Entre o céu e o inferno escrita por Paloma Her


Capítulo 2
O príncipe Ador


Notas iniciais do capítulo

Numa tarde, caminhando entre a mata fechada, um macho gigante a levantou no ar, e correu com ela montanha acima, sem parar, longe da tribo que circundava a lagoa. Depois entrou numa caverna, deitou-a por cima de uma pele de leopardo, e sentou ao lado, olhando-a, tocando-a, e acariciando-a com suavidade. Aurora preferiu fechar os olhos. Qualquer reação sua podia terminar em morte. E ele estuprou-a como fazem os animais.



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Durante a longa existência da Pré-história da Terra, uma exploradora espacial desceu na África acompanhada de 5 robôs para observar os homo sapiens, descendentes diretos dos primatas. Era a espécie humana que estava evoluindo neste fim do cosmos. Um estudo que colocaria o fim a uma pesquisa realizada em vários planetas da Via Láctea, onde fotografara vários humanoides que estavam surgindo. Alguns eram descendentes de elefantes, outros de leões, e estes eram os primeiros que evoluíam dos símios. Um animal engraçado, simpático e brincalhão.

            Aurora, a mulher alienígena, estacionou sua nave por sobre as árvores, esticou longos pés metálicos e desceu por um raio de luz. Caminhou em meio da mata africana ao encontro de um grupo de sapiens que convivia pacificamente recolhendo frutos, raízes, e nadavam num lago em dias quentes.

Aurora então iniciou sua pesquisa.

Fotografou os homens cabeludos, e anotou tudo que viu. Fez alguns registros de nascimentos, estudou as rotas de locomoção entre o mato, hábitos diários, e filmou cópulas num longo documentário.

            Mas essa pesquisa foi além do que ela esperava.

            Numa tarde, caminhando entre a mata fechada, um macho gigante a levantou no ar, e correu com ela montanha acima, sem parar, longe da tribo que circundava a lagoa. Depois entrou numa caverna, deitou-a por cima de uma pele de leopardo, e sentou ao lado, olhando-a, tocando-a, e acariciando-a com suavidade. Aurora preferiu fechar os olhos. Qualquer reação sua podia terminar em morte. E ele estuprou-a como fazem os animais.

            No dia seguinte, Aurora desceu a montanha desmaiada nos braços do sapiens em evolução. Ele levou-a até o lago e a fez beber água, comer mangas, bananas, olhando para ela como quem olha para uma miragem encantada.

E Aurora se perguntava, a si mesma, até que ponto levaria essa loucura. Ela podia matar a besta de um olhar. Era uma mulher com poderes paranormais. Sabia Psicosinesse, telepatia, desintegração da matéria, e era uma excelente vidente. Mas, nunca havia tido uma experiência como essa. E a besta era um sapiens. Um homem peludo. Um troglodita. Caminhava como homem, vivia sozinho nas alturas da montanha, e sem pelos poderia ser um macho como qualquer homem de seu planeta. Aguçou o olhar, dilatou as pupilas, e desintegrou-lhe os pelos. Só lhe deixou um mato entre as pernas em redor do membro gigante. Deixara os cabelos da cabeça, sobrancelhas, cílios, mas limpou pescoço, rosto, barriga, costas, até ficar um corpo nu de um ser civilizado. Pele negra como ébano, lábios grossos que a afogariam num beijo, peito forte cheio de musculatura, coxas grossas e nádegas firmes.

Aurora riu alto, pois o macho se olhava na água, se apreciava de novo, tocava a si mesmo, incrédulo, pois virara homem de pele macia. Mergulhava, sentindo o frescor diferente da água, extasiado. Era como nascer de novo. Aurora então nadou até chegar junto dele.  Depois de nadar deitaram na areia branca, grudaram as bocas e dormiram ali mesmo após beijos e mais beijos, pois sem pelos no rosto a boca ficara sensual e delicada.

Ao entardecer subiram a montanha carregando frutos, e deitaram nas peles novamente, para dormir com seres civilizados, que terminaram de se conhecer.

E os dias quentes da África foram testemunho mudo de um amor que nasceu de uma pesquisa científica.

Aurora fez levantamento completo de todas as tribos de sapiens que habitavam na África, ensinou-lhes coisas simples como tecelagem, utilizando fibras da mata, e passou tardes em meio de mulheres tecendo tapetes para dormir, e tangas para enrolar no corpo. Mas assim que seu macho aparecia, o seguia abraçada nele, ou era carregada nos braços robustos, beijando-se pelo caminho. Subiam por uma escada de raízes até uma casa no cimo de uma árvore frondosa, onde Aurora possuía o mínimo. Uma cama inflável, que trouxera de sua nave, um fogão que instalara junto, uma mesa com toalhas rendadas, cortinas de seda, jarras de cristal, xícaras de porcelana, para ter o mínimo de mordomias de uma vida superior. Jantavam a luz de velas e depois de saciada a fome, se estendiam na cama para iniciar as carícias e fazer amor até o amanhecer.

Mas os anos correram rápidos, e o homem morreu de velho. O coração dele parou de bater quando ele tinha 70 anos. Morreu nos braços de Aurora, sorrindo, olhando-a como quem mira algo muito belo, pois durante toda essa vida ele somente sorriu, beijou-a, gemeu no seu ouvido, e as vezes ele gritava como quem agoniza de amor.

Depois de desintegrar seu cadáver, Aurora não sabia mais o que fazer com sua vida.

E para ter uma luz, entrou na cabine de telepatia de sua nave espacial, e falou com os mestres de seu mundo, fazendo um relato de tudo que lhe havia acontecido. Havia se apaixonado de um sapiens que sequer falava, e agora estava viúva, com uma dor que partia o peito. O que é que deveria fazer?

E os mestres de seu mundo lhe deram uma resposta inusitada. Inesperada. Contaram-lhe que desde um planeta muito evoluído, de uma Galáxia distante, cinco mil almas haviam chegado à Terra para encarnar nos sapiens. Entre elas havia um príncipe. Um homem inteligentíssimo. E tudo assinalava que Aurora havia se apaixonado por ele.

Os mestres lhe falaram que ela podia regressar ao seu planeta e apresentar sua tese, contando tudo sobre sua aventura terrena, ou, se suicidar e encarnar na Terra junto a essas almas malditas. Mas antes de acabar com sua vida deveria enviar de regresso a nave com todos os robôs, junto com sua pesquisa.

E foi assim que Aurora preferiu a morte, e ficar na Terra para sempre. Ela subiu até o topo do monte Kilimanjaro, estendeu-se por sobre a neve fria do inverno, e dormiu o sono eterno, tomada pela hipotermia.

Como espírito ela deambulou em busca de seu amado. Primeiro entre a mata africana, onde estava cheio de almas. Mulheres bem mais lindas do que ela, vestidas com elegância, e homens que pareciam ser todos príncipes de tão belos, estavam em todo lugar. E todos choravam, pois haveriam de nascer dos sapiens peludos e fedidos. Depois voou para as alturas.  Percorreu a Lua, Marte, mas encontrou-o em Europa, uma Lua pequenina de Júpiter. Ele estava sentado numa pedra, cabeça entre as mãos, numa roupa de reis. Lindíssimo. Elegantíssimo. O homem mais belo de todas as Galáxias. E entre lágrimas de felicidade, caminhou ao seu encontro.

O príncipe Ador, que fora castigado com o desterro, viu Aurora na sua frente incrédulo, pois ela irradiava uma luz tão forte, que mais parecia um anjo. Aliás, se ela estava ali, na sua frente é porque era um espírito de luz. Uma Santa. Um ser que só olhava para o amor, onde quer que ele fosse acontecer. E ele, em meio à sua desgraça, havia sido abençoado. Aurora havia-o amado, feio, como um sapiens peludo em evolução.

Enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto de Ador, num choro que duraria longo tempo, Aurora secou suas lágrimas com beijos, carícias, pois o amor tinha um rosto estranho. Onde florescia, ele unia as pessoas pela eternidade com seu laço invisível. E ela havia-o encontrado em meio dos trogloditas da Terra, no início de uma longa jornada. Teria que sofrer as dores de seu amado, ter seus filhos, e cuidar da Terra até o dia em que os anjos os levassem para outro lugar.

Timidamente Aurora perguntou-lhe:

— Quantos anos vai durar o castigo, meu amor?

— Duzentos mil anos... Você não vai aguentar...

— Se me ignorar, ou se apaixonar por outra mulher, logicamente que não... Se durante uma vida na terra me trair, ou, desprezar, eu regresso a meu mundo imediatamente.

— Impossível! Nunca haverá outra para mim... Nunca houve! Eu sempre fui cego para o amor. Mas não quer saber por que motivo eu fui desterrado?

— Guerra nuclear?

— Pior! Experiências científicas! Nano robôs! E eu inventei vários deles. Os colocamos na corrente sanguínea para nos salvar de doenças mortais, mas, eles nos mataram até não sobrar um ser humano para reencarnar. Morremos infetados. Sobrou uma paisagem macabra de corpos sendo devorados por nano robôs. E todos os inventores dessa engenharia científica foram trazidos para cá. Sem dó.

— Mas os sapiens são encantadores...

— Agora! Mas metade de meus acompanhantes estão revoltados.  Prometem massacrar os sapiens... Eles vão ser o flagelo deste mundo...

— Mas você disse “metade”. Eu vou estar sempre ao seu lado para combatê-los, e impedir que este lindo planeta se acabe com outra experiência mortal...

— Não tinha pensado nisso! Que horror! Um dia vão inventar alguma forma de acabar com tudo... Se você permanecer ao meu lado, eu juro pelas estrelas que farei tudo para impedir!

— Eu fico! Eu quero sentir sua boca, seus beijos, embora daqui em diante eu seja uma fêmea peluda e horrível.

— Mas sempre será a mais bela...

Aurora beijou-o na boca finalmente. Sentou-se por sobre suas pernas, e o chamego começou com beijos e caricias suaves. Como os espíritos não dormem nem sentem cansaço, ficaram fazendo amor até o dia em que um anjinho de luz veio-os buscar para reencarnar.

Era o ano 150.000 AC. Nasceriam numa tribo de sapiens, que estava se deslocando para a Ilha de Madagascar.


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Notas finais do capítulo

- Impossível! Nunca haverá outra para mim... Nunca houve! Eu sempre fui cego para o amor. Mas não quer saber por que motivo eu fui desterrado?
— Guerra nuclear?
— Pior! Experiências científicas! Nano robôs! E eu inventei vários deles. Os colocamos na corrente sanguínea para nos salvar de doenças mortais, mas, eles nos mataram até não sobrar um ser humano para reencarnar. Morremos infetados. Sobrou uma paisagem macabra de corpos sendo devorados por nano robôs. E todos os inventores dessa engenharia científica foram trazidos para cá. Sem dó.



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