Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 12
Chacina


Notas iniciais do capítulo

Confesso, foi o melhor capítulo que escrevi até agora.
Boa leitura ♥



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Eu encarei Jeff por um tempo, com o medo e a coragem batalhando entre si dentro de mim. Respirei fundo e, em um piscar de olhos, senti como se meus dentes tivessem sido quebrados. Minha cabeça estava virada de lado, antes mesmo que eu pudesse perceber que Jeff tinha me dado um soco no rosto. Eu cuspi sangue. Coloquei a mão em minha bochecha e senti a ardência horrível... meus olhos começaram a lacrimejar. Não olhei para ele, mas virei o rosto com a cabeça baixa. Ele me agarrou pelo moletom e me puxou para perto dele.

—Mas se quiser me desafiar...- disse baixo- É melhor saber com quem está lidando.

Me soltou e saiu de perto de mim. Eu respirava fundo e com ódio daquele monstro. Eu não queria mais me submeter àquilo, mas era necessário, infelizmente. Outras vidas estavam em risco, e eu esperava que tudo que estava sofrendo valesse a pena no final das contas. Levantei os olhos e olhei para Thomas, com ódio. Não soube ler sua expressão, mas ele parecia um pouco assustado com o que acontecera. Jeff estava cortando a garganta do senhor já morto. Uma mangueirada de sangue esguichou em seu rosto e ele pareceu se divertir pela risada que deu. Depois, cobriu o pescoço ensanguentado com uma toalha. Não... aquilo não continuaria assim.

 Peguei meu cutelo em minha bolsa e comecei a andar em direção a Jeff. Thomas pareceu perceber o que eu ia fazer, se aproximou, segurou minhas mãos e, assustado, sussurrou:

—O que está fazendo?!

—Cala a boca ou te mato também!- gritei.

Jeff olhou para nós com o rosto cheio de sangue fresco.

—Solte-a, Thomas.- disse sorrindo, maliciosamente.

Thomas, apreensivo, obedeceu. Andei rápido na direção de Jeff, com o cutelo na mão. Quando cheguei em sua frente, o ataquei, pretendendo bater a faca em sua cabeça, mas em um movimento rápido, ele segurou minha mão no alto e me deu outro soco com a mão livre, mas dessa vez, em meu nariz.

—Nem preciso da minha faca.- falou risonho.

Eu abri a mão que ele segurou no alto e deixei meu facão cair. Recuei e ele me soltou. Coloquei as duas mãos no rosto e senti o sangue escorrer de meu nariz. Minha cabeça começou a doer também, como se tivesse respirado dentro d’água. Abaixei a cabeça e olhei para ele, que vinha em minha direção. Jeff me pegou pelos cabelos e puxou minha cabeça para cima.

—Muito fraca. Você ainda não tem ódio o suficiente. E quer saber de uma coisa?...- se aproximou de meu ouvido.- Acho que nunca terá.

E me empurrou, fazendo-me cair no chão. Meu coração ardia mais do que nunca. Eu queria gritar, matá-lo. Sentia raiva de Thomas por nunca me ajudar em nada e por não ter aberto a boca em protesto contra Jeff em nenhum momento.

 Enquanto me perdia em meus pensamentos, ouvi a maçaneta se movimentar. Olhei para a porta e lembrei-me que a tinha trancado. Olhei para os outros dois. Jeff se escondeu dentro do banheiro e Thomas debaixo da cama do senhor. Ele colocou a cabeça para fora e me alertou:

—Se esconda, Wendy.

Olhei-o com raiva.

—Não estou te obedecendo. Vou fazer isso porque não tenho outra opção.- deixei claro, me levantando.

Olhei ao redor para ver onde podia me esconder enquanto ouvia a enfermeira do outro lado batendo na porta tentando abri-la e chamando outras pessoas para ajudá-la. Não tinha lugar nenhum, então decidi me enfiar em baixo da cama com Thomas. Fui até lá e me abaixei, me arrastando para o lado. Quando me ajeitei, arrumei os lençóis da cama para que nos escondessem bem.  Thomas estava com o machado na mão e deitado com a barriga no chão. Ele me olhou duvidoso.

—Não há outro lugar.- falei, com raiva, desviando o olhar.

—Me desculpe.- ele disse depois de cinco segundos.

Foi a primeira vez que ouvi um tom de voz tão sincero vindo dele. Mas aquilo foi desperdiçado pela minha falta de bom humor.

—Não preciso de suas desculpas.

Ele ficou quieto. Não me importei.

 Esperamos um tempo até que ouvi alguém usando algo para tentar abrir a porta, pelo lado de fora. Ela pareceu abrir um pouco e logo em seguida ouvi um “Obrigada!” vindo de alguém que logo fechou a porta de novo, provavelmente a enfermeira. Ela se dirigiu até a cama e se assustou.

—O que...?- disse.

Se aproximou mais da cama e pude ver sua sombra através dos lençóis. Provavelmente estaria tirando a toalha de cima do pescoço do homem.

—Meu Deus...- ela disse baixo, apavorada e derrubou a toalha.- Meu Deus!- gritou.

Ela começou a recuar mas logo vi outra sombra atrás dela e a mulher caiu de joelhos no chão, quieta. Comecei a sair debaixo da cama e Jeff fez o mesmo. Olhei para a moça que estava rendida por Jeff no chão. Ela era bonita e jovem, talvez tivesse seus vinte e cinco anos. Usava um uniforme de enfermeira e tinha os cabelos loiros presos em um coque. Jeff estava com uma das mãos em sua boca e ela estava aterrorizada, chorando.

—Eu vou tirar a mão de sua boca, mas saiba que se fizer alguma coisa, vou brincar com suas tripas.- disse Jeff.

Ela concordou rapidamente com a cabeça. Ele tirou a mão da boca dela e esta olhou para ele, chorando. Ele se aproximou dela.

—O que foi, minha querida? Você está com medo?

Ele cheirou o pescoço dela, que estremeceu de medo.

—Minha mãe usava esse perfume.- disse.

Ela olhou para nós.

—P-Por favor...- sua voz falhou.- Por favor, piedade.

Jeff riu.

—Piedade? O que significa isso?

—Jeff!- gritei.- Faça o que quer fazer logo!

Ele me analisou e sorriu.

—Você precisa brincar primeiro, garota. Não há necessidade de ir direto ao ponto. Qual é a graça disso?

Ele começou a falar coisas insanas e aleatórias para a enfermeira, enquanto ia, aos poucos, passando a faca em seu corpo.

—Tem mais alguém aqui.- sussurrou Thomas, sem olhar para mim.

Não queria falar com ele, mas fiquei curiosa.

—O que?- perguntei olhando para Jeff.

—Liu.

Refleti. Me virei para Thomas.

—Liu? O irmão de Jeff?- perguntei.

—Sim.

Arregalei os olhos.

—Pensei que ele tinha morrido.

—Todos achavam que Jeff também tinha morrido.

Jeff olhou para nós. Cortou rápido a garganta da enfermeira, que se engasgou em seu próprio sangue. Ele se aproximou de nós e olhou para Thomas.

—Todos pensavam que eu o que...?- perguntou duvidoso.

Thomas não respondeu.

—Será que preciso perguntar de novo?- disse Jeff.

—Todos pensavam que estava morto.

Jeff o encarou.

—Que tipo de assunto é esse?- sorriu terrivelmente- Eu estou aqui! Pronto para matar!- se vangloriou.

—Claro. Liu também.- Thomas disse.

Jeff arregalou os olhos e sorriu mais ainda, surpreso.

—Meu irmãozinho está aqui?- se virou- Mal posso esperar!- e começou a andar para a porta.

Me virei para Thomas.

—Que história é essa?- perguntei assustada.

—Jeff não o matou de propósito. Depois das facadas, Liu correu para fora de casa e caiu no meio da rua, desmaiado. O levaram até o hospital e ele sobreviveu.- explicou, olhando para a enfermeira caída no chão.

—Por que não o matou?

Ele balançou a cabeça.

—Jeff se diverte com o sofrimento alheio. Talvez matá-lo fosse muito rápido. E sem graça.

Olhei para Jeff e percebi que ele estava com mão na maçaneta da porta, olhando para nós, ouvindo a história.

—Tem razão, meu caro aprendiz.- disse para Thomas.- Seria rápido demais. Agora vamos.

Abriu a porta e saiu. Nós corremos para fora também. Percebi que estávamos em um andar alto e saímos em um corredor, com outros várias portas de salas médicas. Não havia ninguém por ali. Olhei para os cantos e não percebi nenhuma câmera. Pouca segurança... aquilo era terrível. Jeff começou a andar pelo corredor, devagar, passando a ponta de sua faca na parede. Começou a cantarolar baixo, com a voz rouca, o que fez os pelos de meu braço se arrepiarem.

—Liu... Liu, onde está você...? Estou ansioso para ter ver... venha, venha meu querido irmão... vou devorar o seu coração...

E outros tipos de rimas aleatórias. Senti pena de Liu por um instante. Chegamos ao fim e ouvi algumas vozes. Paralisei quando virei a esquina daquele corredor. Arregalei os olhos e vi que, por ali, passavam alguns médicos e enfermeiros, e quando nos viram, o escândalo começou.

—O que...?!- gritou o primeiro médico que nos viu, alertando os outros.

—Ajuda! Guardas!- alguém falou alto.

Só ouvi gritaria. Me desesperei e olhei para Thomas e ele pareceu perdido também. Olhei para Jeff para saber o que fazer, mas ele apenas estava parado em nossa frente, com os braços cruzados, olhando as pessoas se desesperarem e rindo. Droga...  pensei. Quatro homens de uniforme militar saíram de algum canto apontaram armas para nós e os médicos e enfermeiros se afastaram. Alguns correram e outros ficaram ali, nos olhando. Já outras pessoas, correram até onde estávamos para assistir ao show de horrores. Até alguns pacientes saíram dos quartos.

—Mãos ao alto! Agora!- um dos guardas gritou.

Jeff riu. Levantei meus braços, devagar, olhando para Thomas. Ele estava com os olhos em Jeff, sem saber o que fazer.

—Calma, minhas crianças...- sussurrou Jeff para nós.- É agora que a diversão começa.

Ele levantou devagar as mãos, segurando a faca. Começou a se aproximar, lentamente, dos guardas com as mãos ao alto. Alguns profissionais começaram a recuar.

—Pessoal, pessoal...- disse Jeff, em tom irônico.- Vocês não sabem brinc...

—Parado, demônio!- gritou um guarda.

Jeff parou, ainda com as mãos levantadas e riu insanamente. Todos se assustaram. Meus pelos se arrepiaram mais ainda.

—Por acaso sabe quem é esse demônio do qual fala?

O policial puxou o gatilho.

—Todos sabem.- respondeu.

Jeff riu de novo.

—Então acho que sabe que perdeu a noção do perigo.

O policial recuou.

—Calado.- disse o policial.

Vi um outro homem armado vindo em nossa direção, segurando coisas que pareciam ser camisas de força.

—Não costumo seguir ordens.- desafiou Jeff, rindo.- E não vou usar essa camisa de novo. 

Ainda de braços levantados, eu olhava para Jeff, tremendo e pensando na enrascada em que estávamos. De repente, ouvi um barulho insuportável de tiros vindo do corredor em que os policiais estavam na frente. Mal deu tempo deles se virarem e atirarem... em um piscar de olhos, os quatro guardas estava caídos no chão, sangrando por todas as partes, mortos. Todos os que estavam lá saíram correndo para vários cantos. Eu também queria, mas fiquei lá, morrendo de medo.

—O que diabos é isso?- perguntou Thomas.

Jeff sorriu olhando para a direção de onde vieram os tiros.

—Na hora certa, maninho...- falou.

Olhei para a direção que seus olhos estavam e vi um garoto com uma metralhadora MP5 na mão, atirando em quem encontrasse em sua frente. Ele atirou em algumas pessoas que estavam perto de mim, e o sangue delas esguichou em meu rosto como se fosse eu que estivesse fazendo aquilo. O garoto olhou para nós e sorriu, louco, como Jeff. Os olhos eram verdes e ameaçadores. Tinha cabelo castanho escuro. E seu rosto... parecia estar costurado. Não prestei muita atenção nele quando vi uma bala passar de raspão do meu lado. Ouvi barulhos de sirenes do lado de fora e vários policiais entraram no hospital e percebi que, certamente, estava em meio a um tiroteio. Jeff começou a correr para ajudar o garoto e começou a esfaquear as pessoas, desviando muito bem das balas que tentavam atingi-lo. Olhei para Thomas. Ele fez o mesmo que Jeff. E eu?! O que devia fazer? Em pânico, eu ri, pensando na possibilidade de finalmente delatar Jeff e tentar acabar com ele. Mas percebi que, ali, e daquela maneira, era impossível. Ninguém que estivesse contra ele estaria do meu lado, mesmo que eu fizesse aquilo. Eu também matei pessoas.

—Sanidade...- sussurrei baixo.- Me perdoe.

E contra minha própria vontade, corri com meu cutelo na mão e comecei a matar um bom número de pessoas que se aproximavam de mim. Batia o cutelo nos pescoços, cabeças, pernas, barrigas e em vários outros pontos de quem se aproximava de mim. Eu tentava correr de algumas balas, mas percebi que não era baleada por muita sorte. Alguns policiais foram para cima de mim e me encurralaram na parede.

—Venha aqui, seu monstro!- gritou um deles que tentou me pegar.

Fechei os olhos e virei minha cabeça. Mas logo percebi que caíram mortos no chão. Olhei para frente e o menino de antes me encarava, sorrindo friamente. 

—Prazer, monstrinho. Eu sou Liu.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar aqui.
Nos vemos no próximo capítulo!



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