nos é apresentado hints disso (principalmente no arco do Castelo de Baba Yaga e no Livro da Inveja) em toda a história. Nunca teve muito aprofundamento no Wes (assim como na mãe da Maka, por exemplo) então minha interpretação dele foi totalmente livre, mas julgo que ele seria um baita irmãozão para o Soul, só ele que não conseguiu enxergar isso.

Se em STRENGTH me aprofundei na Maka, em PULSAÇÃO resolvi focar no Soul e puxa, como amei o resultado! Não sei nada além de teoria quando o assunto são partituras, e não me lembro muito das aulas de guitarra, mas foi na fluidez que tudo pareceu se encaixar melhor, lol. O Syren's foi criação minha, queria poder colocar um nome bonito no teatro, assim como na dona que também é cria minha, o Valentine pode ser um nome meio batido mas tem pompa (e eu sempre lembro daqueles irmãos toscos de Hellsing, lol) e bem [sorri bobamente] espero que tenham gostado disso aqui tanto quanto eu!

E amem o Wes, por favor eleéumpão!



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