Queridos pai e mãe,

Esse é meu quarto dia no castelo, e parece que já se passou uma eternidade... Não só porque eu estou com morrendo de saudades de vocês, mas também por causa da quantidade de coisas pelas quais passei. Umas boas, outras ruins. Como você diria, pai, uma vida sem um bom conflito não seria vida real...Eu gostei do castelo. É mais bonito do que eu imaginava. A minha parte preferida daqui é a estufa.

Sim, vocês leram certo. Uma redoma de vidro construída no jardim tão grande que cabem árvores e VÁRIOS vasos e pés de planta. Eu consegui achar uma Rosa do Deserto aqui! Fora umas orquídeas novas. Se eu tivesse trazido uma câmera de casa, com certeza teria tirado foto... O sorriso quase não cabia na minha cara quando descobri sobre a estufa.  E foi a princesa Kerttu quem me mostrou. Vocês devem ter visto a foto de nós dançando juntas no jornal e não entendido nada...

Acontece que nos conhecemos por acidente. A pequena também é apaixonada por plantas como nós e estava, justamente, levando uma para o quarto(escondido da mãe). Ela esbarrou em mim, sujando meu vestido e o de Bridget Collins de terra. Sobre a ruiva famosa, já chego nessa parte. Mas a questão é que a princesa quis ajuda para colocar mais terra na muda de samambaia que se esparramou pelo chão com o tombo. Como fui junto, ela acabou gostando de conversar comigo. Kerttu é uma criança cheia de vida(e levadinha como devem ter percebido) que me encantou desde o primeiro momento.

Também tem o Stefan, da mesma idade que ela, que eu conheci na festa de aniversário. É filho adotivo da Madame Lucy e nunca o vimos na televisão por causa da vergonha dele. Isso porque ele tem vergonha por ter heterocromia: um olho verde e outro azul celeste. Sinceramente, eu não consigo entender muito o motivo, porque isso o deixa muito lindo! Stefan e Kerttu são como cão e gato. Brigam com facilidade, no entanto, eu consigo ver um certo carinho mútuo entre eles...

Além deles, não posso deixar de contar sobre outras pessoas maravilhosas que conheci por aqui. Minhas criadas se chamam Lee, Amy e Audrey. Diferente das suas, mãe, que eram bem mais velhas, elas tem quase a minha idade. Um pouco mais novas e poderiam ter se inscrito na seleção também...  Audrey é a mais eufórica de todas, e é a irmã gêmea de Lee, um tanto rígida e gosta de seguir as regras à risca. Amy é a mais calada. Todas são muito dedicadas ao seu trabalho e parecem felizes com ele.

Sim, dona Kriss, eu consegui uma vista(linda) do meu quarto para jardim, e não para a entrada do castelo como você!  Haha. E, por curiosidade, o meu banheiro cheira a folhas de pinheiros, do mesmo modo que me contou...

 Quanto às selecionadas, me aproximei de Suki Cheng(a asiática de Ottaro), Phoebe Lautner (de Labrador) e Mylene Kaviny(de Atlin). Essa última acaba de ser eliminada, porém, mesmo assim, fico feliz de nossas províncias serem perto uma da outra...  Ela é um amor de pessoa:tem muito jeito com crianças e foi simpática comigo de cara.Vocês me deixarão visitá-la sempre que possível, não é?

Phoebe é a personificação da loucura. Estou começando achar Taylor e Hanna normais... Por falar nas minhas primas, só fui liberada para enviar uma carta. Podem entregar a elas esse autógrafo,que coloquei no envelope, da atriz Tracy King? Consegui na festa de Kerttu. Para falar a verdade, essa atriz, bem como Bridget Collins, têm um jeito egocêntrico que fez minha opinião positiva decair. Mas, o que podemos fazer? Parece que a fama, realmente, estraga muita gente...

Por último, das minhas amigas, Suki é aquela que consegue juntar a animação e o equilíbrio em uma só coisa. Ela tem um jeito meigo. Pegou o avião para Angeles junto comigo e mostrou, desde o início, ser uma boa aliada, já que, como eu esperava, o ambiente aqui é carregado de inveja e competição pelas mínimas vantagens. Já estou farta disso e contando o tempo para ter minha paz de volta. Espero que não se importe, mãe, por eu não ter ido tão longe quanto você... Não se engane com o que dizem os jornais e revistas, minha posição na Seleção não é nem um pouco importante.

Não tenho ideia de quanto tempo mais tenho aqui. Prometo que, se eu estiver amanhã no Jornal Oficial dou um tchau para vocês! Mandem um abraço para vovó, vovô, tia Lizzie, Hanna, Taylor e para a família de Tyler(também para o fofo do Donald). 

Não vejo a hora de ver todos vocês novamente!

Beijos,

Rosie.

P.S:Mãe, eu conheci a Silvia, o rei Maxon e a Rainha America. Todos perguntaram de você e mandaram lembranças...

P.S. 2: Você estava certo,pai. A comida daqui é D-I-V-I-N-A! Nunca provei uma torta de maçãs tão boa! Estou ficando mal acostumada. Acho que vou ter que voltar rolando para Columbia...

...

"Quanto tempo eu tenho?" 

"Cinco minutos para terminar e outros cinco para estar no saguão."

"Obrigada,Lee". 

Ajeitei a folha do autógrafo e da minha escrita dobradas no envelope. O selo dele era vermelho e tinha um brasão de Illea desenhado. Assinei a capa segundo as instruções de Lee.O prazo para entregar meu envelope acabaria em pouco tempo. Eu devia ter feito aquilo antes, em vez de passar o dia lendo. 

 "Meninas, eu já vou." Disse entregando a carta para Amy, pois era ela quem a levaria para a pequena agência de correios dali.

 A resposta da minha família chegaria no dia seguinte. No máximo, ao final da tarde. Eu não sabia nem se iria acabar viajando junto com a carta. Estava tudo tão confuso desde que Osten deixou meu quarto na noite anterior... Não recebi solicitação alguma de partida, nem direta, nem por bilhete.

Uma hipótese passou pela minha cabeça. Eu era filha de Kriss Ambers e tinha o apoio da população. Talvez pegasse mal para ele fazer justo a minha eliminação de forma isolada no início da Seleção. Iria dar o que falar nos jornais. Do jeito que esses jornalistas são eufóricos para superestimar qualquer coisa...

Observei Osten de longe no café da manhã e no horário do almoço. Ele parecia entretido nas conversas de sua mesa. Saiu com três selecionadas na primeira parte do dia e,agora de tarde, ficamos sabendo que teria uns quatro encontros seguidos.Queria muito saber se o príncipe me mandaria sozinha ou junto com outras meninas. No entanto, quando fizesse isso, seria naquele dia ou depois?

Eu sabia que, dessa vez, havia passado dos limites de mal educada. Demorei muito tempo para dormir me dividindo entre o remorso e o alívio. Se de um lado, minha consciência me alertava que talvez Osten estivesse falando a pura verdade, por outro eu sabia que aquilo era difícil.

Tinha uma boa chance de eu ter me livrado de alguém que só quisesse se aproveitar de mim. Porque,afinal, ele fizesse algum mal a minha pessoa, sua posição social lhe dava imunidade de qualquer punição.

Encontrei com Suki no meio do corredor. Ela tinha acabado de sair de sua ala. 

"Oi." Disse se aproximando." Por onde andou o dia todo?"

"Oi."Sorri de volta. "Eu estava no meu quarto lendo."

"De manhã e de tarde?" 

"Às vezes eu faço isso. Escolho o dia para ler vários capítulos de vez de algum livro." 

"Nossa." Ela riu. "Eu não consigo. Gosto de ler, mas chega uma hora que entedio. Prefiro ir trocando de atividades."

"Sério? Tipo o que?"

"Ah, depende. Em casa, se eu não tivesse nenhuma aula com os meus professores,"

"Você estuda em casa?"Interrompo. 

"Aham, meus avôs são um pouquinho tradicionais e colocaram na cabeça da minha mãe a ideia de que a escola é uma má influência para mim."Revirou os olhos." Enfim, quando eu não tinha essas aulas, eu bordava, treinava um pouco para aula de canto, inventava estilos novos de maquiagem..." Apontou para os olhos e deu várias piscadinhas. Ri disso.

"Você quem faz as suas aqui no castelo?" 

"Sim.São poucas as vezes  que deixo por conta das minhas criadas. "

"Você pode ensinar a fazer?"

Ela ia responder. No entanto, um guarda nos barrou falando para esperarmos um pouco. Um grande vaso do com uma palmeira artificial era carregado por funcionários.

"Essa planta é bem diferente dos vasos que tem por aqui no corredor" Suki comentou com ele.

"É para o quarto da princesa Kerttu"

Segurei a risada.Kerttu estava realmente levando aquele ideia de uma floresta no quarto a sério... Meu sorriso sumiu ao lembrar de um problema.

"Vamos?"

Sigui a asiática sentindo um calafrio passar pela pele. Como fui burra de esquecer?Passei tantas vezes pelo corredor...

"Está tudo bem, Rosie?" 

"Quê? Está."

"Você está muito calada. Eu te perguntei se você quer começar a aprender maquiagem comigo essa noite."

"Ah, sim. Quero." Forcei um sorriso.

Por dentro, estava em desespero. O recado do príncipe Lorenzo ficou tempo demais no vaso. Queria poder voltar na mesma hora para pegá-lo e jogar no lixo, mas não tinha como... Silvia nos esperava junto com a maioria das selecionadas no saguão para um aviso. Ela tinha marcado esse horário após o almoço.

"Ah, Rosie e Suki. Só faltavam vocês duas." Anunciou quando entramos. "Ophelia é a única que não irá ouvir agora por estar no meio de um encontro."

Phoebe estava do outro lado do cômodo.Todos os olhares se voltaram para nós. Suki foi andando na frente. Me senti mais visada.

Isso era perturbador, por causa da vergonha recente que passei no Salão de Mulheres. Perguntava a mim mesma se ainda me viam como ameaça ou se só estavam considerando que eu era uma fraca por ter saído correndo da confusão.

Reparei uma caixa nas mãos de nossa instrutora quando parei.

"Muito bem, garotas. Como sabem, amanhã é a primeira edição do Jornal Oficial com sua participação. Vocês responderão a algumas perguntas, assim que os anúncios gerais terminarem."

Enquanto ela falava, meu desespero por voltar para cima e procurar o papel só aumentava.

"Conforme o que fui informada, a ideia é que, nessa Seleção, vocês tenham uma atividade extra durante os dias que estão por vir."

Troquei um olhar com Phoebe quando Silvia pausou.

"Do que ela está falando?"Sussurrou. Dei de ombros. Também estava estranhando.

"Na época em que o rei Maxon fez a dele, ele era um herdeiro, mas todos sabem que o príncipe Osten tem uma carreira diplomática a seguir. E é importante que a sua futura princesa o acompanhe o tempo inteiro em viagens para outros países, conversando com líderes de governo que nem sempre gostam de falar nosso idioma."

Oh, coitada da futura esposa dele.

"Então, a partir do próximo Jornal, o príncipe quer que todas vocês comecem a treinar para isso. Por mais que sejam eliminadas no meio do caminho, ele disse que será uma grande oportunidade de crescimento para cada uma."

Toda sexta feira  haveria um momento especial: uma seção de testes no jornal para saber como andava evolução com o idioma que aprenderíamos.

"Vocês terão aulas durante o resto dos dias da semana.Haverá sempre um tradutor para esclarecer ao público, durante o jornal, sobre o que é falado."

 O saguão explodiu em vozes. Umas em tons desesperados, outros apenas surpresos. Suki era uma delas, já que falava umas mil línguas. Phoebe colocou as mãos na cintura e nos olhou indignada.

"Que palhaçada. Eu me livro da escola para ter que morrer de estudar no palácio?!" 

Ri disso, ao passo que Silvia tentava chamar a atenção das garotas que não paravam de falar.

"Calma, meninas. O príncipe Osten pediu para eu avisar que não será nada muito difícil de responder no jornal. Vocês ganharão um roteiro. Só terão que se preocupar com a pronúncia. Tem mais uma coisa. Por favor, prestem atenção. "As meninas aos poucos lhe obedeciam." Vocês serão separadas em grupos de estudo. Como estão vinte e nove, serão nove trios e uma dupla. Vou sortear agora mesmo." Ela ergueu a caixa."As línguas serão sorteadas depois, porque a caixa de papeis não ficou pronta."

O sorteio começou.

"O primeiro trio é: Samantha, Adelaide e Paige."

"Bridget, Florence e Katie"

"Yasmin, Cintia e Emma"

"Ophelia, Scarlet e Denise."

"Wendy, Phoebe e Suki"

Minhas amigas comemoraram nessa hora por terem ficado juntas. Fiquei com um aperto no coração por ter que interagir com outras. Pelo o que estava entendendo, se Osten separou todas em grupos para estudar,a próxima eliminação não devia ser em menos de uma semana. Não até o próximo jornal.

"Amelia, Nita e Karoline"

" Rosie, Jade e Clairy."

Sabe aquele momento em que você deseja não existir?Vi Jade a alguns metros longe de mim. Ela me encaroa de volta erguendo as sobrancelhas. Desviei o olhar bufando. Senti Suki colocar a mão no meu ombro.

"Jennifer,Lydia e Blair"

"Não se preocupe, é só estudo. A Jade não pode fazer nada contra você."

"Eu sei." Assenti. "Só vai ser insuportável." Ela riu.

"Sinto muito por você"

"Tina, Gianna e Heather"

"E por último, a Vivian e a Margareth fazem dupla!" 

Depois de terminar o sorteio, Silvia nos informou que deveríamos esperar algumas mulheres da corte no Salão de Mulheres. Elas fariam uma visita e tomariam chá conosco dentro de minutos. As selecionadas foram para a sala imediatamente falando sobre o novo desafio.

Eu tinha mais outro: Achar aquele vaso, já que não me lembrava exatamente qual deles estava o papel. Avisei às meninas que iria junto dali a um tempo.

"Tudo bem, mas não se atrase, porque elas devem estar quase chegando."

"Ok." Respondi Suki e me apressei. Quase perdi o ar ao perceber que cada corredor ali tinha três vasos de planta de cada lado.

Comecei pelos corredores em que a chance de eu ter passado era maior, mas aquele lugar era um ninho que me fazia dar voltas e voltas, e,no final, não sabia nem quais tinha verificado... 

Desisti depois muito tempo vasculhando. Estava frustrada. Dava vergonha só de imaginar que algum jardineiro pudesse pegar o papel. Torci para que estivesse mesmo bem ilegível...Maldito italiano que me fez passar por aquilo!

Àquele ponto, já estava sem ânimo para comparecer ao chá e não queria chegar atrasada. Caminhei para minha ala, reparando num banco que ficava perto da janela.

A boa iluminação fazia dali um bom lugar para ler sossegada. Mais tarde eu poderia ir para o Salão novamente. Busquei o livro  que estava terminando no quarto, junto com meu caderno de desenhos.

Minhas criadas não estavam, deviam ter ido para a sala de costura. Aproveitei para desenhar o que eu julgava ser uma dracena no vaso ao lado do banco e,depois, peguei o livro que estava terminando. Não evitei lembrar da pessoa que me presenteou com ele.

...

Querido Tyler,

Você nunca irá receber essa carta. Minha intuição é de que deve estar aproveitando seu tempo livre, depois que terminou seu programa de hoje de manhã. Me desculpe, eu me recusei a assistir quando minhas amigas me chamaram, e fui fazer o que você já sabe que eu faria. Ler. Não queria ver seu rosto de novo, e me sentir mal pelo o que aconteceu entre nós. E por outras coisas que vem acontecendo comigo...

Nesse momento, te imagino andando com Veronica pelas ruas de Sota,devem ter escolhido um dos parques de diversões para irem juntos a noite. Lembra que nós sempre falávamos sobre ir neles? Você disse que queria ir naquela montanha russa em que a água cai sobre nós e levar um sorvete para tomar junto na descida.

Claro que isso nunca permitiriam... Mas você é aquele que nunca deixou de sonhar alto,e eu admiro isso. Só nunca passou pela minha cabeça que quisesse participar de um concurso profissional de culinária... Me pergunto sobre o por quê de não ter me dito. E mais: sobre Veronica. Desde quando vocês estão saindo juntos? Você costumava falar sobre todas as meninas que gostava para mim.... Por que logo ela? 

Já havia um tempo que tinha terminado o livro. A minha terapia para passar o tempo solitária foi começar a pensar no que diria para Tyler se ele estivesse ali. Acabou saindo uma carta.

Há algo mais que quero dizer. Essa parte é meio complicada. Se eu fico sem graça até de escrever numa folha de papel, imagina falar ,cara a cara, olhando nos seus olhos.Porém,eu preciso que saiba: Acho que gosto de você. Mais do que sempre gostei. Não no sentido de amizade,mas no de estar apaixonada.

Não sei como começou. Talvez por aquele beijo. No acampamento. Foi um simples encostar de lábios e você estava só me ajudando, certo?Não consigo entender se foi ali que minha atração por você começou.Só sei que dias depois minha consciência me alertou que era impossível eu sentir algo a mais. Se não como, dentro de mim, eu teria tanta vontade de que Holly acordasse e os dois finalmente pudessem ficar juntos? Nos meses que se seguiram àquela notícia fatídica, quando você se afastou de tudo e de todos, até mesmo de mim, fiquei mais do que machucada. Chorei diversas vezes por vê-lo acabado,de coração partido, e não poder fazer nada.

Via você chegando na aula com cabeça baixa, mal dando bom dia para as pessoas e se isolando no último banco. Dormia em todos os intervalos, já que suas olheiras acusavam seu sono perdido durante a noite.Desejei muito que ela voltasse para te ver sorrindo de novo. Esse foi o tempo suficiente para que eu pudesse olhar seu amigo Robert com outros olhos.Tentei procurar ajuda com ele, pois ele era o mais próximo dos seus colegas de basebol.

Das vezes em que nos encontramos em segredo para planejar formas de te fazer voltar à normalidade, vi que ele não era tão convencido quanto pensei. Tinha ótimas qualidades. E o resto você sabe... Foi quase um ano e meio querendo chamar atenção dele. Eu e você trocamos. Em vez de eu te ajudar com seu coração, você me ajudou com o meu. Embora não tenha dado certo também...

Queria voltar à essa época em que éramos cúmplices. Apenas dois amigos preocupados com o bem estar do outro, e em aproveitar os momentos juntos o máximo possível. Eu sinto sua falta. Não consigo acreditar que tudo isso se foi por causa de um dia numa briga ridícula. Quando eu voltar a Columbia, não sei se você estará lá.

Parei de escrever quando ouvi um som de risadas por perto. Automaticamente passei a mãos em baixo dos olhos e pela bochecha. Ajeitei a postura frustrada.

Meu momento de sossego no corredor acabou.

O vaso de plantas não era nada para me esconder. Osten e Ophelia pararam de falar quando me viram ali, enquanto eu desviei o olhar para a janela.Raios de sol queimaram nos meus olhos e eu voltei a encarar a folha. Por sorte, eles não passariam na minha frente.

Pelo canto do olho,vi que seguiram para sua a ala dela, deviam estar voltando de seu encontro. Olhei para a folha de papel e li o que escrevi dinamicamente. Para quê tinha escrito aquilo mesmo? Não iria mandar. Mexi com o lápis de um lado para o outro pensando se terminava ou não.

Espero que, quando vê-lo novamente,as coisas sejam favoráveis e possamos recomeçar. Mesmo que não se interesse por mim, eu desejo que, ao menos, sejamos amigos. Não é assim que a

Fechei meu caderno num baque ao ver uma sombra acima de mim. Osten se aproximou muito sorrateiramente. Minha respiração ficou entrecortada e eu senti meu rosto pegar fogo. No entanto, acho que não foi isso que ele notou.

"Tudo bem?"Franziu as sobrancelhas.

"Oi."Abaixei os olhos "Está sim, obrigada." Apertei meu caderno contra o corpo,ao mesmo tempo que me censurava pela minha voz esganiçada.

Quase pulei de susto com o reflexo de uma mão contra meu rosto.

"Com licença."

"Ah" Essa expressão se prolongou um pouco, enquanto ele limpava um resto de lágrimas que se acumulou abaixo dos meus olhos.

Observei atônita Osten andar diante de mim e se sentar na ponta do banco com o corpo apoiado para frente. Ele não disse nada. Permaneceu olhando para a parede.Ficamos num silêncio desconfortável por quase vinte segundos.

Eu não tinha assunto nenhum para puxar com ele,tampouco sabia sua intenção de vir até mim.

Encarei ele algumas vezes, mas o príncipe só mirava um ponto fixo.Até que Osten girou a cabeça e me fitou como que curioso, o que me fez desviar o olhar sem graça.

"Que horas eu parto?" Decidi quebrar o gelo. Osten suspirou.

"Pois bem. É sobre isso que vim falar com você."

Assenti.

"Vou precisar de sua paciência para esperar até o jornal da próxima sexta, onde devo eliminar duas a três garotas juntas. Isso é para evitar muita polêmica. Só pretendo começar as eliminações individuais a partir da terceira semana."

Explicou se recostando no banco. Então minha dedução estava certa...

"Acredito que não seja um sacrifício tão grande para você. Vai poder ficar um pouco mais com suas novas amizades."

Captei uma espécie de acidez nessa última parte. Isso me fez ficar bem mal pelo que falei.

"Osten..." hesitei." Sobre ontem a noite, eu peço desculpas,de novo. Eu, infelizmente, tenho esse talento de estragar as coisas com as pessoas." Dei de ombros e engoli o seco. "Se eu tivesse sido,por exemplo, mais compreensiva com meu amigo, talvez estivéssemos ainda nos falando."

Meu tom era retórico.

Percebi seu olhar confuso sobre mim.

Respirei fundo antes de falar.

"Tem duas semanas que meu amigo tomou uma decisão muito importante sobre sua vida." Brinquei com a ponta de uma folha do caderno. " Eu não concordei nem um pouco com ela. Isso fez a gente brigar feio, porque eu dizia que ele iria se dar mal,e ele não gostou de não ter meu apoio."

Ele continuava ouvindo calado.

"Nunca ficamos brigados por mais de dois dias." Encarei Osten rápido."Fico pensando que talvez eu tenha sido taxativa demais. Não devia ter abandonado alguém que sempre me ajudou em tudo e que nunca me deixou sozinha. Isso é até irônico. Quanto mais tempo passa,mais eu tenho certeza de que tudo isso minha culpa e menos tenho esperança de ele vai me perdoar..."

Minha garganta passou a arder. Me segurei. Não podia chorar  diante do príncipe.

"Eu que inventei essa história de me afastar,mas agora me arrependo e não sei se ele vai aceitar minha amizade outra vez..."

Para minha surpresa, Osten agiu rápido. Em menos de dois segundos,ele completou espaço entre nós no banco e me envolveu.Sua mão ajudou minha cabeça a repousar em seu corpo.

" Eu sinto muito." Disse quase num sussurro."Por ele e por você."

Osten suspirou em cima de minha cabeça.

A ardência da garganta foi acompanhado pela dos olhos. Maldita hora para chorar.Incrível como quanto mais queremos segurar o choro,mais ele luta para se manifestar.

À medida que eu batalhava para não soltar nenhum ruído, meu corpo tremia como gelatina e eu sentia gotas escorrendo pelo rosto. Minha consciência alertou que não era preciso de mais consolo ao sentir o príncipe acariciar meus cabelos.

"Obrigada." Falei tentando me afastar. Osten abriu os braços imediatamente." Eu estou bem."

"Não está,não." Osten sorriu para mim sem animação.

Respirei fundo ao limpar minhas lágrimas e olhei para baixo de novo. Vi ele se levantar pelo canto do olho.

"Vou deixar você sozinha.Já percebi que precisa disso... Qualquer coisa, é só chamar." 

Concordei calada e observei sua figura se afastar até virar o corredor.

...

"O que vocês acham que eles vão nos perguntar no jornal oficial?" Phoebe questionou.

"Não sei, acho que coisas sobre o príncipe e o palácio. " A asiática respondeu trocando de pincel para maquiar minha bochecha.

Finalmente pudemos ter um horário sozinhas para Suki nos explicar algumas coisas do assunto, pois,na noite anterior, ela tinha levado a sua maleta ao Salão das Mulheres para fazer isso, e o resultado é que nem eu, nem Phoebe conseguimos chegar perto. As outras meninas a cercaram para aprender as tais dicas.

Phoebe deu a ideia de Suki fazer o mesmo,só que num quarto, no dia seguinte, antes do Jornal Oficial. Nossas cridas nos vestiram cedo para isso. Phoebe já tinha sido a primeira cobaia, foi quando a asiática nos ensinou muitas coisas.

Agora, na minha vez,Suki apenas repetia a maquiagem que eu tinha visto no primeiro dia que a vi. Azul e prata. Combinaria muito com o vestido que eu estava usando.

"Sobre o palácio já nos perguntaram umas quatrocentas vezes." Phoebe disse jogando o travesseiro para cima uma última vez e se levantou da cama de Suki." Acho que vai ser sobre o príncipe. O que é uma tragédia, já que eu não tive quase nenhum momento a sós com ele." Sua expressão era um tanto triste."Não tive nenhum encontro, como vocês, então, vou ficar com a maior cara de tacho sem o que dizer." 

"Você não vai ficar sem o que falar." Suki garantiu." O Gavril deve perguntar sobre outras coisas para as meninas que ainda não foram chamadas para um encontro. Por exemplo,sobre vida delas antes da Seleção."

"O que é mais trágico ainda, porque meu passado é um fiasco." Eu e Suki nos entreolhamos confusas." É verdade."

 Phoebe se aproximou da bancada para reforçar seu batom rubro. 

"Não precisa ser dramática. Ninguém é perfeito."Suki respondeu. 

"Ah, sim. Pensa alguém que foi expulsa de duas escolas por causa de briga e que teve sete namorados até dezoito anos." Ela deixou o batom em cima da bancada.

"Sete?"Perguntei incrédula.

Vi a boca de Suki se abrir pelo reflexo do espelho.

"Agora pensa que essa pessoa está na disputa para ser próxima princesa de Illea. Eu não tenho nem chances se perguntarem muito sobre mim."

A asiática balançou a cabeça e retoma o trabalho parado no meu rosto.

"Tudo bem, mas, do mesmo jeito,Gavril não vai simplesmente chegar perguntando: quantos garotos você já beijou? Como era seu comportamento na escola?" Simulou o microfone com o pincel."Acho que isso é uma coisa pessoal e se sentir confiança de falar ao príncipe,você diz." 

Phoebe torceu a boca.

" É verdade,obrigada. Mas vocês.. acham que sete é realmente um número grande?" Fez um careta e sentou de novo na cama.

"Conheço uma garota que já teve cinco namorados."Suki disse."Não é tão absurdo. Só é... sei lá. Grande."

Ri baixo.

"Quantos namorados vocês já tiveram?"

Arregalei os olhos. Terreno perigoso.

"Um, e ele era meu noivo na realidade" Suki murmurou a última parte.Phoebe e eu nos voltamos perplexas para a asiática. " Que foi? Sabia que muitos descedentes de chineses ainda escolhem os futuros noivos e noivas dos seus filhos?"

"Seus pais fizeram isso com você?" Ela assentiu para mim.

"Isso é normal na minha família. Meus pais casaram assim e eu ia pelo o mesmo caminho, se não fosse pela Seleção."

"Que horror." Phoebe exclamou." Qual é o nome do seu noivo, quer dizer,ex?"

"Huang Quiáng. Mas eu não o conheço. Ele mora na Nova Ásia e é filho de uma família amiga. Só me casaria com ele quando completasse vinte anos..."

 "Ele é bonito? Você tem foto dele?"

"Não aqui. Mas ele é bonito, sim.Agora já está noivo de outra.Digamos que ele não aceitou bem essa história de Seleção." Faz uma careta divertida." Minha família nem está ligando porque,mesmo se eu perder, é possível que as propostas de noivado aumentem. É o que aconteceu com muitas das Selecionadas das outras edições."

"É verdade? Não sabia que isso acontecia."Phoebe disse. 

Lembrei na hora de minha mãe.Ela disse que recebeu muitas propostas, porém, rejeitou todas até conhecer meu pai. Sorri pensando no quanto gostava de ouvir as histórias de como ele a conquistou.

" E você,Rosie?"

" Hein?"

"Quantos namorados?" Phoebe insistiu. Suki parou até de me maquiar para ouvir.

"Ah,nenhum."Desviei o olhar para o lado."Não sou muito disso. Não sei bem como funciona essas coisas."

"Você está dizendo que não tem nenhuma experiência?! Você pelo menos já beijou alguém, né?"

Ai.Cadê o buraco de terra para pular dentro? Minha boca abriu e fechou. Não tinha coragem de mentir que não,mas não queria falar sobre Tyler ali.

"Deixa ela,Phoebe. Daqui a pouco, a Rosie vai parar na seção de molhos de tomate dos mercados."

"Eu só estava perguntando!" 

Elas passaram a fofocar sobre os ocorridos no Salão das Mulheres. Como eu tinha 'faltado' mais uma vez para ficar lendo no quarto,não sabia metade das novidades. Suki terminou meu rosto e ficamos conversando até a hora de ir para a sala do Jornal Oficial.

Fiquei sabendo que a megera da Denise perguntou a Suki do porque dela estar andando comigo. Dizendo que eu, claramente,era uma manipuladora e que a asiática ia se arrepender muito de estar ao meu lado. Me alegrou muito a decisão firme de Suki. 

Além disso, houve uma discussão inútil e sem sal entre Jade e Florence(outra modelo) sobre quem tinha mais fãs e reconhecimento na moda. E Bridget se desentendeu com Adelaide por essa ter conseguido encontros dois dias seguidos com Osten.

 "Acho que devemos ir."Suki comentou apontando para seu relógio."Silvia quer nos ver com vinte minutos de antecedência lá,lembram?"

Todas nos leventamos. Phoebe correu mais uma vez para o espelho para verificar o batom e Suki ajeitou a tiara no cabelo. Olhei meu reflexo dando de ombros. Tudo parecia certo,até que olhei para meu pescoço.

"Gente,vai na frente, eu preciso pegar uma coisa no quarto."

"O que?" Phoebe me olhou.

"Meu colar. Não posso ir sem ele." respondi indo para porta.