Crônicas Mavidélicas escrita por Cebola1305


Capítulo 4
Interrogatório




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POV Cebola

Encontrar aqueles indivíduos fez com que passássemos a noite às claras, não conseguíamos dormir. Fiquei de guarda pro um tempo atento a qualquer movimento suspeito. A noite demorou a passar e fiquei imaginando quem poderiam ser as pessoas que nos perseguiram. Duvidava de que fossem canibais como o Cascão insistia em nos dizer. Teria que tirar essa história a limpo. Quando o sol raiou fui em direção aos meus amigos que também estavam em claro.
— Vamos seguir o curso do rio – falei.
— Não deveríamos ir por outro caminho? – questionou Yugi.
— É careca – Cascão concordou – aquelas pessoas devem nos procurar por lá.
— Sei disso – comentei – mas acho que deveríamos encontra-los.
— Como?? – gritaram os dois ao mesmo tempo.
— Exato! A ideia é saber quem eles são.
— Cebola...você pode parar de brincadeira neste momento sério? Ir atrás de quem nos perseguiu é muita inocência – retrucou Yugi.
— Concordo com o Yugi – falou Cascão – precisamos procurar outra alternativa para seguirmos adiante.
— Não! – Falei aumentando o tom – não vimos outro caminho por esse bosque. E adentrar em mata cerrada pode ser até mais perigoso. Não sabemos o que poderia ser aquela patrulha. Podem ser soldados que nos viram.
— Soldados? Faça-me o favor Cebola – reclamou Cascão.
— Mesmo que não sejam os canibais que o Cascão tanto comenta, não acho que sejam tão amigáveis – comentou Yugi.
— Então como os senhores pretendem conseguir suprimentos? – tentei apelar – não temos garantia de que andando por outro caminho tenhamos uma relativa fartura como aqui.
Os dois suspiraram e ficaram pensativos por um instante. Parece que havia tocado em um ponto delicado e que precisava realmente ser analisado. Por fim os dois se viraram e comentaram:
— Tudo bem Cebola. Vamos seguir o rio para coletar suprimentos e depois buscamos outra alternativa.
Assenti com a cabeça. Logo seguimos para rio onde iríamos reabastecer nossas provisões. Lá chegando procuramos algumas frutas e tomar um pouco de água. Relaxamos um pouco e por alguns instantes permanecemos calmos sem pensar nos nossos perseguidores. Foi quando ouvimos um brado: “Atacar!”
Olhamos em direção ao grito e vimos um grupo de treze soldados com armaduras e portando espadas e lanças, além de escudos. Havia acertado a previsão de serem soldados, porém acabei descobrindo que eles não queriam dialogo. Corremos em direções diferentes, mas os soldados também se separaram e seguiram cada um de nós. O primeiro a ser capturado foi o Cascão, um dos homens acabou laçando-o. Yugi caiu logo em seguida, derrubado por uma mulher soldado. Pude perceber que se espantaram ao apanhá-los. Porém, ao me desligar do caminho, acabei tropeçando em uma pedra e perdi o equilíbrio. Um grupo de homens se aproximou e apontou suas lanças para mim. Abriram caminho para o que parecia ser seu comandante: uma mulher. Ela olhou espantada para mim e disse:
— Imperador Cebola?!

POV Denise

Sim, era ele. Não confundiria sua face com a de mais ninguém. Era o próprio governante de Endívia e o mais poderoso monarca de Mavidele. O que não entendia era o porquê dele estar aqui. Procurei por Xaveco e Sofia, reparando que eles levantavam seus prisioneiros. Também os reconheci, não podia ser: Yugi e Cascão. Mas quando eles haviam se reunido novamente? Estava disposta a descobrir.
— É muita confiança sua vir para essa região desarmado. Achou que não encontraríamos vocês?
— Não sei do que você está falando – respondeu tentando me ludibriar.
— Seus joguinhos não funcionarão comigo – só então percebi que trajava vestes diferentes – que disfarce é esse? É sua nova roupa real?
— Roupa real? – perguntou ele novamente tentando disfarçar.
— Chega de enrolação! – bradei – você está preso imperador. Amarrem-no!
— Imperador?! Deve haver algum engano, moça.
Não dei bola a suas tentativas de me tapear. Os soldados logo chegaram e o amarram. Fui em direção a Xaveco e Sofia. Os dois já estavam questionando seus prisioneiros.
— Qual a intenção de nos espionar Cascão? Quando voltou a fazer parte do exército imperial? – gritava Xaveco.
— Não faço parte de exército nenhum – também começou a negar – nunca servi nenhuma instituição militar.
— Faça-me o favor de confessar o mais rápido possível – disse Xaveco assertivo.
— Por favor senhor, deve estar me confundindo com alguém. Não entendo do que fala – disse o prisioneiro praticamente suplicando. Xaveco cuspiu próximo a Cascão e pediu para que seu grupo o amarrasse. Sofia por sua vez, tentava extrair informações de maneira mais intimidadora.
— Vamos general Yugi – gritou – confesse seus planos. Por que está tão longe de casa e sem uma guarda de proteção?
— Com todo respeito, eu não sou um general. Sou apenas dono de uma empresa. E apesar de ter seguranças, não possuo uma guarda de proteção – retrucou.
— Ok! Se não vai confessar será amarrado e levado a interrogatório com alguém que você não vai querer encontrar – disse Sofia com um sorriso e aproveitando para dar dois tapas no rosto de Yugi.
Ao terminar de amarrá-los meus soldados trouxeram eles até minha presença. Fiz sinal de que seguissem em frente. Retornamos à nossa cidade com olhares atentos para qualquer tipo de emboscada que esses três estivessem planejando. Sentia uma preocupação de estar sendo seguida por tropas inimigas e que o fato da pessoa mais poderosa do continente ter sido facilmente apanhada fosse parte de um plano para invadir nossas defesas.
Percebendo minha aflição, Xaveco se aproximou de mim e comentou:
— Pensando se vão nos seguir?
— Sim – falei.
— Pedi para que três soldados vasculhassem a área. Logo saberemos se estamos caindo em uma armadilha. Tenta relaxar – falou ele colocando as mãos sobre meus ombros.
Sua companhia me acalmou. Dei um sorriso e ele aproveitou para me dar beijo. Não costumávamos demonstrar tanto afeto nas missões. Procurávamos passar seriedade para nossas tropas. Era necessário toda concentração, mas admito que toda vez que ele quebrava este protocolo me sentia mais tranquila. Sua força era minha também, talvez por isso tenha sobrevivido a todos esses anos de conflito.
Enquanto andava com Xaveco procurei atentar-me em relação às roupas que trajavam. Era diferente de tudo que já tinha visto. Novas tendências são constantemente trazidas à tona pela realeza, mas esses trajes eram muito exóticos. As camisas pareciam de tecido diferente da lã e do algodão que utilizamos por aqui. E como eles tingiam com aquelas cores distantes. Um azul bem mais fraco, um verde parecendo um musgo do pântano, e o mais próximo que conhecia, um amarelo de tom mais escuro. Suas calças também não ficavam atrás em termos de esquisitices. O tecido era mais resistente, pelo menos dava impressão do ângulo em que olhava. Todos escuros, variando do azul ao preto.
Deixei as questões de moda de lado e percebi que já estávamos nos aproximando de casa. Logo a visão de nossa fortaleza surgiu no horizonte. Ao beirarmos seus muros os guardas nos deram passagem abrindo os portões. Entramos e seguimos direto para o quartel-general das amazonas onde seriam interrogados pela comandante. No trajeto percebemos a surpresa dos moradores ao ver nossos prisioneiros. Um misto de admiração e espanto, pois estávamos com três referências do nosso inimigo. Se déssemos sorte, a guerra poderia ser finalizada nos próximos dias. Chegando em frente à caserna pedi que fossem comunicar à Mônica que havíamos chegado e que nossa missão fora além do esperado.

POV Mônica

Mal havia dormido na noite anterior. Estava cansada, mas tinha que terminar os planos para uma nova ofensiva. Era momento para tal ação. Observava os mapas quando alguém bateu na porta. Pedi que entrasse. Um soldado adentrou ofegante, parecia que correra uma longa distância. Dei-lhe um pouco de água e esperei que ele se recuperasse.
— Algum problema soldado? – perguntei ao notar sua melhora.
— A coronel Denise voltou – respondeu – trouxe as pessoas que sondavam nossas terras.
— Maravilha! – exclamei satisfeita – quando poderei interrogá-los?
— Senhora...os prisioneiros são: imperador Cebola, Cascão e o general Yugi.
Fiquei estarrecida. Não poderiam ser estas pessoas. Estavam muito longe da capital, ainda mais sem tropas para os auxiliarem. Deixei o soldado e fui em direção ao quartel o mais rápido que pude. Lá chegando recebi saudações, mas acabei não dando muita bola devido ao meu nível concentração. Ao adentrar na sala principal fiquei surpresa. Eram eles! Três dos guerreiros mais importantes do continente ali no nosso quartel, prisioneiro.
Denise se aproximou de mim para dirigir algumas palavras, porém, passei por ela e fui em direção àquele que era meu desafeto. A pessoa que mexeu com a minha vida: o general Yugi. Cheguei perto dele, parecia estar assustado, não me importei e desferi um soco em seu rosto.

POV Yugi

Fui ao solo instantaneamente. Que soco potente tinha aquela mulher! Senti como se um martelo tivesse atingido meu rosto. Foi muita sorte não ter quebrado algum dente ou o maxilar. Cebola e Cascão tentaram me ajudar, mas foram impedidos pelos guerreiros. Me levantaram e nos colocaram em frente aquela que provavelmente era sua comandante.
Ao observar essas pessoas durante o trajeto até aquele quartel, comecei a pensar que tivesse voltado à Idade Média ou mais além. Casas simples feitas de madeira e pedras com tetos de palha; uma fortaleza enorme, semelhante a cidades antigas e medievais. Enquanto caminhávamos éramos insultados. A questão era: por que estávamos nessa situação? Não conhecíamos nada ali e fomos apanhados de surpresa por grupos de soldados trajados como hoplitas gregos e liderados por mulheres que lembravam amazonas. Fui tirado de meus pensamentos pela comandante.
— É muita audácia de vocês virem até nós sem nenhuma proteção. Estavam nos espionando?
— Não temos a mínima ideia do que vocês estão falando – respondi assertivo.
— Chega de mentiras – bradou – os conheço a bastante tempo para cair nesses joguinhos.
— Claramente está nos confundindo comandante – falou Cebola respeitosamente.
— É verdade senhora – reverberou Cascão.
— Chega!! – gritou impaciente – falem logo o que querem. Eu não vou me importar de torturar vocês para conseguir respostas.
— Minha Cara – falei – se nos explicar o que está acontecendo talvez possamos ajuda-la.
— Boa tentativa Yugi, mas não vou mais cair na sua lábia.
— Vejo que sabe o meu nome – respondi – mas não lembro de já tê-la conhecido. Assim que terminei minha fala ela gargalhou.
— Faça-me o favor...vocês já foram melhores na técnica da persuasão – falou – muito bem Cascão, quando resolveu trair seus princípios e se juntar a estes crápulas?
— Eles sempre foram meus melhores amigos – respondeu assertivo – e a única crápula aqui é você comandante.
— É isso mesmo! – concordou Cebola – suas acusações estão infundadas senhoritas.
— Calem-se! – disse irritada – pode falar o que quiser imperador, mas a verdade é que o seu governo está com os dias contados.
— Vocês chamam o Cebola de imperador, por que? – perguntei intervindo.
— O melhor para vocês é falar logo o que está acontecendo. Por qual razão trouxe seu melhor general e seu antigo/novo aliado?
— Eu não sou imperador, senhora – falou Cebola – nem Yugi é um general, e Cascão sempre foi meu grande amigo. Não somos militares, somos empresários; homens de negócio.
A comandante deu soco na mesa visivelmente irritada. Parecia ter perdido toda a paciência.
— Se vocês não vão colaborar de maneira pacífica – disse – ficaram em nossa prisão até resolverem abrir a boca.
— Não pode fazer isso – falei revoltado – nós não estamos tendo direito de defesa. Não somos daqui.
Ela não deu atenção. Chamou seus soldados e eles nos apontaram as lanças e nos levaram em direção a saída. Porém, uma moça entrou na sala naquele instante. Se aproximou da comandante e a reverenciou.
— O que houve Dorinha?
— Suponho que estes forasteiros digam a verdade senhora.
— Como? – perguntou incrédula.
— Eles são viajantes de outro mundo.
Naquele momento também fiquei estarrecido, mas a comandante ficou ainda mais. Parece que momentaneamente estaríamos a salvo.


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