Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 27
Calmaria... por ora


Notas iniciais do capítulo

Mas mais um capítulo para explorar personagens... êêê
Espero que gostem disso

Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771734/chapter/27

Jasper disse que me levaria para uma outra casa abandonada por ali, onde ele ia para ficar sozinho. Eu já estava cansada de casas abandonadas invadidas por serial killers, mas não podia reclamar, não havia mais lugar para ir me preparar. Além disso, ele me garantiu que eu poderia encontrar alguma faca por lá, então apenas concordei e seguimos em frente.

 

Ele andava mais devagar e mancava um pouco.

—O que aconteceu com seu olho?- ele perguntou.

Pensei antes de responder, porque de verdade, eu só tinha parado para raciocinar naquele momento o que tinha acontecido. Então, contei tudo para ele, sobre Rogue, meu olho e Toby, e quando falei deste último, ele se espantou.

—Não entendi nada. P-Por que diabos... arf... alguém o traria de volta? E por que ele... decidiu ajudar assim?- perguntou.

—Estou tentando descobrir também.

Naquele momento, pensei em Thomas e que provavelmente, ele saberia a resposta, ele sempre sabia. E de repente, senti sua falta.

Eu e Jasper decidimos andar em silêncio até chegar ao nosso destino, para não correr o risco de nem um outro psicopata nos caçar e eu acabar ficando cega outra vez.

 

Não era muito longe e logo vi a casa, muito pequena, como aquele chalé de Thomas. Era feita de madeira, mas não consegui reparar em seus detalhes por conta do escuro. Jasper colocou o dedo indicador sob o nariz.

—Shhh... Vamos ver primeiro se não tem ninguém aí dentro.- sussurou.

Nos aproximamos sem fazer muito barulho, o que era quase impossível, pois tinham muitas folhas secas no chão, e olhamos pela janela de vidro fechada. Precisei ficar na ponta dos pés para poder alcançar a janela, e ainda assim, não atingi muita coisa. Jasper era mais alto e olhou sem dificuldades. Olhei em volta e não conseguia ver quase nada, ainda mais por conta do escuro, mas conseguia enxergar a forma dos objetos. Não vi nenhuma silhueta humana e nem nada do tipo. Estávamos na janela lateral da casa, e quando olhei para a direita, por dentro da casa, vi que a porta de entrada estava escancarada, parecendo esperar por alguém.

—Acho que está limpo.- Jasper concluiu.

Fomos até a porta e entramos. Senti cheiro de madeira e senti também que o ambiente estava sujo. Jasper fechou a porta e tudo ficou no mais completo silêncio. Admito que fiquei com um pouco de medo. A luz da lua que passava pelas janelas de vidro (todas altas demais), iluminava um pouco ali e percebi que tínhamos entrado no cômodo principal, a sala, bem pequena por sinal. Encostado em uma parede, havia um sofá gasto e rasgado, com espuma caindo para fora. Na parede oposta, havia uma pequena bancada com uma televisão quadrada e com antenas, que provavelmente, não era usada há muito tempo. Um pouco distante da TV, do lado esquerdo ainda havia um fogão e uma geladeira, encostados um ao outro. Na parede oposta à porta de entrada da sala, tinha uma porta, que provavelmente seria do quarto, já que tinha apenas mais uma outra porta aberta ao lado, onde eu podia ver um vaso sanitário.

—Aqui tem comida?- perguntei.

—Sim.- ele disse.- eu mantenho... guardado aqui.

Foi até a geladeira e a abriu. Ela não estava ligada, mas vi várias latas ali dentro. Não consegui ver os rótulos. Jasper pegou uma das latas, a abriu de alguma forma e me deu. Nem olhei para o que tinha lá dentro, sabia que era comida enlatada, então apenas virei a latinha e derramei a comida na minha boca. Senti um líquido familiar e milho caindo na minha boca. Pensei que nunca mais sentiria o gosto de uma comida normal. Acho que parando para raciocinar agora, não estava muito bom, mas eu não me importava com isso, porque parecia a melhor comida do mundo, e eu só queria comer.

Comi em menos de um minuto e ele me deu outra lata, e nesta tinha ervilhas. Comi da mesma forma que comi o milho da outra lata e olhei para Jasper.

—Mais?!- ele se espantou.

—É...- me envergonhei um pouco.

Ele pegou outra, abriu e me deu. Mais milho. Essa lata eu consumi com mais calma, para meu cérebro ter consciência de que eu estava comendo e não me fazer sentir fome depois.

Quando terminei, suspirei e perguntei se ele tinha água e ele me deu uma garrafa que já estava em sua mão, como se já soubesse que eu pediria isso. Enquanto eu bebia, ele começou a andar lentamente em direção à porta fechada.

—Me desculpe a falta de hospitalidade, mas eu preciso me deitar.- ele falou.

Ele abriu a porta e entrou no cômodo. Fui correndo atrás dele.

—Espera aí.- falei.

Larguei a garrafa de água, depois de beber tudo, na bancada da TV e entrei ali também.

Era mesmo um quarto, com uma cama de solteiro com a cabeceira encostada na parede, um armário pequeno, um abajur em um criado-mudo ao lado da cama e uma janela na parede lateral do quarto. Ele tirou os tentáculos da barriga, os colocou para dentro das costas. Depois, tirou o moletom que eu tinha prendido em sua barriga e o jogou no chão, e em seguida, deitou na cama.

—Aaaaargh.- reclamou, se encolhendo.

Me senti mal por não ter nada o que fazer para ajudá-lo.

—Hã... você precisa de alguma coisa?- perguntei.

Ele olhou para mim e deu um sorriso bem estranho, que eu não soube o motivo, mas me pareceu um pouco irônico. De qualquer forma, ele parou de sorrir e disse que não precisava de nada, apenas que eu o deixasse descansar, pois ele se recuperaria rápido ali.

—Onde posso conseguir uma faca ou qualquer outra arma?- perguntei.

—Aqui era... a casa de um caçador...- ele tossiu.- Abra o guarda-roupa.

Eu fiz o que ele falou e encotrei, além de poucas roupas em cabides, armas brancas e armas de fogo. Revirei ali e encontrei um cutelo, mas bem maior que meu anterior e não hesitei em pegá-lo. Fechei a porta do guarda-roupa e passei meu dedo na lâmina do cutelo, que rasgou levemente minha pele. A lâmina estava bem amolada.

Não sabia bem o que fazer e, mesmo que quisesse, eu não poderia sair aquela hora da noite para continuar com meu objetivo, pois minhas energias eram zero.

—Ei...- perguntei.- E o caçador dono dessa casa?

—Matei.

—Ah.

Ficamos em silêncio por um momento.

—Você está se sentindo um pouco melhor?

—Sinto que estou melhorando. Estou tentando regenerar.

Eu me sentei na beirada da cama e o deixei quieto por alguns minutos. Até que lembrei tinha uma pergunta que batia em minha cabeça desde que Slenderman me contou tudo, e resolvi fazê-la para Jasper, com a esperança de que ele tivesse a resposta.

—Jasper, você sabe de tudo que aconteceu com Thomas, não sabe? Digo, que ele morreu e Jeff o trouxe de volta...

—Posso ter escutado alguma coisa.

—Certo. Alguns dias atrás, Liu enfiou um facão em Thomas e o matou, literalmente o matou, e Jane o ressucitou de novo. Então quer dizer que podemos ser mortos já pertencendo ao mundo dos mortos? Quer dizer, eu posso morrer também, certo? E além disso, quantas vezes podemos ser ressucitados? Quer dizer, eu sei que estamos em dois planos, mas o ponto é que...

—Ahhh, calma! Você fala demais... e muito rápido!- ele se irritou.- Vou explicar algumas coisas e depois você faz perguntas.

—Certo.-concordei.

Sua fala tinha melhorado, mas ele começou a explicar fazendo algumas pausas para recuperar o ar.

—Vamos lá... até onde entendo, Jane deve tê-lo ressucitado no estado antigo de espírito dele... arf... então ele ainda continua nos mundos onde Jeff o colocou, ela não mudou nada, ou seja, ele continua o mesmo, um "assassino morto". Quer dizer, eu... acho que as coisas aconteceram assim...- ele suspirou.- Quanto às vezes em que... alguém pode ressucitar uma pessoa, já ouvi dizer que é apenas uma, porque... necessita de uma energia e uma força além das nossas compreensões.- comecei a notar que ele estava ficando muito sem ar.- E só pessoas... arf... com poderes como os deles conseguem fazer isso. Não... humanos ou outros seres.

—Ah. Entendo.

Ele não perguntou se eu tinha mais perguntas, e apenas se virou de lado, de costas para mim.

Eu sei que ele não tinha muitas forças para falar, mas sinceramente, acho que ele me devia explicações por estar na minha cola.

—O que você fez? Digo, para Slenderman?- questionei.

Ele se virou e me olhou um pouco assustado, como se não esperasse por essa pergunta, e percebi que começou a ficar um pouco nervoso.

—Ah... hã... não foi nada muito relevante para você, não envolve nada do que está acontecendo na sua vida.

—Por favor, me conte.

Ele me olhou e arregalou os olhos. Ele pareceu querer falar alto, mas sussurrou:

—Não! Ele está por toda parte...

Olhei ao redor.

—Quem?- sussurrei também.

Me aproximei dele para poder escuta-lo melhor. Ele fez um sinal para que eu me aproximasse de seu rosto, para que ele pudesse falar em meu ouvido. Cheguei perto e ele falou baixo em meu ouvido, colocando a mão em forma de concha como se estivesse com medo de que mais alguém ouvisse.

—Slenderman...- sussurrou.

Engoli em seco.

Me afastei e sentei-me no chão com as costas encostadas na parede. Me encolhi e abracei as pernas. Ele se virou para mim e ficamos próximos de novo, e ele começou a me explicar sussurrando.

—Eu matei alguém que não devia ser morto, alguém que Slenderman tornaria um proxy. Fiz isso por motivos pessoais, mas agora eu sei que não devia.

Não sabia o que comentar, então apenas o encarei. Ele revirou os olhos.

—Tá, tá... eu sabia que não devia matá-lo bem antes de fazê-lo.- ele olhou para o nada, parecendo pensar no que fez.

De repente, seus olhos verdes começaram a brilhar como aconteceu na floresta, e seu rosto ficou com um aspecto sombrio. Voltou a sussurrar:

—Ele sofreu antes de morrer. Ficou de contorcendo equanto eu o cortava ao meio.- ele riu.- Eu o cortei com um serrote, na vertical.- ele parecia ver a cena em sua frente. Suas pupilas ficaram menores.- Ele gritou muito. Eu não liguei para aquilo. O sangue espirrou no meu rosto, e eu o lambi.- o clima estava ficando pesado, e ele sorriu.- Ele implorou tanto. E eu mostrei minha marca para ele, para que visse o que é um proxy de verdade.

Ele estendeu o braço esquerdo para mim e me mostrou seu pulso. Tinha ali uma marca de um círculo com um X marcado por cima. Era preto, como se fosse uma tatuagem, mas era bem diferente de uma. De fato, qualquer um poderia desenhar com caneta aquilo no pulso, mas era bem mais que um desenho. Era a marcação de Slenderman. Jasper continuou falando, sombrio.

—Foi divertido matá-lo. Mas quando eu acabei... Slenderman quis acabar comigo. Provavelmente o garoto era mais importante que eu, e isso me irrita.

—Então eu realmente não entendo o motivo de ter te trazido comigo. Eu devo ser louca.

Então, ele parou de sussurrar.

—Primeiramente, eu que te trouxe comigo. E todos nós somos loucos aqui, zumbizinho. Tenho certeza de que já ouve vozes.

Me espantei por alguns segundos, mas já era de se esperar que todos ali tivessem alucinações auditivas, ou quaisquer que fossem. Afinal, eram todos psicóticos.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

—Você tinha família?- finalmente perguntei.

Ele me deu um olhar do tipo "É sério que você faz perguntas como essa?"

—Todos nós tínhamos, não?- respondeu.

—E o que aconteceu?

—Não te interessa.

—Por favor, me diga.- insisti.

Ele bufou, mas enfim se abriu.

Jasper disse que era filho único... até seu irmãozinho mais novo nascer. Ele disse que seu mundo ficou colorido como quando ele era bem pequeno, algo que não sentia há muito tempo, pois seu pai tinha morrido e seu padrasto o odiava. Além disso, sua mãe nunca teve muitas condições de criá-lo, então ele tinha que se virar sozinho em praticamente tudo.

Então, um dia, ele começou a ouvir algo em sua mente, como se fosse uma voz falando para ele o que devia ser feito, e ele queria muito matar seu padrasto. E ele o fez algumas semanas depois, e logo em seguida, a voz o ordenou para que lhe entregasse o bebê. Naquele momento, Jasper sabia que aquela voz era Slenderman. Mas ele não fez isso, e lutou até o último momento com Slenderman a respeito de seu irmão. Então, observando a personalidade de Jasper, Slender disse que deixaria o bebê em paz, com uma única condição... ele teria de se tornar um proxy. E assim ele fez.

—Isso aconteceu quando eu tinha 11 anos, há 5 anos atrás. Eu nunca mais vi minha mãe ou meu irmão depois daquilo. Mas sinceramente, acho melhor. Pelo menos agora, meu irmão está livre de meu padrasto... e de min também.

Eu não sabia o que dizer, aquilo me tocou muito. Algumas vezes, esquecemos que não somos apenas nós que temos problemas.

—Eu sinto muito...- falei.

E sentia mesmo. Ele riu.

—Empatia? O que diabos há de errado com você? Olha pra essa cara de sofredora.- ele apontou para mim, rindo.- Sinceramente, não precisa sentir, porque nem eu sinto.

Me entristeci com aquilo, mas aceitei.

Fui falar algo, mas de repente, apareceu um flash em minha frente, e o cenário onde eu estava mudou em questão de segundos e depois voltou ao normal, como um flashback.

Eu estava na casa de Ticci Toby e estava me enforcando. Na verdade, era como se eu fosse Toby me enforcando, pois eu me senti no corpo dele, e, já que lembrei imediatamente do dia em que ele se matou, me vi com meus próprios olhos ali também, já que fiquei olhando a cena. Eu me debatia muito, até que morri, e quando morri, voltei para o quarto. Mas foi tudo muito rápido!

Dei um pulo quando voltei pra realidade e minha respiração ficou pesada.

Jasper me olhou assustado e me perguntou o que raios aconteceu, então expliquei, gaguejando de nervoso. Mal pude terminar e ele já estava dando explicações com entusiasmo, como se tivesse resolvido uma charada muito difícil.

—É isso! Já que Toby te deu o olho dele, talvez agora você tenha acesso às memórias dele. Talvez você se lembre de como ele foi ressucitado! Só espero que a personalidade de vocês não se misturem também, porque isso seria muito chato.

—Ah... fala sério.- reclamei em tom triste.

Aquilo era informação demais pra minha cabeça. Fiquei sem falar por um tempo, porque não queria entender nada daquilo e já não aguentava mais. Eu só queria dormir.

—Vou para a sala dormir no sofá.- falei.- Amanhã é um novo dia.

—Certo, até lá estarei bem.- ele disse.

—Boa noite.- saí, deixando a porta do quarto aberta.

—Boa noite.- ele respondeu.

Na verdade, eu não fazia ideia de qual era o horário, mas tinha certeza de que era muito tarde.

Então, me deitei naquele sofá velho e empoeirado, encostei minha cabeça no braço dele e fechei os olhos, e não demorou nada para eu capotar.

 

...

 

Bem mais tarde, acordei ouvindo alguns barulhos do lado de fora. Abri os olhos e já estava claro lá fora.

Me levantei e era como se eu não tivesse dormido nada, mas eu já tinha me acostumado, então recuperei alguma energia. Fui até a janela e fiquei na ponta dos pés e olhei do lado de fora.

 Foi aí que vi Jeff andando em direção à casa, puxando brutalmente uma criança pela mão. Uma criança que chorava muito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar até aqui.
Nos vemos no próximo cap :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sorriso Insano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.