Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 21
Show de aberrações


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá...
como eu adoro a mescla de circo e terror, aqui vai um capítulo que gostei muito de escrever, e espero que vocês também gostem.
Boa leitura ♥



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 Encarei Slenderman por um tempo do outro lado da janela, mas não me importei. Saí da casa de Toby algum tempo depois, deixando-o ali, sozinho. Quando fui para fora, percebi que Slender não estava mais ali. Suspirei e comecei a caminhar de volta para “casa”, junto com meu vazio.

 

 Quando cheguei, Jeff estava na frente de meu esconderijo, sentado em cima de uma pessoa, esfaqueando-a até a morte. A vítima era um homem com mais ou menos 30 anos, careca e com um uniforme de polícia. Jeff batia cada vez mais rápido a faca no peito do homem, enquanto este se engasgava com o próprio sangue que jorrava pela boca. Fiquei encarando Jeff fazer seu trabalho com aquele diabólico sorriso no rosto. Quando o homem morreu, Jeff notou minha presença.

—Oi, Wendy.- ele disse com a voz rouca.

—Oi.- respondi sem tirar os olhos do homem.- Quem era?

—Policial.- ele respondeu.- Tentou investigar sozinho e... puxa!- colocou as mãos ensanguentadas no rosto.- Acabou se dando mal.

Jeff rasgou a roupa do policial e começou a cortar a barriga dele com a faca. Logo, seus órgãos internos começaram a ficar expostos e pude sentir de longe o cheiro de sangue, e senti ânsias. Jeff colocou a mão dentro do homem, puxou seu rim e começou a devorá-lo. O rosto branco começou a ficar vermelho e aquela boca horrenda sorria enquanto praticava seu ato canibalesco. Eu me aproximei dele e me agachei ao seu lado, observando-o comer. Ele me olhou um tanto confuso.

—Com fome?- ele perguntou esticando o rim para mim.

Balancei a cabeça negativamente e continuei olhando para ele, que voltou a comer. Ele fazia barulhos e mastigava de boca aberta. Eu via o sangue se espalhando pela boca e se misturando com a saliva, enquanto ele se satisfazia. A vontade de vomitar foi tão grande que desviei meu olhar dele por algum instante. Quando encarei de novo, ele já estava devorando o coração do cara, que sangrava violentamente. Olhei para os olhos de Jeff. Aqueles olhos azuis gelo que me fizeram sentir calafrios por muito tempo. Aqueles olhos que, ironicamente, deveriam se fechar e nunca mais abrir. Por algum motivo, um ódio intenso começou a percorrer minhas veias e coloquei a mão em meu bolso para pegar meu cutelo e acabei percebendo que eu o havia largado em meu esconderijo. Droga...

—Tenho uma novidade.- disse Jeff sorrindo, cheio de sangue nos dentes amarelados.

Olhei para ele, curiosa.

—Que novidade?- perguntei.

Ele simplesmente jogou o coração em qualquer lugar do chão, pegou minha mão, que se sujou de sangue, e me puxou para ficar de pé com ele. Começou a andar em minha frente, puxando minha mão, como se me guiasse a algum lugar. Ele ia em direção à rodovia quilômetros à nossa frente, mas não imaginei que chegaria lá. E estava certa, depois de algum tempo andando, afastados da floresta, em um território com uma grama bem feita e verde em minha esquerda, bem distante de onde estávamos, pude ver barracas brancas e vermelhas, com vários trailers parados ao redor e algumas poucas pessoas se movimentando por ali.

—Um circo...- falei surpresa.

—...de horrores!- Jeff completou feliz, soltando minha mão.- Quer dizer, vamos torná-lo um circo de horrores.

Olhei para longe e não conseguia enxergar mais que as grandes barracas, as pessoas pareciam pequenas demais para serem vistas.

—Tudo bem... e quando vamos atacar?- perguntei.

Ele olhou para mim, franziu as sobrancelhas e sorriu.

—Não vamos simplesmente “atacar”- fez aspas com as dedos.- Seremos a atração principal.

Eu ri para não chorar.

—E como vamos fazer isso, Coringa?- perguntei.

Ele riu do apelido.

—Não é óbvio? Aquele truque de mágica de cortar a pessoa ao meio é o melhor!

Me assustei.

—E você sabe como fazer?- perguntei.

—É claro que não!

Suspirei.

—Só espero não ser eu “a pessoa”.

—Hahahaha... vamos escolher um voluntário da plateia.

Ele simulou o show. Apontou com o dedo para frente como se estivesse escolhendo alguém de uma plateia invisível.

—E o escolhido foi vo...cê! Venha para o palco, meu caro! A brincadeira se chama... “Hora de conhecer seu criador.”

Os pelos de meus braços se arrepiaram, mas eu sorri.

 

 Esperamos a tarde chegar para nos prepararmos pra invadir o circo. Eu estava dentro da casa, lavando meu rosto na pia do banheiro. Quando saí, Jeff estava na sala, mas congelei quando o vi. Ele estava com o típico traje de palhaço, aquele macacão que cobre o corpo todo, com mangas e calças compridas. Metade da roupa era vermelha e a outra metade era branca, com listras verticais pretas. As mangas eram inteiramente pretas. Senti calafrios e uma imensa vontade de rir ao mesmo tempo. Suspirei.

—Seria cômico se não fosse trágico.- eu disse.- Onde conseguiu isso?- balancei a cabeça.- Esquece, não quero saber. Mas as pessoas ainda poderão te reconhecer.- alertei.

—Tudo sob controle.- respondeu.

Ele pegou de cima da mesa uma máscara tão perfeita que parecia real, como se fosse feita de pele humana... e suspeitei de que fosse isso mesmo, mas logo notei que era apenas silicone. Era uma máscara de um palhaço risonho, com a boca quase do tamanho da de Jeff, mas um pouco mais normal. O sombreado, os desenhos e a expressão da máscara eram incríveis. Jeff a colocou sobre o rosto e colocou o elástico transparente que a segurava debaixo dos cabelos e logo, não parecia mais um monstro.

A máscara combinou perfeitamente com a roupa. Ele colocou a mão em um dos profundos bolsos do macacão, pegou a faca e apontou para mim com ela.

—Você também é famosa agora. Precisa de um disfarce.- disse.

—Eu não tenho um disfarce.

Ele tirou a máscara do rosto e a colocou na cabeça.

—E foi por isso que arrumei um para você!

Ele foi para um dos quartos e me perguntei há quanto tempo ele esteve planejando tudo isso. Quando ele voltou, trazia consigo um vestido, com a parte de baixo cheia de babados pretos com detalhes vermelhos nas pontas e na parte de cima um tomara que caia vermelho com listras verticais pretas.

—Vai mesmo me obrigar a vestir isso?- reclamei.

—Não poderia ser mais perfeito!- ele riu.

Eu peguei o vestido das mãos dele, e comecei a ir para o banheiro, mas ele me parou.

—Espere, está incompleto.- ele disse e voltou para o quarto.

Eu o esperei e quando ele chegou, trazia luvas pretas e brancas com detalhes quadriculados e listrados, e meia calça do mesmo estilo, além de um par de botas com cano alto pretas e com os cadarços vermelhos.

—Santo Cristo, você roubou a loja inteira?- exclamei.

—Nada vai dar errado.- ele falou e estendeu as coisas para mim.

Eu peguei tudo e fui ao banheiro me trocar. Ao tirar meu moletom e minha calça, senti frio e percebi que aquele vestido não parecia o tipo de traje que me deixaria com o corpo aquecido. Calma... é melhor morrer de frio do que nas mãos de Jeff pensei. Coloquei a meia calça e as botas e senti minhas pernas mais quentes. Coloquei o vestido e ele coube perfeitamente. Meus braços ficaram à mostra, então pus as luvas que iam até metade do braço. Me olhei no espelho mofado e... eu estava horrível. Parecia uma daquelas psicopatas insanas de filmes de horror.

 Saí do banheiro e Jeff sorriu quando me olhou.

—Acho que está tudo pronto.- ele disse.

Gemi de frio e esfreguei minhas mãos nos braços para tentar aquecê-los, falhando miseravelmente. Fui para meu esconderijo, peguei meu cutelo e dei um jeito de escondê-lo na minha bota. Quando saí, Jeff estava me esperando. Ele estendeu para mim uma máscara bonita, como as daqueles bailes elegantes. Era totalmente preta, parecia ser feita de renda e cobriria apenas de meu nariz para cima. Eu a peguei a passei o elástico por trás de minha cabeça e a coloquei sobre meu rosto. Jeff sorriu e tirou a dele da cabeça, colocando em sua face também.

—Hora do show.- ele disse.

 

 Já estava começando a ficar tudo escuro. Começamos a andar a caminho do circo até que, atrás de nós, alguém assoviou. Quando me virei, vi Liu, que estava sorrindo de forma psicótica, como Jeff fazia e me encarou por um tempo com um olhar penetrador.

—Vão para algum circo?- ele pareceu irônico.

—Exatamente.- Jeff respondeu.

Liu arqueou as sobrancelhas e se surpreendeu.

—Quero me divertir também.- ele disse.

Jeff suspirou e revirou a cabeça.

—Você pode ficar de vigia do lado de fora para evitar que as pessoas saiam correndo.- sugeriu.

Liu resmungou, mas acabou aceitando o cargo. Logo, iam três aberrações para o show de horrores.

 Quando estávamos nos aproximando dos trailers, que estavam atrás da barraca, fomos para a parte de trás de um deles e nos agachamos. Notei que o espetáculo ainda não havia começado. Poucas pessoas chegavam, compravam seus ingressos mais à frente e entravam na grande tenda que estava posta ali, do lado de uma placa da mesma altura anunciando em letras douradas “Circo de Cheshire”. Algumas pessoas, provavelmente os responsáveis e participantes do espetáculo, andavam do lado de fora, chamando umas às outras para se apressarem, decorando falas e até retocando a maquiagem. Na frente da tenda, eu podia ver luzes amareladas em pequenas lâmpadas de formato redondo, decorando o local. Alguns homens vendiam pipoca, algodão-doce e outros faziam cachorrinhos com de bexigas para as crianças. O céu estava ficando avermelhado, parecendo anunciar chuva e o vento soprava frio.

—Liu, quando eu e ela entrarmos na barraca, você pode ficar na entrada. Se os vendedores ainda estiverem lá, mate-os.- Jeff disse.

Liu concordou com a cabeça. Jeff se virou para mim.

—Vamos esperar o espetáculo começar para podermos fazer nossa apresentação. Hahahahaha.

Sorri para ele. A adrenalina estava voltando ao meu corpo.

—O que fazemos por enquanto?- perguntei.

—Vamos apenas ser pacientes e esperar.- respondeu.

Sinceramente, eu não queria esperar, então me levantei e comecei a andar para frente do circo.

—Ei, para onde vai?!- Jeff gritou irritado.

Percebi que foi um erro parecer tão rebelde. Me virei devagar.

—Hã... posso dar uma volta por enquanto?- perguntei nervosa.

Ele tirou a máscara e olhou para mim, percebi que ele estava realmente irritado.

—Se você sair correndo, chamar atenção, for pega ou qualquer coisa do tipo, eu mato você.- falou.

—Tudo bem. Nem em sonho isso vai acontecer.- e saí devagar.

Eu andei atrás dos trailers, me escondendo das pessoas que passavam por ali. Fui me escondendo entre as barracas menores e via crianças, mulheres, homens, idosos, palhaços, bailarinas e todos os tipos de pessoas. Passando por um dos trailers,  vi que uma de suas janelas estava aberta. Dei uma espiada dentro e vi alguém sentado de costas em uma das camas. A pessoa tinha os cabelos pretos e lisos. A pele era muito branca e usava uma roupa muito estranha, com mangas compridas brancas e listras horizontais pretas. A gola da roupa era feita de penas negras e babados por cima. Da calça, suspensórios pretos se estendiam e passavam por cima da blusa branca. A pessoa parecia mexer em alguma coisa em suas mãos. Do outro lado do trailer, pude ouvir alguém batendo na porta e gritando:

—Jack, se apresse. Nos apresentaremos daqui quarenta minutos.

Jack olhou para a porta e pude ver melhor seu rosto. Me parecia familiar.

—Estou indo.- gritou de volta.

Eu reconheci aquela voz na hora.

—Thomas?!- exclamei.

Ele virou a cabeça tão rápido que pensei que seu pescoço fosse quebrar. Estava com a boca pintada de preto e com os olhos pintados da mesma cor, realçando o azul de suas íris. Os cabelos estavam limpos e a franja comprida caia sobre o rosto.

E ele fez uma expressão que eu nunca pensei vê-lo fazer. Uma expressão de terror.


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Notas finais do capítulo

Acabando com o suspense... e iniciando um novo... muahahahaha
(Sim, o Thomas é o Laughing Jack, pra deixar claro)
Obrigada por chegar até aqui.
Nos vemos no próximo capítulo :)



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